Uma amostra
da produção brasileira
Nesta
postagem estarei reproduzindo uma curadoria que fiz durante três anos para o
FESTIVALMA. São réplicas de pranchas, muitas delas famosas, que fazem parte da
história do surf brasileiro.
IMAGEM OBTIDA NO FESTIVALMA DE 2010
PARTE DO ACERVO DE 50 PRANCHAS, DISPOSTAS
EM ORDEM CRONOLÓGICA
FOTO: DRAGÃO (COM CELULAR)
A seguir
estou reproduzindo um texto de curadoria e também uma matéria escrita para a
revista Alma Surf em 2014, quando a coleção foi reapresentada no Ibirapuera
(SP). Minha ideia era chegar a um acervo total de 75 pranchas, 75 shapers –
ainda pode ser... Tenho uma lista de importantes shapers brasileiros ainda não “homenageados”.
No final desta
postagem do blog reproduzi os 50 CARTÕES explicativos que acompanhavam estas
pranchas. Ainda vou conseguir mais algumas ilustrações interessantes, vou scanear algumas destas pranchas em ação na minha coleção de revistas, para
enriquecer esta importante postagem.
Vamos partir
do início.
AS PRIMEIRAS 4 PRANCHAS DO ACERVO,
ENTRE IMAGENS DE OSMAR GONÇALVES (1938) E CHICO PAIOLI (1967), QUE COMPUNHAM
UMA OUTRA CURODORIA, DESTACANDO A EVOLUÇÃO DA SURFWEAR, FESTIVALMA 2009
FOTO: DRAGÃO
TEXTO DE CURADORIA – FESTIVALMA 2014
Árvore Genealógica dos Shapers do Brasil
REPLICANDO A HISTÓRIA
Na Mostra de Surf de
2008 foi iniciado um processo que vai tomando mais corpo e ainda deve se
expandir nos próximos Festivais da ALMA SURF. A princípio foram selecionadas
vinte e cinco pranchas, na edição de 2009 chegamos a 40 réplicas, no Festivalma
2010 a coleção da Alma Surf alcançou 50 cópias de pranchas antológicas, cada
uma delas representando fases e momentos diferentes do surf brasileiro e do
design. Aos poucos foi sendo montado o esqueleto do que se transforma na “Árvore
Genealógica dos Shapers do Brasil”. Agora em 2014 elas são apresentadas como um
fio condutor da história do próprio surf.
Os critérios utilizados nesta curadoria foram os seguintes:
· as peças são réplicas exatas de
pranchas que foram produzidas em território nacional, ou por shapers
brasileiros
· seguem uma sequência cronológica
· as medidas foram tiradas de modelos
originais, ou da própria memória dos shapers e surfistas
· alimentadas no computador acoplado à
máquina de shape idealizada por Luciano Leão
· confeccionadas na máquina da Teccel,
que forneceu os blocos
· a maioria delas foi finalizada pelo
shaper Neco Carbone e laminada por Thyola em sua fábrica no Guarujá
PORÉM: Nem todas as pranchas foram produzidas através do
processo acima descrito. Em alguns casos, de shapers com fábricas em pleno funcionamento,
os próprios produziram a réplica do modelo em questão.
Cada prancha é acompanhada de um cartão histórico, com detalhes
sobre o shaper, seu design, a fabricação, surfistas que utilizaram o modelo e
também algumas curiosidades e informações pertinentes.
Este acervo de Romeu Andreatta, se transformou em um patrimônio do surf
brasileiro. Pranchas que (hipoteticamente) nunca entrarão no mar e permanecerão
imaculadas, para apreciação do público e por sua representatividade histórica.
Estes modelos de pranchas foram pilotadas por surfistas, famosos e anônimos,
nas mais diversas condições de ondas.
Reinaldo Andraus - CURADOR
PÁGINA DUPLA DA MATÉRIA PUBLICADA EM 2008
AINDA IREI DIGITALIZAR OUTRAS IMAGENS
ILUSTRATIVAS – BREVE
REPRODUÇÃO ALMA SURF # 46
Abaixo um texto explicativo que foi publicado na revista Alma Surf em 2014.
A HISTÓRIA
DO SURF BRASILEIRO ATRAVÉS DE SUAS PRANCHAS
Por Reinaldo Andraus*
As pranchas de surf produzidas no Brasil retratam a história e evolução do esporte em nossas águas. Esta coleção de réplicas de pranchas (que tiveram suas originais amplamente testadas ao longo dos anos), foi criteriosamente compilada para retratar as mais diversas fases do esporte e os modelos mais utilizados a cada nova era de evolução do surf. É uma coleção que não esgota as possibilidades, tanto em termos dos designs, como dos artesãos, shapers (fabricantes) mais representativos, mas dá uma boa noção de como o surf brasileiro foi se desenvolvendo.
Em 1938
temos os primeiros registros fotográficos do surf no Brasil. Este modelo de
prancha (1), foi construído em Santos por jovens que tiveram acesso a uma
revista “Mecânica Popular”, em inglês, que trazia detalhes sobre a fabricação
das pranchas havaianas. Eram ocas, ficavam muito pesadas quando a água entrava
nelas. O surf praticado se restringia a descer as ondas e seguir direto em
direção à praia.
Houve um
hiato e no final dos anos 50 o surf ressurgiu em outro cenário, a praia do
Arpoador, no Rio de Janeiro. Após o uso de artefatos mais artesanais, o
mergulhador Irencyr Beltrão aprimorou as pranchas de madeira, desenvolvendo o
modelo que foi denominado Madeirite (2). Essas pranchas, inicialmente produzidas
“secretamente” em uma carpintaria da Ilha do Governador, acabaram se difundindo
e foram fabricadas em série. No início dos anos 60 eram as mais utilizadas no
Brasil. Até que surgiram as pranchas de poliuretano e fibra de vidro.
Aos poucos as pranchas de fibra foram dominando o cenário, coloridas com pigmento, ainda eram pesadas, mas pelo fato de boiarem abriram novas perspectivas. As pranchas São Conrado (4), fabricadas no Rio eram as mais cobiçadas, com acabamento de alto nível. As importadas também começaram a chegar ao Brasil. Em São Paulo, no Bairro de Santo Amaro, a fábrica de buggys de fibra de vidro, Glaspac, começou a fabricar modelos que foram evoluindo. Seguiam moldes idênticos MK 1, 2, 3 e mudavam apenas detalhes de cores e nas quilhas (3). A era dos pranchões foi uma fase romântica do surf, com a tribo crescendo em grupos unidos. Tudo era novo.
Veio a
“revolução”, chamada de Revolução das Pranchas Curtas – Shortboard Revolution e
o tamanho das pranchas foi cortado drasticamente do final dos anos 60 para o
início dos anos 70. Nesta fase os modelos de pranchas eram os mais variados
imagináveis. Os shapers tentavam variações nas rabetas, nas bordas, volume das
pranchas e quilhas... Acompanhando e analisando os designs das pranchas (5 até
21) é possível observar variações sutis e outras nem tanto. Pranchas produzidas
por grandes surfistas que eram shapers. Muitos dos grandes surfistas no mundo e
também no Brasil, faziam suas próprias pranchas para atuar nas competições.
Eles testavam e venciam campeonatos com elas.
Na virada
dos anos 70 para a década de 80 duas grandes transformações ocorreram na
configuração das quilhas, ancoradas nas performances de ídolos mundiais do
esporte. As biquilhas de MR (Mark Richards) começaram a dominar nos anos de 79
até 82, quando ele se consagrou como tetracampeão mundial (veja a prancha 23).
A partir de 81, outro australiano – Simon Anderson, introduziu as triquilhas
(praticamente todas as pranchas mais recentes), porém deve ser dado destaque a
criação de Ricardo Bocão (22), que concebeu aqui no Brasil o primeiro modelo de
uma prancha com 4 quilhas, hoje muito utilizada até por Kelly Slater, mas na
época foi uma atitude visionária e compreendida por poucos.
Nos anos 80
as pranchas de 3 quilhas, Thrusters, tomaram a preferência universal dos
surfistas e por toda a década e nos anos 90 as alterações de design foram
basicamente de refinamento, repare no volume total das pranchas dos anos 80,
comparando com as pranchinhas triquilhas dos anos 90 e 2000. O surf foi ficando
cada vez mais radical, possibilitado por inovações de design sutis, contínuas e
efetivas. No Brasil algumas das pranchas mais requisitadas são produzidas na
fábrica Wetworks do Rio com um time de shapers, designers que são surfistas do
mais alto calibre (40, 43 e 44). Pranchas de campeões nacionais (42) e
internacionais (41) estão presentes nesta coleção da ALMA SURF. Cada uma das
pranchas aqui apresentadas tem sua representatividade.
No final da década de 80 também houve um ressurgimento do longboard – pranchões (33, 37 e 49), com modelos bem mais leves e embutindo os novos conceitos de design, possibilitaram um surf mais radical que o protagonizado nos anos 60 quando eles dominavam o cenário. A década de 90 e principalmente a virada para os anos 2000 trouxe uma nova visão ao surf, na qual o que mais importava, além da performance, passou a ser a diversão de quem está na água e modelos como o SUP (46), e as fun boards ou pranchas híbridas (36), procuram proporcionar que o surfista curta da melhor forma as ondas que estiverem disponíveis.
Em um outro
espectro totalmente diferente o surf de ondas grandes tomou novo ímpeto. As
pranchas para surfarmos as maiores ondas na remada (39), conhecidas como
“gunzeiras”, ou simplesmente guns, dividiram espaço com pranchas menores e
pesadas, para aguentar os trancos de ondas de proporções enormes, chamadas
pranchas de “tow-in”, ou surf a reboque (45 e 48), que hoje permitem aos
surfistas, rebocados por um moto aquática, descer ondas que antes eram
consideradas “insurfáveis”. É a evolução sem fim do esporte. Mas todos os
artefatos são válidos, desde as primitivas pranchas alaia havaianas de madeira
maciça, aos foguetes mais modernos com materiais alternativos. O ato de surfar
é a cura!
*REINALDO ANDRAUS, o curador desta coleção de pranchas, foi editor das
principais revistas de surf do país e atualmente está trabalhando no projeto de
um livro abrangente sobre a história do surf brasileiro, a previsão de
lançamento do mesmo é para o início de 2019.
VEJAM AGORA
OS “CARTÕES” PREPARADOS PARA CADA UMA DESTAS PRANCHAS, ESCRITOS EM 2008, 2009 e
2010.
