sábado, 27 de janeiro de 2024

UM DOS SEGREDOS DA BRAZILIAN STORM

O longo caminho de investimento na base

Nestes últimos 10 anos o surf brasileiro masculino vem remando de braçada na frente dos australianos, uma vez senhores do World Tour, americanos e havaianos. O grande segredo foi um “investimento” iniciado ainda nos anos 1980, que preparou nossos iniciantes para o futuro.

POSTER DO PRIMEIRO CIRCUITO LIGHNING BOLT

ANÚNCIO PUBLICADO NA CONTRACAPA DA FLUIR DE 1989


A capa dessa edição trazia Jojó de Olivença, o segundo campeão da Abrasp em 1988. A Abrasa naquele ano prepararia o time para representar o Brasil no Mundial Amador do Japão, que se realizaria em 1990 e teria surfistas como Kelly Slater e Peterson Rosa na disputa, vencida na categoria open pelo taitiano Heifara Tahutini. Após nosso resultado em 1988 no mundial de Porto Rico a expectativa era grande.

A Abrasa (hoje CBSurf) era responsável pelo ranking nacional amador, o Circuito Lightning Bolt Junior e Mirim era estadual paulista, que atualmente foi assumido pela Hang Loose com a alcunha SURF ATTACK, atraindo aspirantes de todo o Brasil para suas etapas muito bem organizadas e competitivas.

 

POSTER DO HANG LOOSE SURF ATTACK DE 2018

Novas categorias foram sendo introduzidas e hoje este circuito é um dos principais celeiros de novos talentos e um dos motivos de surfistas paulistas como Adriano de Souza, Gabriel Medina e Filipe Toledo despontarem na ponta do ranking mundial. Os circuitos Hang Loose Surf Attack, realizados apenas nas praias paulistas e o nacional da Abrasa, não foram a única razão de evolução para as novas gerações do surf brasileiro.

 

CAPA DE UM DOS VÍDEOS DO RIP CURL GROM SEARCH

CIRCUITO REALIZADO NO INÍCIO DOS ANOS 2000

 

POSTER DO QUIKSILVER KING OF THE GROMS

EM BAÍA FORMOSA NO ANO DE 2012

 

EM 2011 A BILLABONG PATROCINAVA O CIRCUITO AMADOR

DA ABRASA \ CBS E TRAZIA FILIPE TOLEDO NO POSTER

Estes circuitos espalhados pelas praias de nosso litoral foram formando nossos novos talentos. As famílias se organizavam para apoiar e prestigiar os pequenos e buscavam a educação adequada, orientação de especialistas para desenvolver carreiras. Desde os anos 1990 e no início dos anos 2000 fomos nos graduando... Na década de 10 o surf brasileiro “explodiu”, surgiu devastador como uma tempestade no cenário internacional.

 

A MARCA HD PATROCINOU O MUNDIAL WORLD JUNIOR DA ASP

A ETAPA REALIZADA NA JOAQUINA FOI VENCIDA POR GABRIEL MEDINA

O Brasil desde o início dos anos 2000 começou a preponderar nos Mundiais Pro Junior da ASP. Futuramente trarei uma postagem específica com o histórico de nossa participação e conquistas nestes eventos para surfistas abaixo dos 20 anos. O trabalho feito na base, aqui no Brasil, teve reflexo e trouxe muitos resultados em nível internacional.

A percepção internacional desta revolução forjada aqui no Brasil e estruturada por técnicos, gerentes de marketing, dirigentes, doutores, famílias, cobertura competente da imprensa e principalmente pelo talento de nossos precoces surfistas, começou com o baque do evento King of The Groms realizado na França em 2009 e com final 100% brasileira com Medina e Caio Ibelli.

 

GABRIEL MEDINA SAINDO DE SUA PERFORMANCE PERFEITA NA

FINAL DO QUIKSILVER KING OF THE GROMS NA FRANÇA EM 2009

FORAM DUAS NOTAS 10 – FOTO: PETER WILSON

EM 2010 GABRIEL MEDINA VENCEU O MUNDIAL DA ISA EM PIHA NA 

NOVA ZELÂNDIA NA FOTO COM FERNANDO AGUERRE

NO MESMO ANO DE 2010 POSTER DO GROM SEARCH NO BRASIL COM ETAPAS EM SAQUAREMA E GUARUJÁ

 

HANG LOOSE SURF ATTACK DE 2016 TRAZENDO IAN GOUVEIA OUTRO ATLETA QUE CHEGOU NA ELITE NO POSTER

 NESTA FOTO DO INÍCIO DOS ANOS 1990 ESTOU COMPETINDO EM UMA ETAPA DO CIRCUITO NATURAL ART DE SURF AMADOR, OUTRO PILAR DO SURF COMPETIÇÃO NO ESTADO DE SÃO PAULO DURANTE MUITOS ANOS.

FOTO: FERNANDO BRONZEADO

Para finalizar ainda gostaria de destacar que diversas outras empresas de surfwear no Brasil ajudaram a pavimentar esta estrada, em especial meus primeiros patrocinadores nesta minha empreitada competitiva, primeiro a Wave Rider e depois a Wagon Surf Line. Na foto aqui acima estou surfando na praia do Tombo, no Guarujá, beirando os 40 anos e trabalhando na imprensa do surf, cobrindo eventos praticamente semanais, decidi voltar a competir nas categorias master e longboard para poder escrever textos mais “quentes” com mais propriedade para comentar baterias e entender a evolução do julgamento na pele.

