quarta-feira, 16 de abril de 2014

VIAJANDO E PESQUISANDO

Histórias, descobertas e surpresas
No final de março fiz uma viagem de 10 dias pelos Estados do RS, SC e PR.

FUI DE CARRO, SOZINHO, ATÉ TORRES. UM BATE E VOLTA AGENDADO AO REDOR DO EVENTO MADEIRITE – TRÓPICO. FOTO TIRADA NA PRAIA DA GUARITA COM MEU CELULAR.

Na medida em que me aprofundo na pesquisa e entrevistas que irão me ajudar na montagem final do livro (http://www.hsurfbr.com.br/), começo a me apaixonar cada vez mais pelo projeto como um todo. Ao final deste processo deixarei aqui neste blog uma massa de informações muito abrangente aos interessados em detalhes desta história. Estas entrevistas, reportagens e crônicas (o BLOG) ficarão disponíveis antes, durante (em paralelo) e além, fazendo parte da produção do livro.
Obviamente serão dois enfoques diferenciados.

Conversando com o surfista e shaper Avelino Bastos, parafraseando o pensador americano Emerson, ele fez uma observação interessante: “A história basicamente é feita de biografias”. Isto é um fato, pois na verdade a história vai sendo moldada por pessoas, suas atitudes, suas criações, atos pioneiros...
Nesta postagem farei um apanhado geral (breve) de algumas longas entrevistas que já compilei. Trechos e falas curtas, que podem (ou não) acabar no livro impresso. Lampejos da experiência ligada ao surf de personalidades que ajudaram a construir esta história.

NOTA: EM POSTAGENS FUTURAS APRESENTAREI PERFIS ABRANGENTES SOBRE ALGUNS DESTES GRANDES SURFISTAS QUE AJUDARAM A MOLDAR NOSSA HISTÓRIA

TITO ROSEMBERG
Conversei com Tito por telefone e por Skype, hoje ele está morando na Praia da Pipa (RN), em 2012 estive no lançamento de seu livro “Arpoador Surf Club” na editora Gaia, aqui em São Paulo, ocasião em que adquiri um exemplar autografado. Tito é um personagem folclórico do surf brasileiro (e mundial), ele levou ao extremo a proposta “on the road” em busca de ondas e tem uma visão romântica e perspicaz do surf. Para sentir um pouco mais do seu ponto de vista vejam outro trecho da entrevista com ele (sua opinião sobre o Rio de Janeiro), que selecionei para fazer parte do Capítulo 2 do livro, publicado na postagem de 31/07/2013 deste blog.
Tito também foi o responsável pela primeira matéria sobre o Brasil publicada na Revista SURFER norte americana.
SURFER - JANEIRO 1968


Abaixo um trecho da entrevista que fiz com ele por SKYPE, em julho do ano passado. Eu com dois casacos aqui em Sampa, ele sem camisa vendo o horizonte da Pipa de sua janela.
“O Mudinho e o Rico moravam no Leblon e eram garotinhos, vinham na minha casa ver a revista SURFER, eu era o representante, vendia assinaturas da revista aqui, fazia assinaturas para todo mundo. Eu tenho exemplares desde 1962. Fiz amizade com o fundador da SURFER, o John Severson e também trazia os filmes de surf dele para passar aqui no Rio. Escrevi a matéria RIO City of Love... and SURF! na segunda metade dos anos 60, em português e meu amigo do Arpoador, John Hansen, me ajudou a traduzir.  A matéria foi produzida na mesma época em que os cineastas Greg MacGillivray e Jim Freeman passaram pelo Brasil com os surfistas californianos Mark Martinson e Dale Struble. A matéria saiu com dez páginas na edição de Janeiro de 1967.”





Tito foi apenas um dos diversos cariocas que já entrevistei. Neste mês de maio de 2014 eu pretendo voltar ao RIO para coletar mais entrevistas. O Rio de Janeiro concentra a maior lista de pessoas a serem entrevistadas durante o projeto de pesquisa do livro “A Grande História do Surf Brasileiro”.

