segunda-feira, 19 de outubro de 2015

SIDÃO – PARTE 2

Um pouco mais da vida e obra de Sidney Tenucci

Sidão ficou famoso no Brasil com o trabalho que fez com a marca OP. A primeira grande marca de surfwear de nosso mercado, inovando com produtos, abrindo horizontes de possibilidade de crescimento e estratégias de marketing. Nos 61 anos em que viveu nos deixou um legado incrível e ajudou a desenhar o estilo de vida do surfista brasileiro. 
CONVITE DE LANÇAMENTO DE SEU SEGUNDO LIVRO EM 2008
FOTO DE PAULO VAINER NO CANTO DO MOREIRA, MARESIAS

Antes de tudo Sidão foi um puro surfista de alma. O seu envolvimento com o surf começou na praia de Pitangueiras, no Guarujá. Suas primeiras paixões a música e o surf. O papel de empresário lhe rendeu notoriedade. Nos anos 2000 voltou seu foco para a habilidade quase que inata de escritor, talvez a sua maior vocação.
Aqui presto uma homenagem com algumas imagens que tenho em meu computador. Tentarei seguir uma ordem cronológica e encaixarei informações desde os tempos da adolescência, quando nos conhecemos. Impossível não ser um pouco “pessoal” nesta postagem.

SIDÃO SURFANDO NO CANTO DO MALUF
PRAIA DE PITANGUEIRAS, ANOS 70
DIVERSAS REPRODUÇÕES DE SEUS ÁLBUNS FORAM FEITAS POR ALBERTO SODRÉ NA OCASIÃO DAS GRAVAÇÕES DA SÉRIE 70 E TAL
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

A PRIMEIRA FOTO DELE AO LADO DE UMA PRANCHA DE SURF
UM MODELO GLASPAC E UMA BERMUDA DE HELANCA
AINDA PRECISO DESCOBRIR O NOME DESTE AMIGO

Conheci Sidão surfando ao lado da Ilha de Pitangueiras no Guarujá, nossos apartamentos eram quatro quadras distantes, mas estávamos sempre ali, com a turma, de dia na praia, à noite no centrinho e no cinema.
Uma curiosidade interessante é que eu tenho apenas duas fotos com a prancha do “dragão”, minha segunda prancha, uma São Conrado 7’0”, a que me contemplou com o apelido dado pela turma do surf, que carrego até hoje. Nestas duas fotos, Sidão aparece ao meu lado.

PASSAGEM DO EDIFÍCIO SOBRE-AS-ONDAS
ESTE CROMO É DO ACERVO DE UM GRANDE AMIGO NOSSO, O GUITARRISTA E SURFISTA CLÁUDIO CELSO, OU CLAUDINHO PIERONI, COMO O CHAMÁVAMOS
EU ESTOU COM A MINHA SÃO CONRADO VERDE, SIDÃO COM UMA PRANCHA SURF CHAMPION E TAMBÉM GOSTARIA DE DESCOBRIR O NOME DESSE NOSSO AMIGO, LEMBRO DELE, MAS NÃO LEMBRO O NOME, COM UM MODELO DE CANHÃO GLASPAC, PROVAVELMENTE DA SÉRIE MK1

ESTA FOTO É UM TESOURO PARA MIM, SURFANDO COM A PRANCHA DO DRAGÃO NA PRAIA DAS ASTÚRIAS 1971
AO FUNDO, APARECE SIDÃO REMANDO COM A SUA SURF CHAMPION
ESSA FOTO É DE UM AMIGO SURFISTA CHAMADO ARMANDO, NÃO LEMBRO DO SEGUNDO NOME DELE

No verão de 1972 Sidão inoculou o vírus das surf trips, ao viajar para o Peru com um grupo de amigos do Guarujá, encontraram e fizeram amizade com cariocas. Viajaram de Punta Hermosa até Chicama, subiram as montanhas até Machu Picchu. O espírito viajante em busca de ondas, que começou com Saquarema, o Litoral Norte de São Paulo e o Sul, para o surfista brasileiro estava se enraizando e a fase internacional começou com o Peru e logo se alastraria para o Hawaii e o resto do mundo, ainda nos Anos 70. Entre os paulistas, Sidão estava na linha de frente.
SIDÃO E AMIGOS EM CHICAMA
A PARTIR DA ESQUERDA, JOÃO PRÍNCIPE, LUÍS MELLO, TEIXEIRA, ZÉ MARIA, MAGOO ATRÁS DE SERGIÃO SACHS, GESTICULANDO E SIDÃO. FOTO ARQUIVO PESSOAL DO SIDÃO, PROVAVELMENTE TIRADA POR CARLOS MOTTA

