segunda-feira, 30 de março de 2015

OTÁVIO PACHECO – Parte 1

Criado ao redor das Pedras do Arpoador e Saquá

No livro “A Grande História do Surf Brasileiro” (a ser lançado no final do ano) os capítulos com ÍCONES de nosso esporte apresentam os surfistas por ordem de idade. O carioca Otávio Pacheco teve sua infância moldada ao redor das pedras do Arpoador, foi dos primeiros a explorar as ondas do Sul do Brasil, do Chile, do Peru e se jogar para morar em Saquarema.

OTÁVIO PACHECO EM SAQUAREMA, SEU SEGUNDO LAR DEPOIS DO RIO
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
OTÁVIO SURFANDO EM ITAÚNA NO CAMPEONATO ALA MOANA
UM DOS CÉLEBRES FESTIVAIS DE SAQUAREMA NOS ANOS 70
FOTO: KLAUS MITTELDORF
REPRODUÇÃO - HISTÓRIA DO SURF NO BRASIL - EDITORA AZUL

Desde que o surf entrou em sua vida (antes dos 10 anos de idade), a dedicação a evoluir no esporte, entender e estudar ele, trabalhando com a fabricação de pranchas, parafinas, a estruturação de eventos, distribuindo seu conhecimento escrevendo com criatividade sobre o surf... Otávio encontrou uma fórmula para construir a sua vida ao redor do estilo de vida que escolheu.
Otavio Pacheco, ou Targão, como ficou conhecido e famoso nos embrionários anos 70, quando foi moldado o estereótipo do surfista \ competidor brasileiro, pode ser considerado (ao lado dos mais jovens Betão e Bocão), um dos primeiros surfistas de ondas grandes, um “Big Rider”. Durante um período da década de 70 atingiu uma supremacia técnica que levou muitos a considerarem ele o melhor, mais completo, surfista do Brasil, venceu o campeonato do Píer em 1972, o campeonato de Ubatuba por duas vezes (75 e 78) e destacava-se nas ondas havaianas. É um verdadeiro ícone do surf brasileiro e será tratado como tal no livro.
A diferença de idade entre Otávio Pacheco e Rico de Souza é de apenas um mês. Para se ter uma ideia de como estes capítulos do livro “A Grande História do Surf Brasileiro” serão apresentados, vejam a postagem do Capítulo 4, apresentada em setembro de 2013, neste BLOG.