ZÉ MARIA & PINGUIM


Zé Maria Whitaker de Queiroz (1/1/1953) é um dos maiores legends do surf paulista (e brasileiro) por uma série de razões. Ele aparece no Capítulo 6, como o vencedor do Festival de Ubatuba em 1971. Depois disso, ainda no início dos anos 70, após passar quase um ano inteiro “on the road” na Europa, para buscar ondas e experiências... Foi o primeiro paulistano da capital a se jogar para morar “Nas Praias” do litoral norte de SP. Se instalou em uma casinha no pé do morro entre as praias da Baleia e Barra do Sahy. O banheiro era o mato, puxava água com um bambu, direto da nascente e por lá ficou mais um ano. Em 1976 se mudou de vez para o Sul e hoje mora no Canto da Lagoa. Tocando sua pousada, os Chalés do Canto, pode não ter todo o conforto que sua tradicional família imaginava, mas tem uma qualidade de vida ímpar.
Quando eu deixava Floripa (rumo a Torres), dois dias depois de entrevista-lo, saindo da Ilha pela Beira-Mar Norte, vejo um Fusca com uma asa delta na capota. Era Zé Maria, emparelhei com ele para despedir mais uma vez. Ele tinha surfado direitinhas perfeitas no Campeche antes de entrar o vento e agora se dirigia para as montanhas de Santo Amaro da Imperatriz, em uma linda sexta-feira de outono, aos 61 anos de idade. Esse é um “legend” de nosso estilo de vida. Hats off!
Zé Maria conta:
“Eu frequentava o Guarujá desde 1955 (com 2 anos), minha tia, irmã da minha mãe, da família Whitaker tinha um sítio no Guarujá, ficava no canto esquerdo da praia de Pitangueiras, atrás de onde é hoje o edifício Tejereba, até o morro, muitas árvores frutíferas. Na praia eram montadas estruturas de madeira cobertas com lona e vinham garçons nos servir drinks e comidas com bandejas. Comecei surfando deitado com aquelas pranchinhas de madeira. No meio dos anos 60 ganhei uma Glaspac MK 2. Depois tive um pranchão São Conrado e uma mini model Cyro (Beltrão). Em 73, eu estava cursando o segundo ano da FGV e convenci meus pais a me darem uma viagem para a Europa e meu amigo Chivas (Fernando Rego) veio comigo. Com “paitrocínio” embarcamos em um navio em Santos e fomos parar em Nice. A viagem toda durou oito meses. Alugamos um carrinho e ficamos um mês na França, mais um mês em Londres. Com 20 anos tomamos contato com o movimento hippie, vimos shows do Pink Floyd, Led Zeppelin, Emerson Lake & Palmer, King Crimson. Fomos atrás das ondas, primeiro em Newquay – Cornwall, depois estivemos um mês em Portugal, encontramos com Marcos Berenger, depois fomos ao Marrocos, voltamos por Portugal de novo e passamos pela Espanha. Na França surfamos La Barre. Nesse percurso a maioria dos surfistas que encontrávamos eram australianos, vivendo em Kombis, todos cabeludos, largadões, ficando um ano, dois anos jogados... Líamos as revistas SURFER, na era do Steve Pezman e todos os conceitos daquela nova forma de consciência “dropout”, percebíamos que o mundo realmente estava mudando. Eu senti que tinha a missão de voltar para o Brasil e contar para os meus amigos o que estava acontecendo. Aquilo mudou a minha vida. Quando eu voltei larguei a Getúlio, queria viver essa nova realidade e morar perto do mar. Aquela vida. Ainda no início dos anos 70 me joguei com três amigos para morar numa casinha de pau a pique (3 por 4), fiquei morando mais de um ano lá nas Praias, perto da praia da Baleia. Em 1976 mudei para o Sul...”
Aí começa outra história.

PINGUIM
Pinguim, Wadir Giannattasio Junior (13/5/1955), talvez seja o primeiro industrial do surf brasileiro (vamos pesquisar isso) – fora as pranchas e parafinas artesanais. Os racks Pinguim foram uma instituição do surf nacional, na época em que os carros brasileiros ainda tinham caneletas de chuva nas capotas.