PRANCHA TWIN (STINGER) E AO FUNDO INSTALAÇÃO
PARCIAL DA CRIAÇÃO DE LUCIANO LEÃO, QUE CONCEBEU A PIONEIRA MÁQUINA “DIGITAL
SURF DESIGN”
FOTO: DRAGÃO
1
PRANCHA
MODELO TOM BLAKE
DÉCADA DE 30
ARTESÃOS –
Irmãos Roso de Mattos – Carpintaria Naval em Santos
SURFISTAS:
Osmar Gonçalves, Jua Hafers, Silvio Malzoni, Thomas Rittscher
COMPRIMENTO
– 12’10”
LARGURA – 201/2”
ESPESSURA –
51/4”
No final dos anos 30 alguns jovens surfistas de Santos
decidiram produzir pranchas de surf com base num artigo que encontraram na
revista Popular Mechanics. A revista que aborda ciência, tecnologia e a
construção dos mais diversos artefatos, trouxe em sua edição de Julho de 1937 a
fabricação da prancha oca desenvolvida por Tom Blake. A idéia de Blake era
aliviar o peso das pesadas pranchas maciças, que os havaianos utilizavam até o início
do século passado. Este artigo teve eco não só no Brasil, mas também na
Austrália. Porém os australianos já haviam sido introduzidos ao surf por Duke
Kahanamoku, no início do século. No Brasil foi um ato pioneiro. Esta prancha é
uma réplica construída em uma carpintaria naval localizada nos fundos da
Escolástica Rosa, próximo ao Canal 6, pelos irmãos Luiz Augusto Roso de Mattos
e Marcelo Roso de Mattos, herdeiros da tradição dos mestres do início do século
passado.
OS IRMÃO ROSO DE MATOS TRABALHANDO NA
ESCOLÁSTICA ROSA EM SANTOS
FOTO: REINALDO "DRAGÃO" EM 2008
2
PRANCHA
MODELO MADEIRITE
INÍCIO DOS
ANOS 60
SHAPER \
DESIGNER – Loja Procópio Sports
SURFISTAS: pioneiros
do Rio de Janeiro e São Paulo
COMPRIMENTO
– 8’1”
LARGURA – 21”
ESPESSURA –
1”
No final dos anos 50 e início dos anos 60 o surf começou a ganhar
espaço, principalmente nas praias do Rio de Janeiro. As pranchas que ficaram mais
populares foram as MADEIRITES, fabricadas com madeira compensada. O bico da
prancha era aquecido para ser envergado. Os primeiros modelos foram desenvolvidos
por Irencyr Beltrão, junto com um marceneiro da Ilha do Governador (RJ). As
quilhas eram enormes e rústicas. As pranchas tinham pouca flutuação e chegaram
a ser utilizados pés de pato, para facilitar entrar nas ondas. As nadadeiras eram
cortadas nas pontas para que o surfista conseguisse ficar de pé sobre a prancha.
Mais tarde a loja de artigos esportivos Procópio, adaptou e industrializou este
modelo de prancha. Esta réplica teve sua construção monitorada por Neco
Carbone. As medidas foram tiradas de uma prancha do Museu do surfista Pirata,
localizado próximo ao Morro do Maluf, na Praia de Pitangueiras, no Guarujá.
3
MODELO DE
SÉRIE - GLASPAC MK2
FINAL DOS
ANOS 60
SHAPER \
DESIGNER – Medidas Padrão
SURFISTAS: uma
das primeiras opções de fibra em São Paulo
COMPRIMENTO
- 9’0”
LARGURA – 21
½”
ESPESSURA –
3 ½”
As GLASPAC, que tinham como base as pranchas fabricadas para
surfar em Malibu, na Califórnia, eram fabricadas na Grande São Paulo e vendidas
na loja Fiberglass Center, na Av. Santo Amaro, na Capital Paulista. Exibidas em
meio a opções de bandejas, luminárias e outros produtos de fibra de vidro (que
eram uma novidade naquela época), era possível encontrar pranchas de surf. A
primeira prancha, produzida em meados dos anos 60, era bem rústica. Em seguida,
vieram os modelos MK2 e MK3, mais leves, com acabamento mais sofisticado, pintadas
com esmalte sintético, cores vistosas, mas a grande evolução, a cada novo
modelo MK, era com relação à quilha, que trazia desenhos e foils mais modernos
e ao volume total da prancha, que vinha diminuindo. A Glaspac chegou a produzir
mini models, antes de perder mercado para os produtores artesanais.
O HOJE MASTER SHAPER NECO CARBONE
APRENDEU A SURFAR EM UMA PRANCHA GLASPAC
4
SÃO CONRADO
SURFBOARDS
ANOS 60
SHAPERS \
DESIGNERS – VÁRIOS (Mário Bração – Ciro Beltrão – Tito Rosemberg – Carlos
Mudinho – Rico + Murilão
e Domingos que realmente pegavam no pesado)
SURFISTAS: pioneiros
do BRASIL
COMPRIMENTO
- 8’2”
LARGURA – 211/2”
ESPESSURA –
31/2”
Na segunda metade dos anos 60 as pranchas fabricadas pelo
Coronel Parreiras, nos contrafortes da Pedra da Gávea, no fundo da praia de São
Conrado, eram o maior objeto de desejo dos surfistas brasileiros. Quem queria
ter uma prancha boa, de primeira linha, fabricada no Brasil, queria ter uma S.
Conrado. Mesmo com a Shortboard Revolution rompendo, elas continuaram no “top
of mind” por mais algum tempo. Os pranchões com tecidos no bico estão numa
categoria antológica. Esta prancha é uma réplica de modelo original encontrada
numa garagem do litoral paulista pelo colecionador individual Oswaldo Pepe.
AS PRANCHAS SÃO CONRADO COM OS
TECIDOS FLORAIS NO BICO ERAM O MAIOR OBJETO DE DESEJO DOS SURFITAS DOS ANOS 60,
MELHOR QUE ISSO SÓ SE PUDÉSSEMOS TER UMA PRANCHA IMPORTADA
DETALHE DA FICHA DA SÃO CONRADO
FOTOS: DRAGÃO 2010
5
PRANCHA HOMERO
ANO 71
SHAPER \
DESIGNER – HOMERO NALDINHO
SURFISTA - TEAM
RIDER: SAULO NUNES
COMPRIMENTO
– 6”
LARGURA – 211/2”
ESPESSURA –
3”
Homero, nascido em 1944, fez sua primeira prancha, de madeira
– oca, aos 14 anos em 1958. Pode ser considerado um dos mais criativos, ousados
e vanguardistas shapers do Brasil. O renomado Gary Linden, confessa ter
aprendido muito com Homero, quando esteve no Brasil no início dos anos 70
(antes de se tornar famoso). A prancha escolhida de Homero foi o modelo que
fazia para seu team rider Saulo. Um surfista também a frente de seu tempo. A
réplica produzida por Neco, com ajuda do shaper Eduardo Argento (Twin), tomou
como base pranchas similares da época e a memória de ambos, aliada ao fato de
terem testemunhado Saulo “quebrando” tudo nas ondas de Santos e principalmente
do Guarujá. No início dos anos 70 houve um primeiro surto de biquilhas, depois
elas saíram totalmente de cena. A configuração era bem diferente das que se
tornaram famosas nos pés de Mark Richards, apenas no final década.
6
RICO
SURFBOARDS
INÍCIO DOS ANOS
70
SHAPER \
DESIGNER – RICO DE SOUZA
SURFISTAS: o
PRÓPRIO e muitos dos melhores do BRASIL
COMPRIMENTO
– 6’0”
LARGURA –
20”
ESPESSURA –
3”
A partir da vitória de Rico de Souza, por dois anos seguidos,
no Festival de Ubatuba, que foi o grande campeonato brasileiro nos anos de 72 e
73, as pranchas produzidas por Rico passaram a ser cobiçadas e encomendadas até
por surfistas de São Paulo. Esta prancha é uma réplica do modelo que Rico
utilizou para se transformar no primeiro campeão brasileiro da história, em
Janeiro de 72. Rico, que guarda a prancha em seu museu no Rio de Janeiro,
passou as medidas para Neco alimentá-las na máquina de shape idealizada por
Luciano Leão. As sedas foram produzidas de acordo com a original e a prancha
laminada em São Paulo. Ricardo Fontes de Souza, apesar de se dedicar a um
grande número de atividades, nunca deixou de fazer pranchas. Uma das grandes
combinações de sucesso ocorre com shapers que também conseguem levar seus
designs para o topo do pódio. Rico é um grande exemplo em que o feedback é
sentido pelo próprio artesão, com seu equipamento sendo aprovado através de
resultados.
EM PRIMEIRO PLANO A PRANCHA QUE RICO
UTILIZOU PARA VENCER OS PRIMEIROS FESTIVAIS NACIONAIS EM UBATUBA E A ESQUERDA,
PELA ORDEM... O SHAPE DE PAULO RABELLO PARA TAMBÉM VENCER EM ITAMAMBUCA (1980),
A GUNZEIRA QUE RODRIGO RESENDE USOU PARA, AO LADO DE CARLOS BURLE, FATURAR PARA
O BRASIL O PRIMEIRO MUNDIAL DE ONDAS GRANDES DA ISA EM 1998 E MAIS A ESQUERDA A
PRANCHA QUE TECO PADARATZ USOU PARA SEU BI NO WQS NA TEMPORADA 1999
FOTO: DRAGÃO
7
MOBY
1972
SHAPER \ DESIGNER – BRITO
SURFISTA – TEAM RIDER: THYOLA
COMPRIMENTO
– 7’2”
LARGURA – 20”
ESPESSURA –
23/4”
No ano de 1969 dois surfistas que moravam na capital paulista,
freqüentavam o Guarujá e mais tarde estudariam arquitetura juntos, na Faculdade
de Mogi das Cruzes, começaram a ensaiar a produção de pranchas. O shaper
Antônio Mendes Brito (Britão) e o glasser e air brusher Francisco José
Chiarella (Thyola), criaram a primeira fábrica de pranchas de surf do Guarujá,
a Moby Surfboards. O logo da Moby imitava a forma da baleia Moby Dick. Brito,
embora tenha sido um dos primeiros brasileiros a flertar com madeira balsa e
ter morado um bom tempo em Santa Cruz, na Califórnia, deixou de lado a carreira
de shaper. Thyola, por outro lado, foi crescendo com sua fábrica, saindo
(literalmente) de um esquema de fundo de quintal, para uma indústria que
emprega vários funcionários e já recebeu alguns dos maiores shapers do planeta.
A Moby deu lugar a Lightning Bolt, após a saída de Brito e a chegada de Mark
Jackola. Hoje a Glassing Best exporta para diversos países. Esta prancha foi
feita no início de 72, e era a prancha pessoal de Thyola logo após sua primeira
viagem ao Peru.
8
MIÇAIRI
ANOS 70
SHAPER \ DESIGNER – CHRISTIAN KOESTER
SURFISTAS: Miçairi,
Renan Pitanguy, Foca e o ás paulista Égas Atanázio
COMPRIMENTO
– 6’9”
LARGURA – 181/2”
ESPESSURA –
31/8”
As pranchas com o emblema da lua e estrela começaram a
inundar as praias do Rio em meados dos anos 70. Na segunda metade da década
elas começaram a invadir as praias de São Paulo e outras regiões do Brasil, com
alguns dos melhores surfistas do país utilizando seus designs. Uma curiosidade
nesta época, antes do renascimento das biquilhas com MR, é que o estilo das
pranchas havaianas (tipo gunzeiras alongadas) era utilizado até por surfistas
do Brasil e da Flórida. Não era o ideal para surfar as ondas daqui, mas era
moda e nos adaptávamos para surfar com pranchas deste tipo. Esta prancha é uma
copia fiel de um modelo encontrado no Museu do Surf em Santos. As medidas foram
tiradas por Neco Carbone e Carlos Argento, os dados alimentados na máquina de
shape e a prancha foi laminada no Guarujá.