Otavio começou a surfar de pé sobre uma prancha de madeirite em 1963, em julho de 2015 completará 63 anos de vida e o surf nunca esteve fora de sua perspectiva. Em maio do ano passado sentamos para jantar em um restaurante japonês do Leblon, onde ele reside atualmente, liguei meu celular e comecei a bombardeá-lo de perguntas. Vamos conhecer um pouco de sua história.
Com a palavra Otávio Pacheco: “Nasci em 21 de julho de 1952 no Rio de Janeiro. Nascido e criado em Ipanema e nas pedras do Arpoador.
Meu pai o ilustre publicitário Cid Pacheco, professor e fundador da ESPM do Rio e da Escola de Comunicação da UFRJ e minha mãe Myda Pacheco, professora e pioneira da dança contemporânea no Brasil, praticava balé aquático e nado sincronizado. Eles foram da primeira geração do Arpoador, ainda nos anos 40. Durante a Segunda Guerra Mundial eles começaram a frequentar o Arpoador, numa época em que o Arpoador era um fim de mundo. O Rio de Janeiro era concentrado nos bairros do Flamengo e Botafogo e nos finais de semana as pessoas se aventuravam até Copacabana e os mais desbravadores iam até o Arpoador e Ipanema, que era um areal, uma restinga ainda. Na década de 40 começaram a frequentar a praia e praticamente foram eles que inventaram a cultura de praia. Pioneiros de frescobol, vôlei de praia, caça submarina, atividades de saltar das pedras – estilo Acapulco. Tudo no Arpoador.
Eu com dois anos já frequentava o Arpoador. Minha mãe me levava de bicicleta, morávamos na Rua Barão da Tore, 15 em Ipanema, do lado do Arpoador. Então eu fui criado, literalmente, nas pedras do Arpoador. Brincando desde os dois anos de idade, começando a pegar jacaré. Aprendi a nadar ali. Um dos banhistas (salva-vidas) o Mário, praticamente me ensinou a nadar no Samarangue dentro do Arpoador. Lembro que meu pai tinha aqueles colchões de piscina e dropava as ondas, comigo junto, desde o Pontão lá de fora, com 4 a 5 anos de idade. Ele também tinha um veleiro, eu praticamente fui criado a bordo e a gente tinha essa vida. A gente velejava bastante. Íamos muito para Angra e Ilha Grande de barco. Tive muita ligação com o mar. Não podia dar outra.
Meu pai foi dessa primeira geração de homens do mar. Ele era muito amigo do lendário George Grande, que foi um dos pioneiros da caça submarina, junto com o Bruno Hermany, Bisão, Paulo Bebiano, Badué e o próprio Arduíno Colassanti, que era um pouco mais garoto, eles começaram com a caça submarina e pegavam ondas de peito, apareceram com as primeiras pranchas. Primeiro surfando deitados, com pranchas sem quilhas (bodyboard). Depois começaram a fabricar pranchas um pouco maiores, daí – para ficarem de pé, foi um pulo. As primeiras eram as Portas de Igreja. Mais tarde começaram a envergar o bico e aparafusar uma quilha de madeira atrás. Em seguida vieram as madeirites, que eram pranchas pesadíssimas, feitas de compensado. Usavam pés de pato para entrar nas ondas. Elas não tinham flutuação.
Enfim, foi aí que começou; o Irencyr Beltrão e o Arduíno começaram a fabricar. No início na Ilha do Governador, depois abriu uma marcenaria aqui no Arpoador, na R. Francisco Otaviano, de um português, que era o dono e ele fazia umas madeirites mais modernas, mais leves de compensado, com quilhas aparafusadas. As quilhas já tinham um desenho mais evoluído, eram chamadas quilhas francesas.
 OTÁVIO PACHECO EM SUA PRIMEIRA FOTO SURFANDO.
COM UMA PRANCHA DE MADEIRITE NO ARPOADOR

Comecei a surfar com estas pranchas (pegava jacaré desde os dois anos de idade) de surf, de 1962 para 1963. Eu comprei minha primeira madeirite, já usada de segunda mão, do Fabinho Kerr, ele é um pouco mais velho do que eu, ela tinha um pedaço lascado no bico, mas comecei a surfar com ela, que já tinha essa quilha francesa, que era mais próximo das que temos hoje em dia, porque as primeiras quilhas eram mais quadradas, como aquelas pranchas Hobie antigas. Podemos dizer que esta madeirite já era uma madeirite de “alta performance”. Eu não usava pés de pato, ia remando até o pontão do Arpoador, já dava para fazer manobras, dar bottom turns, roller coasters (batidas), chegava a dar cutbacks e fazer manobras de bico, consegui fazer hang-fives e hang-tens com ela. Eu ainda pegava de madeirite e começaram a aparecer várias pranchas de fibra, importadas, com os surfistas da primeira geração. Tinha pranchas Gordon & Smith, Con Surfboards. Aquela Bing do Russell Coffin, que o Peter Troy usou.

