PRÉVIA
Este é o primeiro
capítulo que foi lançado na internet em 2013 com diagramação de
FERNANDO MESQUITA. Grilão, como é mais conhecido no meio do surf, foi um dos
fundadores da Revista Fluir, trabalha de forma premiada com publicidade e
abraçou este projeto do livro.
Fernando será o responsável por toda direção de arte das páginas.
Fernando será o responsável por toda direção de arte das páginas.
Aqui neste BLOG
traremos diversas peripécias da parceria: Dragão e Grilão. Em primeira mão AQUI
ABAIXO o texto do primeiro capítulo do livro, que ainda será lapidado e
enriquecido até o momento do lançamento do LIVRO IMPRESSO.
VEJA MAIS DETALHES NO
SITE: www.hsurfbr.com.br
SANTOS ANOS 30 - "Pioneirismo"
Um fenômeno isolado
O
primeiro registro documentado fotograficamente do surf no Brasil ocorreu na
Cidade de Santos.
Um grupo de jovens, tomando como base uma
matéria de Tom Blake, que explicava o processo de fabricação de uma prancha havaiana
oca (Hollow Hawaiian Surfboard) para deslizar junto com as ondas do mar, cravou o
primeiro marco na história do surf brasileiro.
REPRODUÇÃO DA CAPA E DA ABERTURA DA MATÉRIA DE TOM BLAKE EM 1937
(ilustrações extraídas do site: waves.com.br)
O surf no Brasil (para valer/ficar de forma
definitiva) começou no Rio de Janeiro a partir dos anos 50; ponto!
Mas temos os registros da década de 30 em
Santos. Embora o surf não tenha criado raízes e desabrochado deste fenômeno
isolado, analisar este acontecimento é importante. É histórico.
Como em todo bom livro de “história” poderia me
deter aqui em alguns parágrafos sobre a história do surf de forma geral, de
suas origens no Havaí, no Peru e até na África... Hoje temos diversas fontes de
pesquisa e filmes que retratam e especulam sobre o nascimento do surf, portanto,
prefiro me ater à história do surf brasileiro.
Ancorado sobre este aspecto cabe aqui dar asas a
uma ponderação...
Antes mesmo de eu começar a surfar, nos anos 60,
meus pais se aventuraram rumo ao litoral norte de São Paulo e compraram um
terreno na praia de Juquehy, município de São Sebastião. Era uma epopeia chegar
até lá de carro. A jornada incluía balsa, pontes de madeira precárias,
atoleiros e trechos com o carro na areia de diversas praias, driblando as ondas
com a maré cheia e disparando para não atolar na areia fofa no momento de
voltar para a estrada de terra para passar por trás, ou por cima, do morro que
dividia a próxima praia.
Chegando em Juquehy as areias “latiam” ao
corrermos sobre ela (Juquehy em tupi-guarani significa areias cantantes) e ali
vivi uma das grandes emoções de meus tempos de garoto. Simeão Faustino, o
caiçara de quem meus pais compraram o terreno, tinha uma canoa de pesca, típica
do litoral paulista, debaixo de folhas de coqueiro, na orla da praia exatamente
no local em que hoje fica o primeiro condomínio de várias casas geminadas construído
em todo o litoral de São Sebastião, o “Porto Juquehy”.
Convidados por Simeão, eu e meu irmão Renato,
sentamos nos bancos da frente enquanto Simeão entrou no mar para um passeio. Na
volta... A emoção! Posicionado na popa da canoa ele dropou uma onda de meio
metrinho, usando o remo como propulsor e leme. Veio dar na areia com uma
velocidade alucinante. O que foi aquilo!?! Foi surf.
A especulação doida vem do fato destas canoas, escavadas
de um único tronco de árvore, virem da tradição dos índios Guaranis, que
habitavam estas praias. Agora paira a indagação: seria possível, em tempos
pré-Cabralinos, estes mesmos índios terem sido os primeiros surfistas do
Brasil, saindo da foz do Rio Juquehy, ou do Rio Boracéia (onde até hoje há uma
tribo) e terem seguido para pescar no mar e voltado... surfando?