CARREGANDO O ÔNIBUS RUMO A CHICAMA, 1972 – FOTO: SIDÃO

A partir de 1972, com 17 anos, Sidney Luiz Tenucci Júnior ganhou uma filmadora SUPER 8 de seu pai e começou a registrar momentos de suas viagens e do Guarujá.
AUTO-RETRATO FILMADO EM ESPELHO
SIDÃO NA TEMPORADA HAVAIANA 76\77

RECORTE DE CENA DE UMA MONTAGEM DE UMA HORA, DAS GRAVAÇÕES DE SIDÃO COM A SUA SUPER 8, COMPILADAS POR ALBERTO SODRÉ (COMMUNIQUÉ)
DISPONÍVEL NO SITE WAVES NO LINK:

Durante esta fase, da câmera SUPER 8, Sidão chegou a gravar mais de cinco horas de imagens, em filminhos de 3 minutos, principalmente de suas viagens. A qualidade não é das 10 mais, mas os registros são inestimáveis em termos de resgate do lifestyle durante os embrionários Anos 70.
Além destes filmes, Sidão pegou o costume de, ao final de cada ano, montar um daqueles álbuns de fotos, plastificado e com fotos em papel e depois, a partir dos anos 80, também recortes de revistas e catálogos da OP.
A segunda grande aventura de Sidão e seus Brothers do Guarujá foi em 1974, partindo do Brasil pelo Peru, passando pela América Central e culminando na Califórnia. Na primeira postagem em homenagem à Sidão é possível ler detalhes sobre esta viagem. Aqui abaixo mais algumas imagens de seu álbum de 1974.


SIDÃO TINHA UM CARINHO ESPECIAL POR ESTES ÁLBUNS
MUITAS VEZES FAZIA LEGENDAS DAS FOTOS
AMPLIE QUE É POSSÍVEL LER ALGUMAS ANOTAÇÕES DO “SIDÃO ESCRITOR”

AO FINAL DE 1975 SIDNEY SE LANÇOU EM SUA PRIMEIRA TEMPORADA HAVAIANA
NESTA PÁGINA DO ÁLBUM ELE FAZ A LAMINAÇÃO, EM PLENO NORTH SHORE, DE UM SHAPE DE SAM HAWK. LEMBRO QUE ELE CHEGOU A TRABALHAR NO BRASIL, AO LADO DO AMIGO ZÉ ROBERTO RANGEL, COM A FÁBRICA DE PRANCHAS GREEN ROOM
A GALERA QUE ESTAVA COM ELE NA TEMPORADA 1975\76

Na temporada havaiana de 1976\77 foi quando estreitei minha amizade com Sidão, ao repartirmos um quarto no North Shore e depois viajamos juntos para Maui no início de 1977.

SIDÃO SURFANDO EM HONOLUA BAY
IMAGEM FEITA POR MIM E RECORTADA DE SEUS FILMES SUPER 8

PÁGINA DE UMA REVISTA VENICE DOS ANOS 2000
SIDÃO NOS CAMPOS DE ABACAXI ACIMA DE HONOLUA BAY EM NOSSO CARRO ALUGADO CHECANDO AS PERFEITAS DIREITAS, FEVEREIRO 1977
FOTO: DRAGÃO
ABAIXO EDDIE EM FOTO DE KLAUS MITTELDORF

No final da década de 70 Sidão decidiu abrir uma marca de surfwear, o objetivo era continuar bancando seu desejo incontido de viajar atrás das ondas. Quando ele começou a OP não tinha ideia da magnitude que seu negócio iria tomar. Outros amigos já haviam sido precursores, como o carioca Tico Cavalcanti, e os amigos do Guarujá, Dany Boi, Fernando Rego, Madinho e Zé Roberto Rangel, com a marca Lightning Bolt. Wady “Mansurf” e Ermínio Nadim, com a marca Tangerina, que depois viria a se transformar na Sundek, também foram pioneiros (entre outros) surfistas\empresários de confecção.
Nos Anos 80 as marcas de surf tiveram um crescimento estrondoso e sem precedentes no cenário da moda. A OP acabou se transformando na líder do mercado. As vendas cresciam exponencialmente.

