domingo, 27 de dezembro de 2015

RETROSPECTIVA 2015

Breves análises de um ano emblemático

Quinze anos adentro neste novo milênio e é possível sentir o cenário do surf se transformando. Para o surf competitivo profissional brasileiro 2015 foi o ápice, culminando com o título de Adriano de Souza na primeira temporada da WSL, a “nova” Liga Mundial de Surf.

ADRIANO MINEIRINHO E SUA CHEGADA TRIUNFAL À SUA TERRA NATAL, O GUARUJÁ
IMAGEM RETIRADA DO INSTAGRAM DE ADRIANO DE SOUZA

Nesta postagem irei destacar alguns fatos que me chamaram a atenção e como sempre tendo uma perspectiva histórica. Desde 1967, quando tomei contato com o surf e desde 1986, quando comecei a trabalhar profissionalmente na imprensa, não há como não colocar o ano de 2015 como a temporada em que o orgulho de ser surfista brasileiro ganhou suas maiores proporções. Mas sempre existem os dois lados da moeda.

CAPA DA REVISTA ISTO É QUE FECHA O ANO DE 2015
O DESTAQUE POSITIVO É O SURF

As principais revistas semanais brasileiras a Veja, Época e Isto É deram espaço significativo para as façanhas dos surfistas brasileiros na Liga. Esta foi a notícia (esportiva) mais feliz deste final de mais um ano conturbado no Brasil e no Mundo.

PÁGINA DUPLA DA ISTO É Nº 2404, DE 6 DE JANEIRO DE 2016
GABRIEL MEDINA, FILIPE TOLEDO E ADRIANO DE SOUZA
ESTRELAS DE NOSSA MELHOR TEMPORADA NO CIRCUITO MUNDIAL

Nem tudo foram “rosas” para o surf brasileiro, nos últimos meses do ano enfrentamos o mais grave desastre ecológico da história do Brasil, afetando o ecossistema do leito do Rio Doce, um dos mais importantes do país e por tabela, depois de dias... o vilarejo de Regência, na desembocadura do rio. Uma quantidade absurda de lama, impregnada de dejetos de mineração, desceu mais de 800 Kms, Brasil adentro e afora, desembocando no mar ao norte do litoral capixaba. Muitos consideram as ondas de Regência as melhores do Estado do Espírito Santo, os estragos ao ecossistema local devem perdurar por muitos anos.

REPRODUÇÃO DA ABERTURA DE MATÉRIA PUBLICADA NA REVISTA SURFAR 2012
FOTO DE CELSO PEREIRA JUNIOR

FOTO DO FINAL DO ANO DE 2015
A VILA DE REGÊNCIA NO CANTO ESQUERDO

O resultado final desta hecatombe ambiental só poderá ser aquilatado daqui a alguns anos, mas temos que seguir em frente e continuar batalhando para defender nossos recursos naturais. No livro que estou preparando “A GRANDE HISTÓRIA DO SURF BRASILEIRO” as questões ambientais e as organizações que lutam para manter os oceanos e praias um lugar imaculado e agradável terão menção e destaque.
Na capa e no índice da mesma Isto É citada acima, os destaques (a não ser com relação ao surf) são para situações calamitosas deste ano que se vai. Uma presidente que faz vista grossa para os verdadeiros problemas da nação; um congresso perdido em interesses que não tem nada a ver com a ordem e o progresso do país; um povo que se mobiliza em manifestações, mas que não tem força, não usa o seu voto, para mudar de fato o país (por enquanto); um cachorro sendo salvo deste mar de lama que nos metemos; e Adriano de Souza, deslizando em um tubo azul do Tahiti.


