Lições de
uma derrota (agri)doce
A etapa da
Califórnia do WT (Circuito Mundial) é considerada o melhor palco para o surf de
alta performance. Dos quatro lugares mais altos do pódio no HURLEY PRO 2015, três
foram dominados por brasileiros. Porém um australiano ficou com o título. Mick
Fanning é tão “cool” que fica quase impossível odiá-lo. E mais, ele fará o
nível do surf brasileiro se elevar mais um grau.
MONTAGEM COM IMAGENS RECORTADAS DO
SITE DA WSL
DA ESQUERDA PARA A DIREITA, ADRIANO
DE SOUZA, MICK FANNING, FILIPE TOLEDO E GABRIEL MEDINA, SURFANDO EM TRESTLES,
SUL DA CALIFÓRNIA
IMAGENS DE ROWLAND E SKINNER (WSL)
Podemos
constatar alguns fatos após esta etapa e apesar de Adriano ter cedido a lycra
amarela para Mick, estes quatro surfistas (na verdade os sete primeiros do
ranking) tem uma chance mais concreta de ficar com o primeiro título da Era WSL
(Liga Mundial de Surf), nascida em 2015 sob os efeitos devastadores da “Brazilian
Storm”.
Não faz
muito tempo ficávamos nos indagando: quando teríamos um brasileiro brigando
pelo título masculino da ASP? Demorou bastante e mesmo com o terceiro lugar de
Victor Ribas em 1999, o quinto de Fabio Gouveia em 1992, nunca havíamos chegado
em Pipeline com um postulante ao título de uma temporada.
Agora a
história é bem diferente e até Gabriel Medina, independente de seu início de
temporada com turbinas desaquecidas e dependendo de suas colocações na França e
em Portugal, pode chegar em Pipeline com condições de defender a coroa. Vamos
às perspectivas...
ADRIANO DE SOUZA MOSTROU QUE ESTÁ
AFIADO COMPETITIVAMENTE SEGUINDO ATÉ A FINAL NAS ONDAS DE TRESTLES - 8 MIL
VALIOSOS PONTOS PARA UMA EVENTUAL CAMPANHA DE TÍTULO
IMAGEM RECORTADA DO SITE WAVES
FILIPE TOLEDO, MAIS UMA VEZ,
APRESENTOU O SURF MAIS INSTIGANTE EM LOWERS. ESTÁ TÃO EM CASA LÁ COMO NAS
DIREITAS DE ITAMAMBUCA
IMAGEM RECORTADA DO SITE SURFLINE
GABRIEL MEDINA, CADA VEZ MAIS
PERIGOSO NESTA TEMPORADA, VOLTOU AO FOCO DE CAMPEÃO E... LEVANDO EM CONTA OS
TRÊS CAMPEONATOS QUE FALTAM EM 2015, ACREDITO QUE FANNING, MINEIRO, FILIPE,
OWEN, JULIAN E KELLY, OS 6 QUE ESTÃO A FRENTE DELE, DEVEM “MANTER O PÂNICO”
IMAGEM RECORTADA DO SITE DA HARDCORE
Kelly
Slater, em entrevista após sua derrota para Fanning (aliás bateria realmente
decisiva para as aspirações de Slater ao #12), ameaçou não ir para a Europa. Só
vamos saber a partir do dia 6 de outubro, quando começa o QUIKSILVER PRO
FRANCE. O fato é que Slater não está fora do páreo, matematicamente, é um
desafio para ele. Pode ser mais um jogo mental do careca. Porém, se mentalmente
ele não se interessar mais pelo título desta temporada, vai reaparecer para o
show habitual do BILLABONG PIPELINE MASTERS e eventualmente ter um papel
decisivo contra os que chegarem no Hawaii brigando efetivamente pelo título e tiverem de enfrenta-lo.
Estas etapas
da Europa serão decisivas e dependendo dos desdobramentos poderemos chegar no
Hawaii com meia dúzia de postulantes com chances ao título, isso não acontece
desde 1987.
CAPA DA REVISTA SURFER QUE PREPARAVA
PARA O CLIMAX
DAMIEN
HARDMAN, GARY ELKERTON E TOM CURREN ACIMA
BARTON LYNCH,
MARTIN POTTER E TOM CARROLL ABAIXO
Naquela temporada
de 1987, que só acabou no início de 1988, na Austrália, Damien levou a
melhor. Destes seis, o único que nunca conseguiu um título do WCT (apenas um máster),
foi Gary “Kong” Elkerton. Os outros cinco foram campeões, em uma época em que
os brasileiros eram meros expectadores da disputa por um título deste calibre.
Mas foi
justamente naquele ano de 1988 que acendeu a luz de que o sonho era palpável
para nós, com a vitória de Fabinho Gouveia no mundial amador em Porto Rico.
Imediatamente começamos a sonhar alto. De amador no início do ano ele e Teco
entraram firme no Circuito Mundial profissional, em uma época em que ainda não
havia divisão entre WCT e WQS, ao final da temporada de 1989 Fabio Gouveia era
eleito ROOKIE OF THE YEAR, o estreante mais bem classificado no ano.