No momento em que preparo esta postagem histórica do trabalho de base que fizemos de forma competente ao longo de diversos anos, o Circuito Mundial de 2024, agora da WSL, está começando com as etapas de Pipeline e Sunset, arenas em que durante muito tempo nos sentíamos em desvantagem e agora temos diversos surfistas entre os favoritos. De lá iremos para Porto Rico, onde o Brasil já teve momentos de glória, para a seletiva final das Olimpíadas - ISA Games.

Conhecer a história e algumas das razões que nos levam a ter este orgulho na atualidade é importante. As outras nações do surf estão loucas para quebrar esta nossa hegemonia de uma década. Lembrando que o primeiro título de Gabriel Medina foi em 2014. Vamos ver o que vai acontecer...

Neste ano de 2024, através deste blog estarei contando histórias, mas também analisando os acontecimentos atuais que envolvem o surf brasileiro e continuarei indicando 1 DISCO – 1 LIVRO – 1 FILME a cada nova postagem. O objetivo é entreter e manter a expectativa para os próximos quatro volumes dos cinco livros que tem o objetivo de deixar registrada A GRANDE HISTÓRIA DO SURF BRASILEIRO em um nobre formato impresso com capa dura. Busquem o primeiro volume que já está disponível em livrarias selecionadas e na internet.

 

AS BAFORADAS DO DRAGÃO

 

UM DISCO



UM LIVRO



UM FILME


 

 
 UM DISCO – 4 WAY STREET – Crosby, Stills, Nash & Young

O americano David Crosby de Los Angeles, o texano Stephen Stills, o inglês Graham Nash e o canadense Neil Young, em situações variadas se juntaram no que chegou a ser chamado de um “supergrupo”. A gênese do encontro foi em 1969 durante o Festival de Woodstock, mas antes e principalmente depois, os quatro tiveram carreiras e participações estelares.

Já no meio dos anos 1960 os quatro começavam a despontar em bandas de renome que pipocavam aqui e ali após o fenômeno dos Beatles e dos Rolling Stones (estes ainda terão discos entre meus preferidos destacados e decantados aqui). Neil Young e Stephen Stills eram membros do Buffalo Springfield, formado em 1966, talvez o maior berço do “country rock”. Graham Nash participava da banda inglesa The Hollies e David Crosby do fantástico grupo The Byrds, ao lado de Chris Hillman e Roger McGuinn, com diversas guitarras distorcidas se embaralhando, criando roupagens diferentes para clássicos de Bob Dylan e criativas músicas autorais.

Após o sucesso da apresentação deles em Woodstock eles se mantiveram juntos para uma série de shows em 1970. Nos meses de junho e julho as faixas selecionadas para o álbum duplo, todo ao vivo, 4 Way Street foram tiradas de gravações em Nova Iorque, Los Angeles e Chicago. Os quatro estavam inspirados e este é considerado um dos melhores discos ao vivo da história do rock. Um álbum duplo, dois discos de vinil, quatro lados de 20 e poucos minutos cada, para ficar virando na vitrola. O primeiro disco é acústico com os quatro dedilhando seus violões, guitarras acústicas e desfilando suas maravilhosas vozes, por vezes Stills e Nash saltavam para o piano. A harmonia vocal entre eles é um dos pontos altos do grupo.

O segundo disco, poderíamos chamar de eletrônico, é um espetáculo de rock & roll, por vezes pesado, sem deixar de ser harmônico. Além dos quatro, foram suportados nos shows pelo baixista Fuzzy Samuels e o baterista Johnny Barbata. Este segundo álbum tem versões de Southern Man de Neil Young (13:45 minutos) e Carry On de Stephen Stills de quatorze minutos, que são verdadeiras jam sessions com o virtuosismo dos guitarristas elevado a enésima potência. Estes dois são verdadeiros craques do instrumento. Crosby não fica nada atrás e Nash um especialista na guitarra rítmica. As peculiaridades vocais e timbres de guitarra de cada um salta aos ouvidos de forma pungente na segunda bolacha. Diria uma bolachada. Composições dos quatro membros se alternam por todos os lados dos discos.

Se falei das raízes de cada um dos quatro, não posso deixar de falar dos caminhos futuros, todos tem discos individuais que valem ser pesquisados. Também atuaram em parcerias mais enxutas, os mais velhos Crosby & Nash fizeram diversos álbuns da dupla, não menos qualificados que dos quatro juntos. Por outro lado, chegou a ser formado o Stills Young Band. A trinca C, S & N também tem discos soberbos (diversos) e a quadra vira e mexe se encontrava. Trabalhos mais recentes individuais, já dos anos 2000, também são de tirar o chapéu.

O único deles que já faleceu, quando escrevo este texto em 2024, foi David Crosby em janeiro de 2023. Os outros três, beirando os 80 anos, continuam de certa forma ativos e homenageados com frequência. Tive o prazer de assistir a um show acústico de Crosby, Stills & Nash, nos anos 90 no auditório da University of Hawaii, enquanto trabalhava para uma de minhas coberturas de temporada havaiana para a revista Hardcore. Achei uma pena apenas o fato da ausência de Neil Young, que sempre foi meu preferido entre eles.