9
HATY SURFBOARDS
ANO 72
SHAPER \ DESIGNER – JORGE HATY
SURFISTA –
TEAM RIDER: free surfers da Bahia e do Brasil
COMPRIMENTO
– 7’1”
LARGURA –
20”
ESPESSURA –
23/4”
No início dos anos 70 a família do seu Gabriel Moraes, com os
filhos Jorge e Almir, mudou-se da Bahia para o Rio de Janeiro. As pranchas Haty
eram uma referência no surf nordestino. Desde o final da década de 60 eles
vinham influenciando os primeiros surfistas de Salvador e fornecendo as
melhores pranchas da área, fabricadas em Amaralina. No Rio de Janeiro, após o
encerramento da São Conrado Surfboards eles se caracterizaram por construir a
fábrica com maior produção em série de pranchas. Os baianos se associaram a Zé
Alberto Catarino, formando a JL Surfboards. A JL foi a primeira fábrica de
pranchas a patrocinar um surfista, no caso Ricardo Bocão, com uma remuneração
como atleta profissional. Esta réplica foi tirada de uma prancha do Museu de
Rico de Souza e tem grande probabilidade de ainda ter sido produzida na Bahia.
Em meados dos anos 70 Jorge Haty acabou falecendo num acidente dentro da sala
de shape, que pegou fogo. Com sua morte a JL terminou, mas ficou o legado da primeira
grande fábrica de pranchas proveniente do nordeste.
DETALHE DE SEDA ORIGINAL - PRANCHA HATY
FOTO: RICO DE SOUZA
10
TITO SURFBOARDS
ANO 73
SHAPER \ DESIGNER – TITO ROSEMBERG
SURFISTA –
TEAM RIDER: o próprio e VERY free surfers
COMPRIMENTO
– 6’10”
LARGURA –
20”
ESPESSURA –
23/4”
A saga de Tito Rosemberg vai muito ale de sua “carreira” como
surfista e shaper. Uma de suas mais célebres façanhas foi uma participação
pioneira no Camel Trophy em Bornéo. Óbvio, ele tinha pedigree para isso, foi
Tito que, em pleno Saara, “salvou” Craig Peterson e Kevin Naughton, da revista
Surfer. Mas o que nos interessa é Tito como shaper e aqui também ele deixou
legado. Tito começou a surfar em 1963, aos 16 anos, em Cabo Frio. Logo em
seguida já começa a tirar alguns trocados consertando pranchas. Seu instinto
explorador já está aguçado, ele desbrava as praias do Brasil. Pioneiro em
Saquarema. Em 66, aos 19 anos, trabalha na São Conrado e surfa no Arpoador. Em
70: Califórnia, viagens... Volta ao Brasil em 71 quando abre a Tito Surfboards,
sem empregados, 100 pranchas por ano. Tito faz do shape ao polimento. Em 74,
aos 27 anos, vende a fábrica, todos seus pertences, detona a poupança, vai para
a Europa e compra uma Land Rover. Inglaterra, França, Bélgica, Holanda,
Alemanha, Espanha, Portugal, Estreito de Gibraltar... Marrocos, e... Essa história
é a que todo mundo conhece. A original desta prancha está (em muito bom estado)
no Museu do Rico. Réplica by Neco e Thyola.
PRANCHA PRESERVADA DE TITO ROSEMBERG
DO ACERVO DO MUSEU DE RICO DE SOUZA
FOTO: RICO
11
LIGHTNING
BOLT
MEADOS DOS
ANOS 70
SHAPER \
DESIGNER – MARK JACKOLA
SURFISTA –
TEAM RIDER: PAULO TENDAS
COMPRIMENTO
– 6’2”
LARGURA – 20”
ESPESSURA –
23/4”
Em 1974 o shaper Mark Jackola, que havia trabalhado e
assimilado a técnica na fábrica de Gerry Lopez no Hawaii, veio como
representante da marca para o Brasil. Após uma passagem meteórica pelo Rio,
Jackola fixou residência no Guarujá. Por vários anos produziu foguetes “estilo
havaiano” para a galera. Esta prancha era do quiver de Paulo Tendas, um dos
mais proeminentes surfistas de São Paulo, o primeiro paulista a ameaçar a
hegemonia dos cariocas nas competições. Jackola morou por vários anos no
Guarujá, fazendo uma parceria de grande sucesso com o glasser \ air brusher:
Thyola. Acabou aprendendo a falar português, com o clássico sotaque gringo.
Suas pranchas tinham aquela linha havaiana típica que agradava aos olhos e inspirava
velocidade. O raio era o toque final.
RICARDO BOCÃO COM O UNIFORME DA
EQUIPE MAGNO PARA O FESTIVAL DE UBATUBA EM 1975. ATRÁS DELE UMA CLÁSSICA LIGHTNING
BOLT AMARELA COM O RAIO VERMELHO. MOSTRA DE 2009
FOTO: DRAGÃO
12
PRANCHA HEINRICH
ANOS 70
SHAPER \ DESIGNER – HEINRICH REINHARD VON DER
SCHULENBURG
SURFISTAS: Perseguidores
de uma linha pura
COMPRIMENTO
– 6’8”
LARGURA – 181/2”
ESPESSURA –
31/8”
Nos anos 70 se formou a segunda geração de shapers do Brasil.
Heinrich herdou a fábrica de pranchas do lendário Tito Rosemberg (que se iniciou
na arte como shaper das São Conrado). Influenciado por Tito, Heinrich foi
buscar experiência no exterior, trabalhando na fábrica Gordon & Smith e com
os shapers Barnfield e Linden. As linhas de suas pranchas sempre tiveram um
toque clássico. Este modelo é uma réplica de prancha do colecionador Pardhal,
de Santos. Durante boa parte dos anos 70 os surfistas possuíam uma única prancha
e caíam com ela em todos os tipos de onda. O conceito de quiver viria apenas no
final da década.
13
OTAVIO
PACHECO
TEMPORADA
HAVAIANA 76\77
SHAPER \
DESIGNER – OTÁVIO PACHECO
SURFISTA –
TEAM RIDER: O PRÓPRIO
COMPRIMENTO
– 7’3”
LARGURA – 183/4”
ESPESSURA –
23/4”
Otávio Pacheco começou a shapear pranchas em 1972,
influenciado pelo grande mestre Ricardo Wanderbill, ambos se inspiravam no
“guru” havaiano Dick Brewer. Esta prancha foi produzida no quintal da casa em
que Otávio morava no Hawaii, em Sunset Beach, para a temporada havaiana 76 e
ainda utilizada nas temporadas seguintes. Ao fazer este shape – um dos
primeiros de mais de 30 mil esculpidos à mão – Otávio tinha em mente as ondas
de Pipeline, mas chegou a utilizar a prancha em picos como Haleiwa, Jocko’s, Laniakea,
Backyards e outros. Otávio pode ser considerado um dos primeiros big riders do
Brasil, seu arrojo ao surfar ondas grandes, sempre o colocou como um dos
surfistas mais respeitados do país. Além disso, sua ligação com Saquarema é
notória. Durante muitos anos Otávio manteve uma fábrica em Itaúna. Atualmente
confecciona suas pranchas, a Soul Surf, no Rio de Janeiro. Esta réplica foi
produzida em São Paulo. Otávio passou as medidas originais para Neco Carbone,
alimentadas na máquina tiraram este projétil, laminado na Glassing Best (SP),
por Thyola.
14
DANIEL
FRIEDMANN
ANO 77
SHAPER \
DESIGNER – DANIEL FRIEDMANN
SURFISTA –
TEAM RIDER: O PRÓPRIO e Paulo Tendas
COMPRIMENTO
– 6’4”
LARGURA – 191/2”
ESPESSURA –
23/4”
Daniel foi o segundo brasileiro a vencer uma etapa do WCT, em
1977, um ano após a vitória de Pepê nas águas do Rio de Janeiro. O próprio
Daniel produziu esta réplica. Em 77 esta prancha estava em sua fábrica guardada
para usar mais tarde. O paulista Paulo Tendas viu a prancha e pediu para utilizá-la
no Waimea 5000. Depois que Paulinho foi desclassificado, Friedmann subiu nela e
foi até a final. Com esta mesma prancha, meses mais tarde, ainda venceu o
Campeonato Magno, no Arpoador. Daniel foi um dos primeiros surfistas
brasileiros a competir no exterior. Na década de 70 seu nome sempre figurava
nos pódios de Saquarema, Ubatuba e no Sul. Já no final dos anos 80 voltou a dar
show de estilo nos eventos de longboard, sendo instrumental no revival da
categoria. Sua forma clássica de surfar se reflete em seus shapes, qualquer
tipo de prancha. Hoje Daniel divide seu tempo entre a shape room, sua fábrica e
a produção de eventos de surf. Há várias temporadas dirige as etapas das
Seletivas Billabong para o Mundial Junior, como também os eventos de Longboard da
Petrobras.
O BÓLIDO HAVAIANO DE OTÁVIO PACHECO,
APONTADO PARA O TUBO. AO LADO A PRANCHA QUE DANIEL FRIEDMANN UTILIZOU NA FINAL
DO WAIMEA 5000 DE 1977 E PARTE DE UMA VICSTICK, PRODUZIDA POR VICTOR
VASCONCELLOS
FOTO: DRAGÃO
A FAMOSA FOTO ANTES DA FINAL NO
QUEBRA-MAR. PEPÊ, QUE HAVIA VENCIDO NO ANO ANTERIOR (1976) NO ARPOADOR, FOI
VICE
FOTO: FEDOCA
15
VICSTICK
ANO 77
SHAPER \
DESIGNER – VICTOR VASCONCELOS
SURFISTA: o
PRÓPRIO
COMPRIMENTO
- 6’6”
LARGURA – 193/4”
ESPESSURA –
21/2”
Victor Vasconcelos ficou famoso com as pranchas Hot Stick,
quando fundiu sua fábrica, a lendária Vicstick, fundada em Imbituba, com a do
shaper Pedro Battaglin (que fazia as pranchas Hot Dog). Seus shapes estiveram
nos pés de grandes surfistas brasileiros, vencedores como Pepê, Cauli, Jojó,
Guilherme Gross, Pedra, Trekinho, Hizú... Esta prancha foi baseada num shape de
Reno Abellira, que Paulo Proença trouxe do Hawaii na temporada 76\77. Foi
shapeada na garagem de seu apartamento no Arpoador. Levada para Imbituba, a
prancha lhe valeu a vitória em altas ondas, desbancando Daniel Sabbá, Macalé,
Ronaldo Moreno e Paulo Sefton na final. Repare no “kick tail”, rabeta levantada
após a quilha, uma novidade na época. As sedas eram feitas uma a uma, com papel
manteiga, tinta nanquim e lápis de cera.
A réplica foi produzida no Rio por Victor se valendo da moderna máquina de shape.
