Instituições do Surf Brasileiro
Um dos
principais capítulos no primeiro de 5 volumes do livro “A Grande História do Surf Brasileiro” é sobre Saquarema e região.
O (antigo) vilarejo da Região dos Lagos, no Estado do Rio de Janeiro, é lendário e
instrumental com praias, campeonatos e surfistas residentes marcantes.
FOLHETO PUBLICADO
PELA VISUAL ESPORTIVO DO VI (SEXTO) FESTIVAL DE SAQUAREMA REALIZADO EM 1981
IMAGEM DO ACERVO DO
SURFISTA BAIANO GUIGA MATOS
ABERTURA DA MATÉRIA
PUBLICADA NA FLUIR # 360 EM 2015
Nesta
postagem estarei reproduzindo uma prévia do texto original de uma matéria que
preparei para o Editor Chefe da revista Fluir em 2015, Adrian Kojin. A matéria
acabou saindo com enfoque diferenciado, destacando a história de Penho e a
introdução das pranchas MINI MODELS na América do Sul.
Logo abaixo
segue o texto (como concebi originalmente) enviado para a FLUIR em setembro de
2015. Estou ilustrando com outras fotos que fui garimpando na web e que tirei
com meu celular.
No final
reproduzo as 14 páginas que saíram publicadas na revista com a bela edição de
meu amigo Adrian Kojin.
CAPA DA EDIÇÃO DA
FLUIR EM QUE SAIU A MATÉRIA
EDIÇÃO DE 32 ANOS –
OUTUBRO 2015 – ÚLTIMO ANIVERSÁRIO DA FLUIR
JOHN JOHN FLORENCE – TEAHUPOO – FOTO: DOMENIC
MOSQUEIRA
ENJOY THE READING…
MUITAS INFORMAÇÕES PARA QUEM CURTE UMA BOA LEITURA
SAQUAREMA
Surf Trip de
Pesquisa
Por Reinaldo “Dragão”
Andraus
No final de julho e início de agosto
de 2015 estive em Saquarema para entrevistar alguns importantes surfistas para
o projeto do livro “A GRANDE HISTÓRIA DO SURF BRASILEIRO”, que deve ser lançado
em breve.
Este livro será uma espécie de
atualização, com uma roupagem totalmente diferente, da revista - edição
especial da Fluir, lançada em 1989: “A HISTÓRIA DO SURF NO BRASIL – 50 ANOS DE
AVENTURA” escrita por Alex Gutenberg.
Acompanhando o meu trabalho de
pesquisa, divulgado no BLOG – Histórias do Surf, o diretor de redação da Fluir,
Adrian Kojin, achou interessante face ao remodelado projeto editorial da
revista, desenvolver um texto que trouxesse um relato dessa viagem, rápida, com
praticamente “zero” ondas, mas com muitas histórias vibrantes.
Três importantes e experientes
surfistas brasileiros hoje residem em Saquarema: Penho, Maraca e Russell
Coffin, com a retaguarda dos moradores da cidade do Rio de Janeiro, Otávio
Pacheco e Jacques Nery, frequentadores de Saquarema de longa data, importantes
informações históricas foram coletadas. Estes surfistas ajudaram a construir os
alicerces para as gerações atuais. Em especial Carlos Eduardo Siqueira Soares
por seu pioneirismo.
Penho fazia as coisas e os outros iam
atrás. Há mais de quarenta anos ele se mudou definitivamente para Saquarema.
CLÁSSICA FOTO DE PENHO IMITANDO UM HANG TEN EM
UMA VEMAGUETE
FOTO: TITO ROSEMBERG – ANOS 60
PENHO E TITO NO SAARA EM 1972, EM BUSCA DE
ONDAS NUNCA SURFADAS
ARQUIVO PESSOAL TITO
A MAGIA DE SAQUAREMA RETRATADA EM QUADRO DO
ARTISTA LEANDRO SILVA, QUE VAI PREPARAR UM MAPA ESPECIAL DA REGIÃO PARA O LIVRO
A GRANDE HISTÓRIA DO SURF BRASILEIRO
VOLTEMOS AO
TEXTO QUE PREPAREI PARA A FLUIR EM 2015
Se
perguntarmos em uma enquete abrangente acredito que cinco de cada dez surfistas
brasileiros, que já surfaram nosso litoral de norte a sul, apontariam as ondas
de Saquarema, no Rio de Janeiro, como as melhores do Brasil. Eu sou um destes. Está
aí uma coisa interessante para buscarmos uma amostragem significativa e
realizar.
Independente
disso, a importância de Saquarema no cenário do surf brasileiro é inegável e
notável.
Eu comecei a surfar no Guarujá, em São Paulo, ainda na era dos longboards, em 1969, com um pranchão Glaspac MK3. Quando ganhei minha primeira prancha, pesada e com quase 3 metros, que eu (um garoto franzino de 12 anos) mal conseguia carregar, nem tinha ideia da existência das mini models. Estreei meu pranchão na Páscoa de 1969 e fiquei louco da vida em julho daquele ano, quando voltei para a loja da Glaspac (Surfboards) na Av. Santo Amaro, para buscar exemplares da revista SURFER que vendiam lá, e vi uma prancha com bico pontudo, bem menor que a minha. Uma prancha parecida com a que Penho está segurando na foto acima e que (mais tarde) ele me disse que ajudou o pessoal da Glaspac a desenvolver o design.
Eu comecei a surfar no Guarujá, em São Paulo, ainda na era dos longboards, em 1969, com um pranchão Glaspac MK3. Quando ganhei minha primeira prancha, pesada e com quase 3 metros, que eu (um garoto franzino de 12 anos) mal conseguia carregar, nem tinha ideia da existência das mini models. Estreei meu pranchão na Páscoa de 1969 e fiquei louco da vida em julho daquele ano, quando voltei para a loja da Glaspac (Surfboards) na Av. Santo Amaro, para buscar exemplares da revista SURFER que vendiam lá, e vi uma prancha com bico pontudo, bem menor que a minha. Uma prancha parecida com a que Penho está segurando na foto acima e que (mais tarde) ele me disse que ajudou o pessoal da Glaspac a desenvolver o design.
Na verdade,
a “Shortboard Revolution”, a revolução que transformou os pranchões em
pranchinhas, já estava em curso na América do Norte, no Hawaii e principalmente
na Austrália. Um pequeno grupo de shapers revolucionários estava desenvolvendo
estas pranchas em um processo de pura alquimia – tentativa e erro. Penho teve
um papel instrumental neste processo e em como estas “novas” pranchas chegaram
ao Brasil.