 

AO ABRIR O SEMINAL ÁLBUM DA ATLANTIC RECORDS UMA IMAGEM DE BASTIDORES DAQUELES SHOWS NO ANO DE 1970

Logo após o sucesso deles em Woodstock produziram um épico disco de estúdio: Déjà Vu, lançado ainda em 1970. Quem nunca ouviu este disco na íntegra, não se arrependerá de incluir na discoteca digital de hoje em dia. Outra verdadeira “master piece” – obra prima. O disco duplo 4 Way Street, foi lançado em 1971. O último disco de estúdio com os quatro juntos é de 1999, Looking Forward. Para pegar e recomendar um disco de Neil Young, aos que pouco conhecem seu trabalho: Decade de 1977 traz uma compilação de seu trabalho 1966 até 1976, um artista eclético que passeia do heavy ao soft com igual desenvoltura. Sky Trails, disco solo de David Crosby de 2017 é maravilhoso. Vale a pena descobrir e conferir diversos trabalhos em parcerias ou discos individuais de cada um destes quatro mestres. Go search, ouça, arrepie-se. Nunca recomendarei nenhuma porcaria aqui.

 

 

UM LIVRO – STOKED! A HISTORY OF SURF CULTURE – Drew Kampion

Tenho a versão em português deste livro. Editado em Portugal e impresso na Espanha em 1998, comprado na extinta FNAC aqui em São Paulo.

 

CAPA DA VERSÃO EM PORTUGUÊS

Na edição lusa eles colocam o nome de Bruce Brown ao lado de Drew, mas o renomado cineasta faz apenas um pequeno prefácio, todo conceito, texto, edição fica a cargo de Drew Kampion, um dos grandes ases do jornalismo de surf nos EUA desde o final dos anos 1960. A compilação da fotografia é um dos pontos altos da obra. Na verdade, Kampion conta a história do surf no livro, à sua moda, no final das contas a cultura do surf é o próprio surf, o estilo de vida, o esporte. Com muito critério na montagem e seguindo um roteiro muito bem elaborado e cronologicamente coerente, deixa um precioso documento.

Drew Kampion foi um dos primeiros escritores de surf que me chamou a atenção quando comecei a colecionar revistas. A Surfer mais antiga que tenho é de 1968. Numa das edições de 1969 vinha a cobertura do famoso World Contest de 1968 em Porto Rico, vencido pelo havaiano Fred Hemmings, quando os australianos Nat Young e Wayne Lynch eram os favoritos. Uma bela cobertura. Os anos 1970 foram a década em que os conceitos do que era o estilo de vida do surf, o surf profissional, a busca por ondas perfeitas ainda não descobertas e os códigos da tribo foram equacionados no maior veículo que tivemos durante décadas: as revistas. Drew trabalhou na Surfer e na Surfing com igual desenvoltura, habilidade jornalística, licença poética e competência. O livro Stoked é com certeza seu trabalho de maior envergadura.

 

PÁGINA DUPLA COM GERRY LOPEZ EM DESTAQUE

CONTRACAPA DO LIVRO EM PORTUGUÊS COM AS OPINIÕES DE DIVERSOS ILUSTRES SURFISTAS SOBRE A OBRA - AMPLIE NUM DESKTOP PARA LER

A princípio o linguajar na versão em português surpreende e parece que a tradutora, Sandra Oliveira, tinha pouca intimidade com o surf. Em muitos dos parágrafos ao ler, tentei fazer um exercício para imaginar quais teriam sido as palavras originais utilizadas por Drew Kampion. Trabalhando pela Fluir nos anos 1980 e depois pela Hardcore a partir de 1990, sempre traduzi diversos textos, histórias de fotógrafos, matérias originais de revistas internacionais que buscávamos autorização para publicar aqui e o meu cuidado era incrível para encontrar um linguajar que estivesse de acordo com nosso modo de se comunicar.

 TRECHO DE MAIS UMA PÁGINA DA VERSÃO PORTUGUESA

Recomendo para quem lê em inglês a versão de 1997 de Drew Kampion. O livro é maravilhoso de qualquer forma e independente do português escrito em Portugal ter muitas nuances de linguística peculiares, chega a ser divertido buscar o feeling da redação original nas entrelinhas deste livro. Nada disso tira o valor de uma das obras literárias mais valiosas da cultura do surf. Ao virarmos cada página do livro “Stoked! A History of Surf Culture” percebemos o esmero com que Drew Kampion pensou, planejou, usou sua vivência e seu conhecimento, para executar. Grandioso trabalho.

 

 

UM FILME – SURFERS: THE MOVIE – Bill Delaney

Com prazer que passo de uma dica valiosa da literatura, para outra não menos importante da filmografia de nosso adorado esporte. No final dos anos 1980 Bill Delaney que já havia adquirido fama ao lançar o filme Free Ride em 1977, partiu para um projeto ainda mais ousado. Para montar Surfers: The Movie começou a coletar uma série de entrevistas com surfistas famosos daquele momento e até mais antigos. Um dos maiores atrativos do filme são os depoimentos de Miki Dora e Owl Chapman. Na verdade, todos, muito bem escolhidos e editados.

O filme trabalha com imagens grandiosas de astros da ponta do ranking na época como Carroll, Pottz, Occy e Curren... Já traz um jovem e cabeludinho Kelly Slater e dá fala a algumas das lendas vivas do surf. A dosagem da mistura de imagens atuais e pesquisa em arquivo está muito bem balanceada e o que acaba ocorrendo é uma narrativa mágica do que era ser um surfista no final daqueles anos 1980, um tempo em que o fator comercial e grandiosidade das marcas de surf ainda não havia transfigurado a “alma” do surf.

Essa transfiguração ocorre de uma forma ainda mais violenta agora, nos Anos 2020, deste século muito mais forte que em 1920, quando Duke Kahanamoku decidiu espalhar o Espírito de Aloha pelo planeta. Quanta mudança? O que não podemos negar é que Surfers: The Movie faz um retrato de um tempo especial, com personalidades marcantes que tem o que dizer. As imagens de dentro d’água registradas por Dan Merkel e apresentadas em câmera lenta, a qualidade dos takes e falas em cada entrevista, a bela trilha sonora fazem diferença.