16
PRANCHA PEPÊ
SEGUNDA
METADE DOS ANOS 70
SHAPER \
DESIGNER – PEPÊ LOPES
SURFISTA -
TEAM RIDER: OS ATIRADOS DA GERAÇÃO PÓS-PIER
COMPRIMENTO
– 5’8”
LARGURA – 203/8”
ESPESSURA –
3”
Pedro Paulo Guise Carneiro Lopes, nascido em 1957 no Rio de
Janeiro, é uma das maiores lendas do surf nacional. Pepê foi o primeiro
brasileiro a vencer uma etapa do WCT, em 1976, no Rio de Janeiro, durante o
primeiro Circuito Mundial de Surf, da antiga IPS. Pepê foi campeão de hipismo,
campeão mundial de asa delta e acabou falecendo num acidente no Japão, em 1991,
na competição em que buscava o bi. Pepê foi considerado o melhor surfista
brasileiro da Geração do Píer de Ipanema, ele se encaixava como poucos nos
tubos que rodavam ao lado daquelas pilastras. Essa experiência o fez chegar a uma
final do Pipeline Maters, também em 76. Sua barraca de alimentos naturais dá o
nome a um trecho da praia da Barra, no Rio, onde há um monumento erguido em sua
homenagem. Além de tantas atividades Pepê ainda encontrou tempo para shapear.
Esta prancha está no Museu de Rico de Souza, no Rio de Janeiro, foi entregue
por um primo de Pepê. A réplica também foi produzida no Guarujá.
17
PRANCHA TWIN
ANO 78
SHAPER \
DESIGNER – EDUARDO ARGENTO
SURFISTA –
TEAM RIDER: PICURUTA SALAZAR
COMPRIMENTO
– 6’0”
LARGURA – 1911/16”
ESPESSURA – 23/4”
Os irmãos gêmeos (Twin) Carlos e Eduardo Argento são
personagens lendários do surf santista e paulista. Foram pioneiros como
surfistas, pioneiros com a loja Twin Surf Shop e também como shapers. Antenados
no cenário do surf da Baixada, não foi difícil para eles perceberem o talento
precoce do jovem Alexandre “Picuruta” Salazar. Na metade dos anos 70 o Gato já
começava a vencer os primeiros das centenas de títulos que continua
colecionando até hoje. Esta prancha é um modelo Stinger, inventado pelo
havaiano George Downing e popularizado por seu conterrâneo Ben Aipa. O conceito
desta prancha era que o “sting” agisse como um “wing” (normalmente menor e
utilizado próximo à rabeta) para surfistas que gostassem de manobrar
posicionados mais para frente em cima da prancha. A réplica foi construída por Dudu, de
memória, na oficina de Thyola no Guarujá, onde Eduardo mantém sua sala de
shape.
18
PRANCHA
MUDINHO (Rico)
ANO 79
SHAPER \
DESIGNER – CARLOS MUDINHO
SURFISTA –
TEAM RIDER: MUDINHO
COMPRIMENTO
– 5’7”
LARGURA – 20”
ESPESSURA – 23/4”
Carlos Roberto L’Astorina de Andrade, popularmente conhecido
como Mudinho, é um dos maiores precursores do surf brasileiro. Em 2009, aos 59
anos, ele veio até o Guarujá para produzir (pessoalmente) esta réplica na sala
de shape de Neco Carbone. Mudo começou a surfar em 1958, em 64, aos 15 anos, já
começou a desenvolver alguns designs de pranchas de Madeirit, encomendando-as
com carpinteiros. Trabalhou na fábrica da São Conrado, com os irmãos Irencyr e
Ciro Beltrão e também com Rico, mais tarde se aperfeiçoou no Peru com o shaper
surdo Ivan Sardá, depois partiu para produzir pranchas com seu nome. Com
liberdade para escolher o modelo que achasse mais significativo ao longo de sua
carreira, Mudinho escolheu esta biquilha de 1979. Com ela ele venceu o Festival
de Cabo Frio, numa final acirrada contra Cauli Rodrigues. Thyola laminou a prancha
baseado em fotos que Mudinho guarda com carinho, segurando a prancha ao lado de
vários troféus. Hoje Carlos Mudinho está surfando com uma prancha 6’1” de 5
quilhas, um design que ele lançou nos anos 80 e revitalizou agora.
19
PRANCHA WANDERBILL
ANO 79
SHAPER \ DESIGNER – RICARDO WENDHAUSEN
SURFISTAS: Soul
Surfers & Champion Surfers
COMPRIMENTO
– 5’11”
LARGURA – 201/8”
ESPESSURA – 3”
Na segunda metade dos anos 70, um shaper carioca começou a
angariar o respeito e ser cultuado em todo o Brasil. Suas linhas eram limpas e
perfeitas, era inconcebível imaginar uma prancha de Wander que não saísse boa,
muito boa. Não eram poucos os surfistas brasileiros que o consideravam o melhor
shaper do Brasil. Infelizmente um acidente de automóvel no trecho da BR 101,
que liga Floripa a Garopaba, levou este grande artesão para um mundo além
daqui. Esta prancha foi feita sob encomenda para meu quiver (Dragão), na época
em que Wanderbill ficou morando e fazendo pranchas junto com o Thyola, em São
Paulo. A versão original está restaurada, em ótimo estado e compõem a coleção
de Oswaldo Pepe. O logo StarBolt foi uma variação das Lightning Bolt que surgiu
no final dos anos 70. Uma curiosidade é que, apesar do tamanho da prancha, era
possível aplicar “stretch” hang fives, devido à boa flutuação do nose.
EM PRIMEIRO PLANO MINHA STARBOLT, OBRA
DO DOCTOR SHAPER RICARDO WANDERBILL, LAMINADA POR THYOLA NA MOSTRA DE SURF DE 2008 NA BIENAL
FOTO: DRAGÃO
A PRANCHA EM AÇÃO NO CANTO DO MOREIRA
EM MARESIAS, 1980
FOTO ACERVO PESSOAL DRAGÃO, É UMA DAS FOTOS DE CAPA EM MEU FACEBOOK
20
PRANCHA CISCO
(TROPICAL BRASIL)
ANO 80
SHAPER \
DESIGNER – CISCO ARAÑA
SURFISTA:
CISCO
COMPRIMENTO
– 5’7”
LARGURA – 205/8”
ESPESSURA –
3”
Ao contrário do que muitos pensam, a marca Tropical Brasil,
na verdade foi uma criação do surfista Cisco Araña e seu amigo de infância
Gerson Feliciane Carife, no final dos anos 70. Cisco preferiu trabalhar com seu
próprio nome na fabricação de pranchas e simplesmente deixou que Avelino Bastos
ficasse com a marca Tropical Brasil, chegando inclusive a participar como
atleta da marca futuramente. Esta prancha é uma réplica do acervo do próprio
Cisco, guardada no Posto 2, no qual funciona sua Escola de Esportes Radicais em
Santos. Na prancha original a laminação foi executada com uma folha compensada
de cerejeira de 1 mm, aplicada no bottom sobre um bloco de isopor laminado com
epóxi. O último banho foi dado com resina de poliéster. Hoje Cisco é um dos
grandes designers de longboards e participa de eventos na categoria Legends.
21
RABELLO
ANO 80
SHAPER \
DESIGNER – PAULO RABELLO
SURFISTA –
TEAM RIDER: o próprio
COMPRIMENTO
- 6’0”
LARGURA – 187/8”
ESPESSURA – 27/8”
No ano de 1980, Paulo Rabello quebrou as estruturas da
tradição dos grandes festivais de surf ao se transformar no primeiro surfista
de São Paulo a vencer o Campeonato de Ubatuba, isso numa era bem anterior ao
surgimento da Abrasp. Mais tarde Rabello criou sua própria marca de pranchas, a
Hot Gust. Durante as duas últimas décadas Rabello vem sendo um dos mais
requisitados shapers da fábrica de Thyola, no Guarujá. Porém, quando o Canto
Direito da Praia do Tombo quebra clássico, com as direitas partindo desde a
frente das pedras da Praia do Forte... Esqueça! Paulo estará lá, quebrando as
ondas, como faz há mais de três décadas. Esta prancha é uma réplica do modelo
que utilizou para vencer o célebre Festival de Ubatuba de 1980, patrocinado pelos
Jeans US Top.
22
PRANCHA
QUATTRO
ANO 81
SHAPER \
DESIGNER – RICARDO BOCÃO
SURFISTA -
TEAM RIDER: O PRÓPRIO + Ismael Miranda, Rosaldo
Cavalcanti, Gironso, Rodolfo Lima e Moisés Levy (todos do Arpoador).
COMPRIMENTO
– 5’8”
LARGURA – 201/8”
ESPESSURA –
21/2”
Em junho de 81, Ricardo Baerlein dos Santos Lima (Bocão),
mergulhou na sala de shape e saiu com a primeira prancha de 4 quilhas da
história. No final de 81, Bocão partiu para a temporada havaiana com um quiver
destas pranchas, que mediam de 5’8” a 7’4”. Durante a temporada de 82, Ricardo
participou de diversas etapas do mundial da antiga IPS, só utilizando estas
pranchas. A idéia surgiu quando Valdir Vargas apareceu com a primeira triquilha
no Brasil (Maio de 81). Bocão colocou
sua biquilha, no chão, ao lado da trifin e veio o estalo. Dois anos mais tarde
chegou a licenciar a fábrica de pranchas K&K para produzir 2.000 de seus
designs, levando a marca “Quattro”. Hoje, com o fim da “ditadura” das
triquilhas, este design é mais umas das opções. Como Bocão não está mais na
ativa na esfera do shape, outro Ricardo (Martins) foi convidado para finalizar
seu design. Esta réplica foi produzida na fábrica da Wetworks, em Vargem Grande
(RJ) e foi feita especialmente para o Festival Alma Surf 2009.
A QUATRO QUILHAS CONCEBIDA POR BOCÃO
FOTO: DRAGÃO
23
PRANCHA BIQUILHA
LA BARRE
ANO 82
SHAPER \
DESIGNER – FLÁVIO LA BARRE
SURFISTAS: os
que gostavam de desenhar uma linha agressiva na onda
COMPRIMENTO
– 5’7”
LARGURA – 193/4”
ESPESSURA –
23/4”
No final dos anos 70 e início da década de 80 o design de
Mark Richards se transformou na prancha de competição mais utilizada pelos
surfistas. As biquilhas se adaptaram como uma luva às ondas brasileiras,
proporcionando um ataque base\lip sem precedentes. Entre os designers que
melhor “pescaram” este modelo, estava o tradicional shaper da Baixada Santista
Flávio La Barre, que morava em Itanhaém e faleceu em dezembro de 2007. As
medidas originais desta prancha, utilizando o conceito “needle nose” (bico
agulha), foram tiradas de prancha do Museu do Surf, da coleção de Pardhal.
24
AKIO
ANO 82\83
SHAPER \ DESIGNER
– AKIO
SURFISTA –
TEAM RIDER: XAN BRANDI
COMPRIMENTO
– 6’8”
LARGURA – 18
7/8”
ESPESSURA –
23/8”
No início dos anos 80 um dos shapers mais requisitados da
capital paulista era Akio. Seu emblema redondo, com as inscrições em japonês
que representam seu nome, ficaram famosas em praias como Itamambuca, Maresias e
Pitangueiras. A prancha replicada para a coleção da Alma Surf é um modelo que
foi fabricado em 1982 para um dos mais atirados e viajados surfistas de Sampa.
