segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

ADAPTAÇÃO AO QUE VEM PELA FRENTE

O ano de 2024 certamente trará surpresas

Está claro que o surf competição está passando por uma grande transição, em nível mundial e aqui no Brasil também. Este processo já vinha ocorrendo antes da pandemia de 2020\2021 e foi agravado por ela. Mas podemos vislumbrar boas mudanças.

FASES DO CIRCUITO BRASILEIRO

ETAPA DO PRIMEIRO CIRCUITO EM 1987, PATROCÍNIO DA SURFWEAR

MESSIAS FELIX NO SUPER SURF E A CHAVE DE UMA CARRO NA MÃO

BRASIL SURF PRO EM BÚZIOS, DUROU DE 2010 A 2012 

A Abrasp foi a entidade responsável pela estruturação do surf profissional no Brasil, fundada em 1987, em conjunto com a Abrasa que cuidava do surf amador. Nos anos 2000 criou-se um novo projeto com o SUPER SURF, ancorado na estrutura do Grupo da Editora Abril, foram buscados grandes patrocinadores e num período de 10 anos diversos carros foram dados como premiação, para homens e mulheres. Em 2010 entrou em cena a empresa de eventos Brasil 1, que alterou o nome do Circuito Abrasp para BSP – Brasil Surf Pro, a empreitada durou três anos com patrocínio principal da Cerveja Skol e da Petrobras, trazia também a participação da marca HD – Hawaiian Dreams.

No final dos Anos 2010 os patrocínios foram diminuindo, o foco se voltou com grande atenção para o circuito mundial, quando começaram nossas vitórias na elite com Gabriel Medina, Adriano de Souza... O circuito brasileiro não parou, mas passou por uma fase mais difícil, pouco patrocínio. Por outro lado, a Abrasa, que havia dado lugar a CBSurf (Confederação Brasileira de Surf), também começou a enfrentar alguns problemas e apenas após a pandemia ocorreu um ressurgimento em grande estilo dos circuitos nacionais.

A ÚLTIMA ETAPA DO DREAM TOUR DA CBSURF EM 2023 CONTOU COM ONDAS DE RESPEITO NA BARRA DA TIJUCA, COMO ESSA DE MESSIAS FÉLIX NO PENÚLTIMO DIA DO EVENTO (ABAIXO LINK PARA O INSTAGRAM DELE)

https://www.instagram.com/p/C0uKq1bg0vY/

Atualmente a CBSurf está organizando os circuitos profissionais e amadores no Brasil. Neste mês de dezembro, após seis etapas foram definidos os campeões profissionais da temporada 2023: Tainá Hinckel da praia da Guarda do Embaú no feminino e o paulista Weslley Dantas de Itamambuca no masculino.


PÓDIO NO MEIO DA BARRA APÓS A ÚLTIMA ETAPA DE 2023

DA ESQUERDA PARA DIREITA A VICE CAMPEÃ NA BARRA KEMILY SAMPAIO (SP), OS CAMPEÕES DA ETAPA DO RIO: LUEL FELIPE (PE) E JULIANA DOS SANTOS (CE), COM VALES BOLSA DE ESTUDOS E AINDA LEVANDO CHEQUES DE R$ 40.000,00 PELA VITÓRIA NA ETAPA. COM O TROFÉU DOURADO OS CAMPEÕES DA TEMPORADA TAINÁ HINCKEL (SC) E WESLLEY DANTAS (SP), COM O TROFÉU ACIMA DA CABEÇA WESLEY LEITE (SP), QUE FOI VICE NO RIO E OS TERCEIROS COLOCADOS RYAN KAINALO (SP), DIANA CRISTINA (PB), NICOLE SANTOS (PE) E VITOR FERREIRA (RJ)

WESLLEY DANTAS NA BARRA, NÃO VENCEU NENHUMA ETAPA DA TEMPORADA, MAS A CONSITÊNCIA LHE PROPORCIONOU O TÍTULO  


Nas páginas dos cinco livros da coleção “A Grande História do Surf Brasileiro” trarei detalhes sobre todos os aspectos da evolução das eras de competição e como o esporte surf foi se estruturando em nossas águas. Todos os campeões, nacionais e estaduais serão elencados. No próximo episódio deste blog, o primeiro de 2024, trarei algumas informações sobre os campeonatos júnior, mirim e iniciantes, tão importantes na formação da base e que foram essenciais para nossa excelência internacional nos tempos atuais. Mas agora fecho minha última publicação no ano de 2023 com mais três dicas:

AS BAFORADAS DO DRAGÃO

UM DISCO


 

UM LIVRO

 

UM FILME

 

UM DISCO – MISTERY TO ME – Fleetwood Mac

O conjunto teve sua origem na Inglaterra, como um grupo de blues raiz e se transformou num fenômeno pop no meio dos Anos 1970 com o lançamento de seu mais famoso álbum, Rumours em fevereiro de 1977. Uma série de grandes guitarristas passou pelo Fleetwood Mac, mais impressionante ainda é a constelação de incríveis vocalistas que atuaram nos lead vocals e podemos dividir a história da banda em três diferentes fases.

A fase inicial do grupo, durante os anos 1960 tinha como vocalista o guitarrista Peter Green. Peter era o líder da banda, embora o nome foi tirado da “cozinha”, o baixista John McVie e Mick Fleetwood, baterista, que teve um restaurante com seu nome arrasado no incêndio de Lahaina em Maui, ambos permanecem na banda até hoje. Os três primeiros discos do Mac eram do mais puro blues, pesado e arrastado, com influência norte-americana. Peter Green é o compositor e criador da versão original de Black Magic Woman, que ficou famosa com Carlos Santana. A gênese do grupo foi em 1967 e nos primeiros discos vinha escrito na capa: PETER GREEN’S FLEETWOOD MAC.

A segunda fase do grupo, de onde sai Mystery to Me tem a guitarra jazzística de Bob Welch, também vocalista e já a participação da esposa de John, Christine McVie, de voz doce e ampla gama vocal. Neste disco o outro guitarrista é Bob Weston. Por todo o período inicial do Fleetwood Mac, os 10 primeiros anos, passaram guitarristas de primeiro calibre, ainda junto com Peter Green, Danny Kirwan e Jeremy Spencer. Todos os álbuns até 1975 são altamente recomendáveis, distintos um em relação ao próximo e valem audição completa.

CAPA INTERNA DE MYSTERY TO ME
A RAZÃO DE OS DISCOS ANTIGAMENTE SE CHAMAREM ÁLBUNS
ALÉM DE FOTOS DA BANDA SACAVAM-SE AS LETRAS DE DENTRO 

A terceira fase da banda se concretiza com a entrada dos virtuosos Lindsay Buckingham e sua esposa Stevie Nicks a partir da segunda metade dos Anos 1970. Um casal apaixonado e briguento, mas que teve na música e no equilíbrio dos McVie e de Fleetwood a base para ancorarem mais uma sequência de discos maravilhosos. Entre tantos, é possível destacar Lindsay como o mais feroz dos guitarristas do Mac. Nicks trouxe um contraponto aos vocais de Christine, a versatilidade vocal do Fleetwood Mac sempre foi um dos pontos altos da banda.

Mas vamos a história do por que da minha escolha por este álbum? Há uma pitada de surf envolvida nesta opção. 

O disco é de 1973 e no meio dos anos 1970 apareceu pelo Guarujá um surfista da Flórida, Mike Tabeling, já campeão de diversos eventos nos EUA, desde a época dos pranchões e posteriormente, como shaper também, se transformou em um dos masters com as pranchas modelo fish. Foi Mike que nos apresentou o som do Fleetwood Mac, especificamente Mystery to Me.


MIKE TABELING EM FOTO DE ANÚNCIO DA MARCA SUNDEK

Para nós do Guarujá era muito raro, motivo de curiosidade e aprendizado, quando apareciam surfistas estrangeiros surfando as nossas ondas. Tive uma ideia do talento desse cara em um dia de marolas na praia de Pitangueiras. Lembro que viemos (Mike, Égas – meu surfista preferido do Guarujá e eu) andando pela praia desde o Canal, no canto direito, em direção à Ilha que fica praticamente no meio da praia. Nenhuma vala estava muito boa, as ondas em torno de 1 pé, tipo meio metro, bem fracas. Ao passarmos pela ilha. Mike decidiu cair lá, bem em frente. Era um lugar que nunca surfávamos. As ondulações que vêm dos dois lados da Ilha Pombeva, se encontram formando micro-picos, praticamente sem paredes, mas sempre bem formados. Tabeling falou “Vamos cair aqui” e foi entrando no mar enquanto Égas e eu olhávamos meio incrédulos. Mike foi entrando, se esgueirando por piquinhos que pipocavam aqui e ali. Quando escolheu a primeira onda já deu um cutback super veloz, usou o rebote na espuminha para acelerar e saiu em zig-zag a mil por hora gerando velocidade do nada.

