segunda-feira, 16 de setembro de 2024

 

2024 FATOS & PERSPECTIVAS

DIAS HISTÓRICOS PARA O SURF BRASILEIRO

Nos ISA Games de Porto Rico um show de Medina

O dia 3 de março de 2024 apresentou ingredientes de emoção, apreensão e glória para nossa equipe que participou dos ISA WORLD SURFING GAMES realizados no mar do Caribe em Porto Rico. As performances de Gabriel Medina e Tatiana Weston-Webb foram decisivas. Ao final da competição o Brasil foi o único país a classificar 3 mulheres e 3 homens para as competições de surf das Olimpíadas que seriam realizadas no Tahiti.

IMAGEM RETIRADA DA TRANSMISSÃO DO CANAL OLÍMPICO NO YOUTUBE

EQUIPE BRASILEIRA DE SURF CLASSIFICADA PARA PARIS 2024

O que Gabriel Medina fez em Porto Rico foi estupendo. Durante os nove dias de competição ele esteve sempre inspirado, nunca caiu para a repescagem, vencendo todas as baterias que disputou, por vezes em condições difíceis de ondas. “Man on a mission” seria a melhor descrição simplista. A missão: conseguir uma vaga para PARIS 2024, ou melhor, a chance de disputar uma medalha olímpica em Teahupoo. Sua única opção seria vencer o evento. Foi E S P E T A C U L A R assistir a sua performance.

 GABRIEL MEDINA EM PORTO RICO FOTO RETIRADA DO SITE DA ISA

Com o vice de Tati na categoria e os resultados de Tainá e Luana somados o Brasil foi não só campeão por equipes no masculino, mas também no feminino e por tabela no geral. Um resultado totalmente histórico e em um momento crucial de classificação e busca pela vaga olímpica.

A ilha caribenha de Porto Rico ganha uma representatividade ainda maior na história de nosso surf competitivo. No século passado, no mundial da ISA de 1988, com a vitória de Fábio Gouveia (e toda performance da equipe) foi como se apresentássemos nosso cartão de visita para a comunidade anglo saxônica que sempre dominou o esporte e seus títulos internacionais.

Nesta década de 20, do novo milênio, o Brasil está mais do que consolidado como uma das grandes potências do surf. Os ISA GAMES vêm trazendo novas nações para integrar a comunidade a cada edição dos jogos. O que Gabriel Medina fez em Arecibo neste ano de 2024 será lembrado como uma das apresentações mais emblemáticas de toda história competitiva do esporte, em uma final com um marroquino e dois franceses. Nenhum surfista de língua inglesa no masculino.

Os “deuses do surf” conspiraram para que justiça fosse feita. A ausência de Gabriel nos Jogos de Paris, em uma onda que ele tem desfilado apresentações épicas, avassaladoras, espetaculares durante os últimos 10 anos. Seria uma perda (que não poderia ser) para o esporte surf. E não foi. Graças a Deus. E a genialidade competitiva de que muitos analistas consideram o melhor surfista competidor da atualidade. Infelizmente, como todos sabem, depois de breves soluços do mar em sua bateria semifinal das Olimpíadas, foram 17 minutos de um recesso total de ondas e Gabriel nada pode fazer. Mas depois do baque, voltou disputou e conquistou uma medalha de bronze contra um surfista do Peru.

 

NO ÚNICO DIA DE ONDAS ÉPICAS PARA OS JOGOS DE PARIS 2024 (EM TEAHUPOO) MEDINA FOI O MAIOR DESTAQUE – THREADS\ESPN

TATIANA WESTON-WEBB FICOU COM A PRATA NO SURF FEMININO. A EXPECTATIVA É QUE O SURF CONTINUE TRAZENDO MEDALHAS PARA O BRASIL NOS JOGOS. ESTA IMAGEM É DA ONDA NOTA 10 DE TATI NA ETAPA DA WSL NO TAHITI, MESES ANTES DAS OLIMPÍADAS

Tatiana, filha de uma bodyboarder gaúcha, com um surfista irlandês, que desde muito jovem morou na ilha Kauai, no Hawaii, foi a grande estrela do surf feminino brasileiro na temporada 2024. Com a prata nas olimpíadas e o terceiro lugar na WSL (Liga Mundial de Surf), a surfista nascida em 9 de maio de 1996 em Porto Alegre, deu show em diversas ocasiões durante as mais importantes competições da temporada 2024.

