segunda-feira, 16 de setembro de 2024

 

2024 FATOS & PERSPECTIVAS

DIAS HISTÓRICOS PARA O SURF BRASILEIRO

Nos ISA Games de Porto Rico um show de Medina

O dia 3 de março de 2024 apresentou ingredientes de emoção, apreensão e glória para nossa equipe que participou dos ISA WORLD SURFING GAMES realizados no mar do Caribe em Porto Rico. As performances de Gabriel Medina e Tatiana Weston-Webb foram decisivas. Ao final da competição o Brasil foi o único país a classificar 3 mulheres e 3 homens para as competições de surf das Olimpíadas que seriam realizadas no Tahiti.

IMAGEM RETIRADA DA TRANSMISSÃO DO CANAL OLÍMPICO NO YOUTUBE

EQUIPE BRASILEIRA DE SURF CLASSIFICADA PARA PARIS 2024

O que Gabriel Medina fez em Porto Rico foi estupendo. Durante os nove dias de competição ele esteve sempre inspirado, nunca caiu para a repescagem, vencendo todas as baterias que disputou, por vezes em condições difíceis de ondas. “Man on a mission” seria a melhor descrição simplista. A missão: conseguir uma vaga para PARIS 2024, ou melhor, a chance de disputar uma medalha olímpica em Teahupoo. Sua única opção seria vencer o evento. Foi E S P E T A C U L A R assistir a sua performance.

 GABRIEL MEDINA EM PORTO RICO FOTO RETIRADA DO SITE DA ISA

Com o vice de Tati na categoria e os resultados de Tainá e Luana somados o Brasil foi não só campeão por equipes no masculino, mas também no feminino e por tabela no geral. Um resultado totalmente histórico e em um momento crucial de classificação e busca pela vaga olímpica.

A ilha caribenha de Porto Rico ganha uma representatividade ainda maior na história de nosso surf competitivo. No século passado, no mundial da ISA de 1988, com a vitória de Fábio Gouveia (e toda performance da equipe) foi como se apresentássemos nosso cartão de visita para a comunidade anglo saxônica que sempre dominou o esporte e seus títulos internacionais.

Nesta década de 20, do novo milênio, o Brasil está mais do que consolidado como uma das grandes potências do surf. Os ISA GAMES vêm trazendo novas nações para integrar a comunidade a cada edição dos jogos. O que Gabriel Medina fez em Arecibo neste ano de 2024 será lembrado como uma das apresentações mais emblemáticas de toda história competitiva do esporte, em uma final com um marroquino e dois franceses. Nenhum surfista de língua inglesa no masculino.

Os “deuses do surf” conspiraram para que justiça fosse feita. A ausência de Gabriel nos Jogos de Paris, em uma onda que ele tem desfilado apresentações épicas, avassaladoras, espetaculares durante os últimos 10 anos. Seria uma perda (que não poderia ser) para o esporte surf. E não foi. Graças a Deus. E a genialidade competitiva de que muitos analistas consideram o melhor surfista competidor da atualidade. Infelizmente, como todos sabem, depois de breves soluços do mar em sua bateria semifinal das Olimpíadas, foram 17 minutos de um recesso total de ondas e Gabriel nada pode fazer. Mas depois do baque, voltou disputou e conquistou uma medalha de bronze contra um surfista do Peru.

 

NO ÚNICO DIA DE ONDAS ÉPICAS PARA OS JOGOS DE PARIS 2024 (EM TEAHUPOO) MEDINA FOI O MAIOR DESTAQUE – THREADS\ESPN

TATIANA WESTON-WEBB FICOU COM A PRATA NO SURF FEMININO. A EXPECTATIVA É QUE O SURF CONTINUE TRAZENDO MEDALHAS PARA O BRASIL NOS JOGOS. ESTA IMAGEM É DA ONDA NOTA 10 DE TATI NA ETAPA DA WSL NO TAHITI, MESES ANTES DAS OLIMPÍADAS

Tatiana, filha de uma bodyboarder gaúcha, com um surfista irlandês, que desde muito jovem morou na ilha Kauai, no Hawaii, foi a grande estrela do surf feminino brasileiro na temporada 2024. Com a prata nas olimpíadas e o terceiro lugar na WSL (Liga Mundial de Surf), a surfista nascida em 9 de maio de 1996 em Porto Alegre, deu show em diversas ocasiões durante as mais importantes competições da temporada 2024.