SIDÃO, NO CANTO SUPERIOR DIREITO DE CAMISETA VERDE, COM SUA EQUIPE NOS COLORIDOS ANOS 80. NESTA FOTO SIDÃO ESTÁ AO LADO DE SUA IRMÃ LOLLÔ TENUCCI, PEÇA FUNDAMENTAL PARA O SUCESSO DA OP. TAMBÉM APARECE SEU PAI, CONHECIDO COMO "SEU SIDNEY", ABAIXO DELES DE VERMELHO, NO CENTRO (DE CAMISETA ROSA CLARO) O DESIGNER MARCELO FUKUDA E DEITADO NO CHÃO DANY BOI, QUE TRABALHANDO COM SIDÃO FOI UM DOS MAIORES RESPONSÁVEIS PELO SUCESSO DOS EVENTOS OP PRO

No meio dos anos 80, já com o nascimento das revistas Fluir e Inside (a partir de 1983), a OP tomou a linha de frente. Os anúncios da marca estavam nas melhores posições em todas as revistas. A partir de 1985 o OP Pro se transformou no padrão de campeonato, uma evolução dos festivais criados por Paulo Issa nos anos 1970. E Sidão sabia da importância de ter uma boa equipe de surf, os atletas que ele contratava eram verdadeiros amigos e grandes surfistas.
IRMÃOS BROTHERS, OS BUENO E OS VON SYDOW, VIZINHOS DO GUARUJÁ
FINALISTAS DO CAMPEONATO PRIMO NA PRAIA DO PERNAMBUCO, 1981
DA ESQUERDA, TAIU BUENO, COM SUA LOCAL MOTION BIQUILHA, HAROLD (DODO) VON SYDOW, TOTÓ BUENO E CHRISTIAN VON SYDOW
TAIU E DODO FIZERAM A FINAL HOMEM A HOMEM, TODOS ERAM PATROCINADOS PELA OP
FOTO: FACEBOOK TAIU

Além desta quadra de talentosos surfistas do Guarujá, Sidão trouxe para o time diversos atletas de ponta e formadores de opinião, como Ricardo Bocão, Roberto Formiga, Tinguinha Lima e o catarinense David Husadel, entre muitos outros.
ANÚNCIO DE DIVULGAÇÃO DA ETAPA DE ABERTURA DO SEGUNDO ANO DO CIRCUITO ABRASP COM DAVIZINHO HUSADEL EM DESTAQUE

Em 1987 o terceiro OP PRO foi a etapa de abertura da recém-criada “Associação Brasileira de Surf Profissional”, foi vencido por Paulo Matos na praia da Joaquina, palco das três primeiras edições do evento. Em 1988 foi realizado no Quebra-Mar da Barra da Tijuca o primeiro grande campeonato do Circuito Brasileiro na cidade do Rio. Sidão também seria pioneiro ao fazer um OP PRO em Imbituba (1994) e depois em Fernando de Noronha (1995). Ele gostava de inventar e investir em novidades.

REPRODUÇÃO DE PÁGINA DE UM CATÁLOGO DA OP, PEÇAS DE MARKETING EM QUE ELE SEMPRE APRESENTAVA MUITA CRIATIVIDADE, COM DESTAQUE PARA O SURFISTA TADEU PEREIRA, QUE VENCEU O OP PRO DE IMBITUBA EM ONDAS FANTÁSTICAS, COM PRAIA LOTADA.
A FOTO DE SIDÃO SURFANDO É EM KUTA REEF, BALI
O ORIENTE SEMPRE O ATRAIU

A FAMOSA SEDE DA OP NA AV. DOS BANDEIRANTES NA CAPITAL PAULISTA, DURANTE A FASE ÁUREA DA EMPRESA NO INÍCIO DOS ANOS 90

No final dos anos 90 e início dos anos 2000 a situação do mercado estava sofrendo uma transição. Além disso, aos quarenta e poucos anos Sidão tomou um grande susto ao saber que tinha câncer na próstata. Na época apenas seus amigos mais chegados ficaram sabendo. Ele tratou a doença, reestruturou a marca e voltou em forma de licenciamento.