Abaixo link no Vimeo para um trailer deste filme, que teve uma edição reformulada pelo autor em 1991:

https://vimeo.com/429475822

Para fechar com uma pitada de Brasil nesta história toda, achei interessante lembrar de uma bela reportagem de Fred d’Orey que saiu publicada em uma revista Fluir do início de 1990, depois que Miki (ou Mickey com muitos ainda o chamam) Dora passou pelo Brasil em 1989.


 

Era sua segunda viagem para cá, já havia estado em nossa terra no ano de 1969 e passou sob o radar dos surfistas da época. Dora é um personagem icônico de toda essa cultura e estilo de vida do surf. Sinalizou rotas e modos de ação dentro e fora da água. Nem todas as atitudes eticamente louváveis, mas isso não chegou a ofuscar a idolatria pelo surfista mitológico até seus últimos dias.

ALGUMAS FRASES DE MICKEY DORA TIRADAS DA ENTREVISTA QUE DEU PARA O FILME SURFERS: THE MOVIE - FAÇA DOWNLOD PARA LER - VALE

Fred d'Orey, possivelmente o primeiro surfista a dar um aéreo em baterias de campeonato, de alguma forma conseguiu as fitas completas com o depoimento de Dora, pérolas a se guardar... Miki faleceu em 2002 e seu legado deve perdurar eternamente na memória de um estilo de vida, que vem sendo distorcido e moldado ao mesmo tempo desde que ele resolveu abandonar sua querida Malibu em fuga do crowd, em busca do sonho que esvanecia. Esvanece até hoje, dependendo do ponto de vista e metas de cada surfista. De alma, ou sem alma.

DUPLA DO CAPÍTULO SOBRE OS WAIMEA 5000 NO PRIMEIRO VOLUME DE MINHA COLEÇÃO DE LIVROS. O AÉREO DE FRED É UM DOS DESTAQUES NA ABERTURA DA MATÉRIA DA VISUAL ESPORTIVO REPRODUZIDA AQUI

O mundo não vai parar de girar. As ondas não vão parar de rolar. O nível do surf competição não vai parar de ser elevado. Foi lindo viver os momentos passados dos anos 50 na Califórnia antes do filme Gidget atiçar as massas; dos anos 60 no Hawaii antes de qualquer briga territorial; dos anos 70 e tal no Brasil desbravando praias virgens e vivendo festivais encantados; dos anos 80 pelo mundo afora descobrindo novas fronteiras de surf; dos anos 90 com uma profissionalização vertiginosa com cifras milionárias entrando em cena.

E nos anos 2000, um país do terceiro mundo se tornou o epicentro do surf competição, com uma geração premiada de atletas (literalmente), que estão preparados para defender essa hegemonia em mais um ano olímpico. No final deste mês começa o Lexus Pipe Pro a primeira etapa da temporada de 2024 da WSL. Uma coisa está clara no primeiro escalão do surf competitivo masculino: o Brasil é o país a ser batido. Que venham os desafiantes.

https://reidragao.wixsite.com/hsurfbr/projects-ca4p

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

ADAPTAÇÃO AO QUE VEM PELA FRENTE

O ano de 2024 certamente trará surpresas

Está claro que o surf competição está passando por uma grande transição, em nível mundial e aqui no Brasil também. Este processo já vinha ocorrendo antes da pandemia de 2020\2021 e foi agravado por ela. Mas podemos vislumbrar boas mudanças.

FASES DO CIRCUITO BRASILEIRO

ETAPA DO PRIMEIRO CIRCUITO EM 1987, PATROCÍNIO DA SURFWEAR

MESSIAS FELIX NO SUPER SURF E A CHAVE DE UMA CARRO NA MÃO

BRASIL SURF PRO EM BÚZIOS, DUROU DE 2010 A 2012 

A Abrasp foi a entidade responsável pela estruturação do surf profissional no Brasil, fundada em 1987, em conjunto com a Abrasa que cuidava do surf amador. Nos anos 2000 criou-se um novo projeto com o SUPER SURF, ancorado na estrutura do Grupo da Editora Abril, foram buscados grandes patrocinadores e num período de 10 anos diversos carros foram dados como premiação, para homens e mulheres. Em 2010 entrou em cena a empresa de eventos Brasil 1, que alterou o nome do Circuito Abrasp para BSP – Brasil Surf Pro, a empreitada durou três anos com patrocínio principal da Cerveja Skol e da Petrobras, trazia também a participação da marca HD – Hawaiian Dreams.

No final dos Anos 2010 os patrocínios foram diminuindo, o foco se voltou com grande atenção para o circuito mundial, quando começaram nossas vitórias na elite com Gabriel Medina, Adriano de Souza... O circuito brasileiro não parou, mas passou por uma fase mais difícil, pouco patrocínio. Por outro lado, a Abrasa, que havia dado lugar a CBSurf (Confederação Brasileira de Surf), também começou a enfrentar alguns problemas e apenas após a pandemia ocorreu um ressurgimento em grande estilo dos circuitos nacionais.