Outro surfista que fez as honras brasileiras neste ano olímpico foi Ítalo Ferreira. O potiguar de Baía Formosa chegou perto de seu segundo título mundial em setembro, com uma performance de desenvoltura atlética impressionante, pela segunda vez veio do início das competições no evento chamado WSL FINALS, com os 5 melhores da temporada em Trestles. Desta vez esbarrou no havaiano John John Florence na final, uma melhor de três decisiva, isso após desbancar da disputa dois australianos e um norte-americano. O mesmo já havia acontecido contra Filipe Toledo em 2022. Ítalo, campeão mundial em 2019 e duas vezes vice (2022 e 2024) venceu as etapas do Tahiti e do Brasil na temporada 2024 da WSL. Está afiado para ir à caça de seu segundo título profissional e quem sabe um segundo ouro olímpico em 2028.

ÍTALO FERREIRA EM UMA DAS QUASE 30 ONDAS QUE SURFOU NO DIA DECISIVO DA WSL NA CALIFÓRNIA EM 2024. RECORTE DO SITE WAVES

 

Daqui vamos para as habituais indicações de 1 DISCO – 1 LIVRO – 1 FILME.

 

AS BAFORADAS DO DRAGÃO

 

UM DISCO


 

UM LIVRO



UM FILME




UM DISCO – SURF LIFE – Claudio Celso

Conheço Claudinho desde muito cedo, nossa amizade ficou forte surfando as ondas de Pitangueiras, mas ele era meu colega no colégio, um ano na minha frente, era vizinho da casa da minha avó em rua do Itaim Bibi na Capital Paulista. Uma rua só de casas, hoje emparedada por prédios e mais prédios. No Guarujá, nos anos 1970, a turma de surfistas que vinha da capital todos os finais de semana, também nas férias de verão e no mês de julho, era pequena e muito unida.

ABERTURA DE PERFIL QUE FIZ SOBRE CLAUDIO CELSO PUBLICADO EM UMA REVISTA VENICE EM 2006

AMPLIANDO A IMAGEM NUM DESKTOP DÁ PARA LER 

A edição trazia também uma bela revisão histórica sobre as 4 quilhas, de Ricardo Bocão e que ganhavam projeção naquele momento. A matéria sobre meu brother guitarrista veio em quatro páginas duplas contando a trajetória de Claudinho que depois de uma longa temporada nos EUA, trabalhando com estrelas de grande fama voltou ao Brasil e vez por outra deu o ar de sua graça em diversos barzinhos do Guarujá.

CAPA DA VENICE MAG EM QUE SAIU A MATÉRIA

Entre aquela primeira turma de surfistas do Guarujá surgiram alguns músicos virtuosos. Também empresários, surfistas que trilharam os mais diversos caminhos profissionais. O CD aqui apresentado, talvez o trabalho menos famoso de Claudio Celso, mas não menos competente, foi produzido por Marco Buru, outro de nossos amigos daquela turma e que teve participação fundamental na fundação da OP, a primeira gigante da surfwear brasileira. Essa história ainda será contada neste blog.

CAPA DE TRÁS DO CD COM OS CRÉDITOS E MÚSICAS

OUÇA O DISCO NA ÍNTEGRA NESTE LINK DO YOUTUBE

https://www.youtube.com/watch?v=Hy7jy6KOfuk&list=OLAK5uy_mQLJEcM3_2Ua0rTv1wDjLPkfi9YyECAI4

 

Claudio Celso no início de sua carreira, ainda muito jovem, trabalhou com professores de música brasileiros do mais alto nível. Com sua aptidão chegou a ser convidado pela revista Guitar Player para ministrar cursos de guitarra, diversos... Da MPB, ao jazz, country, erudito, rock, ele desfilou seu talento nos mais diversos campos da música. Se mudou para os EUA. Tocou ao lado de músicos como Chet Baker, Willie Nelson, Sérgio Dias dos Mutantes, Naná Vasconcellos, Roberta Flack, Zimbo Trio... Tocou com orquestras e programas do tipo Clube dos Artistas e Almoço com as Estrelas.

OUTRA PÁGINA DUPLA DA MATÉRIA QUE FIZ PARA UM REVISTA VENICE EM JUNHO DE 2006 TRAZ A CAPA DO CD QUE LANÇAVA NA OCASIÃO

Outros álbuns dele como Brazilian Jazz e Swell (que traz uma versão esplendorosa de Bye Bye Brasil), podem ser encontrados nos canais digitais. Seu estilo de guitarra suave tem tudo a ver com o desenrolar de um swell, uma vida ligada ao surf. Aguardem novas recomendações musicais neste blog.

 

 

UM LIVRO – Em busca das gigantes do oceano A ONDA – Susan Casey

Tenho a versão brasileira deste livro, editado pela Zahar em 2010. A versão original, considerada um best seller pelo jornal New York Times, foi publicada nos EUA no mesmo ano.

