quarta-feira, 10 de junho de 2015

FEDOCA

O primeiro fotógrafo surfista

Os fotógrafos de surf são pilares fundamentais do esporte.

O crescimento do esporte foi respaldado pelas revistas de surf e estas sempre trouxeram como maior atrativo as imagens de ação. No Brasil temos grandes profissionais que se dedicaram ao segmento, diversos estarão neste blog e presentes no livro, mas se tratando de pioneirismo o carioca Fernando Mendonça Lima pode ser considerado a pedra fundamental.



FOTÓGRAFO SURFISTA ou SURFISTA FOTÓGRAFO?
ANTES DE PROFISSIONAL DAS FOTOS FEDOCA FOI SURFISTA
MONTAGEM FEITA POR FRED D'OREY PARA OS ÁLBUNS DO FACEBOOK DA TOTEM
 CAPA DA BRASIL SURF NÚMERO 3
ARPOADOR, 1975. FOTO: ROGÉRIO EHRLICH

 FEDOCA SURFANDO NO PERU EM 2012
VOLTANDO ÀS SUAS ORÍGENS NO LONGBOARD
VENCEU O EVENTO BLACK BELTS
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
REPRODUÇÃO DO SITE WAVES

Abaixo alguns trechos da entrevista que fiz com Fedoca em maio de 2013, conheça um pouco de sua história, contada por ele mesmo. Com a palavra Fernando Mendonça Lima.

FEDOCA : “Nasci em 15 de fevereiro de 1954. Desde pequeno sempre tive contato com o mar. Eu morava em Copacabana a um quarteirão da praia, no Posto 5, onde quebravam as melhores ondas de Copacabana. Sendo que na época, em Copacabana, antes do aterro até 1969 \ 70, dava ondas em tudo quanto era lugar. Na praia inteira, tipo o Meio da Barra, tinha valas aqui e ali. Mas o Posto 5 sempre foi o melhor porque era em frente ao Baixio, a ondulação sempre quebrava melhor ali, tinha mais tendência a ter uma vala boa.
Em 1965 comecei a pegar ondas de planonda, tinha uma galera que pegava onda junto. Em 1964 e 65 eu nem sabia o que era surf. Eu pegava ondas todos os dias de isopor, de jacaré, mas não tinha visto ninguém surfando de pé. Encapávamos as planondas com panos para não assar a barriga. Até que chegou uma hora que a gente ficava em pé nas planondas. Tinha uns caras que já seguiam a onda no corte, de pé. Mas até aí eu não sabia o que era surf. Alguém falou para a gente que tinha esse negócio de surf. Eu sabia que tinha um primo meu que pegava ondas no Arpoador, ele me falava do Bruno Hermany...
Em 65 eu fui até o Arpoador e vi alguns caras pegando onda. Nas férias de julho de 1965 mandei fazer uma madeirite na Serraria Arpoador, na Rua Francisco Otaviano, ao lado da Galeria River, hoje é um prédio grande ali. Fui junto como Bento Berenguer, irmão do Marquinhos Berenguer – dois anos mais velho que o Marcos. A minha prancha fiz apenas com aquela verniz náutica, a do Bento saiu pintada de amarelo em baixo, ficou muito bonita. As pranchas já tinham o bico envergado e minha quilha era um pouco diferente, segundo eles... uma quilha de velocidade.
Eu não usava pé de pato. Com 11 anos eu ficava de pé no banco de areia, ali no Posto 5 e quando vinha a onda eu pulava na prancha, dava um impulso e ia embora... Fazia aquele ‘surfezinho’ na beira. No Arpoador já tinha as pessoas que pegavam as ondas maiores. O Arpoador para madeirite é perfeito, porque tem aquela laje do jacaré ali no pontão, ela formava meio que uma catapulta que empurrava e para os caras que ficavam ali boiando, com pé de pato, ou sem pé de pato, isso ajudava. As pranchas só boiavam com velocidade, paradas com o teu peso afundavam. Alguns caras usavam o pé de pato, eles cortavam aqueles pés de pato de mergulho, que eram muito grandes. Não usávamos as mãos para entrar nas ondas, segurávamos a prancha e batíamos os pés com força para dar impulso. Não sabíamos o que era parafina, pingávamos vela na prancha. Alguns usavam uma cordinha de nylon, amarrada no pé de pato (para não perder o pé de pato), mas subiam na prancha com os pés de pato. Eu nunca usei pé de pato. O pessoal de Copacabana não usava pé de pato. A turma do Arpoador usava. 
Em dezembro de 1965 peguei algum dinheiro que economizei e fui junto com meu pai até o Coronel Parreiras e mandei fazer uma prancha. Foi um pranchão de 2,80 metros (seria uma 9’4”), estilo Hobie. O número dela era 10 51. Não tinha nenhum desenho, era uma prancha caretinha, de poliuretano e fibra de vidro. Não era a 1.051, talvez foi a prancha 51 de uma determinada linha de produção dele. Tinha aquele símbolo retangular da São Conrado e na longarina vinha escrito o 10 51. Eu lembro que ele falava: dez – cinquenta e um. O 51 que era para valer mesmo. A prancha ficou pronta na última semana das férias, de fevereiro para março de 1966. Fiquei até março esperando.
Nesse meio tempo é que eu comecei a frequentar mais o Arpoador, via os caras pegando ondas já com pranchas de fibra. Cheguei a ser preso, um dia os caras pegaram a minha prancha. Teve um campeonato em fevereiro e não podia entrar na área de competição, mas a gente ia. Prenderam as nossas pranchas, tive que ir com meu pai lá no batalhão da PM para liberar. Isso lá em Botafogo. Não fui só eu, tinha vários outros amigos com pranchas apreendidas. Tinha uma meia dúzia do nosso grupo, todos haviam invadido a área de competição. Haviam delimitado uns 200 metros desde o pontão e achamos que no finalzinho da área podia. Era a ditadura militar, ainda branda, mas já tinha aquele negócio de um pulso mais forte. Isso aconteceu ainda com a madeirite.
Fiquei uns três anos com essa São Conrado. Lá por 69 vendi para o vizinho do meu prédio, depois ele descascou ela e recortou para fazer uma menor. Minha terceira prancha já foi uma pranchinha.”