PINGUIM EM SUA CASA NA BEIRA DA LAGOA DA CONCEIÇÃO COM UM EXEMPLAR DE SEU HISTÓRICO: “RACK PINGUIM”.
O apelido Pinguim vem desde os 6 anos de idade. Wadir foi o primeiro surfista da capital paulista a se mudar para Florianópolis.
“Comecei a surfar com 11 para 12 anos em Itanhaém, no litoral sul de São Paulo, pois meu avô tinha casa lá. Surfei em Itanhaém até 70, 71 depois aluguei casas de caiçaras no litoral norte, em Cambury. Em 1975 mudei para o Sul. Meu irmão mais velho, Francisco, começou a fazer as Kiko Surfboards, eu fazia o glass, pegava o trabalho pesado. Trabalhei consertando pranchas no início dos anos 70. Cansei de ver surfistas estragarem suas pranchas com bagageiros precários. Até que tive um rack importado Aloha, em minhas mãos. Em 1971 comecei a fabricar os racks. Fui buscar as formas de fabricar as barras de metal similares, o processo de ferramentaria. Mais tarde em uma viagem pela balsa de Bertioga, me deparei com um japonês e no carro dele as varas de pesca estavam presas com uma garrinha de ferro na canaleta da capota e duas ventosinhas, tipo daquelas dos revolveres de brinquedo. Fui conversar com ele e me contou que havia trazido do Japão e aguentavam varas de quatro metros. Com ajuda do pai de um grande amigo de Itanhaém, Bebeto Martins de Andrade, o irmão mais velho do Claujones, construí as peças de borracha e fui bolando os ajustes para todos os carros, ângulos, rebites, ilhoses, tiras ajustáveis...”
São duas horas de gravação com a história de sua vinda para Floripa, os primeiros campeonatos que venceu na Ilha da Magia e muitas outras especulações “filosofais” sobre o surf. Pinguim foi pioneiro tanto no surf como no windsurfe em Florianópolis. Sua empresa nasceu quando tinha 14 para 15 anos em São Paulo. Hoje ele fabrica capas para barcos, customizadas, com nylon de última geração e ajustes precisos.

CELSO RAMOS NETO
Várias fontes me citaram Celsinho Ramos como sendo o primeiro surfista “catarinense” a entrar nos mares de seu Estado. Gaúchos vindos do sul e cariocas provenientes do norte com certeza surfaram ainda nos anos 60 em águas catarinenses. Porém, o neto do Governador Celso Ramos, em 1970, comenta que foi o primeiro nativo catarinense a entrar com uma prancha nas ondas da praia da Joaquina:

CELSO RAMOS NETO COM UM EXEMPLAR DE PRANCHA ÁGUA VIVA. ELE TAMBÉM FOI O PRIMEIRO SHAPER CATARINENSE. FOTO FEITA EM SUA CASA EM FLORIPA, DO LADO DO CONTINENTE.

“Nasci em 5 de janeiro de 1951 em Florianópolis. Minha ligação com o mar vem da infância, eu já velejava em canoas de garapuvu. Velejei competitivamente na classe Snipe no Iate Clube aqui em Florianópolis e eu também praticava esqui aquático. Sempre tive intimidade com o mar. A primeira vez que tive oportunidade de surfar em uma prancha foi no Rio de Janeiro, no ano de 1969, no Arpoador, com uma São Conrado emprestada, com 18 anos. Quando vi um cara surfando foi paixão à primeira vista, a partir daí foi um caminho sem volta. Minha primeira prancha foi uma Antífora, argentina, que comprei aqui em Florianópolis, isso foi em 1970, ela já era uma 6’7”, uma prancha expandida com isopor e fiquei com ela por uns dois anos. Eu comecei primeiro e logo em seguida alguns primos meus também trouxeram pranchas do Rio de Janeiro. Eu comecei antes de todos, no início éramos um grupo de quatro a seis surfistas. Depois vieram Ricardo Schroeder, Edson Pires e os irmãos Paulo e Geraldo Correia. Eles tinham pranchas São Conrado do Mário Bração, depois do Rico. Uma prima minha tinha uma prancha McCoy, que ela trouxe da Austrália. Eu comecei a fazer pranchas com a marca Água Viva, junto com o carioca Paulinho Guinle. Ele veio do Rio com o material e eu tinha o local, nos juntamos em 1975. Ele já havia vindo para cá, mas eu não o conhecia. No verão de 1974 para 1975 ele apareceu com blocos em cima do carro e fui conversar com ele. Ele começou a fabricar as Piu Surfboards e com um dos blocos fiz uma prancha para mim. Depois de seis meses ele foi para a Barra da Lagoa e mudou sua fábrica para lá. Aqui no continente fiz as Água Viva Surfboards.”
Celso Ramos me mostrou uma foto da praia da Joaquina com apenas ele e um amigo, desamarrando as pranchas de um rack. A praia deserta com suas dunas imaculadas. Um retrato da gênese do surf na ilha e que certamente estará no capítulo dedicado à Ilha de Florianópolis, suas ondas e seus surfistas, que tem uma previsão de ocupar dez páginas do livro, com a vinheta PICOS DE SURF.