CAPA DA VERSÃO EM PORTUGUÊS

Susan Casey nasceu em Toronto, no Canadá é uma escritora da grande imprensa nos EUA, dedicando-se a obras que envolvem esportes, animais e natureza sempre ligada ao mar. Escreveu para jornais e revistas conceituadas, matérias para revistas como Esquire, National Geographic, Sports Illustrated, Fortune e Outside. Ela sabe romancear situações de tensão em contato a natureza viva, ativa em modo selvagem.

O livro The Wave é um trabalho de pesquisa abrangente sobre as ondas do mar, não só sobre as ondas grandes e perfeitas procuradas pelos surfistas, como também das ondas de mar aberto, gigantescas e assustadoras, enfrentadas em meio a grandes tempestades por navios cargueiros que atravessam os oceanos. Um estudo de grande envergadura sobre como as ondas são geradas, em que regiões são encontradas as maiores. Traz relatos impressionantes de pessoas que ficaram no olho do furacão.

SUSAN CASEY AO LADO DE LAIRD HAMILTON EM UMA DAS VERNISSAGES DO LIVRO

Um dos capítulos que traz uma narrativa de grande interesse para os surfistas apreciadores das ondas gigantes é do dia em que Laird Hamilton surfou o que considera a maior onda de sua vida, em um pico chamado Egypt, no North Shore de Maui (fica entre Jaws e Honolua Bay), próximo ao porto e aeroporto de Kahului. Morando entre Nova Iorque e Maui ela acabou gerando uma amizade com Laird, de onde obteve informações importantes para ilustrar em prosa experiências radicais surfando as ondas dos mares. A Onda é um livro muito interessante.

 

 

UM FILME – A ONDA – Henrique Daniel e Breno Dines

Na verdade “A ONDA – Presente, Passado e Futuro do Surf” é uma série de quatro documentários em um total de quase duas horas. Nenhuma relação com o livro citado acima. A brilhante obra tem sido exibida no SporTV diversas vezes, nos momentos de espera das etapas da temporada da WSL. Lançado em 2023, já com imagens da primeira participação do surf nas Olimpíadas em 2021.


Títulos em que são divididos os episódios:

A ORIGEM

A COMPETIÇÃO

HERÓIS

O OLIMPO

A viagem total de quase 120 minutos é de certa forma hipnótica, pois vai costurando imagens históricas, muito bem selecionadas, com uma narrativa muito bem roteirizada e que contou com a pesquisa de um dos maiores conhecedores da história do surf no Brasil, o jornalista Bruno Bocayuva. A direção ficou a cargo de Henrique Daniel (HDaniel Stúdio), responsável pela série de reality shows Mundo Medina, entre outras produções para o Canal OFF e filmes de surf. Também é realçada a qualidade pela direção do comentarista de surf do SporTV e surfista Breno Dines, responsável por um competentíssimo roteiro.

TRAILER – A ONDA

O resultado é uma série de programas que abrangem toda história do surf competição, desde que foi introduzido em maior escala ao mundo ocidental pelo nadador medalhista Duke Kahanamoku, na primeira metade do século passado, aos incríveis eventos do circuito mundial da atualidade, até culminar na Olimpíada de Tokyo 2020 (21). Na verdade, um sonho que Duke manifestou naqueles embrionários anos em que o surf era uma atividade, literalmente, underground. Todo trabalho do argentino Fernando Aguerre para concretizar este sonho é enaltecido na obra. Bem como a importância do surfista de Niterói, Mano Ziul que criou todo ambiente tecnológico dos webcasts. Mais um legado que o surf "emprestou" ao mundo de uma forma geral.

Um bom documentário, neste belo conceito que tem sido lapidado em anos mais recentes, traz um roteiro bem elaborado, com depoimentos de pessoas que vivenciaram os momentos históricos mais importantes, tudo isso dosado com uma narrativa instigante. Em todos estes quesitos Henrique Daniel e Breno Dines pecaram pelo excesso de preciosismo. Esse primor em efetuar um trabalho com profundidade, fez a equipe buscar depoimentos de boa parte dos os campeões mundiais da IPS (1976 a 82), ASP (83 a 2014) e WSL (2015...), de organizadores do esporte, dirigentes. Daí a necessidade de ser um projeto longo, isso é um dos segredos da grandiosidade da obra.