Para nós de
São Paulo, que tínhamos o Rio de Janeiro como o grande parâmetro de evolução e
performance naqueles embrionários anos do surf, tudo chegava com um pouco de
atraso. Desde meados de 1968 aquelas pranchas mini models, começaram a ser
desenvolvidas no Brasil. A Glaspac, que também fazia aqueles buggys de fibra de
vidro, era a principal fábrica de pranchas do estado de São Paulo. No começo de
1969 eles ainda não produziam pranchas mini. A vanguarda do surf no Brasil
estava no Rio de Janeiro, o epicentro era o Arpoador e o “objeto de desejo” uma
região, 100 quilômetros ao norte, que tinha ondas fantásticas – Saquarema.
No final dos
Anos 60 o Píer de Ipanema ainda nem existia, Copacabana ainda não havia sido
aterrada e a praia tinha diversas valas. A maioria dos surfistas ainda usava
pranchões de quase três metros. O filme Endless Summer era a nossa maior
referência, desde 1967. O espírito de sair viajando em busca de ondas
perfeitas, atrás de novos horizontes, já havia sido absorvido pelos surfistas
brasileiros. Saquarema foi o primeiro sonho de surf trip alimentado por aqui, a
nossa primeira meca particular, brasileira. A cidade tem uma relação especial
com o surf. Haverá um capítulo específico sobre a região em meu livro. Por isso
fui até Saquarema buscar informações e conversar com quem abriu o caminho.
A DESCOBERTA
DE SAQUAREMA PARA O SURF
Pelo que
pesquisei até o momento, quem percebeu que as ondas eram especiais para o surf
em Saquarema foi um dos pioneiros surfistas, da turma da pesca submarina, Armando
Serra (ele tem a mesma idade que o Penho), que foi até lá para fazer uma
pescaria com o amigo “Tute” - Knute Aune, um dos big riders do início dos anos
60. Eles estavam sem pranchas nessa ocasião. Mas voltaram, ainda em 1964, época
em que as únicas pranchas eram as de madeirite e surfaram ali pela primeira vez.
Em seguida
surgiram as pranchas de fibra e as histórias das ondas daquele vilarejo foram
passando de boca em boca na pequena turma do surf que crescia. Penho, Russell, John
Hansen, Maraca, Tito Rosemberg, Persegue e outros surfistas começaram a
frequentar a região e desbravar além, até Arraial do Cabo, Cabo Frio e Búzios, logo
perceberam o quão especial era Saquarema. Armando Serra chegou a morar lá por
quase um ano entre 1967 e 1968, teve uma confecção de moda feminina em Bacaxá,
produziu alguns calções customizados para o surf, só para ele e os amigos, mas
no final daquela década foi abandonando o surf para se dedicar à pesca
submarina.
FOTO DO ACERVO DE
ARMANDO SERRA, COM RUSSELL COFFIN MEXENDO NA PORTA DO CARRO, ARMANDO SERRA
PARAFINANDO A PRANCHA E MONICA SAMPAIO, GERALDO FONSECA E JORGE “PERSEGUE”
BALLY ATRÁS. REPAREM NO CALÇÃO DE ARMANDO, PARECIDO COM OS QUE MICKEY DORA USAVA EM RIDE THE WILD SURF – MAR RAIVOSO, FOI CONSTRUÍDO NO BRASIL
Já existiam
algumas poucas casas de veraneio por lá, os surfistas mais espertos, todos
jovens, namoravam com as meninas que os pais tinham casas ao redor da igreja.
As jornadas eram pela barca que fazia a travessia da Baía da Guanabara, pois a
Ponte Rio- Niterói só foi inaugurada em 1974. O início dos anos 70 foram
instrumentais na evolução do surf brasileiro. As pranchinhas se estabeleceram
moldando um novo estilo de surfar. As ondas ocas e pesadas do Píer de Ipanema
geraram uma nova safra de surfistas e as ondas de Saquarema eram o campo de
provas definitivo, o North Shore do Rio de Janeiro.
Nesta viagem
que fiz em agosto de 2015 tive a oportunidade de deixar alguns destes pioneiros
contarem as suas histórias. Verdadeiras lições de vida ligadas ao surf. Vamos
começar pelo mais velho da turma.
PENHO –
PIONEIRISMO, ABRINDO A PICADA
Em 1967
Carlos Eduardo Siqueira Soares se jogou pelo mundo em uma viagem de quase um
ano atrás das ondas e voltou para o Brasil com uma prancha revolucionária. No
início dos anos 1970 já foi morar em Saquarema, montando uma fábrica de pranchas
lá. Ele também foi o primeiro a participar de campeonatos de surf
internacionais. Vamos conhecer um pouco de sua história e do seu legado:
(perfil de Penho contado por ele próprio)...
Tudo que
está em negrito ele disse:
PENHO – “Nasci em 17 de março de 1946, na cidade do
Rio de Janeiro. Tenho descendência árabe e também portuguesa, meu pai médico,
tinha uma clínica em Botafogo e minha mãe era professora de educação física.
Ela me colocou para nadar desde muito cedo no Fluminense. Eu ia todos os dias,
desde as 5 horas da manhã até as 7. Dali eu saia para estudar no Colégio
Andrews, que era também na praia do Botafogo. Tinha vezes que a gente matava
aula, pegava a lancha e ia passear pela Baía da Guanabara, na Urca e às vezes
ia até Niterói.
O surf apareceu nesse contexto, não
tinha nada para fazer naquela época, eu praticava natação. Meu pai falou: ‘Se
você vai ficar à toa aí, então vai ser escoteiro’, aí que aprendi os princípios
de ecologia e hiking. Fiquei uns dois a três anos com um grupo de escoteiros lá
em Botafogo, íamos assistir missa, fazer aquelas caminhadas, onde hoje tem
estas favelas, na época era tudo trilha. Subíamos pelo Morro de Santa Marta,
íamos até a Vista Chinesa, depois a Pedra da Gávea (3 dias – dormíamos 2
noites). Em um final de semana fazíamos toda essa caminhada. Isso eu tinha uns
13 anos. O equipamento era todo militar, tinha aquelas lonas. Com isso fui
pegando um bom preparo. Hoje a turma chama de turismo ecológico. Isso nos deu
uma base muito boa para sobreviver no mato, levávamos mantimentos, ferramentas.