REPRODUÇÃO DE PÁGINA DA REVISTA
PEQUENAS EMPRESAS E GRANDES NEGÓCIOS

Foi também já nos anos 2000 que Sidão trouxe à tona (de forma mais forte), a sua paixão por escrever. Com a marca sendo produzida pelos licenciados, Sidão atuava como um consultor de marketing e voltou a ter tempo para viajar e se inspirar para escrever com maior afinco.
Na gravação que fiz com ele em junho de 2014 ele conta em detalhes todos os aspectos que o levaram a nunca assinar um acordo com a matriz da OP nos EUA. Todos seus amigos que agiram da mesma forma que ele no final dos anos 70 e início dos anos 80, registrando marcas que encontravam nas revistas Surfer e Surfing aqui no Brasil, chegaram a bons termos com as matrizes. Zé Roberto Rangel com a Town & Country, Piazza com a Billabong, os irmãos Fernando e Zezinho Rego com a Quiksilver, mesmo o caso da Rusty com Pedro Bataglin no Rio e Alberto Hiar em São Paulo, que chegaram a brigar pela marca aqui, mas hoje está tudo OK, Pedro até trabalha na Rusty na Califórnia e a marca é licenciada para a Surf Co., do grande amigo de Sidão, Alfio Lagnado. Para saber mais detalhes do “porque” de Sidão nunca ter fechado acordo, leiam o perfil dele publicado na edição de maio de 2015 da revista Hardcore (tem o link na postagem que fiz no início deste mês).
O fato é que o foco de Sidão passou a mirar a literatura a partir dos anos 2000, seu primeiro livro lançado foi Almaquatica, mas antes disso ele já publicava, em sua coluna SOUL SURF, dentro do site Waves, as andanças do Surfista Peregrino pelo oriente.  


REPRODUÇÃO DE POST DO SURFISTA PEREGRINO NO SITE WAVES

Nestas postagens de Sidão ele sempre alterava o crédito de seu “currículo” ao final de cada texto, alguns eram bastante interessantes. Tenho certeza que era o próprio Sidão que escrevia isso também, talvez com algum toquinho espirituoso do Juninho, editor do Waves à época.
VEJAM:
Sidão Tenucci é formado em jornalismo pela Escola de Comunicação e Artes da USP (Universidade de São Paulo) e com pós-graduação em letras. É surfista há 42 anos. Viajou 50 países na caça por ondas e pelas diversas visões de mundo. É diretor de marketing da OP (Ocean Pacific). Autor dos livros Almaquatica (Fnac), em parceria com o fotógrafo Klaus Mitteldorf e o designer gráfico David Carson, e da narrativa de aventuras de viagens O Surfista Peregrino (Livraria Cultura). Não desiste e tenta, há décadas, inutilmente, prender o tempo com palavras.

O livro Almaquatica foi uma parceria entre Sidão, autor dos textos, ilustrado com fotos de Klaus Mitteldorf e a arte (projeto gráfico), do aclamado norte americano David Carson. O resultado é uma pura peça de arte, em todos os três sentidos. Uma fusão de talentos. O livro foi publicado bilíngue.

KLAUS MITTELDORF E SIDÃO NA LIVRARIA FNAC
ABAIXO, REPRODUÇÃO DE MATÉRIA SOBRE O LANÇAMENTO DO LIVRO QUE FIZ PARA A REVISTA VENICE EM 2006 (CLICANDO E AMPLIANDO AS IMAGENS É POSSÍVEL LER)





CAPA DA VENICE MAG EM QUE SAIU A MATÉRIA
DANILO COSTA EM FOTO DE ALEKO STERGIOU NO TAHITI


Quando preparei a matéria, perfil de Sidão, para a revista Hardcore eu havia separado um pequeno trecho, de um dos capítulos, para terem uma ideia do estilo de escrita do Sidão. Apesar da matéria sair com 16 páginas, acabou sendo cortado por falta de espaço, mas aqui vai o trecho completo:
O Surfista Peregrino
Cosmmos do Brasil Produção Editorial – 2007
“Cada folha é diferente, muito diferente. Cada uma possui, além da sua própria aparência, a sua própria personalidade. Uma tem nervuras mais salientes ou escondidas na pele da folha; outras, perfis alongados, arredondados ou quebrados no dorso, na cabeça ou nas costelas. Existem aquelas com um toque mais áspero, mais liso ou até fibroso. Isso tudo eu já sabia. O que me surpreendeu foi observar que cada uma delas cai diferente. Cada folha faz o seu próprio voo, ou melhor, plana, desenhando sutis e maravilhosos traçados no ar; desenhando na tela de Deus a pintura do seu movimento único no seu caminho para a terra. Uma verde e grossa, por exemplo, caía em balanço, oscilando firme e constantemente, com autoridade; outra menor, mais acinzentada e seca, caía alvoroçada, estremecendo em estertores frenéticos durante a queda; outra ainda, pequena, caía reto e inapelavelmente, como um corpo morto ansioso por encontrar o solo, contrariando sua aparência suave; outras duas não se descolaram e caíram fortemente abraçadas, como um casal apaixonado (que pressentindo a morte que se aproxima, estreita ainda mais o abraço). Uma mais redonda e rajada como um tigre, criativa na sua arte, tecia uma trajetória em volteios, sem pressa em cair, brincando e dançando em lindos e imprevisíveis movimentos felinos, num pêndulo errático e cômico, me fazendo sorrir.”