O que transforma A ONDA um documento que merece ser assistido, foi essa quantidade, e principalmente qualidade, dos diversos depoimentos coletados, de surfistas brasileiros e estrangeiros, dosados de forma magistral ao longo dos episódios, elencados com enredo coerente e criativo. Uma mistura de imagens colhidas hoje em dia e nos mais diversos momentos da história do surf. Um trabalho que vale a pena apreciar e deve (merece) ser repetido infinitas vezes nos Canais Globsat. Os quatro episódios estão disponíveis através da Globoplay para serem assistidos a qualquer hora.

sábado, 27 de janeiro de 2024

UM DOS SEGREDOS DA BRAZILIAN STORM

O longo caminho de investimento na base

Nestes últimos 10 anos o surf brasileiro masculino vem remando de braçada na frente dos australianos, uma vez senhores do World Tour, americanos e havaianos. O grande segredo foi um “investimento” iniciado ainda nos anos 1980, que preparou nossos iniciantes para o futuro.

POSTER DO PRIMEIRO CIRCUITO LIGHNING BOLT

ANÚNCIO PUBLICADO NA CONTRACAPA DA FLUIR DE 1989


A capa dessa edição trazia Jojó de Olivença, o segundo campeão da Abrasp em 1988. A Abrasa naquele ano prepararia o time para representar o Brasil no Mundial Amador do Japão, que se realizaria em 1990 e teria surfistas como Kelly Slater e Peterson Rosa na disputa, vencida na categoria open pelo taitiano Heifara Tahutini. Após nosso resultado em 1988 no mundial de Porto Rico a expectativa era grande.

A Abrasa (hoje CBSurf) era responsável pelo ranking nacional amador, o Circuito Lightning Bolt Junior e Mirim era estadual paulista, que atualmente foi assumido pela Hang Loose com a alcunha SURF ATTACK, atraindo aspirantes de todo o Brasil para suas etapas muito bem organizadas e competitivas.

 

POSTER DO HANG LOOSE SURF ATTACK DE 2018

Novas categorias foram sendo introduzidas e hoje este circuito é um dos principais celeiros de novos talentos e um dos motivos de surfistas paulistas como Adriano de Souza, Gabriel Medina e Filipe Toledo despontarem na ponta do ranking mundial. Os circuitos Hang Loose Surf Attack, realizados apenas nas praias paulistas e o nacional da Abrasa, não foram a única razão de evolução para as novas gerações do surf brasileiro.

 

CAPA DE UM DOS VÍDEOS DO RIP CURL GROM SEARCH

CIRCUITO REALIZADO NO INÍCIO DOS ANOS 2000

 

POSTER DO QUIKSILVER KING OF THE GROMS

EM BAÍA FORMOSA NO ANO DE 2012

 

EM 2011 A BILLABONG PATROCINAVA O CIRCUITO AMADOR

DA ABRASA \ CBS E TRAZIA FILIPE TOLEDO NO POSTER

Estes circuitos espalhados pelas praias de nosso litoral foram formando nossos novos talentos. As famílias se organizavam para apoiar e prestigiar os pequenos e buscavam a educação adequada, orientação de especialistas para desenvolver carreiras. Desde os anos 1990 e no início dos anos 2000 fomos nos graduando... Na década de 10 o surf brasileiro “explodiu”, surgiu devastador como uma tempestade no cenário internacional.

 

A MARCA HD PATROCINOU O MUNDIAL WORLD JUNIOR DA ASP

A ETAPA REALIZADA NA JOAQUINA FOI VENCIDA POR GABRIEL MEDINA

O Brasil desde o início dos anos 2000 começou a preponderar nos Mundiais Pro Junior da ASP. Futuramente trarei uma postagem específica com o histórico de nossa participação e conquistas nestes eventos para surfistas abaixo dos 20 anos. O trabalho feito na base, aqui no Brasil, teve reflexo e trouxe muitos resultados em nível internacional.

A percepção internacional desta revolução forjada aqui no Brasil e estruturada por técnicos, gerentes de marketing, dirigentes, doutores, famílias, cobertura competente da imprensa e principalmente pelo talento de nossos precoces surfistas, começou com o baque do evento King of The Groms realizado na França em 2009 e com final 100% brasileira com Medina e Caio Ibelli.

 

GABRIEL MEDINA SAINDO DE SUA PERFORMANCE PERFEITA NA

FINAL DO QUIKSILVER KING OF THE GROMS NA FRANÇA EM 2009

FORAM DUAS NOTAS 10 – FOTO: PETER WILSON

EM 2010 GABRIEL MEDINA VENCEU O MUNDIAL DA ISA EM PIHA NA 

NOVA ZELÂNDIA NA FOTO COM FERNANDO AGUERRE

NO MESMO ANO DE 2010 POSTER DO GROM SEARCH NO BRASIL COM ETAPAS EM SAQUAREMA E GUARUJÁ

 

HANG LOOSE SURF ATTACK DE 2016 TRAZENDO IAN GOUVEIA OUTRO ATLETA QUE CHEGOU NA ELITE NO POSTER

 NESTA FOTO DO INÍCIO DOS ANOS 1990 ESTOU COMPETINDO EM UMA ETAPA DO CIRCUITO NATURAL ART DE SURF AMADOR, OUTRO PILAR DO SURF COMPETIÇÃO NO ESTADO DE SÃO PAULO DURANTE MUITOS ANOS.