 
OTÁVIO PACHECO, HANG TEN, JÁ EM SUA SÃO CONRADO
PRAIA DO PERÓ, ENTRE BÚZIOS E CABO FRIO
ARQUIVO PESSOAL

Eu fiquei três anos pegando com essa madeirite, até 1966 e já haviam várias destas pranchas importadas. Chegaram a me roubar a madeirite que comprei do Fabinho, ela era muito boa. Comprei uma outra madeirite, também de segunda mão. Por uns três anos eu era aquele molequinho que pegava no meio da primeira geração do surf. As “lendas” da época eram o Arduíno Colassanti, o Irencyr, Jorge Bally – o Perseguição, foi o primeiro campeão brasileiro. Essa geração ainda tinha o Mário Bração e eu era o molequinho de 12 anos, que ficava metido lá no meio dos “coroas”, na verdade eles tinha uns 20 anos. Era aquele pirralho que pegava ondas ali no meio.
A segunda geração, ou uma entressafra, o pessoal da minha idade era o Betinho Lustosa, que até hoje considero um dos melhores surfistas de todos os tempos, ele era uma mistura de Mickey Dora com Nat Young, ele tinha uma elegância, um controle absoluto da prancha, uma coisa inata. E eu perguntei para o Betinho: “Em quem que você se inspirava?” Ele me disse que ninguém, que pegava onda naturalmente. Aquilo era uma vocação natural dele. A única referência que tínhamos eram as revistas Surfer, não havia vídeos, então a gente tinha esta referência que era a “bíblia” do surf.
O primeiro cara que me impressionou mais foi o Mário Bração, pelo estilo dele, me chamava muito a atenção. Eram vários surfistas bons, o Rafael Gonzalez tinha um estilo muito refinado. Carlos Mudinho, meu grande amigo, que considero meu mestre no surf e nos shapes, ele esbanja estilo até hoje. Os irmãos Rebechi, Paulo e Mário – eram surfistas de vanguarda, hoje são falecidos. O Piuí, irmão do Mário Bração. O pessoal da geração anterior ainda, que era o Marcelo Rabello e o Betinho Lustosa, que realmente foi o meu primeiro ídolo no surf. Era espantoso o talento dele. O Betinho exerceu uma forte influência sobre o meu surf naquela época, porque realmente ele era uma coisa fora do normal. Uma outra influência importante para mim foi das revistas, os surfistas que eu via em fotos e me influenciaram muito foram o Mickey Dora, depois o Nat Young e o David Nuuhiwa também. Eram nossos primeiros grandes ídolos das revistas.
Eu peguei três anos em pranchas de madeirite e o meu maior sonho de consumo era ter uma prancha de fibra. Eu filava as pranchas de fibra. Ficava sentado na areia horas e esperava os mais velhos saírem do mar. (Era aquelas coisas: “Aí moleque \ pirralho – sai logo.”
 OTÁVIO PACHECO FEZ ESTA FOTO DA FAMÍLIA: 
LIANA. FÁBIO, MYDA, O CAÇULA MAURO E CID PACHECO

Conclusão em 1966 meu irmão Fabio Pacheco e eu ganhamos uma São Conrado cada um. Ela levou três meses para ficar pronta. A minha foi um modelo Hobie e meu irmão fez uma prancha que chamava Model A, que era uma variação das Surfboards Hawaii, que eram as pranchas mais evoluídas na época, com o bico bem mais largo para noseriding. A prancha do meu irmão ficou muito melhor do que a minha e no final eu acabava sempre disputando a prancha dele. A minha era um pouco maior que a dele (que já tinha uns 10 pés). A gente ficava dividindo. A minha tinha menos bico, era um modelo diferente.
Essas São Conrado foram nossas primeiras pranchas de fibra e quando eu ganhei ela, me lembro que eu colocava a prancha em cima da cama e eu dormia no chão. Eu cedia a minha cama para a prancha. Eu reverenciava a prancha como se fosse uma “divindade”.

ENDLESS SUMMER

Já no final dos anos 60 aconteceu um fato histórico, uma coisa marcante, que foi a exibição do filme “The Endless Summer”, no auditório do consulado americano. Alguém trouxe o filme e lá no Arpoador (eu ainda era um moleque), distribuíram ingressos, foi dada entrada de graça para todo mundo. Então fomos na cidade para o consulado americano, na Av. Presidente Wilson, esquina com a Rua México, assistir ao Endless Summer.
Aquilo realmente mudou a minha vida, foi um marco. Eu quero ser isso quando eu crescer. Surfista! Pegar onda. Quando eu via aquelas imagens dos caras viajando pelo mundo atrás das ondas. Foi a primeira referência. A vida mudou ali, minha e de toda a galera. Depois eu ainda assisti várias vezes.
Em 1967 \ 68, ainda na época dos pranchões, eu lembro que ia na Loja Magno, na Rua Francisco Sá, a continuação da Visconde de Pirajá, pelo que eu sei foi a primeira Surf Shop do Brasil. Eu lá com 15 anos, com a prancha debaixo do braço e perguntava. Ô seu Jorge, quando que vai ter campeonato? Porque já haviam ocorrido alguns campeonatos no Arpoador. Eu estava no meu auge, pegando onda bem. “Um dia talvez que sabe...” Não era essa vida fácil de hoje, que tem campeonatos todos os finais de semana. A gente a fim de competir, com aquela gana de competidor, mas não tinha...