O surfista peregrino viaja pela Índia, Sri Lanka e Maldivas em busca de si próprio, encontra ondas e pessoas, rios e folhas. Faz-nos parar para pensar, refletir sobre valores da vida. O que é relevante observar, sentir.

Sua última obra lançada foi o livro POENTES DE AMOR, também destaquei um trecho.


Décor Books – 2012
“Peru, 1972. Não, eu não tinha bigode, eu usava amor e uma prancha.
As ondas me despiam, quase sempre lavando tudo de estranho e errado e amargo.
O horizonte servia para passar os olhos e esperar a próxima série e seus mistérios sempre diferentes.
Com 18 anos eu não era nada, mas me sentia tudo.
Deixei os cabelos queimados de sol nos ombros, e o pensamento no invólucro de uma paixão perene.
Pedi carona nas carreteras peruanas rumo às águas frias do Pacífico...
...
...queria abraçar o mundo com minha vontade, cruzar todos os mares, olhar cada rosto e ouvir cada voz.
Eu queria amar todas as mulheres e experimentar tudo enquanto surfava todas as ondas do universo ao mesmo tempo.
O meu apetite era do tamanho da minha estupidez. Graças a Deus.”

Um livro de poemas, são 70 deles, assinados por Sidão e ilustrados por 55 artistas diferentes.

Uma outra coisa que acho interessante diferenciar aqui é a foto que foi utilizada na Hardcore para destacar os 3 livros dele (ver páginas na postagem anterior de 7 de outubro), uma foto da Birmânia – Myanmar, de seus arquivos digitais das viagens mais recentes. A foto é de 2013, foi publicada em preto e branco, aqui coloco a foto em suas cores originais.

FOTO ARQUIVO PESSOAL SIDÃO

Para finalizar esta postagem de homenagem ao meu amigo, que muito deixou de legado para os surfistas e empresários brasileiros, duas coisas.
  1. Um trecho de seu quarto livro, que ele ainda estava dando os toques finais, mas me passou em primeira mão para que eu lesse e desse uma opinião. Aqui vai o início do primeiro capítulo.
  2. Uma colagem com mais algumas fotos e legendas. Deixo o compromisso de ainda incrementar esta postagem no futuro. Uma das mais interessantes possibilidades de um BLOG é esta facilidade.

Primeiro o trecho do livro ambientado na Escandinávia. Respirem fundo, não é uma leitura de fácil digestão, mas demonstra o grau de “estado da arte” que nosso amigo havia atingido com seu dom literário.
NO FINAL MAIS FOTOS DE BÔNUS