THOMAS & OSMAR
Bem, disso não temos prova, talvez algum
surfista/antropólogo monte este quebra-cabeça, mas o que sabemos e temos
registro é de momentos de surf em Santos ainda nos anos 30. Na pesquisa de Alex
Gutenberg, há um quarto de século, para realizar o livro/revista “História do
Surf no Brasil”(1), ele se deparou com três amigos de Santos: Osmar
Gonçalves, Juá e Silvio, que praticavam surf na praia do Gonzaga, no final dos
anos 30. Alguns anos mais tarde, através de John Wolthers (de família tradicional
de surfistas pioneiros em Santos), Diniz Iozzi veio a conhecer
Thomas Rittscher Junior e sua irmã Margot, que comprovaram ser ainda mais
pioneiros, introduzindo-os aos veículos.
THOMAS RITTSCHER ACIMA (reprodução de abertura da matéria publicada na Revista TRIP)
E OSMAR GONÇALVES (extraído da edição especial - A História do Surf no Brasil - da FLUIR)
FORAM PERSONAGENS QUE MARCARAM A HISTÓRIA DO SURF BRASILEIRO PELO PIONEIRISMO
Foto: acervo da Família Gonçalves
Embora o surf não tenha frutificado de forma
definitiva daquelas empreitadas, estes momentos têm registro fotográfico e podem,
de fato, serem considerados os primeiros lampejos do surf em território
brasileiro.
A base de estudos para a construção destas
primeiras pranchas foi a publicação de um artigo na revista Popular Mechanics(2) em matéria publicada na edição de julho de 1937.
Recentemente algumas réplicas destas pranchas foram construídas por
carpinteiros navais de Santos e podem ser apreciadas na Faculdade Santa Cecília
e no Museu do Surf, instalado no Quebra-Mar. Outras duas réplicas estão no
acervo da revista Alma Surf e com a família Gonçalves em Campinas.
Thomas Rittscher nasceu em New York (1917), passou
a infância na Ilha de Manhattan e faleceu em 2011 aos 94 anos, em Santos. Veio
para o Brasil ainda muito novo (1930), continuou surfando até 1941, quando precisou
se apresentar em virtude da II Guerra Mundial. Após o ataque a Pearl Harbor
voltou aos EUA, mas acabou não precisando servir no front, sua irmã Margot
ainda continuou surfando por mais tempo em Santos.
Thomas era o que podíamos chamar de “um jovem
ativo e diversificado”. Atlético, praticou vela, remo, hipismo, saltos
ornamentais, polo aquático, arremessou dardo e disco, jogava o ainda
inexistente frescobol com tamborins de pele de gato. Ao ver a matéria na
revista Popular Mechanics, decidiu que era aquilo (a novidade – o surf) que
desejava fazer.
Não foram apenas Thomas e Osmar os precursores
do surf, a irmã de Thomas, Margot e o amigo de Osmar, Silvio Malzoni, também
foram mencionados. Um personagem que parece ser um pivô desta história é João
Roberto Suplicy Hafers, descendente de franceses com alemães, seu pai começou
trabalhando com café no porto de Santos e acabou se transformando num dos
maiores corretores da época. Juá, como é conhecido, foi colega de Thomas, ambos
partiam para “surfaris” colocando as pranchas num carro conversível para
desbravar picos da região, pela descrição de Thomas, um deles parece ter sido a
Porta do Sol. Thomas diz ter emprestado a tal revista para Juá e este teria
entregado a Osmar.
Na reportagem de Alex Gutenberg, Osmar Gonçalves
comenta que a revista foi trazida dos EUA por seu pai, que devido a ser um
próspero exportador de café, viajava com frequência para a América do Norte. Segundo pesquisa de Cisco Araña, todas estas
pranchas iniciais foram construídas com auxílio do engenheiro naval Júlio Pulz,
isso no verão de 1938.
ESTÁTUA DE OSMAR GONÇALVES EM SANTOS
Foto: Panoramio (google images) de Stgarbulha
Osmar Gonçalves nasceu em 1921 e faleceu em
abril de 1999, durante mais de uma década foi celebrado como o primeiro
surfista do Brasil. Homenageado no Dia do Surf na Câmara dos Vereadores de São
Paulo tem seu legado deixado para a posteridade como um dos precursores,
continuou surfando até meados dos anos 40, ao casar-se mudou para o interior do
Estado e abandonou o esporte, porém deixou sua imagem icônica ao lado do modelo
de prancha de Tom Blake, construída no Brasil, hoje uma estátua na orla de
Santos.