ESTE LIVRO, ESCRITO PELO PAI DE CELSINHO RAMOS, TRAZ A HISTÓRIA DE UMA DAS MAIS TRADICIONAIS FAMÍLIAS DE SANTA CATARINA, COM VÁRIOS GOVERNANTES DO ESTADO DE SC. SEU AVÔ FOI GOVERNADOR DO ESTADO E SEU TIO AVÔ, NEREU RAMOS, CHEGOU A EXERCER A PRESIDÊNCIA DO BRASIL NOS ANOS 40.

MADEIRITE TRÓPICO 
(GAÚCHOS PIONEIROS)
Convidado por Virgílio Panzini de Matos desci até Torres para acompanhar a terceira edição do evento Madeirite – Trópico, que traz o slogan “Unindo Gerações”. É um encontro da tribo de surfistas do Rio Grande do Sul na praia da Guarita, um verdadeiro santuário. Nos dias 29 e 30 de março tive o prazer de conhecer diversos pioneiros gaúchos e gravar algumas entrevistas.


FOTO QUE TIREI DE ALGUNS DOS HOMENAGEADOS. TURMA QUE COMEÇOU A SURFAR AINDA NOS ANOS 60. EM PRIMEIRO PLANO A DIREITA JOÃO WALLIG, DE VERMELHO E DE LYCRA PRETA, PAULO TUPINAMBÁ, DOIS DOS PIONEIROS QUE ENTREVISTEI.



MINHA LIGHTNING BOLT, SHAPE DO NECO CARBONE, QUE LEVEI ATÉ TORRES E DEIXEI DANDO SOPA NA BARRACA MONTADA PELO SHAPER DANIEL RIOLFI, DAS PRANCHAS YAHOO, FOI EMPRESTADA PELO LENDÁRIO POTTHOFF, QUE FOI ERGUIDO PARA MATERIALIZAR O MOMENTO DE DÉCADAS PASSADAS. SORTE QUE A LAMINAÇÃO DO THYOLA É DE PRIMEIRA LINHA, A PRANCHA SOBREVIVEU INTACTA.


MAIS ALGUMAS IMAGENS QUE CAPTUREI DURANTE O EVENTO QUE TEVE O PRESTÍGIO 
DO TRI-CAMPEÃO MUNDIAL – TOM CURREN.





Na festa de congregação do evento foi homenageado Oscar Martins de Lima, que apresentou um filme de 8mm com imagens de uma prancha de madeira muito grande (estilo as Olo Havaianas) que foi usada nas praias de Torres no ano de 1956. Não há imagens de ninguém surfando de pé sobre ela, porém o registro é histórico.
A família Lima tinha mais de 10 membros e todos se divertiam na Prainha, na Guarita e na praia Grande. Oscar, junto dos irmãos Klaus e Jorge Gerdau Johannpeter chegaram a ir remando até a Ilha dos Lobos. O surf para valer mesmo no Rio Grande do Sul teve início nos anos 60, mas este registro que foi trazido à tona recentemente pelo organizador do evento Madeirite \ Trópico e campeão gaúcho de 1987, Giaovanni Mancuso é surpreendente.

IMAGEM QUE CAPTUREI COM MEU CELULAR DO FILME QUE PASSOU DURANTE O EVENTO. PELO FOTOGRAMA DA PARA TER UMA IDEIA DO TAMANHO DA PRANCHA.


Oscar destacou: “Esta prancha foi construída no Rio Grande do Sul, por mim e por meu irmão Lúcio em 1956. Nos baseamos em fotos de revistas do Havaí e em madeira, oca com cavername de cedro e revestido com placas de compensado. A partir desta experiência que Jorge e Klaus foram buscar pranchas no Rio de Janeiro” e incentivaram o desenvolvimento do surf gaúcho.

PAULO SEFTON

ESTA FOTO EU TIREI COM MINHA TELE 200mm DE PAULINHO 
SURFANDO EM IMBITUBA, EM 2000, DURANTE UM DOS DIAS “OFF” DO 
OXBOW WORLD LONGBOARD CHAMPIONSHIP NA PRAIA DO ROSA. 
DIA NERVOSO NA VILA DE IMBITUBA COM TERRAL FORTE, SEFTON DOMINA ESTA ONDA.