Xan Brandi, hoje pode até ser famoso por ser tio do surfista da nova geração
Nathan Brandi, mas nos anos 80 Xan era destaque saindo em páginas duplas das
revistas Visual Esportivo e Fluir, dropando Pipenile e Backdoor, com esta
prancha, que também acabou levando para a Indonésia. Akio hoje tem mais de
10.000 shapes em seu cartel, já morou no exterior, teve fábrica com vários
funcionários e hoje, na década de 10 do novo milênio, produz sozinho, de cabo a
rabo, suas pranchas na Vila Pompéia, pegando o bloco cru e seguindo até o
polimento final. Desta forma foi feita esta réplica.
25
ZAMPOL
ANO 83
SHAPER \
DESIGNER – SYLVIO ZAMPOL
SURFISTA –
TEAM RIDER: o próprio
COMPRIMENTO
– 6’1”
LARGURA –
20”
ESPESSURA –
23/4”
Sylvio Zampol, nascido em 1960, começou a
shapear em 1977, fazendo pranchas rudimentares em sua própria casa. A partir de
81 já fazia produção de pranchas em boa escala para a Rip Wave de Santos.
Zampol formou-se em Engenharia Civil, complementando seus estudos em desenho
técnico mecânico e projeto de máquinas. A partir de 91 partiu para carreira
solo, produzindo pranchas para surfistas famosos como Picuruta, Renan Rocha,
Rogério Alemão e Cristiano Guimarães. Atualmente tem surfistas como Alejo
Muniz, Thiago Camarão, Sylvinho Mancusi e Junior Faria entre seus team riders.
Em suas viagens internacionais conheceu Darren Handley, da DHD, marca que
representa no Brasil. A réplica desta wing swallow biquilha, foi de uma prancha
de seu uso pessoal, do início dos anos 80, produzida na Surform, sua fábrica,
especializada na usinagem de pranchas com processo CNC, utilizando comandos
computadorizados, um projeto nacional desenvolvido em parceria com o sócio de
Zampol, o Engenheiro Mecânico Miguel Fernando Martella Jorge.
26
ANO 84
SHAPER \
DESIGNER – RONALDO BARRETO
SURFISTA –
TEAM RIDER: CAULI RODRIGUES
COMPRIMENTO
– 6’1”
LARGURA –
20”
ESPESSURA –
23/4”
As pranchas Radical, shapeadas por Ronaldo Barreto, foram as
primeiras produzidas no Nordeste que começaram a ganhar as capas das
publicações de surf do eixo Rio x São Paulo. A réplica escolhida por Ronaldo
foi uma prancha que ganhou notoriedade nos pés do mega campeão carioca e
nacional, Cauli Rodrigues. No início dos anos 80 Cauli do Rio e Picuruta de São
Paulo, emergiam como os dois maiores surfistas competidores do Brasil. Cauli
flertou com diversos shapers, mas muitas de suas grandes performances foram
obtidas sobre pranchas Radical. Ronaldo sempre gostou de competições de surf,
conhecendo do riscado serviu atletas do naipe de Cauli, Fábio Gouveia, Joca
Junior, Fábio Silva, Aldemir Calunga, Dunga Neto, Otávio Lima, Tita Tavares,
Alcione Silva... Ronaldo também viajou por dezenas de países que são centros de
boas ondas e bons designers, sempre buscando aprimoramento. Este potiguar é um
dos descobridores de Fernando de Noronha, precursor do surf nordestino. Hoje
mantém uma loja com centenas de pranchas à disposição dos surfistas. A réplica
escolhida pelo curador era a prancha de Felipe Dantas, que foi capa da revista
Visual Esportivo, na praia da Pipa, no início dos anos 80. Porém esta do Cauli
foi a escolha de Barreto.
27
SQUALO
ANO 84
SHAPER \
DESIGNER – HEITOR FERNANDES
SURFISTA –
TEAM RIDER: TAIU BUENO
COMPRIMENTO
– 6’5”
LARGURA – 181/2”
ESPESSURA –
21/2”
Heitor Fernandes é um daqueles shapers brasileiros que
debandou para o Hawaii. Nativo do Rio de Janeiro, também shapeou diversas
pranchas em São Paulo, mas se tornou realmente notório quando ganhou prestígio
no Hawaii, shapeando em fábricas grandes como a Surfer’s Alliance. Esta prancha
escolhida para a Mostra de Surf representa não só Heitor, como também a fábrica
paulista Squalo, fundada em 1973 por Paulo Issa, o maior organizador de
campeonatos de surf deste país. Além de realizar os primeiros festivais de
Ubatuba, Paulinho trazia shapers de grande renome, como Heitor, o sul africano
Glen D’Arcy, Alexandre Morse, Mãozinha Ribeiro, Wanderbill, Heinrich, entre
outros. A prancha em questão foi utilizada por Taiu para se transformar no
primeiro paulistano (surfista da capital paulista) a vencer um Festival de
Ubatuba. A façanha ocorreu em 84. Taiu utilizou duas pranchas de Heitor neste
evento, uma 6’1, que saiu na capa da Fluir e uma 6’5, quando o mar estava
maior. Esta réplica foi construída por Neco Carbone, ao lado de Taiu no
computador de seu apê, no Guarujá. A prancha foi laminada por Thyola.
28
RIP WAVE
ANO 84
SHAPER \
DESIGNER – BETO LOUREIRO
SURFISTAS: PICURUTA,
WAGNER PUPO, ZÉ PAULO, RENAN ROCHA, PARDHAL & CIA
COMPRIMENTO
– 5’ 11”
LARGURA
– 19”
ESPESSURA
– 23/4”
Nos anos 80 Picuruta Salazar se transformou num surfista
lendário, muitas de suas grandes vitórias foram utilizando pranchas Rip Wave.
Este modelo reflete o que era utillizado após a revolução das triquilhas
Thruster, de Simon Anderson. A prancha em questão é o modelo particular feito
especialmente para o quiver do colecionador Pardhal (Diniz Iozzi), que atuou em
várias esferas do surf como atleta, técnico, chefe de equipe, lojista,
empresário, representante e agora museólogo. Repare que a primeira leva de
triquilhas, durante boa parte dos anos 80, vinha com flutuação exagerada. A
diminuição do volume geral da prancha foi acentuada apenas com o surgimento da
Era Slater, já nos anos 90. Esta prancha original, Pardhal mantém em sua
coleção, quase em tão bom estado quanto esta réplica.
SHAPES DE RONALDO BARRETO, BETO
LOUREIRO E ALMIR SALAZAR, ATRÁS DO CINEGRAFISTA, NA MOSTRA DE 2014
FOTO: DRAGÃO
29
PRANCHA ALMIR
SALAZAR
ANO 85
SHAPER \
DESIGNER – ALMIR SALAZAR
SURFISTA –
TEAM RIDER: ALMIR SALAZAR
COMPRIMENTO
– 6’0”
LARGURA – 181/2”
ESPESSURA – 21/4”
Os irmãos Salazar se transformaram numa lenda dentro do surf
santista, paulista e nacional. Lequinho nos deixou cedo, Picuruta foi para o
estrelato, colecionando títulos, mas o irmão do meio, Almir, além de ter subido
ao topo do pódio diversas vezes, se transformou num dos mais respeitados
shapers da Baixada Santista. Foi Campeão Paulista (APS) em quatro oportunidades,
nas temporadas 80/81; 82/83 e depois em 86 e também em 87. A prancha escolhida
para ser replicada foi a vencedora da Taça Primo de 85, um evento de
envergadura Nacional, realizado na época anterior à fundação da Abrasp, em São
Francisco do Sul (SC) e que contou com ondas espetaculares na Praia Grande.
Almir levou o caneco de forma
incontestável. Atualmente ele não só se destaca nos eventos de longboard
para Masters e Legends, como também (ainda) azucrina a “garotada” Senior de
pranchinha, com muito menos que os 50 anos de experiência que carrega.
Longevidade!? Você está falando com um Salazar.
FOTO: ALBERTO SODRÉ
30
GET IT
ANO 87
SHAPER \
DESIGNER – GUSTAVO KRONIG
SURFISTA –
TEAM RIDER: FRED D’OREY
COMPRIMENTO –
6’2”
LARGURA – 183/4”
ESPESSURA –
21/2”
O ano de 1987 foi a temporada de nascimento da Abrasp, pela
primeira vez foi criado um circuito de surf e um ranking homologado. Cinco
etapas definiriam um campeão ao final do ano. A última delas foi realizada em
Saquarema, na praia de Itaúna (o Maracanã do Surf), brindando a decisão do
título com altas ondas e muita emoção. Frederico d’Orey foi o vencedor,
carimbando a faixa de Paulo Matos na final. As pranchas Get It de Gustavo Kronig
eram escolhidas por surfistas como Fred, Felipe Dantas, Roberto Valério, Pepê
Lopes e outros que sempre estavam na ponta dos rankings, pois Kronig tinha a
capacidade de ouvir os surfistas, vê-los surfar, captar e passar para a prancha
suas necessidades. Gustavo alimentou as medidas do shape na máquina que fica no
Rio de Janeiro e esta prancha foi laminada na First Glass, no Recreio dos
Bandeirantes.
NO CENTRO DA FOTO, LADEADA POR OUTRAS
ESTRELAS DA COLEÇÃO, O SHAPE DE GUSTAVO KRONIG QUE FRED D’OREY UTILIZOU PARA
VENCER EM SAQUAREMA
FOTO: DRAGÃO
31
MAGIA / FÚRIA
ANO 88
SHAPER \
DESIGNER – RICARDO MARROQUIM
SURFISTA –
TEAM RIDER: CLÁUDIO MARROQUIM
COMPRIMENTO
– 6’1”
LARGURA – 181/2”
ESPESSURA –
23/8”
Ricardo Marroquim começou a shapear em 1976, seu irmão
Cláudio foi um dos primeiros grandes surfistas de Pernambuco que surgiu no
cenário dos primeiros anos da Abrasp, na segunda metade dos anos 80. Ao lado de
Carlos Burle, Eraldo Gueiros e Fábio Quencas ele formava a primeira força de
ataque pernambucana no cenário nacional. Esta prancha escolhida para ser
replicada foi importante, pois estampou a capa da Fluir de Agosto de 1988, numa
foto em que o fotógrafo Sebastian Rojas se colocou a centímetros da borda da
prancha. Hoje a fábrica Marroquim é uma das maiores do nordeste, produzindo não
só pranchas de surf de todos os modelos, como também pranchas especiais para
kitesurf e wakeboard. As pranchas do shaper Ricardo Marroquim já proporcionaram
dois títulos nacionais ao surfista de Ubatuba Ricardinho Toledo, atualmente
entre os team riders de Marroca se destacam: Álvaro Bacana, Diogo e Rodrigo
Trajano, César Aguiar (Molusco) e os masters Fábio Quencas e o próprio Cláudio
Marroquim, além da estrela sergipana, Romeu Cruz, entre vários outros.