Mike Tabeling era um surfista excepcional, sabíamos disso, pois figurava como uma das estrelas das revistas importadas – só o que tínhamos de referência escrita e fotográfica. Meu amigo que hospedou ele contou que o cara acordava no meio da madrugada, Fleetwood Mac rolando a mil no quarto de empregada, onde ele dormia, para fumar um baseado e eram vários por dia. Fora a loucura, naqueles poucos dias que passou por aqui fez um surf admirável e muito acima do nosso padrão. Foi até Imbituba em uma barca com a turma do Guarujá. São histórias que podemos rir ao lembrar passados 50 anos.

UM LIVRO – THE ENCYCLOPEDIA OF SURFING – Matt Warshaw

Matt Warshaw é um de meus escritores favoritos ao falar sobre surf, autor de diversos livros e principalmente esta empreitada de folego A ENCICLOPÉDIA que além da versão escrita, com a capa apresentada acima, tem a versão da internet com um custo mensal barato para acessar uma infinidade de informações ilustradas. Antes de se dedicar aos livros foi editor da revista Surfer e lembro de parar em meio a textos, tipo coberturas da temporada havaiana, em que eu não havia ido ao Hawaii e pensar: “Cacilda! Como esse cara escreve bem e sabe contar uma história”, tinha aquela capacidade de nos transportar ao North Shore, relatando toda pressão, ação, emoção... Uma verdadeira escola de cobertura jornalística de surf.

Warshaw é alguns poucos anos mais novo do que eu, mas começou a trabalhar na imprensa do surf antes, eu comecei apenas com 30 anos, em 1986. Como pretendo manter estas dicas DISCO\LIVRO\FILME por um bom tempo em minhas postagens futuras, é inevitável que outras obras de Matt Warshaw sejam citadas aqui. Recentemente ele pegou toda obra original deste livro, que já estava disponível na web de forma ampliada e revisou de cabo a rabo. Inclusive se preocupou em incluir diversos novos verbetes com surfistas brasileiros ausentes no livro. No ano de 2023 ele mergulhou na empreitada de revisar tudo, editar, corrigir, aumentar. Tudo, letra por letra. Um trabalho hercúleo.

Abaixo o link para acessar seu site, recomendo para quem gosta de ler em inglês a um custo mensal de cinco dólares. Um trabalho que vale a pena ser prestigiado. Tudo e mais um pouco sobre surf está ali.

https://www.eos.surf/


UM FILME – FIVE SUMMER STORIES – MacGillivray & Freeman

Há uma (talvez duas mãos cheias), pequena quantidade de filmes de surf que merecem entrar para a categoria dos clássicos. Five Summer Stories é um desses. Os norte-americanos Greg MacGillivray e Jim Freeman já vinham produzindo filmes de qualidade desde o tempo dos pranchões, ainda nos Anos 1960. Não foram pioneiros nestas produções como John Severson, Bud Browne, Greg Noll, Bruce Brown, Dale Davis... mas entraram em cena com um padrão de qualidade elevada. Em uma época em que as produções de filmes de surf funcionavam da seguinte forma: os cineastas em 16, ou 35mm pegavam suas pesadas câmeras, rolos e rolos de filmes e começavam a filmar em suas praias locais, sempre no Hawaii e algumas viagens. Com o material de um ano, por vezes um ano e meio, ou dois, três, quando achavam que tinham material suficiente, montavam e lançavam o filme.

Five Summer Stories teve sua primeira versão no ano de 1972, são cinco segmentos e o primeiro deles tem o foco para Pipeline. Em 1972 as pranchas ainda estavam sendo aperfeiçoadas para as ondas de Pipeline. A dupla MacGillivray e Freeman registrou toda revolução que foi alterando as pranchas dos longboards originais para as pranchinhas. O que foi chamado “Shortboard Revolution” é registrado em Waves of Change de 1969. Eles filmaram surf desde 1963, passaram pelo Brasil em 1965 com o campeão americano Mark Martinson e o amigo Dale Struble, filmaram no Rio.