Com o escotismo você tem várias especialidades. Você vai ganhando aquelas
estrelinhas. Eu me especializei em natação e enfermagem, que vinha do meu pai.
Eu também gostava de sinalização.
Eu vivia em Copacabana, porque eu
tinha uma prima que morava em um apartamento ali, depois ela virou até tenista,
também era do Fluminense. Comecei a pegar ondas de peito. Depois passei a pegar
ondas com uma prancha que fizemos lá no Espírito Santo, minha mãe tinha uma
casa de veraneio e nós fizemos uma prancha. Eu tenho ela até hoje.
A PRANCHA QUE PENHO
MANTEVE GUARDADA NO ESPÍRITO SANTO
FOTO: WADY MANSUR
PENHO: “Essa prancha eu fiz pela
revista Mecânica Popular. Lá em Guarapari tinha um carpinteiro e eu levei a
revista e ele copiou pela planta. Eu pegava deitado. Passávamos o verão lá.
Ficávamos na praia de Guarapari, a casa era lá. Mergulhávamos para pegar lagostas,
a dois metros de profundidade, tinha muita lagosta. E tinha aqueles recifes de
coral, algumas bancadas. Mais ou menos uns 20 quilômetros antes de Guarapari já
começam a aflorar algumas bancadas mais perto da costa. E tinha umas ondinhas
que quebravam. A gente remava sentado. Naquelas ondinhas em cima daquele coral
eu tentava ficar em pé. Mas a prancha não tinha direção, era sem quilha. Eu
comecei a surfar lá.
PENHO DE PÉ AO CENTRO, GUARAPARI - ES
INVENTIVIDADE
DESDE O INÍCIO
Desde muito
jovem Penho já flertou com a criação de pranchas, suas duas grandes paixões são
as pranchas e os carros adaptados, até hoje ele guarda um antigo buggy em sua
casa de Saquarema e também tem duas verdadeiras relíquias, pranchas fabricadas
ainda nos anos 60. Além da prancha no estilo das de Tom Blake (ocas) ele também
desenhou uma prancha tipo um bodyboard, bem antes de Tom Morey ter inventado os
Morey Boogies, dá para reparar que o outline é muito parecido com as pranchas
atuais de bodyboard, mas ele produziu essa com madeira compensada e adaptou uma
quilha para dar direção. A prancha que ele fez antes foi a maior e sem quilha,
também usava para surfar deitado. Elas ficaram em Guarapari durante muitos anos
e foram trazidas para o Rio recentemente.
JACQUES NERY
REGISTRANDO UMA DAS CRIAÇÕES DE PENHO DOS ANOS 1960
FOTO: DRAGÃO 2015
A maioria do pessoal pegava de
jacaré, naquelas tabuinhas. Eu vi vários skimboards e às vezes a gente
aparafusava uma quilha e virava um morey boogie – igualzinho a um morey boogie
só que era feita de compensado e a gente ia deitado. Tinha aquelas pranchas
menorzinhas (Oceania) que vendia nas lojas, tipo uma mini alaia. Elas eram
boas, mas eram muito estreitas, eu comecei a fazer algumas maiores. Eu mesmo
montei, comprava um compensado no Rio, tinha umas carpintarias ali. Eu comecei
a fazer umas pranchas maiores, mais largas, que a gente usava como skimboard e
a gente aparafusava uma quilha pequeninha (também tenho essa prancha guardada,
ela ficou lá no ES e eu trouxe para cá). Eu molhava elas e colocava no sol para
envergar com uma pedra. Uma leve envergadura no bico. Com essa pequena quilha a
gente conseguia pegar de joelho. Mas surfando mesmo não tinha mais ninguém. De
todo mundo, de toda família, eu era o único maluco.
E eu acabei não trazendo estas
pranchas para o Rio naquela ocasião, porque eles (a turma do surf do Arpoador)
me mostraram um cara que fazia aqui no Rio. Fiz uma ali na Francisco Otaviano,
meu pai me deu o dinheiro, eu mandei fazer, ela era toda de cedro, tinha uns
2,20 metros, era o padrão do Irencyr. Depois que ela ficou pronta comecei a
ficar pegando ondas com o pessoal do Arpoador e me enturmei. Depois o Irencyr
me levou na Ilha do Governador e fiz uma de compensado naval, que era bem
melhor.
AS PRANCHAS DE FIBRA
A partir de 1964 Irencyr, com o irmão
Cyro Beltrão e o Arduíno Colassanti, já estavam fazendo as primeiras pranchas
de fibra. E eu decidi fazer uma também. Eu tinha um tio que tinha uma fábrica
que trabalhava com laminação de fibra de vidro. E fizemos o shape na varanda da
casa daquela minha prima que morava em Copacabana, enchemos a casa toda de
poeira, era de isopor, ainda não tinha poliuretano e depois levamos para este
meu tio, para ele fazer a laminação com pistola. Aí que deu o problema, porque
a resina era de poliéster e ela come o isopor. Ela ficou linda, demos uma resina
‘hot coat’ e tive de cair de lixa forte e depois levamos para pintar na oficina
de um amigo, com tinta automotiva. Ela ficou muito bonita e quando eu cheguei
na praia o Arduíno, todo mundo, ficou impressionado. A prancha ficou um visual,
mas nesse dia fomos surfar no Posto 6, e fomos estrear ela, as ondas estavam
quebrando no Baixio, no Posto 5, muito grande e quando eu saí do mar ela estava
pesando três vezes mais, tinha ficado com umas partes ocas, porque a resina
havia comido o isopor.
Eu pensei, o jeito mesmo é filar as
pranchas dos outros. Aí veio o Russell (Coffin), o Richard e o seu irmão Alemãozinho,
Andreas Klien. Eles tinham as primeiras pranchas importadas. Ficavam uns três
ou quatro para usar a mesma prancha, cada um:
‘É a minha vez!’
‘Agora sou eu’.
O Armando Serra, foi ele que
descobriu que tinha isso aqui (Saquarema), porque eu sempre passava direto para
Guarapari. Eu nunca entrava em Bacaxá. A gente ia para Búzios, ou Cabo Frio e
passava direto pela BR. Ele veio pescar aqui e disse que tinha onda. Eu acabei
vindo um dia para ficar na casa da Patrícia, ou das irmãs Monica e Viviane
Sampaio, junto com o Russell. Era uma turma pequena naquela época no Arpoador.