ÍNDICE (PARCIAL) DA ÚLTIMA ISTO É DE 2015
QUE AINDA TRAZ A TRISTE NOTÍCIA DO INCÊNDIO DA ESTAÇÃO DA LUZ
E DO MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA EM SÃO PAULO

Chega de desgraça, aqui neste blog e no livro que estou produzindo, o objetivo maior é trazer à luz, registrar, documentar, o que aconteceu de importante e positivo nesta grande e longa história do surf brasileiro.
Vamos falar então de um ano maravilhoso para o esporte no país.
Tenho sido bastante factual neste blog (Histórias do Surf), mas agora vou abordar os acontecimentos deste último Billabong Pipeline Masters e do contexto do ano 2015, de forma analítica, como eu sempre gostei de fazer quando escrevia minhas coberturas de competições, primeiro na Fluir, depois na Hardcore e também em minhas colunas no site Surf Reporter e depois na Alma Surf.
Um brinde a nossos TRIs.
Adriano de Souza, campeão da Tríplice Coroa Australiana (que ainda não foi inventada); Filipe Toledo, único tricampeão de eventos da WSL em 2015; e Gabriel Medina, campeão da Hawaiian Triple Crown.

ADRIANO DE SOUZA DESPENCANDO EM THE BOX - MARGARET RIVER
 MINEIRO EM IMAGEM RECORTADA DO SITE SURFERTODAY

GABRIEL MEDINA NO PIPE MASTERS DE 2015
DUAS FINAIS SEGUIDAS EM PIPELINE
O TÍTULO VIRÁ, TODOS NÓS SABEMOS DISSO

 FILIPE TOLEDO 3 VITÓRIAS EM 2015, AS PRIMEIRAS
GOLD COAST, BARRA DA TIJUCA E SUPERTUBOS EM PORTUGAL
MONTAGEM COM FOTOS: WSL

Vamos abrir espaço para alguns comentários sobre esta performance brasileira na temporada 2015 e vamos de trás para frente, destacando o Billabong Pipeline Masters. De trás para frente nos leva à cerimônia de premiação e as entrevistas. Um grande sinal da maturidade é a qualidade das entrevistas que tanto Adriano, como Gabriel deram (em inglês). Os dois estavam no centro das atenções, no pódio, depois com diversos microfones apontados e mandaram muito bem. Este é um aspecto muito importante para o reconhecimento do surf brasileiro internacionalmente. O surf é um esporte de língua inglesa, o “circo” de apresentação é montado dessa forma e é importante termos esta ciência e desenvoltura não só nas ondas como também fora da água. Há muito a evoluir aqui (como nos casos de Ítalo e outros rookies), mas o caminho está certo.

DENTRO DA ÁGUA
Os dias 16 e 17 de dezembro de 2015 foram recheados de expectativa. Tudo podia acontecer, não havia como montar um script, dada a diversidade de alternativas. No dia 16 quebrou Pipeline de verdade, as famosas ondas ocas desafiadoras de 3 a 4 metros de face, algumas abrindo, outras fechando. Mar para MASTERS e os cinco candidatos ao título estavam lá.
Para o dia 17 restaram três e embora as ondas estivessem longe da fama (e qualidade) de Pipeline, era um mar altamente competitivo. Não há o que questionar. Acompanhando as coberturas da internet e da ESPN Brasil, conversando com amigos, muitas dúvidas podem pairar. A nota 2 e pouco de Filipinho que não saiu? O que poderia ter acontecido se o mar estivesse maior no dia decisivo? E por aí vai.
Na verdade Kieren Perrow deixou passar uma mar lindo, de dois metros e meio, prá lá de perfeito, com sol e pouco vento, muito melhor que o dia das finais. Mar de sonho mesmo. Isso foi uns dois dias antes do dia clássico (16 de dezembro), mas também não dá para crucifica-lo, pois havia a expectativa deste bom swell. E ninguém poderia imaginar que no dia seguinte o mar baixaria tanto e as ondas ficariam ruins. O certo teria sido rolar o penúltimo dia de competição nas “ondinhas” perfeitas de 2,5 metros e deixar o desfecho para o dia matador. Mas naquela altura, fazer um dia decisivo em ondas pequenas seria criticado por favorecer os brasileiros. E deu no que deu.
Adriano de Souza teve baterias complicadas e difíceis. No round 3 contra Jack Robinson, nas quartas de final contra Josh Kerr e a semi contra Mason Ho, estas duas últimas de notas baixas e tensas, por decidirem o título. Mineirinho não piscou em nenhuma delas. Fez o que tinha de ser feito, com surf de campeão. Fanning sempre havia se classificado antes e o peso ficava nas costas de Adriano, se perdesse... perdia o título.
Na final, já com o título mundial garantido, acredito que ele entrou totalmente relaxado, estaria feliz da vida caso Gabriel viesse a ser o campeão do Pipeline Masters, mas também não estava ali para brincadeiras. O script foi escrito como Deus quis e como Adriano de Souza fez por merecer. Mick Fanning foi um lorde, um cavalheiro duelando com lealdade e todas as suas capacidades até onde conseguiu.