Estocolmo
Sidney Tenucci

No apartamento de Ingrid
         Imperceptivelmente, quase sem precisar se mexer, com um movimento híbrido de felino e marsupial escandinavo, entrou. Numa leve torção involuntária, algumas vértebras do seu pescoço estalaram. Alguém ao lado ouviu e o encarou de modo estranho. Mais uma vez seu ímpeto foi maior que o seu raciocínio, um hábito que ele reconhecia como recorrente e perigoso. Malucos espalhavam-se deitados pelos tapetes de urso polar. Um deles tinha um baseado entre os dentes, outro um enorme cachimbo de âmbar. Uma loira baixinha e sardenta tinha amarrado vários cigarros nos longos cachos decorados por dreads jamaicanos, parecendo uma árvore de Natal dos trópicos. O Primeiro Eu não gostou do que via. Algo lhe incomodava, ou talvez quase tudo. Ele sempre foi inconsequente e corajoso como um touro entorpecido. Nesses momentos seus olhos costumavam injetar sobre um alvo que não via, com raiva do que não entendia. Esse instinto tentou se manifestar novamente, mas, dessa vez, ele não permitiu que aflorasse. Animais rendem metáforas imbecis, a sua vida rendia explosões pouco inteligentes. Tinha medo do desconhecido, e os desconhecidos tinham medo de dele. Instintivamente ele sabia o que não era bom, que não era uma boa pessoa. Sempre soube. Exatamente como aquele apartamento, ele também não era confiável. Nas veias dos olhos do inca Nenhuro, seu velho e inconsequente colega, em ritmo de rapsódia ensandecida, as pequenas tiras vermelhas saltavam volumosas e choravam lágrimas temperadas a cannabis severas. Loucas rosas de maconha suando a orvalho ácido. A princípio pulsavam e pareciam eternas no seu encantamento, mas, no momento seguinte, como sempre e finalmente sem cor, seriam trocadas por outras, mais jovens, menos mofadas. “Impossível não traçar uma analogia com a trajetória de algumas mulheres e sua pele macia e descartável pela crosta áspera do planeta”, pensou: “Se não fosse pela pele das mulheres esse mundo seria uma merda”.  Súbito, teve uma antiga e péssima sensação, um enjoo inexplicável. Na tentativa de alcançar um tom de perspicácia e equilíbrio, a decoração da casa de Ingrid ficara pejorativamente moderna e previsível. O ambiente fracassara. Quadros e tapetes sem vivacidade e de caráter duvidoso comprometiam o seu já frágil respeito pela proprietária. O fato de ela ser sua amante ocasional só tornava o julgamento mais contundente. Poucas cadeiras raquíticas com pretensões “light” e cortinas balinesas do mercado para turistas com baixo poder aquisitivo afloravam e ofendiam a vista. Flores de plástico confeccionadas na Finlândia insultavam os sentidos, embora a perfeição de suas formas ludibriasse o olfato por alguns segundos. Não se viam floreiras naturais, Ingrid não tinha paciência para regá-las. Um totem asteca da região mexicana de Oaxaca sentia-se visivelmente deslocado e constrangia-se ao lado de uma geladeira pintada com um preto pálido. Mesmo para paladares kitsch, a mobília ficara claramente indefesa, e dava um certo mal-estar circular por ali. “Não deem ametistas aos porcos!!”, gritou uma avozinha esotérica de dentro do seu arquivo emocional. Sentou-se a uma mesa redonda e séria que pareceu um pouco mais convidativa, embora com remotas possibilidades de refeições servidas, ele tinha certeza, pelo menos em curtíssimo prazo. Ingrid não se preocupava em alimentar seus convidados. Para ela era “primeiro sexo e comida em décimo”. Suas reservas de gordura nos lugares certos administravam o gasto calórico do inverno perfeitamente. Ingrid levantou-se do seu sofá preferido e dirigiu-se ao grupo de pessoas jogadas e drogadas em cima dos almofadões xadrez e dos “puffs” de couro marrom ao lado da lareira de pedras. O Primeiro Eu sentiu-se nauseado com o impacto da visão daquela bunda, como se tivesse sido a primeira vez que tivesse testemunhado seu poder. Mais que voluptuosa, era extravagante. Desafiava com galhardia e ao mesmo tempo as leis da estética e da gravidade. Surgia imensa e descia, com vigor e ritmo, de uma cintura ridiculamente fina. De passagem, transmitia estranho aconchego. Depois de uma empinada tão obscena na altura quanto desconcertante expansão na largura, continuava com veemência e garbo em dobras contínuas e decrescentes, em cascata, para decair abruptamente e sem aviso prévio, terminando despudorada e maravilhosamente desproporcional nas coxas fortes como postes. “Ancas de potra e aliás combinadas”, diziam os admiradores. Aquela bunda introduzia no mundo moderno um novo conceito de beleza, trazida sem escalas ou melindres do Período Pleoscênico. Uma visão brutal e atávica materializada no bairro de Zoegemfald. O Primeiro Eu se apaixonou imediatamente, mais uma vez. Esqueceu imediatamente todas as falhas de caráter e as má-criações da sueca. Suas crises de mau humor, seu destempero com os criados, sua voz desagradavelmente alta ríspida quando queria alguma coisa, seu bafo de arenque defumado enquanto dormia. Esqueceu, inclusive, um dos ditados imortais que seu pai havia lhe dito, quando ainda era adolescente: “Se apaixonar por um cu só pode dar merda”. Nesse momento viu alguém passando com uma bandeja e tentou inutilmente alcançar uma bebida de uma tonalidade vermelho escura. Queria que fosse algo de preferência forte, e que tivesse o dom de corroer aquele algo indefinível dentro de si, cauterizar aquela dor. Tentava imaginar que espécie de vagina soberba se esconderia por detrás daquelas carnes. Pela extensão da área, muito provavelmente necessitaria de um mapa para encontrá-la. Todos em volta pareciam calmos e sem surpresa nas faces descoradas pelo contínuo frio de intermináveis meses lá em Estocolmo.