FOTO: FERNANDO BRONZEADO

Para finalizar ainda gostaria de destacar que diversas outras empresas de surfwear no Brasil ajudaram a pavimentar esta estrada, em especial meus primeiros patrocinadores nesta minha empreitada competitiva, primeiro a Wave Rider e depois a Wagon Surf Line. Na foto aqui acima estou surfando na praia do Tombo, no Guarujá, beirando os 40 anos e trabalhando na imprensa do surf, cobrindo eventos praticamente semanais, decidi voltar a competir nas categorias master e longboard para poder escrever textos mais “quentes” com mais propriedade para comentar baterias e entender a evolução do julgamento na pele.

No momento em que preparo esta postagem histórica do trabalho de base que fizemos de forma competente ao longo de diversos anos, o Circuito Mundial de 2024, agora da WSL, está começando com as etapas de Pipeline e Sunset, arenas em que durante muito tempo nos sentíamos em desvantagem e agora temos diversos surfistas entre os favoritos. De lá iremos para Porto Rico, onde o Brasil já teve momentos de glória, para a seletiva final das Olimpíadas - ISA Games.

Conhecer a história e algumas das razões que nos levam a ter este orgulho na atualidade é importante. As outras nações do surf estão loucas para quebrar esta nossa hegemonia de uma década. Lembrando que o primeiro título de Gabriel Medina foi em 2014. Vamos ver o que vai acontecer...

Neste ano de 2024, através deste blog estarei contando histórias, mas também analisando os acontecimentos atuais que envolvem o surf brasileiro e continuarei indicando 1 DISCO – 1 LIVRO – 1 FILME a cada nova postagem. O objetivo é entreter e manter a expectativa para os próximos quatro volumes dos cinco livros que tem o objetivo de deixar registrada A GRANDE HISTÓRIA DO SURF BRASILEIRO em um nobre formato impresso com capa dura. Busquem o primeiro volume que já está disponível em livrarias selecionadas e na internet.

 

AS BAFORADAS DO DRAGÃO

 

UM DISCO



UM LIVRO



UM FILME


 

 
 UM DISCO – 4 WAY STREET – Crosby, Stills, Nash & Young

O americano David Crosby de Los Angeles, o texano Stephen Stills, o inglês Graham Nash e o canadense Neil Young, em situações variadas se juntaram no que chegou a ser chamado de um “supergrupo”. A gênese do encontro foi em 1969 durante o Festival de Woodstock, mas antes e principalmente depois, os quatro tiveram carreiras e participações estelares.

Já no meio dos anos 1960 os quatro começavam a despontar em bandas de renome que pipocavam aqui e ali após o fenômeno dos Beatles e dos Rolling Stones (estes ainda terão discos entre meus preferidos destacados e decantados aqui). Neil Young e Stephen Stills eram membros do Buffalo Springfield, formado em 1966, talvez o maior berço do “country rock”. Graham Nash participava da banda inglesa The Hollies e David Crosby do fantástico grupo The Byrds, ao lado de Chris Hillman e Roger McGuinn, com diversas guitarras distorcidas se embaralhando, criando roupagens diferentes para clássicos de Bob Dylan e criativas músicas autorais.

Após o sucesso da apresentação deles em Woodstock eles se mantiveram juntos para uma série de shows em 1970. Nos meses de junho e julho as faixas selecionadas para o álbum duplo, todo ao vivo, 4 Way Street foram tiradas de gravações em Nova Iorque, Los Angeles e Chicago. Os quatro estavam inspirados e este é considerado um dos melhores discos ao vivo da história do rock. Um álbum duplo, dois discos de vinil, quatro lados de 20 e poucos minutos cada, para ficar virando na vitrola. O primeiro disco é acústico com os quatro dedilhando seus violões, guitarras acústicas e desfilando suas maravilhosas vozes, por vezes Stills e Nash saltavam para o piano. A harmonia vocal entre eles é um dos pontos altos do grupo.

O segundo disco, poderíamos chamar de eletrônico, é um espetáculo de rock & roll, por vezes pesado, sem deixar de ser harmônico. Além dos quatro, foram suportados nos shows pelo baixista Fuzzy Samuels e o baterista Johnny Barbata. Este segundo álbum tem versões de Southern Man de Neil Young (13:45 minutos) e Carry On de Stephen Stills de quatorze minutos, que são verdadeiras jam sessions com o virtuosismo dos guitarristas elevado a enésima potência. Estes dois são verdadeiros craques do instrumento. Crosby não fica nada atrás e Nash um especialista na guitarra rítmica. As peculiaridades vocais e timbres de guitarra de cada um salta aos ouvidos de forma pungente na segunda bolacha. Diria uma bolachada. Composições dos quatro membros se alternam por todos os lados dos discos.