Na volta para São Paulo ainda parei em Ibiraquera para gravar uma entrevista com Paulo Sefton. Tenho quase duas horas de gravação com Paulinho, colhidas na varanda do chalé marrom de sua Pousada Natural Park. Ele foi outro surfista que há mais de trinta anos se jogou para morar perto das ondas no Estado de Santa Catarina. A família Sefton, especificamente seu pai Fernando Sefton, que também trouxe pranchas do Rio de Janeiro, foi um dos precursores não só no litoral do Rio Grande do Sul, como de Santa Catarina. Maiores detalhes de sua entrevista serão apresentados no livro.
Paulo Juchem Sefton (7/1/1955) irá completar 60 anos no ano que vem e continua surfando com a competitividade que sempre lhe foi peculiar: “Na década de 60 nós veraneávamos em Atlântida. Meu pai trabalhava em banco e vivia entre São Paulo e o Rio. Eu também tinha uma avó que morava no Rio de Janeiro, meu pai era enturmado com o pessoal do Arpoador, o Irencyr Beltrão, o Cyro, Arduíno... A turma antes do Rico, Mudinho e tal. O Irencyr era bem amigo dele e chegou a vir na nossa casa junto com a esposa, Maria Helena. Meu pai chegou a investir e trabalhar junto na fábrica de pranchas Cyro. Em 1965 ainda brincávamos na beira com isopor e meu pai chegou do Rio com uma prancha de madeirite. Ficamos amigos da família Pettini, que fabricavam barcos na Avenida Farrapos em Porto Alegre. Meu pai também chegou a produzir pranchas com eles. O próximo passo foi ir até Torres, lá encontramos outros surfistas, várias famílias, os Johannpeter, Chaves Barcellos... Chegamos com as pranchas na capota de uma DKW que meu pai tinha e o pico era a praia da Guarita. Meu pai adorou o lugar e comprou um apartamento lá em Torres. A partir de 1967 fomos para lá. Com os Pettini, em Porto Alegre, meu pai chegou a fazer uma das primeiras mini models do Brasil, baseada em desenhos tirados das revistas SURFER.
Lembro também de um dia que nossos coroas estavam em uma das casas dos Johannpeter lá em Torres, eu fiquei vendo do lado de fora pela janela, mas eles abriram em uma mesa um mapa cartográfico do Estado de Santa Catarina e começaram a pesquisar, discutindo e estudando as possibilidades e percebendo que o recorte das praias, com relação aos ventos e ondulações, os morros e tal... As praias de Santa Catarina teriam melhores condições de ondas que o Rio Grande do Sul, a praia da Guarita.”
Isso foi no final dos anos 60. A região de Imbituba e Garopaba também será protagonista de um capítulo PICOS DE SURF e tem 16 páginas projetadas no espelho provisório do livro. Um mapa especial da região será produzido. Descobertas e aventuras em algumas destas praias serão narradas e retratadas no livro.

JUCA E OS PIONEIROS DO PARANÁ
Antônio José Marchesini de Barros (11/9/58), o Juca, foi um dos primeiros organizadores do surf paranaense, dirigiu a CBS (Confederação Brasileira de Surf) no início dos anos 2000 e recentemente compilou um valioso DVD com uma coletânea de imagens de diversos momentos históricos do surf paranaense. Uma preciosidade para meu trabalho. Na volta de minha viagem até o RS parei em seu escritório, em Curitiba, para coletar uma primeira série de informações sobre o início do surf no Paraná:


CAPA COM O DVD CONTENDO GRANDE ACERVO DE IMAGENS
COMPILADAS POR JUCA DE BARROS

“Minha história no surf começou no verão de 1976. O surf no Paraná começou a se desenvolver a partir de 1973\74, quando os cariocas paravam aqui em suas viagens rumo ao sul. Nós ficávamos observando. Já nessa época eu surfava com pranchas de isopor. Eu sou do início da segunda geração. O primeiro surfista que temos conhecimento aqui foi o Tadeu, que começou a surfar em Matinhos. No ano de 1968 ele viu um artigo numa revista Seleções do Reader’s Digest, o cara era meio um “Professor Pardal” e construiu uma prancha de madeirite. Ele shapeou. Eu não sei o sobrenome dele, mas é vivo ainda e tem como encontra-lo. Em Guaratuba também houve um outro foco. O início de tudo foi em Matinhos. Os primeiros grandes surfistas de lá foram o Jamil, Jamo e Jairton, já no final dos anos 70. O Pico de Matinhos se transformou no local de encontro. O pessoal de Curitiba ia para lá. Em 1978 teve o primeiro campeonato de surf no Paraná, vencido pelo pioneiro Jorge Aterino. Eu comecei a participar da organização de campeonatos a partir de 1980.”