ESTAS SÃO AS PÁGINAS 1, 2, 3 E 4 DE 274 QUE TENHO EM MINHA MÁQUINA

VAMOS ÀS FOTOS FINAIS

DATCHA TENUCCI, FRANK DA GUARDA E SIDÃO

SIDÃO E AS FILHAS JULIANA E ISABELLA TENUCCI

EM MARESIAS COM OS AMIGOS DO CANTO DO MOREIRA,  ANOS 80
DA ESQUERDA: JOÃO HELOU, SIDÃO, OS IRMÃOS MADINHO E THYOLA CHIARELLA, DODO VON SYDOW E ALFREDO BAHIA

SIDÃO EM SUA FASE DE SOLTEIRO NO RIO DE JANEIRO
FINAL DOS ANOS 70 - FOTO: ARQUIVO PESSOAL

 ANOS 2000, PONTA DE PÁGINA DE UM DE SEUS ÁLBUNS
SURFANDO A VALINHA EM FRENTE DE CASA

ARTE DE SÉRGIO BUENO, SOBRE FOTO DE ROBERTO PRICE
SALSA BRAVA, COSTA RICA, ANOS 90


sexta-feira, 16 de outubro de 2015

A SÍNDROME DO RETROVISOR

Fittipaldi, Piquet, Senna & Medina

Emerson Fittipaldi foi o primeiro campeão mundial brasileiro de F1, nos anos de 1972 e 1974. Com ele começou a ser criada uma “lenda”, de que quando os pilotos que estavam a frente de Fittipaldi na corrida, viam o bico da Lotus preta dele no retrovisor se aproximando, sabiam que seriam ultrapassados. Na sequência vieram Nelson Piquet e Ayrton Senna que mantiveram um legado de vitórias no segundo esporte em que o Brasil impôs a sua presença de campeão (após o futebol).
 AYRTON SENNA TROUXE A BANDEIRA BRASILEIRA
PARA O CENÁRIO DA FÓRMULA 1

Antes da etapa de J-Bay Gabriel Medina estava em vigésimo no ranking, subiu para 15º, depois décimo e agora já está em quinto e dependendo de sua performance na etapa de Portugal, pode chegar ao Hawaii como sério candidato ao bicampeonato. Vem ganhando posições nessa corrida.

GABRIEL MEDINA, EM IMAGEM RECORTADA DO SITE SURFLINE
SUA PERFORMANCE NO QUIKSILVER PRO DA FRANÇA FOI DE SUPREMACIA EQUIVALENTE A QUE FILIPE TOLEDO TEVE NAS ETAPAS DA GOLD COAST E DO RIO. TIROU NOTAS 10 COM AÉREOS E TUBOS DE BACKSIDE
NINGUÉM CHEGOU PERTO
  
A briga pelo título da temporada 2015 da Liga mundial do Surf está polarizada entre seis surfistas, três brasileiros e três australianos.

Kelly Slater (7º), Ítalo Ferreira (8º) e Jeremy Flores (9º), ainda tem chances (apenas matemáticas) de um título neste ano. Dependem muito das derrotas prematuras de todos os seis que estão a frente deles. Esquece.

Sejamos práticos. Dos seis líderes, Filipinho é o único que tem duas pontuações de apenas 500 pontos (25º) para descartar. Medina e Julian Wilson tem 500 pontos para se livrar em Portugal, etapa a partir da qual começam os descartes.
Embora Mick Fanning e Adriano de Souza tenham uma boa margem e sejam os favoritos, podemos chegar no Billabong Pro em Pipeline com até sete surfistas com possibilidades de título e pela primeira vez poderemos ter três brasileiros, Adriano, Gabriel e Filipe, neste MIX.
O título de Gabriel Medina em 2014 está até ofuscando a performance, sem precedentes, de nosso time em 2015. Exceto pelas etapas de Fiji e da África do Sul, sempre tivemos um brasileiro na final. Isso é incrível e se reflete no ranking.