Five Summer Stories foi uma despedida do surf, pois partiram para voos mais altos e abrangentes utilizando IMAX, uma tecnologia disruptiva nos Anos 70 e criando peças de publicidade aclamadas. Na verdade, nunca abandonaram as cinco estórias do verão, fizeram versões atualizadas 5 PLUS 4. Venderam material para diversos outros cineastas, ao longo dos anos. No filme original além da sessão inicial em Pipe com destaque para Gerry Lopez, são traçados perfis de astros da época como Jeff Hakman, Barry Kanaiaupuni, o australiano Terry Fitzgerald e o sul africano Shaun Tomson. O contraste de estilos, com assinaturas singulares, gestos sobre a prancha é patente e admirável até hoje, com monoquilhas embrionárias, pranchas difíceis de surfar, porém manejadas com arte. O filme tem um fluidez musical e de imagens que é cativante.

Abaixo um trailer de uma reedição mais atual da obra prima:

Este blog fica por aqui em 2023.

Mais HISTÓRIAS DO SURF em 2024...

E prometo ser incansável na empreitada de lançar os próximos 4 VOLUMES (livros) de minha obra.

WWW.HSURFBR.COM.BR

 

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

MAIS UM TÍTULO MUNDIAL PARA O BRASIL

E como virou hábito aqui, dicas: 1 disco, livro, filme

Nosso herói da vez foi Ryan Kainalo, campeão mundial sub 18 da ISA, o antigo mundial amador. O pai de Ryan, Alex Miranda, além de bom surfista tornou-se um competente cineasta e será reverenciado neste blog em futuro indeterminado. As gerações de surfistas brasileiros, sempre apaixonados, continuarão a fazer a diferença.

RYAN FOI CAMPEÃO DA CATEGORIA PRINCIPAL EM 2023

O BRASIL FOI CAMPEÃO POR EQUIPES NESTE EVENTO

Não me furtarei a sempre trazer uma perspectiva histórica neste blog e falando dos mundiais da ISA (International Surfing Association), que anteriormente foi fundada como ISF e era uma federação, responsável pela realização dos primeiros mundiais de surf a partir de 1964, quando o australiano Midget Farrelly, venceu em Manly Beach, sendo considerado o primeiro campeão mundial da federação, podemos dizer... oficial da história. O surf ainda era um esporte apenas amador.

Estes campeonatos World Surfing Championships eram realizados a cada dois anos, em 1972 ocorreu um último evento amador de abrangência, com a maioria dos principais surfistas da época participando. Foi realizado em San Diego na Califórnia e vencido pelo havaiano Jimmy Blears, que mais tarde ocuparia a cadeira do principal salva-vidas escalado para a torre de Sunset Beach no Hawaii. Em 1975 começaram a pensar na criação de um circuito mundial profissional, o que se concretizou em 1976 com o australiano Peter Townend sendo sagrado o primeiro campeão profissional da nova IPS, organização Internacional do Surf Profissional.

A partir dos anos 1980 a ISA passou a estruturar campeonatos amadores cada vez mais importantes, inclusive tendo campeões como o californiano Tom Curren, que venceu em 1982 e depois seria tricampeão profissional em 1985, 86 e 1990. O Brasil passou a participar com uma tímida equipe em 1984, mandou o primeiro time organizado para a Inglaterra em 1986 e atingiu a glória e a percepção de que poderíamos chegar mais longe em 1988, no mundial de Porto Rico, ocasião em que já ficamos em terceiro lugar por equipes.

 

CESAR “FERRUGEM” BALTAZAR E PEPÊ CEZAR NA CALIFÓRINIA EM 1984. OS ATLETAS DE NOSSO TIME ERAM PEPÊ E ERALDO GUEIROS

FERRUGEM ATUOU COMO COACH DA “EQUIPE”.