Se falei das raízes de cada um dos quatro, não posso deixar de falar dos caminhos futuros, todos tem discos individuais que valem ser pesquisados. Também atuaram em parcerias mais enxutas, os mais velhos Crosby & Nash fizeram diversos álbuns da dupla, não menos qualificados que dos quatro juntos. Por outro lado, chegou a ser formado o Stills Young Band. A trinca C, S & N também tem discos soberbos (diversos) e a quadra vira e mexe se encontrava. Trabalhos mais recentes individuais, já dos anos 2000, também são de tirar o chapéu.

O único deles que já faleceu, quando escrevo este texto em 2024, foi David Crosby em janeiro de 2023. Os outros três, beirando os 80 anos, continuam de certa forma ativos e homenageados com frequência. Tive o prazer de assistir a um show acústico de Crosby, Stills & Nash, nos anos 90 no auditório da University of Hawaii, enquanto trabalhava para uma de minhas coberturas de temporada havaiana para a revista Hardcore. Achei uma pena apenas o fato da ausência de Neil Young, que sempre foi meu preferido entre eles.

 

AO ABRIR O SEMINAL ÁLBUM DA ATLANTIC RECORDS UMA IMAGEM DE BASTIDORES DAQUELES SHOWS NO ANO DE 1970

Logo após o sucesso deles em Woodstock produziram um épico disco de estúdio: Déjà Vu, lançado ainda em 1970. Quem nunca ouviu este disco na íntegra, não se arrependerá de incluir na discoteca digital de hoje em dia. Outra verdadeira “master piece” – obra prima. O disco duplo 4 Way Street, foi lançado em 1971. O último disco de estúdio com os quatro juntos é de 1999, Looking Forward. Para pegar e recomendar um disco de Neil Young, aos que pouco conhecem seu trabalho: Decade de 1977 traz uma compilação de seu trabalho 1966 até 1976, um artista eclético que passeia do heavy ao soft com igual desenvoltura. Sky Trails, disco solo de David Crosby de 2017 é maravilhoso. Vale a pena descobrir e conferir diversos trabalhos em parcerias ou discos individuais de cada um destes quatro mestres. Go search, ouça, arrepie-se. Nunca recomendarei nenhuma porcaria aqui.

 

 

UM LIVRO – STOKED! A HISTORY OF SURF CULTURE – Drew Kampion

Tenho a versão em português deste livro. Editado em Portugal e impresso na Espanha em 1998, comprado na extinta FNAC aqui em São Paulo.

 

CAPA DA VERSÃO EM PORTUGUÊS

Na edição lusa eles colocam o nome de Bruce Brown ao lado de Drew, mas o renomado cineasta faz apenas um pequeno prefácio, todo conceito, texto, edição fica a cargo de Drew Kampion, um dos grandes ases do jornalismo de surf nos EUA desde o final dos anos 1960. A compilação da fotografia é um dos pontos altos da obra. Na verdade, Kampion conta a história do surf no livro, à sua moda, no final das contas a cultura do surf é o próprio surf, o estilo de vida, o esporte. Com muito critério na montagem e seguindo um roteiro muito bem elaborado e cronologicamente coerente, deixa um precioso documento.

Drew Kampion foi um dos primeiros escritores de surf que me chamou a atenção quando comecei a colecionar revistas. A Surfer mais antiga que tenho é de 1968. Numa das edições de 1969 vinha a cobertura do famoso World Contest de 1968 em Porto Rico, vencido pelo havaiano Fred Hemmings, quando os australianos Nat Young e Wayne Lynch eram os favoritos. Uma bela cobertura. Os anos 1970 foram a década em que os conceitos do que era o estilo de vida do surf, o surf profissional, a busca por ondas perfeitas ainda não descobertas e os códigos da tribo foram equacionados no maior veículo que tivemos durante décadas: as revistas. Drew trabalhou na Surfer e na Surfing com igual desenvoltura, habilidade jornalística, licença poética e competência. O livro Stoked é com certeza seu trabalho de maior envergadura.