NA CONTRA-CAPA DA FLUIR DE FEVEREIRO
DE 1990 A HANG LOOSE PRODUZIU UM ANÚNCIO IMITANDO UMA CAPA DE REVISTA
FOTO: AGOBAR JUNIOR
Nós começávamos
a aparecer nas festas da ASP, naquele mesmo ano a Fluir recebeu o prêmio pela
melhor cobertura do circuito mundial, tive a honra de subir ao palco do Royal
Hawaiian Hotel para receber a placa, representando a revista, recentemente
estive na sede da Fluir para uma visita e lá estava o troféu, na sala do
diretor Kiko Carvalho.
KIKO E DRAGÃO NA SEDE DA FLUIR EM SÃO
PAULO
FOTO: ALESSANDRO DE TONI, COM MEU
CELULAR
EM 1989 EU TINHA 33 ANOS QUANDO
AGOBAR FEZ ESTA FOTO NO
ROYAL HAWAIIAN HOTEL EM WAIKIKI
Em 1991 eu já
trabalhava na revista Hardcore quando ela venceu o prêmio na categoria melhor
cobertura – revista. Eu não estava nesta temporada havaiana e quem trouxe o
troféu foi meu sócio e diretor de fotografia, Alberto Sodré.
Mas eu
estava novamente no Hawaii na temporada de 1994, quando Jojó de Olivença foi consagrado
ROOKIE OF THE YEAR. Jocélio precisou voltar antes ao Brasil e me pediu que
subisse para receber o prêmio em nome dele. Estávamos tomando corpo na
entidade. Peterson Rosa engrossara o caldo na temporada de 1993 e naquele ano de
1994 já estávamos com nove surfistas nos TOP 44, com a entrada de Jojó, Renan,
Vitinho, Tinguinha, Tadeu Pereira e Tatuí. Piu e Guilherme Herdy entrariam no
ano seguinte.
JOJÓ DE OLIVENÇA NO QUIKSILVER PRO
G-LAND EM 1997
ERA O INÍCIO DO DREAM TOUR E AS NOTAS
ALTAS VINHAM PARA TUBOS LONGOS
NESTA ONDA ELE FEZ UMAS OITO MANOBRAS
E SEM PEGAR NENHUM TUBO DESENHOU UMA LINHA NA PAREDE DE MONEY TREES QUE OS
JUÍZES SOLTARAM UMA NOTA 9
SEQUÊNCIA: PETE FRIEDEN – REPRODUÇÃO DA
HARDCORE
REPAREM PELO ÂNGULO DA LENTE QUE A
CAVADA É DE UMA MANOBRA, QUE COM CERTEZA NÃO FOI A PRIMEIRA, A RASGADA JÁ É
OUTRA E A ÚLTIMA FOTO JÁ É MAIS PARA BAIXO NA ONDA
Aproveitei a
oportunidade para destacar ao público da festa (90% internacional) de que o
Brasil era uma força a ser reconhecida no surf e que estava chegando forte. O
que me frustrou, como editor de revistas, e tenho certeza, muitas outras
pessoas, foi essa demora para o título vir.
Mas agora o
momento é outro. Nesta temporada estamos marcando presença na ponta do ranking.
Esta supremacia brasileira no HURLEY PRO em Trestles é uma prova da qualidade
do surf brasileiro contemporâneo. A bateria entre Adriano de Souza e Filipe
Toledo, na semifinal do campeonato, foi uma das mais empolgantes da temporada,
com a liderança trocando de dono e a busca por superação patente. Uma batalha
esportiva no mais alto nível.
Os surfistas
que chegaram até as baterias decisivas, em campo norte-americano, mereceram e
deram espetáculo para o público presente. Adriano, Gabriel e Filipe já deram
show e venceram eventos em águas europeias. É uma região na qual nossos atletas
se sentem em casa e confortáveis naqueles beach breaks preparatórios para
Pipeline. Existe uma chance deste título ser selado em território europeu, mas
também pairam múltiplas possibilidades para Pipeline.
Para
finalizar, voltemos aos ROOKIE OF THE YEAR. Em 2015, finalmente este título
voltará para mãos brasileiras. Fica entre o potiguar de Baía Formosa, Ítalo Ferreira
e o ubatubense Wiggolly Dantas. Não há chance dos outros rookies, um australiano, um havaiano e um neozelandês alcançá-los.
Estou
compilando uma lista completa, desde que o título foi introduzido, ainda nos
anos 80. No antigo site da ASP havia esta informação, mas não no atual site da WSL.
Este blog é
aberto para colaborações – aguardo mensagens.
VEJAM O QUE JÁ TENHO: (já acionei o expert brasileiro em estatísticas da ASP – João Carvalho)
ROOKIE OF THE
YEAR – IPS \ ASP \ WSL
ANO – ATLETA
2014: Dion Atkinson
2013: Nat Young
2012: John John Florence
2011: Julian Wilson
2010: Owen Wright
2009: Kekoa Bacalso
2008: Dane Reynolds
2007: Jeremy Flores
2006: Bobby Martinez
2005: Fred Patacchia
2004: Bruce Irons
2003: Luke Stedman
2002: Mick Fanning
1998: Taj Burrow
1997: Mick Campbell
1996: Nathan Webster
1994:
Jojó de Olivença
1989:
Fabio Gouveia
WOMANS
2014: Joanne Defay
2013: Bianca Buitentag
2007: Jessie Milley Dyer
20??: Silvana Lima
1997: Jaqueline Silva
1996: Megan Abubo
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