A ÚLTIMA ETAPA DO DREAM TOUR DA CBSURF EM 2023 CONTOU COM ONDAS DE RESPEITO NA BARRA DA TIJUCA, COMO ESSA DE MESSIAS FÉLIX NO PENÚLTIMO DIA DO EVENTO (ABAIXO LINK PARA O INSTAGRAM DELE)

https://www.instagram.com/p/C0uKq1bg0vY/

Atualmente a CBSurf está organizando os circuitos profissionais e amadores no Brasil. Neste mês de dezembro, após seis etapas foram definidos os campeões profissionais da temporada 2023: Tainá Hinckel da praia da Guarda do Embaú no feminino e o paulista Weslley Dantas de Itamambuca no masculino.


PÓDIO NO MEIO DA BARRA APÓS A ÚLTIMA ETAPA DE 2023

DA ESQUERDA PARA DIREITA A VICE CAMPEÃ NA BARRA KEMILY SAMPAIO (SP), OS CAMPEÕES DA ETAPA DO RIO: LUEL FELIPE (PE) E JULIANA DOS SANTOS (CE), COM VALES BOLSA DE ESTUDOS E AINDA LEVANDO CHEQUES DE R$ 40.000,00 PELA VITÓRIA NA ETAPA. COM O TROFÉU DOURADO OS CAMPEÕES DA TEMPORADA TAINÁ HINCKEL (SC) E WESLLEY DANTAS (SP), COM O TROFÉU ACIMA DA CABEÇA WESLEY LEITE (SP), QUE FOI VICE NO RIO E OS TERCEIROS COLOCADOS RYAN KAINALO (SP), DIANA CRISTINA (PB), NICOLE SANTOS (PE) E VITOR FERREIRA (RJ)

WESLLEY DANTAS NA BARRA, NÃO VENCEU NENHUMA ETAPA DA TEMPORADA, MAS A CONSITÊNCIA LHE PROPORCIONOU O TÍTULO  


Nas páginas dos cinco livros da coleção “A Grande História do Surf Brasileiro” trarei detalhes sobre todos os aspectos da evolução das eras de competição e como o esporte surf foi se estruturando em nossas águas. Todos os campeões, nacionais e estaduais serão elencados. No próximo episódio deste blog, o primeiro de 2024, trarei algumas informações sobre os campeonatos júnior, mirim e iniciantes, tão importantes na formação da base e que foram essenciais para nossa excelência internacional nos tempos atuais. Mas agora fecho minha última publicação no ano de 2023 com mais três dicas:

AS BAFORADAS DO DRAGÃO

UM DISCO


 

UM LIVRO

 

UM FILME

 

UM DISCO – MISTERY TO ME – Fleetwood Mac

O conjunto teve sua origem na Inglaterra, como um grupo de blues raiz e se transformou num fenômeno pop no meio dos Anos 1970 com o lançamento de seu mais famoso álbum, Rumours em fevereiro de 1977. Uma série de grandes guitarristas passou pelo Fleetwood Mac, mais impressionante ainda é a constelação de incríveis vocalistas que atuaram nos lead vocals e podemos dividir a história da banda em três diferentes fases.

A fase inicial do grupo, durante os anos 1960 tinha como vocalista o guitarrista Peter Green. Peter era o líder da banda, embora o nome foi tirado da “cozinha”, o baixista John McVie e Mick Fleetwood, baterista, que teve um restaurante com seu nome arrasado no incêndio de Lahaina em Maui, ambos permanecem na banda até hoje. Os três primeiros discos do Mac eram do mais puro blues, pesado e arrastado, com influência norte-americana. Peter Green é o compositor e criador da versão original de Black Magic Woman, que ficou famosa com Carlos Santana. A gênese do grupo foi em 1967 e nos primeiros discos vinha escrito na capa: PETER GREEN’S FLEETWOOD MAC.

A segunda fase do grupo, de onde sai Mystery to Me tem a guitarra jazzística de Bob Welch, também vocalista e já a participação da esposa de John, Christine McVie, de voz doce e ampla gama vocal. Neste disco o outro guitarrista é Bob Weston. Por todo o período inicial do Fleetwood Mac, os 10 primeiros anos, passaram guitarristas de primeiro calibre, ainda junto com Peter Green, Danny Kirwan e Jeremy Spencer. Todos os álbuns até 1975 são altamente recomendáveis, distintos um em relação ao próximo e valem audição completa.

CAPA INTERNA DE MYSTERY TO ME
A RAZÃO DE OS DISCOS ANTIGAMENTE SE CHAMAREM ÁLBUNS
ALÉM DE FOTOS DA BANDA SACAVAM-SE AS LETRAS DE DENTRO 

A terceira fase da banda se concretiza com a entrada dos virtuosos Lindsay Buckingham e sua esposa Stevie Nicks a partir da segunda metade dos Anos 1970. Um casal apaixonado e briguento, mas que teve na música e no equilíbrio dos McVie e de Fleetwood a base para ancorarem mais uma sequência de discos maravilhosos. Entre tantos, é possível destacar Lindsay como o mais feroz dos guitarristas do Mac. Nicks trouxe um contraponto aos vocais de Christine, a versatilidade vocal do Fleetwood Mac sempre foi um dos pontos altos da banda.

Mas vamos a história do por que da minha escolha por este álbum? Há uma pitada de surf envolvida nesta opção. 

O disco é de 1973 e no meio dos anos 1970 apareceu pelo Guarujá um surfista da Flórida, Mike Tabeling, já campeão de diversos eventos nos EUA, desde a época dos pranchões e posteriormente, como shaper também, se transformou em um dos masters com as pranchas modelo fish. Foi Mike que nos apresentou o som do Fleetwood Mac, especificamente Mystery to Me.