FOTO: ACERVO PEPÊ CEZAR

JÁ EM 1988, NAS ÁGUAS DE PORTO RICO. FOTO: BETO ISSA

TEMOS A FOTO EMBLEMÁTICA DE TECO E FABINHO QUE TROUXE O PRIMEIRO TÍTULO MUNDIAL DE SURF PARA O BRASIL

A participação brasileira nos mundiais amadores será relatada no quarto volume da coleção de livros: “A Grande História do Surf Brasileiro”. Mas vamos agora às...

 

AS BAFORADAS DO DRAGÃO

 

UM DISCO


 

UM LIVRO

 

UM FILME


 

UM DISCO – DARK SIDE OF THE MOON – Pink Floyd

Esse é um daqueles álbuns que são uma unanimidade entre os apreciadores do rock progressivo. Lançado em 1972 é uma espécie de um divisor de águas no trabalho da banda. Não que os discos anteriores não tenham sido obras irmãs, primas, gêmeas, prenúncios do que estava acontecendo e por vir. Aqueles conjuntos ingleses que entraram no radar após a explosão dos Beatles e dos Rolling Stones, começaram a produzir peças de criatividade e novidade de tirar o fôlego. A começar por Disraeli Gears do Cream em 1967; Tommy, a primeira ópera rock com The Who em 1969; Tick as Brick do Jethro Tull; o Led Zeppelin IV; o Yes, Emerson, Lake & Palmer, os Moody Blues, os rifs do Deep Purple, as fusões de três guitarras do Wishbone Ash... Álbuns selecionados droparão aqui ao longo dos próximos meses, mas neste post falaremos do Pink Floyd.

Quero deixar claro, escolhi este LP do Floyd por uma sinergia com o filme escalado para este post com detalhes logo a seguir, mas meu disco preferido do Pink Floyd é “Wish You Were Here”, aquele com a capa branca e dois executivos se cumprimentando e em chamas. Nada escrito na capa. Mas Dark Side of The Moon acabou sendo o mais cultuado. O fato é que a montagem com a sequência das faixas de Dark Side, os aspectos criativos e inusitados que foram introduzidos neste álbum o colocam em uma classe única, um verdadeiro transporte viajante por uma era maravilhosa da música.

CAPA DO DOCUMENTÁRIO SOBRE O DISCO

A série da produtora Eagle Rock, que levou a alcunha CLASSIC ALBUMS, distribuída aqui no Brasil em DVDs com a devida tradução em legendas pela ST2 Vídeo e também esteve presente com diversas reprises no canal de TV a cabo BIS, também é uma obra prima em termos de documentários e mostra de forma magistral, com depoimentos dos quatro integrantes da banda neste LP e também do genial engenheiro de som Alan Parsons, que acabou criando um projeto com seu próprio grupo, Alan Parsons Project.

Cada uma das músicas do disco é destrinchada e o processo de construção das faixas, os novos recursos que utilizaram numa época em que tudo era mais artesanal e analógico é explicado por diversos dos envolvidos no trabalho. Ficam então aqui duas recomendações o LP e o DVD com o documentário sobre o disco. Foram músicas que entraram por nossos poros e até hoje despertam sensações especiais a cada nova audição, seja esporadicamente no rádio, em coletâneas, ouvindo o disco na íntegra ("o lado A e o lado B" como tão bem destacou meu brother e legend Tico Cavalcanti no filme 70 E TAL), seja em vinil ou através do streaming, ou nos arrepiando em trilhas sonoras como a que será sugerida a seguir.

 
UM LIVRO – DA BULL - LIFE OVER THE EDGE – Greg Noll

Uma verdadeira pena, este livro nunca ter saído traduzido em português, mas vamos lá, para quem consegue captar o entendimento em inglês as histórias de Greg Noll nesta biografia de 1989 é um relato do verdadeiro espírito do surf. Da Bull (O Touro) o apelido como ficou conhecido por seu estilo de ataque às ondas, descendo montanhas com carga total, segurando avalanches de água em suas costas em Waimea Bay. Noll é um contador de histórias fantástico e carismático (ao falar), mas para escrever buscou o auxílio da autora Andrea Gabbard, de outros livros de surf e montanhismo.

As histórias que Greg seleciona e conta, com minúcias, são fascinantes. No início do surf em sua carreira na Califórnia, Greg era um cara magro, super atlético e forte, ao viajar para o Hawaii ficou obstinado por ondas grandes. Produziu filmes de surf, atuou como dublê, fabricou famosas pranchas, um modelo especial em parceria com o amigo Miki Dora e abandonou o surf jovem, praticamente no auge, depois de surfar um mar gigante. Momentos, histórias, rituais, atos pioneiros que merecem ser conhecidos.