FOTOGRAFIA
“Em 1966 fui para Ouro Preto com meu pai. Eu já tirava foto com aquelas maquininhas, Kodak RIO 400, antes eu tive uma Flicka também. Meu pai tinha morado durante os quatro anos da guerra em Nova Iorque e tinha aquele programa, ‘A Voz da América’ em que eles mandavam as notícias para o Brasil, mas o programa era gravado lá. No programa era ele, o jornalista Rogério Marinho e um locutor famoso da época, Luís Jatobá. Quando ele morava lá começou a tirar fotografias em Nova Iorque e ele trouxe um laboratório. Depois que meu pai separou de minha mãe e já havia mudado de casa, lá para 68, achei uma máquina. Ela era cheia daqueles números. Ele começou a me explicar, isso aqui é velocidade, esse é o diafragma... Me explicou o basicão, mas nessa época o meu pai começou a fazer fotografias de novo. Ele foi fazer um curso e depois das aulas ele me ensinava os truques. Nisso ele já comprou um fotômetro. Eu decidi pegar essa máquina e ir fotografar.
Logo no começo, uma das primeiras fotos que eu tirei, tem a Rainha Elizabeth, ela em frente à casa do Assis Chateaubriand, em um Rolls Royce aberto. Essa foto eu tenho guardada, acho até que tenho o negativo. Tirei também uma foto do Mick Jagger mandando tomar no cú e tirei uma foto do Rico. Cheguei no Arpoador, perto do Postinho tinha um banquinho, parei ali, aí veio um cara de hang-five, foi a primeira foto que tirei de surf. Ele era o Dentinho do Leblon.  Essa foto eu ampliei, tirei com uma máquina normal, mas fiz o corte e uma ampliação.
Depois disso o Dentinho virou Rico, eu virei o Fedoca. As barcas foram passando.
Isso foi em 1968.
A partir de 1969 é que tive esta máquina Miranda. Tenho fotos de mulheres de bikini na praia de Ipanema, que já saíram em diversos lugares. Um dia eu estava no Arpoador com meu pai. Ele com uma máquina 6X6 e eu com uma tele 300mm. Nesse dia ele foi junto. Eu tinha 14 para 15 anos. Também tirei algumas fotos com a 6X6, inclusive uma que já saiu em diversos lugares.
Pode parecer que eu sou um cara meio doidão, desorganizado... Mas dentro da minha desorganização, não tem nenhum fotógrafo que tem as fotos dos anos 70 organizadas que nem eu. Sempre me preocupei com esse negócio de data com as fotos em preto e branco. Eu guardava em envelopes e colocava a data, dia 10 de fevereiro de 1969, Arpoador, máquina Miranda. Tudo anotado nos envelopes”.

Recentemente Fedoca fez uma matéria de oito páginas (texto e fotos dele) sobre o Píer de Ipanema para a Fluir.