MIKE TABELING EM FOTO DE ANÚNCIO DA MARCA SUNDEK

Para nós do Guarujá era muito raro, motivo de curiosidade e aprendizado, quando apareciam surfistas estrangeiros surfando as nossas ondas. Tive uma ideia do talento desse cara em um dia de marolas na praia de Pitangueiras. Lembro que viemos (Mike, Égas – meu surfista preferido do Guarujá e eu) andando pela praia desde o Canal, no canto direito, em direção à Ilha que fica praticamente no meio da praia. Nenhuma vala estava muito boa, as ondas em torno de 1 pé, tipo meio metro, bem fracas. Ao passarmos pela ilha. Mike decidiu cair lá, bem em frente. Era um lugar que nunca surfávamos. As ondulações que vêm dos dois lados da Ilha Pombeva, se encontram formando micro-picos, praticamente sem paredes, mas sempre bem formados. Tabeling falou “Vamos cair aqui” e foi entrando no mar enquanto Égas e eu olhávamos meio incrédulos. Mike foi entrando, se esgueirando por piquinhos que pipocavam aqui e ali. Quando escolheu a primeira onda já deu um cutback super veloz, usou o rebote na espuminha para acelerar e saiu em zig-zag a mil por hora gerando velocidade do nada.

Mike Tabeling era um surfista excepcional, sabíamos disso, pois figurava como uma das estrelas das revistas importadas – só o que tínhamos de referência escrita e fotográfica. Meu amigo que hospedou ele contou que o cara acordava no meio da madrugada, Fleetwood Mac rolando a mil no quarto de empregada, onde ele dormia, para fumar um baseado e eram vários por dia. Fora a loucura, naqueles poucos dias que passou por aqui fez um surf admirável e muito acima do nosso padrão. Foi até Imbituba em uma barca com a turma do Guarujá. São histórias que podemos rir ao lembrar passados 50 anos.

UM LIVRO – THE ENCYCLOPEDIA OF SURFING – Matt Warshaw

Matt Warshaw é um de meus escritores favoritos ao falar sobre surf, autor de diversos livros e principalmente esta empreitada de folego A ENCICLOPÉDIA que além da versão escrita, com a capa apresentada acima, tem a versão da internet com um custo mensal barato para acessar uma infinidade de informações ilustradas. Antes de se dedicar aos livros foi editor da revista Surfer e lembro de parar em meio a textos, tipo coberturas da temporada havaiana, em que eu não havia ido ao Hawaii e pensar: “Cacilda! Como esse cara escreve bem e sabe contar uma história”, tinha aquela capacidade de nos transportar ao North Shore, relatando toda pressão, ação, emoção... Uma verdadeira escola de cobertura jornalística de surf.

Warshaw é alguns poucos anos mais novo do que eu, mas começou a trabalhar na imprensa do surf antes, eu comecei apenas com 30 anos, em 1986. Como pretendo manter estas dicas DISCO\LIVRO\FILME por um bom tempo em minhas postagens futuras, é inevitável que outras obras de Matt Warshaw sejam citadas aqui. Recentemente ele pegou toda obra original deste livro, que já estava disponível na web de forma ampliada e revisou de cabo a rabo. Inclusive se preocupou em incluir diversos novos verbetes com surfistas brasileiros ausentes no livro. No ano de 2023 ele mergulhou na empreitada de revisar tudo, editar, corrigir, aumentar. Tudo, letra por letra. Um trabalho hercúleo.

Abaixo o link para acessar seu site, recomendo para quem gosta de ler em inglês a um custo mensal de cinco dólares. Um trabalho que vale a pena ser prestigiado. Tudo e mais um pouco sobre surf está ali.

https://www.eos.surf/


UM FILME – FIVE SUMMER STORIES – MacGillivray & Freeman

Há uma (talvez duas mãos cheias), pequena quantidade de filmes de surf que merecem entrar para a categoria dos clássicos. Five Summer Stories é um desses. Os norte-americanos Greg MacGillivray e Jim Freeman já vinham produzindo filmes de qualidade desde o tempo dos pranchões, ainda nos Anos 1960. Não foram pioneiros nestas produções como John Severson, Bud Browne, Greg Noll, Bruce Brown, Dale Davis... mas entraram em cena com um padrão de qualidade elevada. Em uma época em que as produções de filmes de surf funcionavam da seguinte forma: os cineastas em 16, ou 35mm pegavam suas pesadas câmeras, rolos e rolos de filmes e começavam a filmar em suas praias locais, sempre no Hawaii e algumas viagens. Com o material de um ano, por vezes um ano e meio, ou dois, três, quando achavam que tinham material suficiente, montavam e lançavam o filme.

Five Summer Stories teve sua primeira versão no ano de 1972, são cinco segmentos e o primeiro deles tem o foco para Pipeline. Em 1972 as pranchas ainda estavam sendo aperfeiçoadas para as ondas de Pipeline. A dupla MacGillivray e Freeman registrou toda revolução que foi alterando as pranchas dos longboards originais para as pranchinhas. O que foi chamado “Shortboard Revolution” é registrado em Waves of Change de 1969. Eles filmaram surf desde 1963, passaram pelo Brasil em 1965 com o campeão americano Mark Martinson e o amigo Dale Struble, filmaram no Rio.