 

PÁGINA DUPLA COM GERRY LOPEZ EM DESTAQUE

CONTRACAPA DO LIVRO EM PORTUGUÊS COM AS OPINIÕES DE DIVERSOS ILUSTRES SURFISTAS SOBRE A OBRA - AMPLIE NUM DESKTOP PARA LER

A princípio o linguajar na versão em português surpreende e parece que a tradutora, Sandra Oliveira, tinha pouca intimidade com o surf. Em muitos dos parágrafos ao ler, tentei fazer um exercício para imaginar quais teriam sido as palavras originais utilizadas por Drew Kampion. Trabalhando pela Fluir nos anos 1980 e depois pela Hardcore a partir de 1990, sempre traduzi diversos textos, histórias de fotógrafos, matérias originais de revistas internacionais que buscávamos autorização para publicar aqui e o meu cuidado era incrível para encontrar um linguajar que estivesse de acordo com nosso modo de se comunicar.

 TRECHO DE MAIS UMA PÁGINA DA VERSÃO PORTUGUESA

Recomendo para quem lê em inglês a versão de 1997 de Drew Kampion. O livro é maravilhoso de qualquer forma e independente do português escrito em Portugal ter muitas nuances de linguística peculiares, chega a ser divertido buscar o feeling da redação original nas entrelinhas deste livro. Nada disso tira o valor de uma das obras literárias mais valiosas da cultura do surf. Ao virarmos cada página do livro “Stoked! A History of Surf Culture” percebemos o esmero com que Drew Kampion pensou, planejou, usou sua vivência e seu conhecimento, para executar. Grandioso trabalho.

 

 

UM FILME – SURFERS: THE MOVIE – Bill Delaney

Com prazer que passo de uma dica valiosa da literatura, para outra não menos importante da filmografia de nosso adorado esporte. No final dos anos 1980 Bill Delaney que já havia adquirido fama ao lançar o filme Free Ride em 1977, partiu para um projeto ainda mais ousado. Para montar Surfers: The Movie começou a coletar uma série de entrevistas com surfistas famosos daquele momento e até mais antigos. Um dos maiores atrativos do filme são os depoimentos de Miki Dora e Owl Chapman. Na verdade, todos, muito bem escolhidos e editados.

O filme trabalha com imagens grandiosas de astros da ponta do ranking na época como Carroll, Pottz, Occy e Curren... Já traz um jovem e cabeludinho Kelly Slater e dá fala a algumas das lendas vivas do surf. A dosagem da mistura de imagens atuais e pesquisa em arquivo está muito bem balanceada e o que acaba ocorrendo é uma narrativa mágica do que era ser um surfista no final daqueles anos 1980, um tempo em que o fator comercial e grandiosidade das marcas de surf ainda não havia transfigurado a “alma” do surf.

Essa transfiguração ocorre de uma forma ainda mais violenta agora, nos Anos 2020, deste século muito mais forte que em 1920, quando Duke Kahanamoku decidiu espalhar o Espírito de Aloha pelo planeta. Quanta mudança? O que não podemos negar é que Surfers: The Movie faz um retrato de um tempo especial, com personalidades marcantes que tem o que dizer. As imagens de dentro d’água registradas por Dan Merkel e apresentadas em câmera lenta, a qualidade dos takes e falas em cada entrevista, a bela trilha sonora fazem diferença.

Abaixo link no Vimeo para um trailer deste filme, que teve uma edição reformulada pelo autor em 1991:

https://vimeo.com/429475822

Para fechar com uma pitada de Brasil nesta história toda, achei interessante lembrar de uma bela reportagem de Fred d’Orey que saiu publicada em uma revista Fluir do início de 1990, depois que Miki (ou Mickey com muitos ainda o chamam) Dora passou pelo Brasil em 1989.


 

Era sua segunda viagem para cá, já havia estado em nossa terra no ano de 1969 e passou sob o radar dos surfistas da época. Dora é um personagem icônico de toda essa cultura e estilo de vida do surf. Sinalizou rotas e modos de ação dentro e fora da água. Nem todas as atitudes eticamente louváveis, mas isso não chegou a ofuscar a idolatria pelo surfista mitológico até seus últimos dias.

ALGUMAS FRASES DE MICKEY DORA TIRADAS DA ENTREVISTA QUE DEU PARA O FILME SURFERS: THE MOVIE - FAÇA DOWNLOD PARA LER - VALE

Fred d'Orey, possivelmente o primeiro surfista a dar um aéreo em baterias de campeonato, de alguma forma conseguiu as fitas completas com o depoimento de Dora, pérolas a se guardar... Miki faleceu em 2002 e seu legado deve perdurar eternamente na memória de um estilo de vida, que vem sendo distorcido e moldado ao mesmo tempo desde que ele resolveu abandonar sua querida Malibu em fuga do crowd, em busca do sonho que esvanecia. Esvanece até hoje, dependendo do ponto de vista e metas de cada surfista. De alma, ou sem alma.