No final do ano a gente costumava vir para cá na casa do Bento, o Bentinho nem tinha
nascido na época.”
Para aqueles
surfistas pioneiros da turma do Arpoador, no final dos anos 60 Saquarema era a
fuga da cidade grande. Ir até lá e encontrar aquelas ondas perfeitas, a água
azul, o canal para varar e chegar no fundo, era o sonho. Mas Carlos Penho não
se contentou com isso. No Rio ele havia conhecido alguns amigos peruanos, que
nem eram surfistas, mas que conheciam e eram parentes dos grandes surfistas de
Lima. Lá foi ele...
A VIAGEM
Em busca da
emoção de uma surf trip.
PENHO: “Eu fui primeiro para o Peru,
por Santa Cruz de La Sierra, saí do Brasil em Junho de 1967, fui de trem, desci
em Lima e fui procurar um pessoal que já era amigo meu, eles já tinham vindo ao
Brasil. Eles não eram surfistas, mas falavam que os primos deles eram os
campeões. Eram o Sérgio ‘Gordo’ e o Carlos ‘Flaco’ Barreda. Os primos me
levaram lá e os caras me adotaram, eu fiquei morando com eles e pegando ondas.
Aí que eu comecei a consertar pranchas e mexer com resina. Ficávamos ali no
Club Waikiki e dali pegávamos ondas em frente. Hoje em dia tem uma avenida ali,
mas na época não tinha, aquilo era um buraco, um barranco.
LIMA, PERU 1967. FOTO:
ACERVO PENHO
Eu fiquei lá uns oito meses. Aprendi
a consertar pranchas e pegar ondas mesmo, enfrentar o mar. Já entrava em Punta
Rocas grande; grande que eu digo é 10 pés. Eu não tinha prática, os peruanos
eram bons – campeões. Felipe Pomar já era campeão mundial do World Contest de
1965.
Nós fomos de carro para o Norte,
desde Lima, passamos por Chicama. Fomos em quatro carros, eu, Gordo, Flaco. Tinha
um piloto que pegava ondas e ele havia visto Chicama lá de cima. Nós fomos. Foi
a primeira vez que um grupo foi até lá, estava o Hector Velarde, foi ele que
sobrevoou e nós fomos em quatro carros. O Gordo, Flaco, Chino Malpartida, foi a
primeira vez que eles estavam indo para lá e eu fui junto. Depois eles voltaram
para Lima e eu fui com dois americanos até o Equador, atravessamos a fronteira
e depois pegamos uma balsa para cruzar o golfo de Guayaquil.
Fui para o Equador, em setembro de
1967, sabíamos que havia uma menina surfista, a Dorothy e que faziam pranchas na
fazenda dela, em um lugar chamado Las Playas. Ela e a mãe tinham uma
carpintaria na fazenda e os carpinteiros faziam pranchas de madeira balsa. Las
Playas é um point super-lateral, do outro lado do Golfo de Guayaquil. A Dorothy
era a única menina que pegava ondas. Ela era amiga das duas irmãs do Gordo e do
Flaco e a mãe dos Barreda também pegava onda. Eles já tinham toda uma tradição,
o pessoal era bem classe alta, eram descendentes de espanhóis, tinham carros
importados. Eu fui conhecer por causa deste contato que tive aqui no Rio. Eu
tive uma certa guarida boa lá.
DOROTHY JURADO EM
ABERTURA DE MATÉRIA PARA THE SURFER’S JOURNAL
Naquela época eu nem conheci Punta
Montañita, só sobrevoando, porque eles tinham um aviãozinho na fazenda, nós
sobrevoamos o point, mas acho que nem tinha nome ainda. Lá em Las Playas havia
um cassino e tinha essa fazenda da família, como eles fabricavam estas pranchas,
lá eu conheci o Dennis Choate que era um shaper americano.
Teve uma outra vez que fomos dar a
volta no Golfo de Gauyaquil. É como você dar a volta aqui na Baía da Guanabara,
é muito grande. Mas isso foi uma burrice, porque tinha guerrilha lá e quase
fomos assaltados, os americanos estavam juntos, acharam que a gente tinha
dinheiro. Naquela época já era assim. Não se dá a volta no Golfo de Guayaquil,
é melhor atravessar direto de balsa.
No Peru também conheci o Felipe Pomar
e o Ivo Hanza. Eles eram bons, se não fosse por eles eu não teria pego aquelas
ondas grandes no Hawaii, eles eram os melhores pegadores de ondas grandes no
Peru. Quando chegamos no Hawaii ficamos juntos, às vezes eles dormiam no carro
comigo. Pegávamos ondas juntos, chegaram lá com o Hector Grissole ele e Ivo
chegaram juntos. Nó três entramos no campeonato de Makaha. Éramos três sul
americanos.”
RECORTE DE JORNAL DO
HAWAII DE 1967, ACERVO DE PENHO
RUMO AO HAWAII PELA CALIFA
Quando Penho
voltou para Lima já tinha um clima de campeonato, que ia acontecer, mas ele não
chegou a ficar para o evento Internacional de Tablas Havaianas. Em novembro de
1967 ele deu entrada nos EUA.
PENHO: “Aqui no Rio eu também fiz
bons contatos, não só com peruanos, mas também com americanos, do Equador eu
voltei a Lima e depois peguei um avião para Nova Orleans. Eu trabalhei no Peru,
meu pai me ajudou também. Cheguei em Nova Orleans, de lá fui até a Flórida e
visitei alguns surfistas, que eu conhecia do Brasil, porque eles tinham vindo
aqui. Eu tinha um conhecido. Dali eu atravessei até a Califórnia de carona,
levou quase um mês. Fui de carona, perigoso pra caramba – ‘Não faça isso nunca’.
Pelo Sul. Ninguém me avisou que era perigoso, passar por Novo México, Texas...
Os caras dão duras mesmo, tomei altas duras. Fui espancado, mas consegui chegar
na Califórnia.