No final dos anos 60 chega o Penho do Hawaii e ele trouxe uma mini model roxa, que era como se fosse uma funboard, mas ela tinha uma rabeta pin tail. Quando eu fiz o primeiro “test-drive” nessa prancha, peguei ela lá no Arpoador, a velocidade da prancha era estonteante. Quando eu peguei a primeira onda eu caí para trás. Era muito mais difícil de pegar, a prancha muito menor do que estávamos acostumados. Levou umas ondas para eu acertar a colocação e ter o controle dela. No dia seguinte peguei meu longboard e serrei no meio. Eu pensei assim: “Isso que é o surf”. Ou seja, menos prancha, mais emoção. O conceito era esse. Todo mundo começou a serrar as pranchas.
O Penho foi o grande revolucionário que trouxe essa prancha. Foi aí que começou a fase moderna do surf no Brasil.

Quando passou a fase do longboard lembro que descasquei essa prancha do meu irmão a Model A e shapeamos uma primeira pranchinha. Não posso nem dizer que fomos shapers. Descascamos ela e passamos um ralador de queijo, diminuímos ela quase pela metade. Era uma 10 pés, virou uma 6’8”, mais ou menos. O Rico laminou esta prancha pra gente. Ela, por necessidade, acabou ficando mais estreita. A gente entregou a prancha para ele semi-pronta e o Rico terminou. No fim era uma prancha moderníssima, com 19’ de largura, a rabeta round, já bem estreita, uma boa envergadura.
Era uma prancha revolucionária e foi essa prancha que eu levei para o Sul, em 1969. Foi minha primeira expedição, com prancha e mochila nas costas, de ônibus e carona, eu e Miçairi fomos até Imbituba. Havíamos ouvido falar que algum lugar em Santa Cataria, chamado Imbituba, tinha uma configuração de ondas grandes e nós pesquisamos mapas e os registros da Marinha e percebemos que as maiores ondulações que se tinha registros eram em Santa Catarina. E também percebemos que o litoral de SC era todo recortado, muito mais que o do Rio de Janeiro. Isso significava o que? Que tinha praias viradas para todas as direções, criando a possibilidade de pegar vento e direção da ondulação, tudo junto. Que eu saiba nós fomos os primeiros surfistas do Rio de Janeiro a ir até lá.
Ficamos acampados em um barracão de guardar as redes e barcos, na praia da Vila. Fomos para passar um mês e acabou que ficamos seis meses lá. Eu voltei para o Rio e um mês depois já voltei com o Nelsinho e em seguida o Miguel Acerta e o Maraca, apareceram lá. Era o final dos anos 60, início dos anos 70 eles foram de carro e começamos a desbravar o sul. A gente não sabia o nome das praias. De Imbituba fomos para Garopaba, fomos para Ibiraquera, Itapirubá. Perguntávamos para os pescadores e fomos descobrindo os picos que davam para surfar, foi assim em Matinhos também. O espírito de desbravar estava deflagrado.
Em 1973 fui ao Peru, voltei e fabricando parafinas em Saquarema consegui grana para ir ao Hawaii, mas esta história fica para mais tarde...