REPRODUÇÃO PARCIAL DA ABERTURA
YSO AMSLER DROPANDO
(ESTA FOTO DA ABERTURA É DE GUSTAVO CARREIRA)
FLUIR #326 – DEZEMBRO 2012


FEDOCA, O ÚLTIMO À DIREITA E A TURMA DA BRASIL SURF
ZÉ BELLO, MUDINHO, FLAVIO DIAS, HELMINHO, DANIEL FRIEDMANN E MARACA. RICO AGACHADO NO CENTRO, ANOS 90 EM MARESIAS
DURANTE EVENTO SURF & BEACH LEGENDS
FOTO CAPTURADA DA WEB – AUTOR DESCONHECIDO

Muitas das fotos históricas de Fedoca foram compiladas e podem ser encontradas no Blog do fotógrafo Bruno Alves. Veja algumas amostras aqui abaixo, com suas respectivas legendas organizadas pela Totem, de Fred d’Orey.



CLIC no link abaixo para ver mais imagens:


DIA GRANDE NO ARPOADOR ANOS 2000
FOTO FEDOCA – RETIRADA DO RICOSURF.COM

Fedoca foi também o primeiro fotógrafo a viajar para o Peru, ele conta como foi essa jornada:
FEDOCA : “Em 1972 fomos para o Peru juntos: eu, Bocão, Betão, Rato e Careca. O Rico chegou lá depois e o Marquinhos Berenguer. Historicamente o Irencyr Beltrão, o Barriga, foi em 1965 com um amigo, o Linguiça. Depois foi o Penho, em 1967. Maraca 1968. O Rico fala que foi em 69, mas acho que foi de 70 para 71 (talvez 69 \ 70). Mas a primeira vez que foi uma galera maior foi neste verão de 71 para 72. O pessoal de São Paulo veio depois. Eu sou o primeiro fotógrafo brasileiro a viajar (o cara que viajou com o Irencyr era fotógrafo – mas não era fotógrafo de surf).
Em 72 nós fomos para o campeonato mundial. Eu fotografei o campeonato peruano, mas quando estávamos indo para o mundial, roubaram minha máquina. Aliás, roubaram a malinha com a lente e alguns filmes que eu já havia tirado. Fiquei só com a máquina e a lente cinquentinha. Eu fique desanimadão, saí da polícia, fui para o campeonato. Jan\Fev 1972.

Participei como atleta também, competidor, não existia cordinha ainda. Punta Rocas, cheguei lá fora perdi a prancha, voltei nadando. Rico ficou em quinto, Bocão em sexto. Eu e Betão fomos eliminados na primeira fase e o Ratão na segunda. O peruano Chino Malpartida venceu, os quatro primeiros eram gringos, acho que o havaiano Glen Kalaikukui ficou em terceiro, ou outros finalistas eram do Peru.”


FEDOCA SURFANDO EM PUNTA ROCAS, PERU – 2012
REPRODUÇÃO WAVES.COM - FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Neste blog estarei trazendo outras entrevistas com importantes fotógrafos da história do surf brasileiro e suas aventuras registrando o surf e o seu lifestyle.


FEDOCA E DRAGÃO DURANTE O BILLABONG RIO PRO 2013
FOTO: PRISCILA BOABEYD



FEDOCA "CHARGING" NO ARPOADOR EM 2013
A BEIRA DE COMPLETAR 60 ANOS 
HOJE ELE JÁ PASSOU, CONTINUA SURFANDO E FOTOGRAFANDO COM PAIXÃO
FOTO: HELMO CARVALHO


Partindo de Fedoca, passando por Klaus Mitteldorf (que surfava de kneeboard), Bruno Alves, Alberto Sodré, Sebastian Rojas (que se mantém firme na ativa fotografando surf até hoje), todos bons surfistas e artistas das lentes. Muitos talentos se dedicaram à fotografia do surf até as linhagens mais atuais com corajosos, exímios, criativos e dedicados fotógrafos como Pedro Tojal, Rafaski, Smorigo, Bruno Lemos, uma grande lista...
Com muitos eu tive o prazer de viajar e fazer matérias, ou reportagens.
Considero os fotógrafos de surf como os maiores responsáveis pelos importantes registros desta bela história do surf.

O livro A GRANDE HISTÓRIA DO SURF BRASILEIRO, tem previsão de lançamento para breve e trará o registro dos mais importantes fotógrafos do meio do surf, inclusive alguns internacionais, como John Callahan, Sarge, Joli, Brian Bielmann, que também focalizaram suas lentes nos surfistas brasileiros.


Conheça detalhes do projeto clicando no link: www.hsurfbr.com.br

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