32
PRANCHA CUSTOM
ANO 88
SHAPER \
DESIGNER – ROGÉRIO C. BASTOS
SURFISTA -
TEAM RIDER: FÁBIO GOUVEIA e shaper da réplica
COMPRIMENTO
– 5’9”
LARGURA – 181/4”
ESPESSURA – 21/4”
Esta réplica talvez seja ainda mais preciosa que a original
(que Fabinho mantém em sua casa de Florianópolis), pois foi o próprio Gouveia,
agora se aventurando cada vez mais na carreira de shaper, quem produziu esta
prancha especialmente para a Mostra de Surf. A prancha foi laminada por Rafael Simões,
na fábrica Skull, em Floripa. Com certeza uma das mais emblemáticas pranchas
desta coleção. Foi com este modelo de 1988, que Fábio Gouveia colocou o Brasil
na rota de reconhecimento internacional. Uma pedra fundamental na transformação
do Brasil em Potência do Surf Mundial. Fabinho comenta: “Rogério era um cara inovador,
que gostava de experimentar coisas diferentes e já naquele tempo eu ficava
observando ele shapear, ficava horas dentro da sala de shape, acompanhei ele
fazer várias pranchas minhas.” Sobre esta prancha utilizada no Mundial, Gouveia
destaca que ela já era uma tentativa de réplica de uma muito boa, mágica, que
quebrou. A segunda não ficou tão boa. Mas entrou para a história. Essa não vai
para a água, mas Gouveia vai fazer outra para ele.
A HOJE FAMOSA RÉPLICA DA PRANCHA DE
FÁBIO GOUVEIA, ESTA FOI A PRIMEIRA, FEITA 2008, DE UMA SÉRIE... TALVEZ A
PRANCHA MAIS REPLICADA DESTA COLEÇÃO, FOI ATÉ PROTAGONISTA DA SÉRIE 80 E TAL DO
CANAL OFF. AO LADO O BÓLIDO DE MARROQUIM QUE FOI CAPA DA FLUIR
FOTO: DRAGÃO
CLÁUDIO MARROQUIM EM SHAPE DE RICARDO MARROQUIM
FOTO: SEBASTIAN ROJAS - FERNANDO DE NORONHA
33
PRANCHÃO NECO
CARBONE
ANO 88
SHAPER \
DESIGNER – RODOLFO CARBONE
SURFISTA: prancha
pessoal
COMPRIMENTO
– 9’0”
LARGURA – 221/2”
ESPESSURA
– 27/8”
Na segunda metade dos anos 80 ocorreu o revival dos
longboards. Incrível como alguns surfistas que tiveram sua origem na era
clássica do surf se adaptaram com facilidade aos novos pranchões. Alguns
(muitos) deles ainda calharam de ser shapers. Este foi o caso de Neco, que logo
aderiu ao “movimento”. Esta prancha é uma réplica de seu primeiro longboard da
nova era, fabricado especificamente para participar do Sundek Classic de 88,
para enfrentar Nat Young, Daniel Friedmann & Cia. Durante a primeira Mostra
de Surf, realizada em 2004 no Pavilhão da Bienal (SP), uma enquete destacou
Neco Carbone na preferência do público. Hoje seu espectro de produção de shapes
varia de fishes com tamanho de cinco pés e pouco até pranchas de SUP de mais de
10 pés. Neco se transformou também num dos grandes especialistas em manipular o
programa AutoCAD, que alimenta as informações para que a máquina de shape
idealizada pelo médico paulista Luciano Leão faça a sua mágica.
34
PRANCHA SHINE
ANO 90
SHAPER \
DESIGNER – KARECA
SURFISTA -
TEAM RIDER: TINGUINHA LIMA
COMPRIMENTO
– 6”
LARGURA – 18”
ESPESSURA – 21/4”
O shaper Kareca é um dos mais antigos locais da praia do
Tombo, desde cedo se interessou pela produção de pranchas. No início fazia tudo
de forma totalmente artesanal, sem os equipamentos ideais, fabricava pranchas
na raça mesmo, sem cavaletes, com a iluminação que tinha disponível. Mas a
paixão pelo surf e a arte de shapear foi evoluindo sem cessar. Hoje Kareca se
vale de todos os aspectos mais modernos de tecnologia para continuar criando
pranchas que funcionam e surpreendem. Muitos surfistas que fixaram residência
na Baixada Santista, alguns campeões brasileiros, como Paulinho do Tombo,
Tinguinha, Jojó de Olivença, Douglas Lima, big riders como Taiu e Sylvinho
Mancusi, se valeram dos seus shapes para temporadas brilhantes. A prancha
selecionada para demonstrar o trabalho de Kareca é o modelo que Tinguinha
utilizou em 1990, para conquistar o seu primeiro título da Abrasp. A réplica
foi produzida na fábrica da Shine, na praia do Tombo.
35
PRANCHA
CRIVELLA
ANO 92
SHAPER \
DESIGNER – EDUARDO CRIVELLA
SURFISTA -
TEAM RIDER: PETERSON ROSA
COMPRIMENTO
– 6”
LARGURA – 181/2”
ESPESSURA – 23/8”
Eduardo Crivella hoje está morando em Curitiba e passou todas
as informações desta prancha, para que Neco Carbone montasse o design na
máquina de shape e produzisse a réplica no Guarujá. Peterson Rosa utilizou os
shapes de Crivella numa das melhores fases de seu surf. A longa cabeleira,
associada ao logo do Morcego na prancha e manobras de vanguarda geraram uma
aura de respeito e admiração. Foi nessa fase que surgiram os apelidos, Bronco e
Animal e também foi o momento em que Peterson entrou para o WCT, permanecendo
durante muitos anos na elite. Nos anos 90, além de catapultar Peterson e Fábio
Silva (com seus shapes) para o WCT, Crivella também forneceu pranchas para os
quivers de surfistas como Barton Lynch, Glen Winton, Bryce Ellis e Matt Hoy. Crivella
chegou a ir para a Austrália shapear. Atualmente não vive apenas da profissão
de shaper, depois de fazer Faculdade de Cinema na Estácio de Sá, Crivella se
mudou para o sul e tem trabalhado como diretor de fotografia na Mind Set
Filmes, atuando em cinema e também na televisão.
36
PRANCHA
EVOLUTION
ANO 95
SHAPER \
DESIGNER – ZECÃO
SURFISTA -
TEAM RIDER: O PRÓPRIO
COMPRIMENTO
– 7’2”
LARGURA – 20”
ESPESSURA – 23/4”
José Maciel Rennó, mais conhecido como Zecão, sempre se
destacou nas matérias de viagens que apareciam nas revistas brasileiras e
principalmente durante as temporadas havaianas, ocasião em que botava para baixo
nos mais diversos picos. Este local de Ubatuba foi um dos precursores
brasileiros a mexer com este modelo de prancha, que pode ser considerado um
híbrido entre uma pranchinha e um fun board. A primeira vez que Zecão viu
surfistas utilizando este tipo de design foi na temporada de 92 no Hawaii, nos
anos seguintes, de antenas ligadas nos desenvolvimentos ao redor do planeta,
Zecão começou a testar pranchas com estas características. As vantagens
principais são a facilidade para entrar nas ondas e principalmente a
velocidade, isso acaba provocando que manobras de pranchas pequenas possam ser
feitas com uma prancha bem maior. Essa réplica foi shapeada por Zecão, em
Ubatuba e laminada por Moacir, na Lazer, tradicional fábrica da capital
paulista. Segue as características da prancha que foi concebida no meio dos
anos 90.
37
PRANCHÃO by PASTOR
ANOS 90 \
2000’s
SHAPER \
DESIGNER – CLÁUDIO PASTOR
SURFISTAS: BERNARDO
MUSSI, RAFAEL AGUIAR, ALEXANDRE TASKILA, ROGER BARROS, CHICO e LEO PAIOLI
COMPRIMENTO
– 9’0” a 9’2”
LARGURA –
21” a 22”
ESPESSURA –
3” (máximo)
A partir de 94, Pastor chegou a um design que considera atual
até hoje, aplicando pequenas variações de acordo com o usuário e as ondas
surfadas. Este modelo, chamado MIX, é considerado um longboard “all-round”, que
pode ser utilizado para surfar uma enorme variedade de condições. Solto na
rabeta e estável no bico. Da mesma forma que as triquilhas, que foram apenas
refinadas após sua criação, para os pranchões o conjunto de alta performance
prevê a utilização de uma quilha central maior e duas pequenas quilhas
estabilizadoras. Cláudio também produziu esta prancha na First Glass, no
Recreio, embora seja uma réplica de pranchas produzidas nos anos 90 pode ser
considerado um design moderno.
38
PMD
ANO 97
SHAPER \ DESIGNER – PAULO MANDACARÚ
SURFISTA – TEAM RIDER: JOSÉ GREGÓRIO VARELA
COMPRIMENTO – 6’4”
LARGURA – 183/4”
ESPESSURA – 23/8”
Com 18
anos este paulista da capital se iniciou na arte de shapear ainda no final dos
anos 70. Suas aventuras pelo mundo o levaram do Brasil para a Califórnia, isso
já nos anos 80. Teve a oportunidade de se relacionar com shapers como Donald
Takayama, Gary Linden e Paulo Xanadu. Numa breve passagem pelo Brasil trabalhou
na filial da Linden. Em 91 decidiu tomar o rumo da Europa. Fixou-se em
Portugal, produzindo pranchas para a marca Pólen, durante seis anos, fazendo
pranchas para um verdadeiro “quem é quem” do surf português. A réplica da
coleção é uma prancha do final dos anos 90, que foi produzida para o
tri-campeão português (97/01/03) José Gregório. Desde 97 decidiu produzir
pranchas com a sua própria marca, a PMD (Paulo Mandacarú Design). Paul decidiu
voltar ao Brasil em Dezembro de 2004 e entre surfistas que já utilizaram
suas pranchas há diversos destaques no cenário brasileiro, mas seu principal
team rider é seu irmão, o free surfer Josil Mandacarú. Esta réplica
foi produzida aqui em seu atelier, localizado na Vila Romana (SP).
39
CG - CRISTAL
GARAFFITI
ANO 98
SHAPER \
DESIGNER – BETO SANTOS
SURFISTA –
TEAM RIDER: RODRIGO RESENDE
COMPRIMENTO
– 10’6”
LARGURA – 201/2”
ESPESSURA –
31/4”
No Iº Mundial de Ondas Grandes da história, em Isla Todos
Santos, no México, organizado pela ISA e patrocinado pela Reef Brazil, a equipe
brasileira era composta por Carlos Burle (o eventual campeão), Rodrigo Resende
e o técnico Rosaldo Cavalcanti. Com o quinto lugar de Resende, o Brasil ficou
com o título por equipes. O shaper de Rodrigo Resende e de muitos outros
grandes surfistas brasileiros, Beto Santos, é um dos mais completos e
tarimbados do país. Além de fazer excelentes pranchas para competir em águas
brasileiras, Beto tem experiência e conhecimento, traduzido em diversas viagens,
para elaborar pranchas que funcionem em qualquer condição de ondas ao redor do
planeta. Esta prancha original está no Museu do Surf organizado por Pardhal, em
Santos, para replicar esta prancha Neco solicitou um bloco especial. A
laminação foi feita no Guarujá.