GREG E AMIGOS EM PÁGINA ILUSTRADA EM PRETO E BRANCO

NA ESQUERDA O ANÚNCIO DO MODELO "DA CAT" APELIDO DE DORA

GREG NOLL EM VISITA AO BRASIL RODEADO PELOS PIONEIROS DE SANTOS DURANTE O FESTIVALMA DE 2010 NO PAVILHÃO DA BIENAL EM SAMPA

Os relatos de suas principais aventuras: o primeiro dia em Waimea Bay no ano de 1957; o dia em que ele e o amigo Mike Stange entraram sozinhos para surfar Pipeline quebrando no terceiro reef (a capa de seu livro é uma foto de John Severson deste dia), em um de seus filmes há ele descendo uma onda fora de controle, com prancha inadequada para Pipeline, até um wipeout medonho; e principalmente a detalhada descrição da experiência espiritual do dia em Makaha, durante o histórico swell de 1969. Momento não registrado, porém, uma idealização é a pintura do artista Ken Auster exibida na contracapa do livro. 

CONTRACAPA DO LIVRO E A MÍTICA ONDA SURFADA EM MAKAHA

 

 

UM FILME – 70 E TAL – Rafael Mellin

Há uma “escola” – fórmula, na produção de filmes\documentários que traz a narrativa de pessoas que viveram um determinado momento histórico e as imagens disponíveis, preservadas antigas, ou reproduzidas de forma criativa tentando emular as situações. O segredo está em como isso é apresentado, na inspiração e eloquência de quem conta as histórias, e principalmente na forma como tudo é montado, a execução do roteiro. O resultado de 70 E TAL superou toda e qualquer expectativa e acabou gerando uma nova série ambientada nos Anos 80. Além do filme de uma hora, diversos episódios de meia hora, com temas específicos e subdivididos em regiões, com cenas de surf atuais utilizando réplicas de pranchas, ou modelos originais preservados, tudo regado por uma trilha sonora escolhida à dedo. Isso deu um ar especial às duas séries concebidas por Mellin, a primeira lançada em 2013. 

A série, produzida em uma parceria do Grupo Sal com o Canal OFF da Globosat, geraram um produto digno de prêmios internacionais. A direção de Rafael Mellin, suportado por uma equipe fantástica em todas as esferas da produção de cinema, contando ainda com o respaldo dos surfistas que viveram estes Anos 70. Uma trilha sonora esplendorosa, a década ajudou muito nisso... BINGO. A magia estava deflagrada. E assim foi. Acredito que poucos surfistas não assistiram, ao menos partes do filme. Mas a recomendação fica aqui para que a série completa seja assistida. Está na hora do canal OFF montar uma retrospectiva especial. Com infinitas reprises, como de hábito. As cenas de encerramento na praia da Guarda do Embaú, como a música Time do Pink Floyd dão lugar aos créditos e àquela vontade de quero mais.

Vejam teaser do filme neste link do Vimeo:

https://vimeo.com/75612710 


sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

 

TRANSIÇÃO DE DÉCADAS

A virada da década de 1970 para os anos 80 foi radical

Neste momento estou trabalhando na redação do VOL. 2 de minha obra. Embora o conceito que dei para meus livros tenha fugido de uma narrativa linear, há um fio condutor através das eras de campeonatos e pela idade dos ícones que apresento em cada um dos livros.

DANIEL FRIEDMANN SURFANDO NO WAIMEA 5000

NOS ANOS 70 O PÚBLICO TOMOU AS PEDRAS DO ARPOADOR DE FORMA JAMAIS VISTA EM ANOS FUTUROS

O capítulo que contou a história dos Waimea 5000 fechou o primeiro dos cinco volumes. O segundo livro vai parar (em termos de campeonatos) no ano de 1986, no momento em que o circuito mundial finalmente volta ao Brasil com a realização do primeiro Hang Loose Pro Contest. A criação da Abrasp e da Abrasa, as associações de surf profissional e amador, ocorrida em 1987, vai ficar para o terceiro volume.