Fui na casa do Peter Johnson, que era
um molequezinho, que tinha ficado aqui no Brasil, fazendo um Exchange Student
(intercâmbio). E na época ele me falou, ‘Não, você vai lá’, e quando eu cheguei
lá ele não estava. Ele estava fazendo um filme em Waimea, o Ride The Wild Surf
– Mar Raivoso, na época que veio ao Brasil ele tinha 15 anos. E ele estava
fazendo este filme. A mãe dele falou, que ele não estava e me mandou embora. Eu
fui andando, eu pensei: ‘Pô tô fudido, sem dinheiro... Vou ficar na merda’, mas
aí ela me chamou de novo e perguntou: ‘É você aqui nessa foto?’ E tinha eu e
ele, o Peter Johnson, em um calhambeque que eu tinha, um Ford 1934, o carro daquela
foto do Tito que ficou conhecida, com uma galera no carro no Arpoador. O Peter
Johnson não está naquela foto, mas naquela época que ele veio nós fomos até
Cabo Frio uma vez e brincando, ele fez uma foto, na praia e a mãe do Peter estava
com uma foto minha e dele. Aí ela falou: ‘Não, entre aí’... E me deu uma guarida.
‘É você esse aqui? Ele falou muito bem de você’. Porque o Peter ficava com a
gente aqui, andou no meu carro. E eu nunca pensei que ia chegar lá na
Califórnia um dia.
FORD 1934 DO PENHO
FOTOS RETIRADAS DE
SEU FACEBOOK
GALERA DO ARPOADOR NO
FORD V8 DE PENHO
FOTO: TITO ROSEMBERG
Quando eu cheguei na Califórnia eu
liguei para o Russell Coffin, ele estava estudando lá. Eu estava praticamente
morto, estressado da viagem e quando cheguei lá ele e os amigos da faculdade
falaram, ‘Você é louco, nem os americanos fazem isso’, pedem carona por ali,
mas aí eu já tinha feito, dane-se. E nessa estadia com a mãe do Peter Johnson,
ela era a presidente do WindanSea Surf Club, na Califórnia e ela falou, que eu
ia para o Hawaii e conseguiu a passagem para mim. A passagem custou US$ 67.00,
eu tenho esta passagem até hoje. Era um ticket só de ida - stand by - se tiver
vaga você entra no vôo. Ela me inscreveu no Campeonato Mundial de Makaha. Foi
até ridículo, porque eu era um principiante, mas entrei. E foi o maior mar que
havia dado no campeonato de Makaha, foi um horror. Eu cheguei lá quase em cima
do campeonato, ainda tive de fazer uma prancha, eu fiquei no North Shore, em
Sunset, mas não tinha hotel, não tinha nada. E lá tinha a fábrica da Pacific
Surfboards e eu fiquei trabalhando como lixador lá. Eu morava num carro ali no North Shore, em
Sunset mesmo. Eu dormia ali no estacionamento. Depois, no Natal, o Russell veio
me visitar.
RUSSELL COFFIN, O
PERUANO IVO HANZA E PENHO EM SUNSET
FOTO ACERVO DE PENHO
Na Pacific Surfboards trabalhava de
dia como lixador e a noite eu shapeava e fiz uma prancha para mim. Paguei US$
150 e um cara cobriu ela, eu fiz uma baby gun, 9’7”. Que era ótima e eu comecei
a treinar, treinar. Cheguei lá em novembro de 1967 e o campeonato era em dezembro.
Ali eu passei mais um mês e pouco até o início de 1968 e depois voltei,
primeiro para o Peru.
Quando eu estava trabalhando nessa
fábrica da Pacific Surfboards, as pranchas começaram a mudar, chegaram os
australianos e eles usavam pranchas diferentes no campeonato do Duke
Kahanamoku, em Sunset, que foi mais para o final da temporada, mas já em
novembro eles trouxeram umas pranchas menores, tamanho 8’5”. Vieram o Bob
McTavish, o Nat Young e mais uns dois. E eles arrebentaram e os havaianos
ficaram doidos, ficaram malucos – ‘O que é isso?’
E aí a minha prancha quebra, então eu
fui na Pacific, descasquei ela, peguei aquele mesmo bloco e shapeei um 7’2”. O
pessoal riu pra caramba, mas já estava acontecendo este movimento,
principalmente na Austrália. Eu falei, vou fazer uma 7’2” e fiz. Aí eu fui
experimentar ela em Sunset e funcionou. Ela andou, o pessoal ficou meio
assim... Uma semana depois estava todo mundo fazendo pranchas pequenas.
Reduzindo. Não cortando blocos maiores, porque eles tinham o poliuretano à
disposição. Dos australianos eu peguei a ideia, os caras da oficina riram, mas
acabaram fazendo do mesmo jeito. Aí eu trouxe esta prancha para o Brasil.
PENHO NO
EPICENTRO DA REVOLUÇÃO
A chegada de
Penho ao Hawaii coincidiu com uma virada histórica no modo de surfar, um
turning point, a Shortboard Revolution. Foi o momento em que as pranchas
começaram a diminuir de tamanho e o surf mudou de linhas desenhadas e
caminhadas até o bico da prancha, para manobras, cada vez mais acentuadas,
procurando atacar a base e o lip das ondas, permitiam ficar mais fundo nos
tubos. Estas novas pranchas possibilitavam um surf nunca visto. Como em toda a
revolução, alguns foram a favor e outros contra, mas nada consegue parar a
caminhada inexorável do progresso. Penho aderiu. Auxiliado por um shaper que
trabalhava na mesma fábrica que ele, fez a prancha que também mudaria a
história do surf brasileiro.
JOHN MOBLEY, FOTO QUE KOJIN GARIMPOU NA INTERNET E ME MANDOU
PENHO: “Esse shape eu fiz com a ajuda
de um dos shapers da Pacific Surfboards, John Mobley e também de Mike
Turkington, um salva-vidas, que trabalhava lá. Mike era um cara espetacular,
bom surfista. Ele tinha uma Kombi, dava carona para mim. E ele resolveu fazer
uma 5’8”, que ele usava como um morey boogie, com pé de pato. E estas foram as
duas primeiras pranchas menores do North Shore, a minha 7’2” e essa 5’8”. Na
primeira vez caímos juntos. Levei um tempão para chegar lá fora, perdi a
prancha, era tudo sem cordinha na época. Na primeira onda eu desci e caí de
costas. Na próxima eu já pensei, vou virar devagar e nessa segunda onda eu já
estava entubando em Sunset e estava o George Downing e outros coroas lá. Foi
tão impressionante, que todo mundo começou a fazer estas pranchas.