JULGAMENTO

A bateria entre Mick Fanning e Gabriel Medina foi um divisor de águas no campeonato. Valia muito. Estava em jogo o título da Tríplice Coroa (US$ 50.000); abria as portas para Mineiro passar Mick (caso vencesse Mason Ho); a reputação dos juízes estava em jogo. No dia anterior em um mar maior e recheado de tubos, haviam tirado Filipe Toledo da briga em uma bateria polêmica em que precisava 2,27 e recebeu apenas 2,00 em uma onda em que ficou na porta do tubo, mas era de tamanho razoável e ABRIU, o que estava raro naquele momento do mar. Em quarenta minutos, lutando por um título mundial, Filipe achou apenas três ondas. E esta nota 2 nos instantes finais.
Os juízes da WSL tem um critério claro de julgamento e aplicam nas etapas. Em Pipeline, Teahupoo, Fiji você vai tirar notas altas se andar fundo dentro dos tubos. Em lugares como J-Bay, Snapper Rocks e Trestles dificilmente tirará uma nota alta com uma única manobra, por mais estratosférica que seja. Nesses picos as ondas são longas e o repertório no curso da onda dá o peso a nota. Há exceções.
Em Pipeline, no dia decisivo, o tempo foi passando e ficou claro que apesar de haverem tubos eles estavam “espremidos”, muitas vezes os surfistas tinham de forçar a saída em uma onda que se esfacelava, foi assim na onda que Fanning abriu a bateria semifinal conseguindo 7,33. A última onda de Medina, em que ele deu o aéreo, foi a décima primeira tentativa dele em uma bateria de 30 minutos. Mick abriu com a melhor nota da bateria, mas também ficou esperando e pelejando para encontrar outra nota (sua segunda onda somada foi um 3). Acho importante destacar aqui a obstinação de Gabriel em buscar a virada. Ele ficou atrás o tempo todo. Quando ele mandou um de seus aéreos absurdos, nos instantes finais, precisando de 5 e o juízes deram 6 foi (TALVEZ) o momento mais importante do ano.
Pode ter pesado o fato de terem tirado Filipe da briga de uma forma duvidosa? Pode. Pode ter pesado o fato de Medina já estar fora da briga pelo título mundial e aquele momento ser apenas uma “passagem” para a próxima bateria, de Adriano, que definitivamente iria decidir o título? Pode. Em minha opinião o trabalho dos juízes da WSL é espetacular e eles tem conduzido as disputas com um grau de acerto (justiça) extremamente respeitável. Dar o peso devido a uma manobra aérea, em Pipeline, em um dos momentos mais cruciais de toda a temporada, foi corajoso.
A situação, as regras do jogo, as cartas estavam na mesa, para que a peleja acontecesse da forma mais limpa e assim o foi. O mundo do surf se curva a Adriano de Souza e o nome dele está registrado como o primeiro campeão da Era WSL. A Liga Mundial de Surf, aliás, foi muito feliz com sua campanha “YOU CAN’T SCRIPT THIS” que lançou antes do desfecho do Billabong Pipeline Masters. O script foi o melhor possível para nós brasileiros. Imprevisível!? Poderia ter dado tudo errado, até Jadson André, que se classificou, poderia estar fora dos TOP do WCT em 2016. Porém, deu tudo certo para o Brasil. E de certa forma foi até previsível, pois trabalhamos para isso, fizemos o que tinha de ser feito. O script perfeito para nós. Dez atletas na elite em 2016. Temos o talento de Souza, Medina, Toledo e Ítalo Ferreira, entre os TOP 7 surfistas profissionais de 2015.
E mais glória a caminho...