Five Summer Stories foi uma despedida do surf, pois partiram para voos mais altos e abrangentes utilizando IMAX, uma tecnologia disruptiva nos Anos 70 e criando peças de publicidade aclamadas. Na verdade, nunca abandonaram as cinco estórias do verão, fizeram versões atualizadas 5 PLUS 4. Venderam material para diversos outros cineastas, ao longo dos anos. No filme original além da sessão inicial em Pipe com destaque para Gerry Lopez, são traçados perfis de astros da época como Jeff Hakman, Barry Kanaiaupuni, o australiano Terry Fitzgerald e o sul africano Shaun Tomson. O contraste de estilos, com assinaturas singulares, gestos sobre a prancha é patente e admirável até hoje, com monoquilhas embrionárias, pranchas difíceis de surfar, porém manejadas com arte. O filme tem um fluidez musical e de imagens que é cativante.

Abaixo um trailer de uma reedição mais atual da obra prima:

Este blog fica por aqui em 2023.

Mais HISTÓRIAS DO SURF em 2024...

E prometo ser incansável na empreitada de lançar os próximos 4 VOLUMES (livros) de minha obra.

WWW.HSURFBR.COM.BR

 

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

MAIS UM TÍTULO MUNDIAL PARA O BRASIL

E como virou hábito aqui, dicas: 1 disco, livro, filme

Nosso herói da vez foi Ryan Kainalo, campeão mundial sub 18 da ISA, o antigo mundial amador. O pai de Ryan, Alex Miranda, além de bom surfista tornou-se um competente cineasta e será reverenciado neste blog em futuro indeterminado. As gerações de surfistas brasileiros, sempre apaixonados, continuarão a fazer a diferença.

RYAN FOI CAMPEÃO DA CATEGORIA PRINCIPAL EM 2023

O BRASIL FOI CAMPEÃO POR EQUIPES NESTE EVENTO

Não me furtarei a sempre trazer uma perspectiva histórica neste blog e falando dos mundiais da ISA (International Surfing Association), que anteriormente foi fundada como ISF e era uma federação, responsável pela realização dos primeiros mundiais de surf a partir de 1964, quando o australiano Midget Farrelly, venceu em Manly Beach, sendo considerado o primeiro campeão mundial da federação, podemos dizer... oficial da história. O surf ainda era um esporte apenas amador.

Estes campeonatos World Surfing Championships eram realizados a cada dois anos, em 1972 ocorreu um último evento amador de abrangência, com a maioria dos principais surfistas da época participando. Foi realizado em San Diego na Califórnia e vencido pelo havaiano Jimmy Blears, que mais tarde ocuparia a cadeira do principal salva-vidas escalado para a torre de Sunset Beach no Hawaii. Em 1975 começaram a pensar na criação de um circuito mundial profissional, o que se concretizou em 1976 com o australiano Peter Townend sendo sagrado o primeiro campeão profissional da nova IPS, organização Internacional do Surf Profissional.

A partir dos anos 1980 a ISA passou a estruturar campeonatos amadores cada vez mais importantes, inclusive tendo campeões como o californiano Tom Curren, que venceu em 1982 e depois seria tricampeão profissional em 1985, 86 e 1990. O Brasil passou a participar com uma tímida equipe em 1984, mandou o primeiro time organizado para a Inglaterra em 1986 e atingiu a glória e a percepção de que poderíamos chegar mais longe em 1988, no mundial de Porto Rico, ocasião em que já ficamos em terceiro lugar por equipes.

 

CESAR “FERRUGEM” BALTAZAR E PEPÊ CEZAR NA CALIFÓRINIA EM 1984. OS ATLETAS DE NOSSO TIME ERAM PEPÊ E ERALDO GUEIROS

FERRUGEM ATUOU COMO COACH DA “EQUIPE”.

FOTO: ACERVO PEPÊ CEZAR

JÁ EM 1988, NAS ÁGUAS DE PORTO RICO. FOTO: BETO ISSA

TEMOS A FOTO EMBLEMÁTICA DE TECO E FABINHO QUE TROUXE O PRIMEIRO TÍTULO MUNDIAL DE SURF PARA O BRASIL

A participação brasileira nos mundiais amadores será relatada no quarto volume da coleção de livros: “A Grande História do Surf Brasileiro”. Mas vamos agora às...

 

AS BAFORADAS DO DRAGÃO

 

UM DISCO


 

UM LIVRO

 

UM FILME


 

UM DISCO – DARK SIDE OF THE MOON – Pink Floyd

Esse é um daqueles álbuns que são uma unanimidade entre os apreciadores do rock progressivo. Lançado em 1972 é uma espécie de um divisor de águas no trabalho da banda. Não que os discos anteriores não tenham sido obras irmãs, primas, gêmeas, prenúncios do que estava acontecendo e por vir. Aqueles conjuntos ingleses que entraram no radar após a explosão dos Beatles e dos Rolling Stones, começaram a produzir peças de criatividade e novidade de tirar o fôlego. A começar por Disraeli Gears do Cream em 1967; Tommy, a primeira ópera rock com The Who em 1969; Tick as Brick do Jethro Tull; o Led Zeppelin IV; o Yes, Emerson, Lake & Palmer, os Moody Blues, os rifs do Deep Purple, as fusões de três guitarras do Wishbone Ash... Álbuns selecionados droparão aqui ao longo dos próximos meses, mas neste post falaremos do Pink Floyd.

Quero deixar claro, escolhi este LP do Floyd por uma sinergia com o filme escalado para este post com detalhes logo a seguir, mas meu disco preferido do Pink Floyd é “Wish You Were Here”, aquele com a capa branca e dois executivos se cumprimentando e em chamas. Nada escrito na capa. Mas Dark Side of The Moon acabou sendo o mais cultuado. O fato é que a montagem com a sequência das faixas de Dark Side, os aspectos criativos e inusitados que foram introduzidos neste álbum o colocam em uma classe única, um verdadeiro transporte viajante por uma era maravilhosa da música.