OTÁVIO PACHECO - SUNSET BEACH
SEU PICO PREFERIDO NO HAWAII
FOTO: GORDINHO \ 1985

PÍER DE IPANEMA

OTÁVIO SURFANDO UM DIA CLÁSSICO NO PÍER
FOTO: CACAU / 1971

Eu já tinha ido umas duas, ou três vezes para o sul e começaram a construir o Píer de Ipanema. Tinha aquela saga da busca pela onda perfeita. O Maraca e o Gustavo Carreira foram meus primeiros grandes parceiros nesta saga de partir em busca da onda perfeita. Gostávamos de ondas grandes, já tínhamos pensado em morar em Saquarema. Nas nossas viagens para o sul surfamos em lugares que ninguém havia pegado ondas. Fomos até o Farol de Santa Marta, chegamos a passar um ano no sul. Para lá e para cá naquela região. Tinha um grupinho de surfistas lá no sul, que eram os Seftons, com o pai, eles iam lá para Imbituba o tempo todo e eles nos levaram até Torres nesta época. Eu estava com essa minha primeira pranchinha, a 6’8” e eles estavam praticamente aprendendo a pegar onda.
Aconteceu um fato curioso lá em Imbituba, na primeira vez que fomos surfar na praia da Vila as ondas estavam com 10 a 12 pés, com vento nordeste terral. Essa foi a primeira impressão que eu tive do pico. Falei: “Caramba!” Eu achava que era todos os dias assim. O que que é isso que nós descobrimos? Parecia que tínhamos chegado em outro planeta. Foi aí que começou aquela magia toda de pegar ondas grandes, cair em mares desse tamanho.
Quando chegamos lá os pescadores não queriam deixar a gente cair na água. Eles achavam que a gente iria morrer. Depois que eu e o Maraca começamos a pegar a praia da Vila com 3 metrões. Pelo que eu sabia eles não tinham visto surf ainda. Então: “Eram os Deuses Astronautas” – aquela coisa. Eles juntaram um grupo na areia e ficavam torcendo, gritavam quando a gente caía e quando saímos da água era aquela coisa mesmo... “Os Deuses Astronautas”. Todos queriam que ficássemos nas casas deles. Foi incrível isso.
Seu Bina e seu Vadinho, eram lendas lá naquela época e eles tinham um barracão ali na praia. Eles deixaram a gente ficar lá. E tinha escorpião para caramba ali. A gente passou o inverno e entrava aquele vento Minuano. Às vezes ficava dez dias e não dava nem para sair para pegar onda. Estávamos acampados, no meio dos barcos, dormindo em cima de redes. Tínhamos que esperar o mar melhorar.
Ao mesmo tempo, aqui no Rio estava sendo feito o Píer. Já tínhamos ido a Saquarema diversas vezes. Uma vez quando voltamos do sul teve o Campeonato do Píer, em dezembro de 1972, terminou no comecinho de 1973. Este campeonato ocorreu depois de uma parada nas competições durante a transição dos pranchões para as pranchinhas.
Quando começaram a construir o Píer eu e alguns amigos já sabíamos que iria começar a dar ondas ali. Pelo histórico dos píers americanos, Huntington e tal. Para nós um píer era sinônimo de ondas boas. E a geração mais antiga do Arpoador torcia um pouco o nariz, “Ihhh – vai estragar”. Eu e mais meia dúzia de amigos, a gente sentou na areia vendo a construção, com os guindastes, quando eles estavam colocando os primeiros tubulões. A gente passou parafina na prancha, ficamos sentados na areia esperando colocarem as tubulações ‘literalmente’ (entre aspas um pouco), mas quando colocaram as primeiras oito pilastras o fundo já começou a assorear e além disso eles tinham umas dragas que jogavam toneladas de areia ao lado das pilastras. Isso fez um fundo raríssimo e na primeira meia dúzia de pilastras começou a dar ondas.
OTÁVIO SURFANDO AS ONDAS DO PÍER COM O CABELO ESTILO RECO.
AO COMPLETAR 18 ANOS, SERVIU O EXÉRCITO EM 1970.
FOTO: MÚCIO SCORZELLI
ESTA FOI A PRANCHA SÃO CONRADO QUE ELE DESCASCOU PARA FAZER UMA MINI MODEL QUE LEVOU ATÉ O SUL E VOLTOU PARA TESTÁ-LA NAS PRIMEIRAS ONDAS DO PÍER

POUCOS ANOS DEPOIS, EM 1972, OS CABELOS JÁ ESTAVAM LONGOS
OTÁVIO COM O DEDO NO QUEIXO À DIREITA
VEJA OS NOMES NA LEGENDA DA FOTO DE FEDOCA
IMAGEM RETIRADA DO BLOG DE BRUNO ALVES
QUE POR SUA VEZ CAPTUROU NO ÁLBUM DA TOTEM