A GUN SHAPEADA POR BETO SANTOS FOI
APRESENTADA APONTANDO PARA O FUTURO. UM NOTÁVEL ESPÉCIME DESTA COLEÇÃO
FOTO: DRAGÃO
40
PRANCHA
WETWORKS
ANO 99
SHAPER \
DESIGNER – HENNEK
SURFISTA -
TEAM RIDER: NECO PADARATZ
COMPRIMENTO
– 5’11”
LARGURA – 191/4”
ESPESSURA –
23/8”
Cláudio Walter Hennek faz parte da trinca de ases das plainas
da Wetworks. Um dos maiores atributos de um shaper é ter a sensibilidade para
captar os pontos fortes de seus atletas e traduzir para os shapes as
características que farão com que seu surf se sobressaía nas competições. Hennek
é perfeccionista ao ponto de conceber, com Trekinho, pranchas que possibilitem
a vitória em baterias com situações de ondas de uma única manobra. A prancha em
questão é uma réplica da utilizada por Neco Padaratz na final do Gotcha US Open
of Surfing 99, em Huntington Beach na Califórnia, derrotando Fabinho Gouveia.
Este embate faz parte de um momento histórico do surf brasileiro. Foi a segunda
final homem a homem, disputada apenas entre brasileiros no WCT (a primeira foi
entre Daniel Friedmann e Pepê Lopes no Waimea 5000 de 1977). O que o “Alemão”
Hennek conseguiu elevar a enésima potência, foi o impressionante Power nas
rasgadas de Neco. Ele teve a possibilidade de liberar toda energia de seu surf
mesmo nas merrecas de Huntington.
41
TROPICAL
BRASIL
ANO 99
SHAPER \
DESIGNER – AVELINO BASTOS
SURFISTA –
TEAM RIDER: TECO PADARATZ
COMPRIMENTO – 6’3”
LARGURA – 181/2”
ESPESSURA – 21/2”
Na temporada de 92, Flávio Padaratz se transformou no
primeiro campeão do recém criado WQS, uma competição ainda mais extenuante que
o WCT, para a qual a versatilidade do surfista e um equipamento de confiança
(um bom quiver) são fatores essenciais. Na temporada de 99, Teco voltou a
vencer este disputado circuito, partindo das triagens e regressando à elite com
esta vitória. Flávio se transformou no primeiro bicampeão do WQS. Isso após ter
ficado afastado das competições, tanto no WCT, quanto no WQS nas temporadas 97
e 98. Por outro lado, foi uma excelente oportunidade para testar e refinar um
design com 6 Canaletas – Turbo. Nesse período foram trabalhadas ao redor de 50
pranchas similares, até chegar a uma mágica e vencedora, com a distribuição de
volume ideal. Este modelo é considerado por eles um “talismã”, responsável por
diversos pódios e uma soma de pontos recorde no WQS para o atleta. A prancha original
está guardada na fábrica da Tropical Brasil, em Florianópolis, na qual foi
produzida esta réplica.
42
PRANCHA RUSTY
ANO 2003
SHAPER \
DESIGNER – PEDRO BATTAGLIN
SURFISTA -
TEAM RIDER: LEO NEVES
COMPRIMENTO
– 6”
LARGURA – 197/8”
ESPESSURA – 21/2”
Pedro Battaglin vem de uma história antiga no cenário do
surf, da surfwear e como shaper. Em primeiro lugar ele sempre foi um dos bons
surfistas da terceira geração carioca, que se consolidou nos anos 70. Como
shaper inicialmente lançou a marca Hotdog, depois fundiu-se com a Vic Stick de
Victor Vasconcelos, criando a HS (Hotstick). Até hoje, envolvido com o
licenciamento da Rusty no Brasil, produz pranchas e trabalha na organização
global da empresa, ao lado de Rusty Prisendorfer, tendo se mudado para a
Califórnia. Nos anos de 2002 e 2003 o atleta Leo Neves teve uma campanha
avassaladora na Abrasp vencendo dois títulos brasileiros consecutivos e vários
eventos. Foi Leo quem desenhou o outline desta prancha com três wings. Para o
surf potente de Leo, Pedro aplicou um concave acentuado (full deep) e rocker
expressivo. Saiu mágica! As medidas da
prancha foram enviadas por e-mail do arquivo de Battaglin na Califórnia e a
prancha foi produzida na fábrica da Rusty no Rio de Janeiro para estrear na
coleção da Alma Surf durante a Mostra de Arte me Cultura Surf de 2009.
43
PRANCHA
WETWORKS
ANO 2008
SHAPER \
DESIGNER – JOCA SECCO
SURFISTA -
TEAM RIDER: BRUNO SANTOS
COMPRIMENTO
– 6’7”
LARGURA – 181/8”
ESPESSURA – 21/4”
Já houve um tempo em que os melhores surfistas eram também os
shapers, designers como MR, Simon Anderson, Gerry Lopez, Wayne Lynch, Rico,
Daniel Friedmann, Carlos Mudinho iam lá e venciam competições com seus shapes.
Hoje em dia isso mudou (nem tanto – Kelly Slater acabou de vencer um Pipe
Masters com uma esquisita criação sua). De qualquer forma, a maioria dos grandes
shapers sabem do riscado, pegam onda bem. Joca Secco está nessa categoria, com
um plus, ele já foi até capa de revista e isso como surfista. No caso de Joca,
a prancha escolhida para duplicar foi cruelmente assassinada pelas ondas de
Teahupoo. A prancha que Bruninho utilizou para chegar até a final do Vonzipper
Trials em 2008, carimbando o passaporte para o evento principal que o levaria a
glória máxima de sua carreira. Esta prancha foi construída utilizando o Modelo
Bruno Santos das quilhas de encaixe Wet Fins. Um detalhe, na seqüência Bruninho
(com outros designs de Secco), continuou vencendo no Super Surf (Maresias), no
WQS (Noronha), já em 2009.
44
PRANCHA
WETWORKS
ANO 2008
SHAPER \
DESIGNER – RICARDO MARTINS
SURFISTA: RAONI
MONTEIRO
COMPRIMENTO
– 6’1”
LARGURA – 181/16”
ESPESSURA –
21/4”
Para correr as ondas do Circuito Mundial, um atleta do
calibre de Raoni precisa ter um equipamento de ponta e confiável nas mais
diversas condições. Durante as três últimas décadas o shaper carioca Ricardo
Martins vem angariando uma reputação que o coloca não só entre os melhores e
mais eficientes do Brasil, mas também de todo o mundo. Sua qualidade
profissional se traduz não apenas pelos resultados dos profissionais que
utilizam seus designs, mas também na grande satisfação de surfistas “comuns”, não
competidores, porém competentes, que confiam nas pranchas Wetworks para surfar
ao redor do globo. Ao lado de Joca Secco e Cláudio Hennek, RM compõem o trio da
Wetworks, que produz algumas das pranchas mais requisitadas do Brasil. Esta
prancha foi produzida como se fosse para Raoni correr a próxima etapa do tour e
saiu “fresquinha” da fábrica em Vargem Grande para a Mostra.
45
TOW BOARD
ANOS 2000
SHAPER \
DESIGNER – LUCIANO LEÃO
SURFISTA:
SÉRGIO PUDI
COMPRIMENTO
– 5’10”
LARGURA – 171/2”
ESPESSURA
– 13/4”
No final dos anos 90 o conceito de pouco tamanho e muito
peso, para as pranchas de tow-in ficou cristalizado. A partir deste momento
foram sendo feitos os refinamentos necessários para que os surfistas
conseguissem melhorar a performance nas ondas mais extremas do planeta. A
presença do Dr. Luciano Leão, que abandonou a carreira de médico para fazer a
diferença no mundo do surf, com sua Máquina de Shape, é um brinde a modernidade
e a capacidade do surfista, do designer brasileiro, de deixar uma marca neste
Universo do Surf. Esta prancha é o modelo utilizado por Sérgio Pudi, um dos
locais de Maresias que atacam as ondas do poderoso beach break paulista, quando
as condições ficam impraticáveis para o surf de remada.
46
STAND UP PADDLE BOARD
ANOS 2000’s
SHAPER \
DESIGNER – RICO
SURFISTAS:
WATERMEN
COMPRIMENTO
– 9’6”
LARGURA – 28”
ESPESSURA –
4”
Nos anos 2000 outro grande “revival” que vem tomando corpo, é
o das pranchas criadas para o SUP (Stand Up Paddle) surfing. Pranchas de grande
flutuação, nas quais o surfista já entra na onda de pé, se valendo de um longo
remo. Esta variação do surf na verdade era praticada por havaianos desde os
tempos antigos, época em que os pranchões de madeira maciça desciam as ondas
lado a lado com canoas havaianas. Hoje, aplicando conceitos modernos de design,
esta ramificação do esporte tomou uma característica de performance, com
surfistas mais dotados desafiando até ondas como Pipeline e Teahupoo. Rico de
Souza utilizou suas últimas temporadas havaianas para aprimorar os conceitos de
design nesta modalidade. Rico tem optado por trazer uma prancha diferente para
cada versão da Mostra de Surf.
STAND UP PADDLEBOARD DE RICO DE SOUZA,
AEROFISH AZUL DE GREGÓRIO MOTTA E UMA TOW BOARD SHAPEADA POR BIRO. AO FUNDO ROB
MACHADO COM UMA BERMA HURLEY 4 WAY STRETCH
FOTO: DRAGÃO
47
PRANCHA AEROFISH
ANO 2009
SHAPER \
DESIGNER – GREGÓRIO MOTTA
SURFISTAS - TEAM RIDERS: FREE OF SPIRIT & MIND
COMPRIMENTO
– 5’9”
LARGURA – 201/2”
ESPESSURA – 27/16”
Gregório Motta dentro desta exposição de pranchas representa
a nova geração de shapers brasileiros. Greg vem de uma família de surfistas,
seu pai, Carlos Motta, foi um dos precursores do surf em São Paulo. Ao decidir
se dedicar a carreira de shaper Gregório uniu seu amor ao surf a uma veia
artística familiar com queda para o design, especificamente a arte de esculpir
formas. As modernas fish sempre foram um dos modelos mais requisitados ao
shaper, que mantém sua sala de shape na Vila Madalena (SP). O modelo aqui
apresentado não é exatamente uma réplica, mas sim uma prancha baseada nas
tendências atuais de design. Uma das preocupações de Gregório é sempre buscar
conceitos modernos, para que suas pranchas não sejam limitadas. Constantes
viagens e o feedback de surfistas como Fabinho Gouveia e muitos outros, aliado
ao campo de provas da consistente praia de Cambury, desencadeiam uma progressiva
evolução na produção das Aerofish.
48
TOW BOARD
ANO 2008
SHAPER \
DESIGNER – BIRO
SURFISTAS:
TOW SURFERS – PILOTO DE TESTES: ALEMÃO DE MARESIAS
COMPRIMENTO
– 6’0”
LARGURA – 163/4”
ESPESSURA –
17/8”
O surfista Biro fechando esta leva de shapers que começam a
montar as estruturas de uma árvore genealógica brasileira, representa a
importância do shaper estar na água, sentindo seus designs. Quando ficou
comprovado que Maresias era uma das melhores ondas do Brasil, nosso tubo nota
10, Biro já tinha mais quilometragem dentro deles, do que qualquer outro
surfista. O próximo passo natural de evolução, nas ondas e na arte de shapear,
foi mudar-se para o Hawaii. Biro representa também uma boa quantidade de
shapers brasileiros que foram tentar a sorte, com sucesso, no exterior. Shapers
do naipe de Heitor Fernandes, Márcio Zouvi, Jorge Vicente entre outros, que
poderão compor esta coleção no futuro, com pranchas instrumentais nesta nossa
história.