CAPA DO DOCUMENTÁRIO SOBRE O DISCO

A série da produtora Eagle Rock, que levou a alcunha CLASSIC ALBUMS, distribuída aqui no Brasil em DVDs com a devida tradução em legendas pela ST2 Vídeo e também esteve presente com diversas reprises no canal de TV a cabo BIS, também é uma obra prima em termos de documentários e mostra de forma magistral, com depoimentos dos quatro integrantes da banda neste LP e também do genial engenheiro de som Alan Parsons, que acabou criando um projeto com seu próprio grupo, Alan Parsons Project.

Cada uma das músicas do disco é destrinchada e o processo de construção das faixas, os novos recursos que utilizaram numa época em que tudo era mais artesanal e analógico é explicado por diversos dos envolvidos no trabalho. Ficam então aqui duas recomendações o LP e o DVD com o documentário sobre o disco. Foram músicas que entraram por nossos poros e até hoje despertam sensações especiais a cada nova audição, seja esporadicamente no rádio, em coletâneas, ouvindo o disco na íntegra ("o lado A e o lado B" como tão bem destacou meu brother e legend Tico Cavalcanti no filme 70 E TAL), seja em vinil ou através do streaming, ou nos arrepiando em trilhas sonoras como a que será sugerida a seguir.

 
UM LIVRO – DA BULL - LIFE OVER THE EDGE – Greg Noll

Uma verdadeira pena, este livro nunca ter saído traduzido em português, mas vamos lá, para quem consegue captar o entendimento em inglês as histórias de Greg Noll nesta biografia de 1989 é um relato do verdadeiro espírito do surf. Da Bull (O Touro) o apelido como ficou conhecido por seu estilo de ataque às ondas, descendo montanhas com carga total, segurando avalanches de água em suas costas em Waimea Bay. Noll é um contador de histórias fantástico e carismático (ao falar), mas para escrever buscou o auxílio da autora Andrea Gabbard, de outros livros de surf e montanhismo.

As histórias que Greg seleciona e conta, com minúcias, são fascinantes. No início do surf em sua carreira na Califórnia, Greg era um cara magro, super atlético e forte, ao viajar para o Hawaii ficou obstinado por ondas grandes. Produziu filmes de surf, atuou como dublê, fabricou famosas pranchas, um modelo especial em parceria com o amigo Miki Dora e abandonou o surf jovem, praticamente no auge, depois de surfar um mar gigante. Momentos, histórias, rituais, atos pioneiros que merecem ser conhecidos.

GREG E AMIGOS EM PÁGINA ILUSTRADA EM PRETO E BRANCO

NA ESQUERDA O ANÚNCIO DO MODELO "DA CAT" APELIDO DE DORA

GREG NOLL EM VISITA AO BRASIL RODEADO PELOS PIONEIROS DE SANTOS DURANTE O FESTIVALMA DE 2010 NO PAVILHÃO DA BIENAL EM SAMPA

Os relatos de suas principais aventuras: o primeiro dia em Waimea Bay no ano de 1957; o dia em que ele e o amigo Mike Stange entraram sozinhos para surfar Pipeline quebrando no terceiro reef (a capa de seu livro é uma foto de John Severson deste dia), em um de seus filmes há ele descendo uma onda fora de controle, com prancha inadequada para Pipeline, até um wipeout medonho; e principalmente a detalhada descrição da experiência espiritual do dia em Makaha, durante o histórico swell de 1969. Momento não registrado, porém, uma idealização é a pintura do artista Ken Auster exibida na contracapa do livro. 

CONTRACAPA DO LIVRO E A MÍTICA ONDA SURFADA EM MAKAHA

 

 

UM FILME – 70 E TAL – Rafael Mellin

Há uma “escola” – fórmula, na produção de filmes\documentários que traz a narrativa de pessoas que viveram um determinado momento histórico e as imagens disponíveis, preservadas antigas, ou reproduzidas de forma criativa tentando emular as situações. O segredo está em como isso é apresentado, na inspiração e eloquência de quem conta as histórias, e principalmente na forma como tudo é montado, a execução do roteiro. O resultado de 70 E TAL superou toda e qualquer expectativa e acabou gerando uma nova série ambientada nos Anos 80. Além do filme de uma hora, diversos episódios de meia hora, com temas específicos e subdivididos em regiões, com cenas de surf atuais utilizando réplicas de pranchas, ou modelos originais preservados, tudo regado por uma trilha sonora escolhida à dedo. Isso deu um ar especial às duas séries concebidas por Mellin, a primeira lançada em 2013. 

A série, produzida em uma parceria do Grupo Sal com o Canal OFF da Globosat, geraram um produto digno de prêmios internacionais. A direção de Rafael Mellin, suportado por uma equipe fantástica em todas as esferas da produção de cinema, contando ainda com o respaldo dos surfistas que viveram estes Anos 70. Uma trilha sonora esplendorosa, a década ajudou muito nisso... BINGO. A magia estava deflagrada. E assim foi. Acredito que poucos surfistas não assistiram, ao menos partes do filme. Mas a recomendação fica aqui para que a série completa seja assistida. Está na hora do canal OFF montar uma retrospectiva especial. Com infinitas reprises, como de hábito. As cenas de encerramento na praia da Guarda do Embaú, como a música Time do Pink Floyd dão lugar aos créditos e àquela vontade de quero mais.

Vejam teaser do filme neste link do Vimeo:

https://vimeo.com/75612710