Outro surfista que fez as honras brasileiras neste ano olímpico foi Ítalo Ferreira. O potiguar de Baía Formosa chegou perto de seu segundo título mundial em setembro, com uma performance de desenvoltura atlética impressionante, pela segunda vez veio do início das competições no evento chamado WSL FINALS, com os 5 melhores da temporada em Trestles. Desta vez esbarrou no havaiano John John Florence na final, uma melhor de três decisiva, isso após desbancar da disputa dois australianos e um norte-americano. O mesmo já havia acontecido contra Filipe Toledo em 2022. Ítalo, campeão mundial em 2019 e duas vezes vice (2022 e 2024) venceu as etapas do Tahiti e do Brasil na temporada 2024 da WSL. Está afiado para ir à caça de seu segundo título profissional e quem sabe um segundo ouro olímpico em 2028.

ÍTALO FERREIRA EM UMA DAS QUASE 30 ONDAS QUE SURFOU NO DIA DECISIVO DA WSL NA CALIFÓRNIA EM 2024. RECORTE DO SITE WAVES

 

Daqui vamos para as habituais indicações de 1 DISCO – 1 LIVRO – 1 FILME.

 

AS BAFORADAS DO DRAGÃO

 

UM DISCO


 

UM LIVRO



UM FILME




UM DISCO – SURF LIFE – Claudio Celso

Conheço Claudinho desde muito cedo, nossa amizade ficou forte surfando as ondas de Pitangueiras, mas ele era meu colega no colégio, um ano na minha frente, era vizinho da casa da minha avó em rua do Itaim Bibi na Capital Paulista. Uma rua só de casas, hoje emparedada por prédios e mais prédios. No Guarujá, nos anos 1970, a turma de surfistas que vinha da capital todos os finais de semana, também nas férias de verão e no mês de julho, era pequena e muito unida.

ABERTURA DE PERFIL QUE FIZ SOBRE CLAUDIO CELSO PUBLICADO EM UMA REVISTA VENICE EM 2006

AMPLIANDO A IMAGEM NUM DESKTOP DÁ PARA LER 

A edição trazia também uma bela revisão histórica sobre as 4 quilhas, de Ricardo Bocão e que ganhavam projeção naquele momento. A matéria sobre meu brother guitarrista veio em quatro páginas duplas contando a trajetória de Claudinho que depois de uma longa temporada nos EUA, trabalhando com estrelas de grande fama voltou ao Brasil e vez por outra deu o ar de sua graça em diversos barzinhos do Guarujá.

CAPA DA VENICE MAG EM QUE SAIU A MATÉRIA

Entre aquela primeira turma de surfistas do Guarujá surgiram alguns músicos virtuosos. Também empresários, surfistas que trilharam os mais diversos caminhos profissionais. O CD aqui apresentado, talvez o trabalho menos famoso de Claudio Celso, mas não menos competente, foi produzido por Marco Buru, outro de nossos amigos daquela turma e que teve participação fundamental na fundação da OP, a primeira gigante da surfwear brasileira. Essa história ainda será contada neste blog.

CAPA DE TRÁS DO CD COM OS CRÉDITOS E MÚSICAS

OUÇA O DISCO NA ÍNTEGRA NESTE LINK DO YOUTUBE

https://www.youtube.com/watch?v=Hy7jy6KOfuk&list=OLAK5uy_mQLJEcM3_2Ua0rTv1wDjLPkfi9YyECAI4

 

Claudio Celso no início de sua carreira, ainda muito jovem, trabalhou com professores de música brasileiros do mais alto nível. Com sua aptidão chegou a ser convidado pela revista Guitar Player para ministrar cursos de guitarra, diversos... Da MPB, ao jazz, country, erudito, rock, ele desfilou seu talento nos mais diversos campos da música. Se mudou para os EUA. Tocou ao lado de músicos como Chet Baker, Willie Nelson, Sérgio Dias dos Mutantes, Naná Vasconcellos, Roberta Flack, Zimbo Trio... Tocou com orquestras e programas do tipo Clube dos Artistas e Almoço com as Estrelas.

OUTRA PÁGINA DUPLA DA MATÉRIA QUE FIZ PARA UM REVISTA VENICE EM JUNHO DE 2006 TRAZ A CAPA DO CD QUE LANÇAVA NA OCASIÃO

Outros álbuns dele como Brazilian Jazz e Swell (que traz uma versão esplendorosa de Bye Bye Brasil), podem ser encontrados nos canais digitais. Seu estilo de guitarra suave tem tudo a ver com o desenrolar de um swell, uma vida ligada ao surf. Aguardem novas recomendações musicais neste blog.

 

 

UM LIVRO – Em busca das gigantes do oceano A ONDA – Susan Casey

Tenho a versão brasileira deste livro, editado pela Zahar em 2010. A versão original, considerada um best seller pelo jornal New York Times, foi publicada nos EUA no mesmo ano.