ADRIANO MINEIRINHO, NO OMBRO DE GIGANTES
CARREGADO POR DANILO COUTO E JAMIE O’BRIEN

A vitória de Adriano vir no rastro do título de Gabriel Medina é uma confirmação do momento maior do surf competitivo brasileiro em sua história. E podemos esperar mais para os próximos anos. O Brasil, definitivamente, cravou seu nome como superpotência do surf mundial.
A briga pelo ROOKIE OF THE YEAR ao final de 2016 deverá ser uma das mais empolgantes da história e ganha representatividade, pois fazem muitos anos que não surgem 7 novos nomes na cena da WSL. Dois brasileiros, o campeão Caio Ibelli e Alex Ribeiro, dois americanos e três australianos devem lutar por esta supremacia do ESTREANTE DO ANO, com bem mais disputa do que foi encontrada por Ítalo Ferreira em 2015.

CAIO IBELLI NA INDONÉSIA, ESTA ONDA LHE RENDEU A CAPA DA REVISTA SURFING NO INÍCIO DA DÉCADA, PROMESSA CONCRETIZADA, VAMOS VER ATÉ ONDE CHEGA
 ÍTALO FERREIRA EM TEAHUPOO, PRONTO PARA ENTRAR NA BRIGA
QUARTAS DE FINAL EM FIJI, NO TAHITI E NA FRANÇA, UMA FINAL EM PORTUGAL O CREDECIAM COMO FORTE CANDIDATO A UM FUTURO TÍTULO DA WSL

Não pensem que os próximos anos serão de facilidade para o surf brasileiro. John John Florence ainda não entrou em sintonia de título mundial, mas acredito que seja uma questão de tempo. Jordy Smith é exatamente uma ano mais novo do que Adriano, se não se contundir, vai chegar junto. Julian Wilson e Owen Wright com certeza querem o caneco que Gabriel acaba de passar para as mãos de Adriano. Conner Coffin com certeza vai instigar Kolohe Andino a se tornar o próximo campeão dos USA. E Kelly Slater, o que será que esse “monstro” tem em mente?
Quem se arrisca a escrever um script para a próxima temporada? O ano de 2016 promete. Mas agora vamos virar o ano comemorando.

GABRIEL MEDINA FICOU MUITO FELIZ EM PASSAR A COBIÇADA TAÇA PARA ADRIANO MINEIRINHO EM PLENO PALANQUE DO BILLABONG PIPELINE MASTERS – IN MEMORY OF ANDY IRONS

O projeto para a concretização do livro “A GRANDE HISTÓRIA DO SURF BRASILEIRO”, continua firme e forte para 2016. Informo que o que seria um “livrão” de 420 páginas, já foi alterado para uma Enciclopédia de 5 VOLUMES, de 132 páginas, totalizando 660 páginas de história. São quatro anos de trabalho e os desdobramentos podem ser acompanhados neste blog desde 2012.


ESBOÇO DA CAPA E AMOSTRA DO PROJETO GRÁFICO
AUTORIA DE FERNANDO MESQUITA
VINHETAS DO ARTISTA TOM VEIGA


NO INÍCIO DO PRÓXIMO ANO TRAREI DETALHES SOBRE AS NOVIDADES
NAVEGUEM PELO SITE DO LIVRO:

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