O fato é que essa prancha funcionou –
hoje em dia essa prancha 7’2” é uma gun. Comecei a pegar Pipeline com ela,
quase ninguém surfava em Pipeline em 1968. Logo quem veio fazer pranchas na mesma
fábrica, com o mesmo shaper que me ajudou, o John Mobley, foram o Michael Ho e
Reno Abellira, nós ficávamos os três pegando ondas ali com aquelas pranchas
pequenas. Eles eram dois molequinhos locais que moravam por perto”.
“””BOA FRASE PARA DESTAQUE “””
O mais importante disso
tudo foi - eu, brasileiro, garoto, quase sem experiência nenhuma, ter feito ali
naquele momento uma prancha menor, que apesar da gozação que foi feita na época,
ela funcionou.
“””BOA FRASE PARA DESTAQUE “””
O processo
de concretização da Shorthboard Revolution foi paulatino e distribuído
geograficamente pelo planeta. Ao mesmo tempo em que os australianos chegaram
com ideias novas, na ilha de Maui o shaper Dick Brewer também trabalhava com
suas versões de pranchas de vanguarda. No campeonato mundial de Porto Rico, em
fevereiro de 1968, ocorreu a maior diversidade de pranchas utilizadas pelos
melhores surfistas, em um mesmo evento. O campeonato acabou vencido por Fred
Hemmings, um havaiano que ainda surfava com longboards tradicionais. Os surfistas
que chocaram tudo, foram os australianos Wayne Lynch e Nat Young (favorito),
que era o defensor do título de 1966, pois este evento, o World Contest, era
realizado a cada dois anos naquela época. Reno Abellira apareceu com a prancha
mais radical e menor entre os competidores, uma pin tail muito pequena. Em 1968
não havia nenhum brasileiro lá.
Independente
disso, Penho foi instrumental ao introduzir o surf com as mini models nas águas
da América do Sul.
PENHO: “Fiquei uns seis meses no
Hawaii. Quando acabou o Duke Kahanamoku, que foi o último campeonato, esvaziou
bastante. Eu tinha um amigo em Waikiki e às vezes eu ia para lá e ficava na
casa dele, fiquei pelo South Shore, Ala Moana... Em Waikiki, surfei em todos os
lugares. E aí estava acabando a temporada de ondas. Na verdade, onda sempre tem
lá.
Eu trouxe essa prancha 7’2”, voltei
para o Peru e eu fiz pranchas para o Gordo, para o Flaco, todas menores. Teve
um campeonato lá que eu entrei, fui bem. Eu que introduzi as mini models no
Peru. Eles quiseram que eu fizesse do meu jeito, fiz uma para o Flaco, uma para
o Gordo, outra para o Chino Malpartida, outra para o Ivan Sardá e todo mundo
começou a arrepiar. Aí acabou! O Flaco começou a shapear mini models também. Passei
mais uns dois meses lá e voltei para o Brasil.
Quando eu estava no Peru também fiz
para mim uma prancha baby gun igualzinha à minha 9’7” que havia quebrado no
Hawaii. Aí eu trouxe as duas em um saco para o Brasil. Isso não podia, mas eu
havia trazido um recorte de jornal que dizia: ‘Primeiro brasileiro em um
campeonato de surf’, mostrei na alfândega e deixaram eu passar. Foi a primeira importação
sem documento, nem nada.
Chegou aqui no Brasil, eu arrebentei.”
Por sorte,
nossa (da comunidade do surf brasileiro), Penho guarda uma pasta com muitas
fotos, recortes e lembranças. Ele atribui isso à sua mãe, que também tinha o
vício de guardar relíquias e tudo que o filho mandava das viagens, ela guardou.
Entre estas preciosidades está o primeiro passaporte de Carlos Eduardo Siqueira
Soares. Nele podemos encontrar todas estas datas com os carimbos de entrada e
saída dos países. O dia exato em que Penho voltou ao Brasil, trazendo esta mini
model, foi em abril de 1968.
Realmente
ele deve ter arrebentado, quem já viajou para o Peru e principalmente para o
Hawaii, sabe que o nível de surf após uma viagem destas sobe para a
estratosfera. Penho saiu do Brasil em junho de 1967, voltou em abril de 1968,
surfou com Felipe Pomar, Ivo “Gringo” Hanza, os irmãos Barreda, Reno Abellira,
Michael Ho, Mike Turkington, George Downing, Eddie Aikau... Os amigos do
Arpoador certamente entraram em choque com as coisas que ele devia fazer
naquela prancha.
O grande
amigo de Penho, de longa data e sempre companheiro em Saquarema, Otávio
Pacheco, resumiu bem, em uma única frase, o impacto desta prancha para o surf
brasileiro: “Menos prancha, mais emoção”.
Aos poucos os surfistas brasileiros foram se adaptando a esta nova era do surf.
Este é o
lado bom de uma história de evolução de nosso adorado esporte. O lado negro foi
uma “queima de arquivo” sem precedentes. No Hawaii, como Penho citou acima,
eles tinham fartura de blocos da Clark Foam, aqui no Brasil, em 1968 \ 1969
pobres pranchões, lindíssimas pranchas nacionais e importadas, foram
descascadas e trucidadas para virar pranchinhas, a coqueluche, para quem queria
surfar bem e moderno. Exceto poucas peças particulares e as que estão nos
museus de Santos, Rio de Janeiro e Cabo Frio, são raros os longboards originais
preservados em nosso país.
A HISTÓRIA
CONTINUOU
Quando
chegou de volta ao Brasil Penho decidiu então montar uma fabriqueta (como ele
mesmo fala) de pranchas. Começou no Rio, foi para Guaratiba e depois Saquarema.
Hoje, na casa onde vive em Saquarema, muitas relíquias podem ser encontradas:
PENHO: “Um dia encontrei um boleto da
passagem da Land Rover do Tito Rosemberg de uma viagem que eu fiz com ele para
a África, por Málaga. Tudo marcado, com peso do carro e isso veio parar dentro
de um mapa meu da Europa. O Tito não acreditou quando contei.
Eu guardo as coisas. Mas foi a minha
mãe que guardou tudo isso. O que eu mandava para ela pelo correio. Eu não teria
guardado e ela deu o maior valor. Minha mãe, como professora de educação
física, também gostava de surfistas, meu pai já ‘Hummm...’, não ligava muito.
Minha mãe não dava muita força, mas também não era contra, mas a turma toda, os
parentes, achavam que éramos todos maconheiros, vagabundos. No começo não tinha
nem maconha, nem birita, no máximo eram umas Cuba Libres que a gente tomava nas
festinhas. No Castelinho.