O Píer foi nossa primeira escola de ondas tubulares. Cada dia foi melhorando e melhorando, o pessoal nem ia mais para o Arpoador. Um detalhe é que eles colocaram estas placas de ferro e isso que fez assorear, no meio das colunas era fundo. A areia não passava de um lado para o outro. Assoreou do lado das esquerdas e também assoreou no Backdoor. As placas eram submersas, mas o suficiente para não deixar a areia passar de um lado para o outro, isso que assoreou. Formou um belo de um fundo. Foi o primeiro fundo artificial que funcionou. Tanto é que assim que tiraram o píer e as placas, o fundo acabou imediatamente. Começaram a desmontar... Acabou.
Ficamos quatro anos pegando ondas no Píer e foi nossa primeira escola de tubos. Foi aí que apareceu a geração do Pepê, que era um molequinho. Eu chamava ele de Maluquinho. Ele gostava de se jogar. A gente era radical ali. O Pepê era aquele magrinho, franzino que aparecia naqueles dias de ondas gigantes. Aquele molequinho lá fora, ele ainda não tinha técnica nenhuma, mas se jogava de tudo que era jeito. Conheci o Pepê assim. Em poucos meses, com o talento que ele tinha, evoluiu muito rápido. Ele era tipo um mascote da galera mais velha.
Tinha também meu primo de afinidade que era o Petit, que inspirou a música do Caetano, do Menino do Rio. Ele frequentava minha casa desde pequeno. Ele era um dos estilos mais bonitos do surf. Ele foi uma história aparte.

QUE DIFERENÇA! DA TRIBO DOS ANOS 70, PARA OS SURFISTAS DE HOJE
OTÁVIO PACHECO O PRIMEIRO A DIREITA
EM PÉ DA DIREITA PARA A ESQUERDA: RATÃO, MARACA E KADINHO
AGACHADO DE CAMISETA PRETA - PETIT
E AS MENINAS
INCRÍVEL FOTO DE MÚCIO SCORZELLI
RETIRADA DO LIVRO DE ALEX GUTENBERG, PUBLICADO PELA FLUIR EM 1989
"HISTÓRIA DO SURF NO BRASIL"


CAMPEONATO DO PÍER

FINALISTAS DO PRIMEIRO CAMPEONATO DO PÍER, PATROCINADO PELA SKOL
DA ESQUERDA PARA A DIREITA: BETÃO, WANDERBILL, YSO AMSLER (VICE-CAMPEÃO), MARACA, 
OTÁVIO (CAMPEÃO) E PAULO PROENÇA
FOTO: NANDO MOURA

Foi a semente do profissionalismo, apareceram os primeiros ídolos do surf brasileiro. E a Skol resolveu patrocinar o campeonato, porque tinha o lançamento da primeira cerveja em lata do Brasil e escolheu o surf para promover a lata. Eram duas categorias, a Senior acima de 18 anos e a Junior. Não existia amador, ou profissional. Eu entrei na Senior e tive sorte e ganhei o campeonato. Fui campeão carioca e ganhei uma passagem para o Peru, da Stella Barros Turismo. Foi o primeiro campeonato que iniciou minha carreira de competidor e depois de atleta profissional.
COMPETINDO PARA A VITÓRIA
O EVENTO FOI FINALIZADO NO INÍCIO DE 1973
FOTO: NANDO MOURA

Como eu ganhei esta passagem, eu vendi a passagem. Com o dinheiro dela eu, o Paulinho Proença, o Nelsinho e o Xuxa, juntamos uma grana, montamos uma Kombi (que era do Xuxa) e fomos em busca das ondas grandes do Oceano Pacífico, a gente não conhecia o Pacífico...

Isso foi no começo de 1973, logo após o Campeonato do Píer.
Mas vamos dar uma pausa aqui.
Na próxima postagem deste Blog – HISTÓRIAS DO SURF, trarei a sequência desta entrevista com Otávio Pacheco.

Fiquem com mais algumas fotos e recortes históricos de sua carreira, na certeza de que... O melhor está por vir.

 NOS DIAS DE ONDAS GRANDES O BACKDOOR DO PÍER ERA O PICO
OTÁVIO SEMPRE SE DESTACAVA NESTAS CONDIÇÕES - SEGURO - ESTILOSO
FOTO: FEDOCA

CAPA DA BRASIL SURF NÚMERO 4
ITAÚNA. FOTO: MÚCIO SCORZELLI

MATÉRIA SURF BROTHERS, CONCEBIDA POR ALCEU TOLEDO JUNIOR
PUBLICADA NA FLUIR NO FINAL DOS ANOS 80
FOTOS: BETO ISSA E BRUNO ALVES

OTÁVIO PACHECO - PIPELINE - HAWAII - 1974
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Para conhecer maiores detalhes sobre o projeto do livro “A Grande História do Surf Brasileiro”, cliquem no link abaixo:


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