Mais do que consagrar Thomas (como o primeiro a
surfar no Brasil) ou Osmar (como o primeiro surfista brasileiro), o fato
histórico a ser destacado são os primeiros registros fotográficos de surf em
território brasileiro. A atitude empreendedora de basear-se em uma revista
internacional para praticar um esporte novo. A declaração de ambos de que ao
ver do que se tratava tal artigo da Popular Mechanics, pensaram: “É isto que eu
quero fazer!”. Assim
nasceu o surf no Brasil. A possibilidade de outros personagens terem deslizado
impulsionados por ondas brasileiras anteriormente, não pode, nem deve, ser
descartada.
Trabalho com os fatos coletados até esta data.
NESTE PROJETO DE PESQUISA, AINDA IREI ATRÁS DE OUTROS ACERVOS COMO O DA FAMÍLIA SUPLICY HAFERS - TENHO CERTEZA QUE PODEMOS ENCONTRAR +...
Trabalho com os fatos coletados até esta data.
NESTE PROJETO DE PESQUISA, AINDA IREI ATRÁS DE OUTROS ACERVOS COMO O DA FAMÍLIA SUPLICY HAFERS - TENHO CERTEZA QUE PODEMOS ENCONTRAR +...
PRAIA DO GONZAGA
A cidade de Santos nos anos 30
vibrava como um das portas de entrada para a que viria a se transformar na
maior cidade da América do Sul. Seu porto era o principal canal de saída para o
maior produto de exportação do país, o café. Nesse tempo a maioria dos
visitantes a São Paulo chegava de navio (o aeroporto de Congonhas foi
inaugurado em 1936), outra opção era a estrada de terra batida “Rio – São Paulo”
de 1928 (apenas em 1951 surgiu a pavimentada Via Dutra). Os famosos canais, que
presenteiam Santos com uma geometria única, começaram a ser construídos em
1907.
No final dos anos 30 na praia do
Gonzaga, ao redor do Canal 3, com suas ondas que quebravam gentilmente em
direção à praia, formava-se o cenário perfeito para tentar a intimidade com
estas pranchas que chegavam a pesar 80 quilos quando a água começava a penetrar
em sua estrutura oca. Thomas comentou com Paulo Lima (em entrevista
para o programa Trip – FM, na Rádio Eldorado), que “cheguei a tentar usar a
prancha das duas formas, com o bico normal e com a rabeta apontada para a praia”.
A experiência destes jovens era de pura alquimia, tentativa e erro. A
verdadeira introdução do “novo” tendo como base uma matéria (mais técnica do
que explicativa do esporte) em uma revista estrangeira.
Existe um elo perdido nesta história.
Margot aparece surfando com uma prancha bem menor, apenas deitada, já no meio
dos anos 40. O esporte foi abandonado em Santos? Aquelas ondas gentis e
convidativas não atraíram novos adeptos?
OS IRMÃOS THOMAS E MARGOT
Foto: acervo Família Rittscher
Se esta “primeira” semente não
germinou daquele instante histórico... Na década seguinte a cidade do Rio de
Janeiro faria o papel de se transformar no parâmetro para o desenvolvimento do surf
brasileiro, por algumas décadas.
ESSA HISTÓRIA SERÁ CONHECIDA NOS
PRÓXIMOS CAPÍTULOS...
Conversando como o professor Cisco
Araña ele aventou algumas hipóteses. Existem especulações de surf em Santos já
nos anos 50. No Rio de Janeiro ainda nos anos 40...
ESTE PROJETO ESTA SENDO INICIADO E
TODAS AS COLABORAÇÕES DOCUMENTADAS SERÃO ORGANIZADAS E ARQUIVADAS ATÉ O
LANÇAMENTO DO LIVRO IMPRESSO - 2018
Estarei sempre
aberto a todos os tipos de comentários, críticas e sugestões.
Aqui no BLOG trarei
muitos detalhes que acabarão não entrando no livro final por uma questão de
espaço.
Entrevistas na integra, álbuns de fotos que não teriam como caber no livro...
Entrevistas na integra, álbuns de fotos que não teriam como caber no livro...
Por Reinaldo “Dragão” Andraus