Outro dia achei um papel escrito:
Primeiro Campeonato no Brasil, quem ganhou foi o Alexandre Bastos. Achei um
papel que minha mãe tinha guardado, um recorte de jornal, estava lá. O
campeonato foi no Arpoador e a festa foi no Castelinho. Mandei para o
Alexandre. ‘Pô como que você tem isso?’ Minha mãe guardou. Eu acho que tem até
a data. Marcelo e Antônio Rabello, que eram dois irmãos, Alexandre e a Cristina
Bastos, Eliana, Maria Helena, Fernanda Guerra, Persegue eu... éramos da mesma
idade. Walcir, que faleceu. Se contar bem, tinha uma turma de uns 10 que
pegavam onda sempre. Ganhávamos medalhas. O Geraldo que também faleceu era um
dos surfistas que mais se destacava, o Persegue e o Alexandre Bastos eram os
melhores, em termos de estilo, porque performance na época nem avaliávamos
muito, eram uns 2 a 3 movimentos, só. Dropou, correu para o bico, voltou e
tirou a prancha da onda. Isso contava no estilo e eles dois tinham o estilo
muito bonito.
Em 1972 fomos eu, Mudinho, Rico e
Domenechi, participamos do campeonato de Punta Rocas, Campeonato Mundial de
Tablas Havaianas. Aí todo mundo começou a ir. O pôster eu doei para o Museu de
Cabo Frio.
JULGAMENTO EM
CADEIRÕES. PENHO, O ÚNICO OLHANDO EM DIREÇÃO À CAMERA DE KLAUS MITTELDORF,
LADEADO PELOS IRMÃOS RICARDO E PAULO ISSA. UBATUBA INÍCIO DOS ANOS 1970
O Paulo Issa me chamou para ajudar a
julgar os primeiros campeonatos de Ubatuba. Quando eu fui nem existia a
Rio-Santos, estava em construção e naquela época, 1972, eu estava morando em
Guaratiba e tinha um Buggy. Eu saí do Arpoador e fui morar em Barra de
Guaratiba, em frente ao point. Aí eu fiquei lá um ano e nesse um ano foi todo
mundo, foi o Rico, Maraca, foi todo mundo para lá. Eu fui o primeiro, fiquei
sozinho lá. Pegava minhas ondas. Quem ia muito no início era o Pauleti e o
Ceceu Pimentel. Aí eu comecei a fazer pranchas para o pessoal local, fiz para o
Riba, para o Bira, para o pessoal de Guaratiba, que eram os filhos dos
militares dali. Depois o pessoal do Rio começou a ir morar lá, Maraca, Rico,
foi o Kaneca, um montão de gente. Aí fizeram a pista nova asfaltada e crowdeou.
Tudo isso aí se pode resumir em uma
coisa: Eu estava fugindo do Arpoador, que tinha os militares, porque todas as
pontas são estratégicas, o Exército domina. Dali eu fui para Barra de Guaratiba
e quando fizeram a pista também me prenderam lá, por culpa dos outros que
invadiram. E eu falei, não quero mais morar num lugar destes, eu quero morar em
um lugar que não tenha exército. E eu vim morar aqui em Saquarema, onde só
tinha essa igreja, já em 1971, ou até 1970. Foi para fugir disso. Aí eu vim
para cá porque já tinha esta aptidão de escoteiro e eu podia ficar em qualquer
lugar, acampar, o que fosse, eu morava sem luz, fazia fogueira. Eu fiquei
morando aqui muitos anos, depois veio o Maraca, veio o Otávio.
O Maraca sabe esta história toda...
de lá para cá”.
BOX MARACA –
o segundo a ir ao HAWAII
Rossini
Maranhão Filho, o Maraca, também merece uma matéria especial com as suas
façanhas e seu jeito colorido de contar as histórias em que se envolveu.
Nascido em Belém do Pará, em 3 de março de 1950, ele é quatro anos mais novo do
que Penho. Mas Maraca foi o segundo brasileiro a se atirar em direção ao
Hawaii, isso na temporada 1969\1970, ele era o único brasileiro no North Shore,
naquele ano.
MARACA, 2015, COM
PENHO E OTÁVIO, NA CASA DE JACQUES NERY EM SAQUAREMA
FOTO: DRAGÃO
VIVO E CHEIO DE IDEIAS E HISTÓRIAS (quando
escrevi isso)
Maraca se
mudou para o Rio de Janeiro em 1956 e começou a frequentar Copacabana aos 6
anos de idade. Hoje trabalha em uma rádio de Bacaxá, mora perto da lagoa de
Saquarema, é um especialista em jingles, esteve envolvido na realização da
maioria dos campeonatos que rolaram em Itaúna, também, ao lado de Otávio
Pacheco, foi o responsável pelos eventos de longboard da Red Bull em Maresias e
na praia do Pepê, além do Red Bull Tube & Air, em Fernando de Noronha. Sua
vida daria um livro, com certeza vai dar, mas aqui, em um pequeno box para esta
matéria, fica o relato de sua aventura em Sunset Beach, fechando o canal, ao
lado de Eddie Aikau, dias antes do maior swell da história bater no North Shore
de Oahu no final de 1969 e transformar Greg Noll no primeiro mito do surf. Com
a palavra Rossini Maranhão Filho.
MARACA: “Eu cheguei lá em setembro e
saí de lá já era quase março, no final de fevereiro. Nos
primeiros dias, até outubro, eu estava ainda meio cru naquelas mórras. Muita
ondulação de norte, swells meio traiçoeiros. Você tá lá dentro e vem uma onda
lá na casa da cacilda. Aí fui acostumando, pegando ondas de 12 pés, 15 pés, aí
teve um dia de 18 pés e eu acabei caindo em Waimea, peguei duas a três ondas.
Lembro que um dia encontrei com o
Eddie Aikau e ele falou: ‘Brazila (ele me chamava assim),...
ISSO SAIU NA FLUIR – EDITADO POR
ADRIAN KOJIN – FOI A DUPLA FINAL
FAZENDO O
DOWNLOAD E AMPLIANDO É POSSÍVEL LER EM SEU DESKTOP
Nesta viagem
de quatro dias em 2015 também estive com outros importantes surfistas.