Além do Hang Loose, o segundo volume da série vai trazer um capítulo grande sobre todos os campeonatos realizados no início dos anos 1980, em Saquarema, Ubatuba, em seguida no Nordeste, reforçados pelos Festivais Olympikus que introduziram a praia da Joaquina (SC) no circuito de grandes campeonatos de surf a partir de 1982. Em 1985 este evento deu lugar ao primeiro OP PRO, um marco em termos de organização, tamanho, número de inscritos e astral em um evento de surf.

PÚBLICO AMONTOADO NA PRAIA DA JOAQUINA. A ATENÇÃO NÃO ESTÁ VOLTADA PARA O MAR POIS ERA HORA DO CAMPEONATO DE BIQUINIS

O processo de evolução, a velocidade com que tudo foi acontecendo nos anos 1980 foi assombroso e refletiu não só no crescimento do surf como esporte, nas empresas de surfwear no Brasil, mas também no estilo de vida e na atração de simpatizantes que mergulharam neste “nosso” universo, na forma de vestir, falar, no comportamento, na escolha das praias da moda ao redor do planeta.

Toda essa jornada, que acaba nos levando a uma sequência de títulos mundiais na atualidade será relatada ao longo dos 70 capítulos da coleção de livros: “A Grande História do Surf Brasileiro”. Mas vamos agora às dicas prometidas e que farão parte de cada nova postagem deste blog daqui pra frente.

 

AS BAFORADAS DO DRAGÃO

 

UM DISCO



UM LIVRO


 

UM FILME



 UM DISCO – FALSO BRILHANTE – Elis Regina

Vamos deixar registrado aqui, os discos, livros e filmes que recomendarei neste blog serão decisões de meu gosto e predileção particular. Em termos de música a preferência dos surfistas sempre pendeu para os conjuntos de rock ingleses, norte americanos e australianos. E este tipo de música estará em profusão por aqui. Só o mel do mel. Mas não me furtarei de trazer a música brasileira para que os leitores deste blog pesquisem, relembrem e desfrutem.

Bem, estamos aqui nos anos 1970 e decidi falar sobre uma das maiores obras da história da música. O LP Falso Brilhante, desta cantora que (quanto mais o tempo passa) é louvada como uma das maiores do Brasil, digo mais... de toda história da música no planeta, foi aclamado como um de seus melhores trabalhos. O disco, seu décimo quarto álbum de estúdio, foi lançado em parceria com uma turnê de shows que levava o nome do disco. Elis passeou, em termos de repertório, pela MPB, o jazz, o samba e embora não tenha sido uma compositora, toda e qualquer música que escolhia cantar, ela se apropriava da interpretação de cada uma das canções de forma difícil de ser batida por qualquer outro interprete.

COMERCIAL DA VOLKSWAGEN CRIADO ATRAVÉS DE IA EM 2023

ELIS E A FILHA MARIA RITA INTERPRETAM MÚSICA DE BELCHIOR ORIGINALMENTE APRESENTADA NO LP FALSO BRILHANTE

O show do LP Falso Brilhante, idealizado em forma de espetáculo teatral, ficou uma longa temporada no Teatro Bandeirantes, que era localizado na Av. Brigadeiro Luís Antônio, perto do centro na capital paulista. Assim que entrou em cartaz fui assistir e comprei o LP, naquele formato de álbum, com muitas informações nas capas internas e externas.

O LP (LONG PLAY) FOI LANÇADO EM 1976

A banda que suportou Elis Regina neste disco e no show era fantástica, com destaque para seu marido na época, César Camargo Mariano e que literalmente arrepiava a plateia na banqueta de um piano de cauda; outro destaque era o impressionante Natan Marques operando a guitarra, um virtuoso; Wilson Gomes no baixo e percussão; Nenê na bateria; ainda Crispim Del Cistia, multi-instrumentista que manejava teclados, violões e contrabaixos e percussão.

Com minha namorada que estudava administração de empresas na mesma classe da GV, fomos três vezes assistir a este inesquecível show. Assim que foi lançado. Logo em seguida de novo. E como as temporadas eram longas, creio que ficou mais de um mês em cartaz, quando estava para desmontar seu picadeiro e partir para o RJ, fomos uma terceira vez.