MINEIRO ABRAÇA MEDINA, APÓS A VITÓRIA NA FRANÇA
IMAGEM RECORTADA DO WEBCAST DA WSL

Bem (well), teremos de esperar o desfecho da etapa de Portugal, que começa na terça e vai até o final deste mês de outubro, para sabermos quantos postulantes ao título teremos no Hawaii. Emoção não vai faltar. A bandeira brasileira estará em Pipeline.


quarta-feira, 7 de outubro de 2015

SIDÃO TENUCCI

Grande patrono do surf nos deixa aos 61 anos

Sidney Luiz Tenucci Junior, o Sidão da OP, faleceu no dia 5 de outubro vítima de câncer no cerebelo. Ele já estava de cama desde o final do ano passado, fez quimioterapia, resistiu nobremente, meses, mas foi... 
Nos deixando lembranças incríveis de muitas realizações.
ARTE DE SÉRGIO BUENO SOBRE FOTO DE ?? 
(bela foto - quero dar o crédito, apresente-se o autor)
SIDÃO E SEU ESPÍRITO “VOCÊ É O CARA!”

Esta postagem será aprimorada com novos TEXTOS & FOTOS nos próximos dias. Muitas informações e outras histórias.

O corpo de Sidão se extinguiu hoje no Crematório da Vila Alpina na Capital Paulista, a cidade que foi berço de Sidão e a qual ele utilizou como quartel general para desenvolver seus negócios, seu estilo ÚNICO de escrever e como trampolim para conhecer mais de 50 diferentes países do mundo.

Sua alma de surfista peregrino estará nos inspirando SEMPRE.

Em junho de 2014 ele veio para o aniversário de nosso amigo Thyola, ficou no meu apartamento no Guarujá e foi a ocasião em que gravei para meu livro "A GRANDE HISTÓRIA DO SURF BRASILEIRO", uma longa entrevista com ele; Sidão contando sua própria história.


ABERTURA DA MATÉRIA PUBLICADA NA HARDCORE # 306 DE MAIO DE 2015

Tive o prazer de montar este texto e ler para Sidão, ao lado de sua cama, na casa de sua irmã Lollô Tenucci, no Brooklin. O diretor editorial da Hardcore, Adriano Vasconcellos, disse: "Dragão, manda bala, quero publicar 'em vida'." Da entrevista que fiz com ele no ano passado, ainda guardo trechos inéditos que farão parte do prefácio de meu livro a ser lançado em 2016. O convite para ele escrever essa introdução a uma história que ele viveu intensamente, havia sido feito a Sidão desde 2013.

Aguardem mais fotos e comentários sobre a sua carreira, passagens que vivi ao lado dele. Por hora, para quem desejar conhecê-lo melhor, seguem abaixo as imagens das outras 7 páginas duplas publicadas na Hardcore, na verdade faço poucas interferências e deixo o próprio Sidão contar a sua história.

CAPA DA HARDCORE EM QUE SAIU A MATÉRIA

ABAIXO AS OUTRAS 14 PÁGINAS COM O TEXTO PUBLICADO








REPRODUÇÃO DO PERFIL DE SIDÃO
PARA QUEM DESEJAR BAIXAR OS ARQUIVOS PARA AMPLIAR E LER
É POSSÍVEL CLICAR NAS IMAGENS E FAZER DOWNLOAD
LINK para ler no site da HARDCORE:
 http://hardcore.com.br/sidao-tenucci-alma-acima-da-razao/

A MAIORIA DESTAS FOTOS SÃO DE ÁLBUNS QUE SIDÃO ORGANIZAVA ANUALMENTE


TIVE A AJUDA DAS FILHAS ISABELLA E JULIANA TENUCCI PARA GARIMPAR ESTAS IMAGENS DOS ARQUIVOS DA FAMÍLA

Tenho diversas outras fotos scaneadas destes álbuns, vou organizar e em breve colocarei aqui nesta postagem (ou em uma PARTE 2) com outras informações e curiosidades.


Este blog não vai parar de trazer as histórias das mais importantes e influentes personalidades que ajudaram a moldar a história do surf brasileiro. Sidão, não é porque é meu amigo, mas é fácil colocá-lo entre os 10 surfistas mais influentes de nossa história, ao lado de Bocão, Pepê, Gabriel Medina e meia dúzia de outros. Fez diferença. Foi fundamental para o desenvolvimento do surf no Brasil.