JUCA, NA ÉPOCA EM QUE COMANDAVA A CBS, EM EVENTOS DA ISA, COM JOVENS E PROMISSORES TALENTOS QUE CHEGARAM AO PRIMEIRO ESCLÃO DA ASP – ALEJO MUNIZ, MIGUEL PUPO E JADSON ANDRÉ.

E O NORDESTE
MURRINHA & PIET
Ainda no ano passado fiz uma viagem ao Estado do Pernambuco e tive a oportunidade de conversar com quatro personalidades importantes do surf nordestino. Por ordem de idade: Fernando Paiva Melo (7/8/53), Piet Snel (15/6/56), Guilherme Coutinho (10/9/61) e Gustavo Roque (18/8/73).

EM FRENTE AO MURO DA ENTRADA DE SERRAMBI GRAVEI MAIS DE UMA HORA DE DEPOIMENTOS. DA ESQUERDA PARA A DIREITA: GUGA ROQUE DO SURFGURU, PIET SNEL DE PRETO, MURRINHA DE AMARELO E COUTINHO. ESTADO MAIOR DO SURF PERNAMBUCANO.

Fernando Murrinha é dos pioneiros do surf nordestino, nascido em Paulo Afonso (BA) se mudou ainda garoto para Recife: “Comecei a surfar em 1966, aqui no Acaiaca eu já vi um pessoal surfando. Antes de chegarem as pranchas São Conrado já vieram algumas Glaspac, também tinha pranchas importadas como Gordon & Smith, Hobie e também da marca Sunset Surfboards. Os primeiros surfistas de Pernambuco foram Paulo Cezar, Ricardo Russo, Carlinhos (Carlos Fernando Vasconcelos), Joca Colasso. Eles já tinham acesso a viagens, iam para a Califórnia e chegaram a trazer pranchas de lá. Tinha também os professores da escola americana, que eram surfistas. Com pranchões já surfavam nos Abreus. Assim eu fui desenvolvendo o meu amor pelas pedras, o surf em reef breaks. Qualquer problema você vai para o canal. Esses professores eram ex-soldados do Vietnam e tomamos contato com esta contra-cultura que nascia na época. Viver na praia. A turma inicial era de uns 10 surfistas.”
Junto com Piet Snel, Murrinha foi um dos descobridores das ondas em bancadas de coral do litoral sul do estado. Piet foi o primeiro fabricante de pranchas de Pernambuco. As Concha Surfboards. “Eu comecei a surfar com uma prancha Glaspac em 1970, aquilo pesava uns 20 a 30 quilos, precisava de um amigo para levar e o ruim era que ai tinha que dividir o surf com o cara. Aqui chegaram a ter umas três pranchas de madeirite, Paulo Cezar teve uma, que comprou numa marcenaria entre Copacabana e o Arpoador. Nós víamos na revista os caras fazendo o cutback e não entendíamos muito bem a manobra, até que um dia vi na televisão. Depois começaram a chegar os filmes.”
No meio dos anos 70, Piet e Murrinha iam caminhando até a Ponta do Serrambi, ficavam um mês, um mês e meio em barracas. “Chegavam as pessoas e estávamos aqui de barraquinha, comendo comida de passarinho, arroz integral com ervilhas”, comenta Murrinha. Passaram dez anos sem crowd. Depois, no final dos anos 70 e início dos 80 introduziram alguns gringos da escola americana, que não tinham medo das bancadas de coral. Paul Miller, o holandês Pink de Jong também ficaram jogados por ali. Fernando Paiva Melo também foi um dos precursores em Fernando de Noronha, ia para mergulhar...
Mas estas histórias (e muitas outras), ficam para postagens futuras.



2 comentários:

  1. Acho que você esta esquecendo uma figura muito importante na historia do surf Paranaense, um dos primeiros surfistas e tam bem o primeiro fabricante de pranchas com nível profissional no Paraná, Edson Wily, mas conhecido como Crespo.

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  2. Paulo Sergio, esta postagem é apenas uma amostra de informações que estarão presentes no livro. Na entrevista (de mais de uma 1 hora) que fiz com Juca, Crespo é citado, mais de uma vez. Ele e Rubens Canfield são dois dos mais importantes shapers do Paraná. Diversas lacunas ainda devem ser preenchidas, como buscar o sobrenome do pioneiro (Tadeu) e sua história. O projeto de pesquisa continua com toda a seriedade. Obrigado pela sugestão, esta interatividade que o blog proporciona é valiosa para que seja realizado o melhor trabalho.

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