CAPA DA VERSÃO EM PORTUGUÊS

Susan Casey nasceu em Toronto, no Canadá é uma escritora da grande imprensa nos EUA, dedicando-se a obras que envolvem esportes, animais e natureza sempre ligada ao mar. Escreveu para jornais e revistas conceituadas, matérias para revistas como Esquire, National Geographic, Sports Illustrated, Fortune e Outside. Ela sabe romancear situações de tensão em contato a natureza viva, ativa em modo selvagem.

O livro The Wave é um trabalho de pesquisa abrangente sobre as ondas do mar, não só sobre as ondas grandes e perfeitas procuradas pelos surfistas, como também das ondas de mar aberto, gigantescas e assustadoras, enfrentadas em meio a grandes tempestades por navios cargueiros que atravessam os oceanos. Um estudo de grande envergadura sobre como as ondas são geradas, em que regiões são encontradas as maiores. Traz relatos impressionantes de pessoas que ficaram no olho do furacão.

SUSAN CASEY AO LADO DE LAIRD HAMILTON EM UMA DAS VERNISSAGES DO LIVRO

Um dos capítulos que traz uma narrativa de grande interesse para os surfistas apreciadores das ondas gigantes é do dia em que Laird Hamilton surfou o que considera a maior onda de sua vida, em um pico chamado Egypt, no North Shore de Maui (fica entre Jaws e Honolua Bay), próximo ao porto e aeroporto de Kahului. Morando entre Nova Iorque e Maui ela acabou gerando uma amizade com Laird, de onde obteve informações importantes para ilustrar em prosa experiências radicais surfando as ondas dos mares. A Onda é um livro muito interessante.

 

 

UM FILME – A ONDA – Henrique Daniel e Breno Dines

Na verdade “A ONDA – Presente, Passado e Futuro do Surf” é uma série de quatro documentários em um total de quase duas horas. Nenhuma relação com o livro citado acima. A brilhante obra tem sido exibida no SporTV diversas vezes, nos momentos de espera das etapas da temporada da WSL. Lançado em 2023, já com imagens da primeira participação do surf nas Olimpíadas em 2021.


Títulos em que são divididos os episódios:

A ORIGEM

A COMPETIÇÃO

HERÓIS

O OLIMPO

A viagem total de quase 120 minutos é de certa forma hipnótica, pois vai costurando imagens históricas, muito bem selecionadas, com uma narrativa muito bem roteirizada e que contou com a pesquisa de um dos maiores conhecedores da história do surf no Brasil, o jornalista Bruno Bocayuva. A direção ficou a cargo de Henrique Daniel (HDaniel Stúdio), responsável pela série de reality shows Mundo Medina, entre outras produções para o Canal OFF e filmes de surf. Também é realçada a qualidade pela direção do comentarista de surf do SporTV e surfista Breno Dines, responsável por um competentíssimo roteiro.

TRAILER – A ONDA

O resultado é uma série de programas que abrangem toda história do surf competição, desde que foi introduzido em maior escala ao mundo ocidental pelo nadador medalhista Duke Kahanamoku, na primeira metade do século passado, aos incríveis eventos do circuito mundial da atualidade, até culminar na Olimpíada de Tokyo 2020 (21). Na verdade, um sonho que Duke manifestou naqueles embrionários anos em que o surf era uma atividade, literalmente, underground. Todo trabalho do argentino Fernando Aguerre para concretizar este sonho é enaltecido na obra. Bem como a importância do surfista de Niterói, Mano Ziul que criou todo ambiente tecnológico dos webcasts. Mais um legado que o surf "emprestou" ao mundo de uma forma geral.

Um bom documentário, neste belo conceito que tem sido lapidado em anos mais recentes, traz um roteiro bem elaborado, com depoimentos de pessoas que vivenciaram os momentos históricos mais importantes, tudo isso dosado com uma narrativa instigante. Em todos estes quesitos Henrique Daniel e Breno Dines pecaram pelo excesso de preciosismo. Esse primor em efetuar um trabalho com profundidade, fez a equipe buscar depoimentos de boa parte dos os campeões mundiais da IPS (1976 a 82), ASP (83 a 2014) e WSL (2015...), de organizadores do esporte, dirigentes. Daí a necessidade de ser um projeto longo, isso é um dos segredos da grandiosidade da obra.

O que transforma A ONDA um documento que merece ser assistido, foi essa quantidade, e principalmente qualidade, dos diversos depoimentos coletados, de surfistas brasileiros e estrangeiros, dosados de forma magistral ao longo dos episódios, elencados com enredo coerente e criativo. Uma mistura de imagens colhidas hoje em dia e nos mais diversos momentos da história do surf. Um trabalho que vale a pena apreciar e deve (merece) ser repetido infinitas vezes nos Canais Globsat. Os quatro episódios estão disponíveis através da Globoplay para serem assistidos a qualquer hora.