RUSSELL, OTÁVIO E
JACQUES, NA CASA DA FAMÍLIA COFFIN EM SAQUAREMA
FOTO: DRAGÃO
RUSSELL
COFFIN
Morador atual
do pico, primeiro a trazer uma prancha de fibra de vidro para o Brasil, que foi
a protagonista da demonstração emblemática \ transformadora de Peter Troy no
Rio e companheiro de Armando Serra nas primeiras expedições a Saquarema.
RUSSELL SURFANDO UM MARAVILHOSO DIA
DE ONDAS CONVIDATIVAS EM ITAÚNA
FOTO ARQUIVO PESSOAL
VEJAM ALGUMAS
HISTÓRIAS DE RUSSELL AQUI: http://surfdragonblog.blogspot.com.br/2017/01/entrevistas-selecionadas.html
OTÁVIO
PACHECO
Anotações da
História de Saquarema, os shapers, a fábrica de parafinas... A descoberta e a
primeira sessão de surf no Jaconé.
OTÁVIO TEM DUAS POSTAGENS ESPECIAIS
NESTE BLOG
A HISTÓRIA DE JACONÉ ESTÁ NO SEGUNDO
POST SOBRE MARACA
JACQUES NERY
Da casa
alugada com Pepê e Cauli em Itaúna nos anos 70, à fundação da VISUAL ESPORTIVO
na virada de 1979 para 1980. Tenho 3 horas de entrevista gravada com Jacques.
Aguardem futuramente neste blog e também enriquecendo o conteúdo do livro. Suas
histórias não saíram em lugar nenhum, como muitas outras que tenho em arquivo.
JACQUES – ITAÚNA,
1979. FOTO: NILTON BARBOSA
JACQUES NERY &
OTÁVIO PACHECO
POINT DE ITAÚNA 2015
FOTO: DRAGÃO
AINDA falta(va)
FECHO para a
matéria como eu havia concebido para a FLUIR
HOJE E
SEMPRE SAQUAREMA
PENHO ANOS
2000...
(uma visão
geral da importância de SAQUÁ, um pouco de minha visão pessoal, trazendo para a
atualidade e os grandes expoentes de hoje em dia: Raoni Monteiro, Leo Neves e
Marcos Monteiro... + Chumbinhos \ Yan Guimarães \ Mica \ Alessandra Vieira,
Taís Almeida... Isso ficará para o capítulo de meu livro)
AINDA DEI
ESTA OPÇÃO PARA KOJIN
Se desejarem
colocar uma foto minha de ação (EM SAQUÁ) tem esta do Levy Paiva, de 1997,
durante as sessões de free surf do REEF CLASSIC WQS realizado em Itaúna e as
finais transferidas para o meio da Vila, quem venceu o campeonato foi Victor
Ribas, em final contra o potiguar Danilo Costa.
Sempre
gostei de testar a arena dos campeonatos que fazia cobertura para a Fluir e
nesta época (1997) para a Hardcore. Nos primeiros dias quebraram esquerdas
perfeitas no Point de Itaúna. As finais foram em marolas em um banco de areia distante
mais de 1 Km da Igreja rumo ao sul, no meio da praia da Vila.
NOTA: ADRIAN
foi com esta prancha que peguei uma das melhores ondas de minha vida, no SPEED
BOWL de G-LAND, você foi um dos poucos que viu, lá da torre dos juízes. Também
em 1997 no dia seguinte ao encerramento do Quiksilver Pro Java.
NOTA 2:
Interessante como os brasileiros, mesmo novatos no cenário, participaram de
2 “FIRST TIME” DESCOBERTAS
ANTOLÓGICAS DO SURF:
Penho em Chicama
João Príncipe em G-Land.
FOTOS BôNUS – SAQUAREMA STARs
RAONI MONTEIRO NA
BARRINHA
IMAGEM CONGELADA DO
SITE DA REVISTA HARDCORE
LÉO NEVES
RECORTE DO SITE DA
REVISTA SURFAR
MARCOS MONTEIRO, JACONÉ. LAJE DE MANITIBA
FOTO: BETO PAES LEME PUBLICADA NA ALMA SURF
YAN GUIMARÃES NA PRAIA DA VILA
FRAME GRAB DO SITE
BANANA WAX
MICA (JEREMIAS DA
SILVA), BARRINHA - CANTO DIREITO DE ITAÚNA
FOTO: LUCIANO SANTOS
PAULA
FOTO: LUCIANO SANTOS
PAULA
FOTO: LUCIANO SANTOS
PAULA
FOTO: PEDRO RODRIGUES
FOTO: GUITO MORETO
RAONI MONTEIRO E A
PROMESSA DANIEL TEMPLAR
O FUTURO...
IMAGEM RECORTADA DO
SITE SURF GURU
Meu livro,
já está com seu lançamento adiado para 2018, face aos aportes de ICMS do
Projeto Cultural terem sido congelados para este ano e serão abertos apenas a
partir de março de 2018.
Continuarei
batalhando pela captação dos recursos e tenho certeza que o lançamento deste
livro (5 VOLUMES) será meu maior e melhor trabalho em uma carreira que passa
dos 30 anos de dedicação à imprensa brasileira de surf.
DETALHES: WWW.HSURFBR.COM.BR
Olá Dragão, parabéns pelo blog, que acompanho para ler a(s) história(s) do surf e tb ficar sabendo quando seu livro for lançado. Sou morador e surfista da Praia do Cassino, sul do RS, e estou buscando informações sobre uma minimodel, creio que do início dos anos 70, o logo são dois golfinhos entrelaçados e abaixo "Carreira Saquarema". Posso enviar fotos dela, é só me informar para qual endereço. Agradeço qualquer informação. Abraço.
ResponderExcluirCícero, acredito que seja um shape de GUSTAVO CARREIRA grande surfista dos anos 1970. Ele é mencionado (por Otávio Pacheco) nesta postagem de meu blog: http://surfdragonblog.blogspot.com.br/2017/07/maraca-parte-2.html
Excluirmuito bom todo este conteúdo do deu blog, parabéns pelo seu trabalho, pesquisei alguns blogs da cidade de saquarema e acebei encontrando o seu, bom você deveria tentar fazer parceria com outros blogs para ficar mais fácil encontrar o seu, parabéns! o seu tem mais conteúdo que este...https://www.saquaremadadepressao.com.br/2018/09/telefones-uteis-de-bacaxa-e-saquarema-rj.html
ResponderExcluirgostaria de fazer uma parceria ?
ResponderExcluir