O espetáculo foi construído em dois atos. A primeira parte era um histórico do início da carreira de Elis, as músicas que a deixaram famosa em parceria com Jair Rodrigues e standards incríveis que ela escolheu. No segundo ato as músicas mais modernas, símbolos dessa fase, interpretações magistrais de composições de Belchior, João Bosco, Chico Buarque. E a banda fazia um espetáculo de puro rock’n’roll para fechar de forma apoteótica.

 

UM LIVRO – SURFE DESLIZANDO SOBRE AS ONDAS – Carlos Lorch

Este foi o primeiro livro de surf impresso no Brasil, pela Editora Guanabara Dois, lançado em 1980. Carlos Koogan Lorch futuramente seria um dos responsáveis pela impressão da revista Surfer em português, por poucos anos, a partir do final daquela década. O livro traz um breve histórico, as noções básicas do que é o surf, das ondas ao redor do mundo, das grandes estrelas internacionais e traz um perfil dos principais surfistas do Brasil no final dos anos 1970. Um registro importante, escrito de forma didática, com muitas informações e apresentando um esporte que cresceria de forma surpreendente na década que se iniciava.

PÁGINA DUPLA DE ABERTURA DE UM DOS GRANDES CAPÍTULOS

 

DUPLA DA PARTE 3 COM OS AUSTRALIANOS SIMON ANDERSON E TERRY FITZGERALD EM DESTAQUE. EM 1980 AS PRANCHAS DE 3 QUILHAS AINDA NÃO HAVIAM SIDO INTRODUZIDAS POR SIMON

PÁGINA 54 DO LIVRO TRAZENDO UM PERFIL DE PAULO TENDAS DO GUARUJÁ (NO TOPO DA PÁGINA FALA SOBRE PEPÊ LOPES).

FOTOS: CARLOS LORCH

O livro é dividido em quatro partes, na primeira um apanhado histórico sobre as origens do surf, a formação das ondas, as pranchas e o nascimento do profissionalismo. Na parte dois um apanhado sobre o surf no Brasil, a terceira parte trata das viagens, das principais regiões e traz os surfistas internacionais mais representativos. No epílogo possibilidades são lançadas sobre para onde poderia caminhar o surfe ao final daqueles “embrionários” anos 70. Uma obra difícil de encontrar, inclusive em sebos.

 

UM FILME – TERRAL – Klaus Mitteldorf

O fotógrafo e cineasta Klaus Mitteldorf, apesar de uma breve carreira ligada ao surf, traz alguns dos registros mais importantes de toda essa história, não só no Brasil, como também em viagens internacionais. No meio dos anos 1980 ele já foi enveredando pela carreira de fotógrafo de publicidade e ensaios fotográficos e se transformou em uma estrela do ramo, com trabalhos autorais de assinatura única, com criatividade, emoção e cor jorrando de suas imagens.

Nos anos 1970 os surfistas brasileiros aguardavam com ansiedade a chegada das exibições de produções internacionais em escolas, garagens, auditórios selecionados e raras salas de cinema. Dois filmes foram produzidos no Brasil – Nas Ondas do Surf, do saudoso Maraca e Lívio Bruni, que chegou a ir para o circuito de cinemas em 1977, mas antes o primeiro foi Terral, de Klaus. Ele operava o projetor, enquanto o amigo Miguel Calmon (pai da talentosa longboarder Chloé Calmon) ficava na bilheteria. A parada era "roots" total.

No filme Klaus viaja pelo Brasil, tem imagens internacionais e retrata de uma forma quase que espiritual o estilo de vida dos surfistas. Essa foi uma atitude corajosa e pioneira, em um momento que aqui e ali surfistas brasileiros registravam ondas de amigos nas praias de casa, ou em viagens pelos litorais do Brasil, Peru, Hawaii e além, com câmeras SUPER 8, esse era o meio disponível. A partir dos anos 1980 Mitteldorf mergulhou de cabeça na fotografia como uma profissão rentável e praticamente abandonou as fotos de surf, mas não a paixão. Recentemente sua veia de cineasta aflorou com o lançamento de Vou Nadar Até Você (2020) e uma produção em curso sobre o Verão Das Latas. Vale aguardar.

Abaixo o link de um teaser que Klaus Mitteldorf já disponibilizou na internet, ele está trabalhando na restauração do filme que em breve estará disponível em versão atualizada do autor.