49
CLASSIC LONGBOARDS
ANO 2010
SHAPER \ DESIGNER – DELTON MENEZES
SURFISTA –
TEAM RIDERS: JONAS LIMA, THIARA MANDELLI e free surfers
COMPRIMENTO
– 9’2”
LARGURA – 211/2”
ESPESSURA –
23/4”
Delton Menezes começou a surfar no início dos anos 70, aos 12
anos. Um ano mais tarde começou a mexer com pranchas. Desde garoto, ainda
surfando de pranchinha, já ostentava um estilo clássico, quando aderiu aos
pranchões isso se tornou patente. Como shaper fez pranchas para uma constelação
dos melhores longboarders de São Paulo. Trabalhou com Homero, com os irmãos
Twin e também, em associação com Pascoal, participou da marca Star Model. Mais
tarde fez sua própria marca, a Stubbies. Depois se mandou para a Caloifórnia e
em seguida Hawaii, buscou experiência na Europa, Costa Rica, África do Sul.
Hoje no Brasil vem trabalhando há 15 anos com a marca Classic Longboards, original
do Hawaii, onde morou durante cinco anos. O modelo que Delton escolheu para
representar o seu trabalho é uma prancha bastante atual. Um design que vem
desenvolvendo há algum tempo, uma prancha round pin apelidada de Pipeline. Ela
é utilizada por seus team riders, ou por qualquer apreciador da arte do
pranchão, em ondas cavadas e tubulares. Uma prancha contemporânea de alta
performance.
50
E-BOARD
(SWBOARDS)
ANO: 2010
Shaper /
Designer – Daniel Lazzareschi Aranha
Surfistas /
Team Riders: e-brigaders
Comprimento
– 6'2''
Largura – 181/2”
Espessura –
25/8”
Com características modernas e revolucionárias a e-board vem
compor esta coleção não especificamente por seu design e performance, mas sim
por ser uma prancha à frente de seu tempo. Empregando novos conceitos e a
tecnologia ‘livre de carbono’, o objetivo maior em sua fabricação é ser
ecologicamente correta, fabricada com materiais naturais, livre de emissão de
gases ou resíduos que agridam a natureza, especialmente desenvolvidos para esta
aplicação. Estas características fazem da e-board a primeira prancha ecológica
do mundo, certificada pelas maiores empresas ambientais e apoiada pela Osklen.
A inovação partiu do engenheiro de materiais Daniel Aranha, surfista desde a
infância. Com reconhecimento mundial, esta iniciativa brasileira é tendência e
destaque na área de 'eco-products'.
Hoje, esta tecnologia 100% brasileira está disponível para licenciamento a
todas as marcas e shapers que queiram colaborar com o futuro do Planeta e do
meio ambiente. Uma referência mundial em produtos sustentáveis.
Além da
curadoria das pranchas também fui convidado para fazer uma outra exibição sobre
a ligação do surf com a Bossa Nova, que foi apresentada em 2009. Em postagem futura
colocarei o texto desta curadoria, um de meus preferidos em toda minha
carreira. A inspiração foram as fotos de Alberto Sodré.
QUEM NÃO SUBIU NO MEZANINO DA BIENAL
DO IBIRAPUERA EM 2009... PERDEU! RICARDO TOLEDO, EM FOTO QUE FOI CAPA DA
HARDCORE E REPAREM O DETALHE DA ESTAÇÃO DE AUDIÇÃO
FOTO: DRAGÃO
NA MOSTRA DE 2009, ALEMÃO DE MARESIAS
E DOMINIQUE SCUDERA EM MEIO À COLEÇÃO DE PRANCHAS MEMORÁVEIS
FOTO: DRAGÃO
PEDRO MULLER DEMONSTRANDO O ESTILO DAS BERMUDAS CURTAS DOS ANOS 1980
ELE TINHA PATROCÍNIO DAS PRANCHAS CRISTAL GRAFFITI.
AO LADO PRANCHA RIP WAVE UTILIZADA POR PICURUTA
FOTO: DRAGÃO
ELE TINHA PATROCÍNIO DAS PRANCHAS CRISTAL GRAFFITI.
AO LADO PRANCHA RIP WAVE UTILIZADA POR PICURUTA
FOTO: DRAGÃO
Ao conceber
o projeto do livro A GRANDE HISTÓRIA DO
SURF BRASILEIRO uma das ideias foi trabalhar em paralelo com este blog
reproduzindo muitos textos históricos que fiz ao longo de minha carreira no
jornalismo do surf. Aguardem mais resgates, não só da Alma Surf, como também de
matérias que fiz para a Fluir e Hardcore e Venice Magazine. Ainda, um belo dia, irei traduzir um
texto que fiz em inglês para The Surfer’s Journal internacional, nos Anos
1990, antes do veículo ser lançado no Brasil. Tudo isso é história.
Ao longo dos meus quase 40 anos de surf, pude viajar no tempo e relembrar episódios da história do surf, épocas memoráveis, nomes e marcas de pessoas e pranchas que minha lembrança ainda alcança. Foi muito legal ler a matéria e lembrar de cada uma das pranchas sobre as quais pus meus pés. Muitas coisas eu não lembro, pois minha idade não chega lá. Mas o flashback que tive ao me deparar com esse acervo histórico, me emocionou! Parabéns pelo conteúdo. Pela organização e pela iniciativa de juntar os cacos da história do surf numa compilação tão rica e especial!!! Hj faço minhas próprias pranchas e não tem como não sofrer a influência de grandes nomes citados enquanto desenvolvo meus designs. Parabéns!!!!
ResponderExcluirEsqueceu das pranchas ISO Amsler ?
ResponderExcluirEsta coleção de pranchas ainda está em fase de construção, o projeto original prevê 70 (ou até mais shapers). Não só as Pranchas AMSLER, como as Xanadu, Dardal, Yahoo (do RS), Patrô do Guarujá, as TC Sufrboards de Thiago Cunha... Isso só para citar alguns shapers da lista STAND BY, para quando a ALMA SURF decidir reativar esta coleção da ÁRVORE GENEALÓGICA dos shapers brasileiros.
ExcluirSem falar em Cabianca, Márcio Zouvi e as suas SHARP EYE, que ganharam notoriedade mais recentemente.
ExcluirÉ com tristeza não ver aqui nessa seleção as pranchas de “ISO AMSLER”...minha primeira prancha zero bala que ganhei aos 15 anos...era 1075!!
ResponderExcluirhttps://surfdragonblog.blogspot.com/2014/05/novas-entrevistas.html
ExcluirLINK ACIMA FALA SOBRE YSO AMSLER
boa noite Reinaldo Dragão Andraus, se quiser colocar uma Kaluama na tua coleção da um salve, Abraço Tony Kaluama
ResponderExcluirEu tive uma Kaluma, que comprei usada do Christian Von Sydow, mas era um shape do Gary Linden.
ExcluirTenho uma prany anos 80 da k&k feita pelo Zé mudo ( mudinho ) vcs teem interesse? Linda. Amarela com a borda vermelha
ResponderExcluirTenho uma prancha Heitor fernandes em excelente estado, não sei o ano mas é uma prancha linda, se quiser s doação é só fazer contato. 21 979611950
ResponderExcluirMinha primeira Prancha foi uma usada Mudinho-RJ-Pepino(1977-13 anos), depois uma Miçairi-RJ-Copa(1978-14 anos) novinha amarela e branca em cima, monoquilha, a coisa mais linda e performática, um grande sucesso, depois uma Enrich-RJ(1980-16 anos) triquilha verde e Branca, super moderna. Lembranças de momentos incríveis surfando no Pepino, Barra, Macumba, Prainha e Grumari. Viagens pelo ES, praia de Setiba e da Baleia(tubular). Época de muita felicidade e amizades. Hoje(57 anos) surfo de Pranchão do Daniel Friedman. papa fina!!!
ResponderExcluirVi muitas dessas marcas, que acervo !! Iniciei a surfar no Guaruja com uns 5-6 anos de idade (1980). Comecei em prancha de isopor. Depois tive umas pranchas "de fibra"...como a gente chamava. Algumas Lighting Bolt, onde visitava a fabrica no pe do morro, pra dentrao das Pitangueiras. De onde o Thyola fazia sair cada joia rara. Uma mais linda que a outra, aquele cheiro de prancha nova, resina...pqp. Depois comprei uma Hot Gust na fabrica, creio que Tombo. Um cara que trabalhava la fez aquela prancha pra ele, e depois me vendeu. Acho que era glasser. Ele chamava Tico e a prancha tinha 02 "T" com arte pintado. A prancha era uma 5'11" e foi de longe a melhor prancha da minha vida. Ce so apoiava ela cavava punha na parede e ia que nem foguete!!! Abracos
ResponderExcluirñ desfazendo de nenhuma marca pq todas tem seu merecimento, agora sa faltaram algumas marcas como ex: Aqua de SP do Pierre , ítalo Marcelo, o capacete do Rio , a própria marca do Mário Braçao e outras mais histórica q várias mencionadas, Oracio de Santos
ResponderExcluir...e assim vai
É evidente que se for colocar o nome de todos que fizeram pranchas em algum momento, sempre vai faltar alguém, porém, quero dar alguns testemunhos, comprei minha primeira prancha do Aldo Cangiano, era uma com o shapee glass do Cocó, acho que foi em 1975, um foguete tinha 1,66mts, ótima, também não posso deixar de citar a Water Fox do Carlão excelente, e, outro shaper impressionante é o Valdo que shapeava conversando e ia se guiando elo tato, não tinha luz para contraste, era surforme e lixa, perfeita, muita gente nos anos 1980 teve uma Valdo, hoje acho que ele mora em Santa Catarina, não é famoso, mas, fez muita prancha boa, tinha também a Jonny Rice, não sei se é assim que se escreve corretamente, e, muitos outros ilustres desconhecidos, como na época do Saulo, poucos se lembram do Picareta que também estraçalhar as ondas nos anos 1970....e, por aí vai, obrigado pela oportunidade de dar meu humilde testemunho, abraço e parabéns pelo trabalho dedicado ao surf !!
ResponderExcluirSe for o Saulo Lira, era o shaper da PRO-ILHA de Santa Catarina. Eu encomendei uma 6'4" e veio de busão de SC até o terminal Tiete, em Sampa. A cada 2 semanas chegava mais de 15 pranchas de encomenda pra São Paulo lá no terminal. O cara bombou !!! Devia ser 1991. Tu erguia a prancha contra a luz e passava o braço por trás, dava pra ver através do bloco a silhueta do braço mexendo do outro lado. Era um tipo de "Foam" novo. No Brasil foi o Saulo que lançou. Aloha!
ExcluirVale a pena lembrar das Roni e, Mong Dreams do Jorge Dornelas,
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