DUPLA DO CAPÍTULO SOBRE OS WAIMEA 5000 NO PRIMEIRO VOLUME DE MINHA COLEÇÃO DE LIVROS. O AÉREO DE FRED É UM DOS DESTAQUES NA ABERTURA DA MATÉRIA DA VISUAL ESPORTIVO REPRODUZIDA AQUI

O mundo não vai parar de girar. As ondas não vão parar de rolar. O nível do surf competição não vai parar de ser elevado. Foi lindo viver os momentos passados dos anos 50 na Califórnia antes do filme Gidget atiçar as massas; dos anos 60 no Hawaii antes de qualquer briga territorial; dos anos 70 e tal no Brasil desbravando praias virgens e vivendo festivais encantados; dos anos 80 pelo mundo afora descobrindo novas fronteiras de surf; dos anos 90 com uma profissionalização vertiginosa com cifras milionárias entrando em cena.

E nos anos 2000, um país do terceiro mundo se tornou o epicentro do surf competição, com uma geração premiada de atletas (literalmente), que estão preparados para defender essa hegemonia em mais um ano olímpico. No final deste mês começa o Lexus Pipe Pro a primeira etapa da temporada de 2024 da WSL. Uma coisa está clara no primeiro escalão do surf competitivo masculino: o Brasil é o país a ser batido. Que venham os desafiantes.

https://reidragao.wixsite.com/hsurfbr/projects-ca4p

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

ADAPTAÇÃO AO QUE VEM PELA FRENTE

O ano de 2024 certamente trará surpresas

Está claro que o surf competição está passando por uma grande transição, em nível mundial e aqui no Brasil também. Este processo já vinha ocorrendo antes da pandemia de 2020\2021 e foi agravado por ela. Mas podemos vislumbrar boas mudanças.

FASES DO CIRCUITO BRASILEIRO

ETAPA DO PRIMEIRO CIRCUITO EM 1987, PATROCÍNIO DA SURFWEAR

MESSIAS FELIX NO SUPER SURF E A CHAVE DE UMA CARRO NA MÃO

BRASIL SURF PRO EM BÚZIOS, DUROU DE 2010 A 2012 

A Abrasp foi a entidade responsável pela estruturação do surf profissional no Brasil, fundada em 1987, em conjunto com a Abrasa que cuidava do surf amador. Nos anos 2000 criou-se um novo projeto com o SUPER SURF, ancorado na estrutura do Grupo da Editora Abril, foram buscados grandes patrocinadores e num período de 10 anos diversos carros foram dados como premiação, para homens e mulheres. Em 2010 entrou em cena a empresa de eventos Brasil 1, que alterou o nome do Circuito Abrasp para BSP – Brasil Surf Pro, a empreitada durou três anos com patrocínio principal da Cerveja Skol e da Petrobras, trazia também a participação da marca HD – Hawaiian Dreams.

No final dos Anos 2010 os patrocínios foram diminuindo, o foco se voltou com grande atenção para o circuito mundial, quando começaram nossas vitórias na elite com Gabriel Medina, Adriano de Souza... O circuito brasileiro não parou, mas passou por uma fase mais difícil, pouco patrocínio. Por outro lado, a Abrasa, que havia dado lugar a CBSurf (Confederação Brasileira de Surf), também começou a enfrentar alguns problemas e apenas após a pandemia ocorreu um ressurgimento em grande estilo dos circuitos nacionais.

A ÚLTIMA ETAPA DO DREAM TOUR DA CBSURF EM 2023 CONTOU COM ONDAS DE RESPEITO NA BARRA DA TIJUCA, COMO ESSA DE MESSIAS FÉLIX NO PENÚLTIMO DIA DO EVENTO (ABAIXO LINK PARA O INSTAGRAM DELE)

https://www.instagram.com/p/C0uKq1bg0vY/

Atualmente a CBSurf está organizando os circuitos profissionais e amadores no Brasil. Neste mês de dezembro, após seis etapas foram definidos os campeões profissionais da temporada 2023: Tainá Hinckel da praia da Guarda do Embaú no feminino e o paulista Weslley Dantas de Itamambuca no masculino.


PÓDIO NO MEIO DA BARRA APÓS A ÚLTIMA ETAPA DE 2023

DA ESQUERDA PARA DIREITA A VICE CAMPEÃ NA BARRA KEMILY SAMPAIO (SP), OS CAMPEÕES DA ETAPA DO RIO: LUEL FELIPE (PE) E JULIANA DOS SANTOS (CE), COM VALES BOLSA DE ESTUDOS E AINDA LEVANDO CHEQUES DE R$ 40.000,00 PELA VITÓRIA NA ETAPA. COM O TROFÉU DOURADO OS CAMPEÕES DA TEMPORADA TAINÁ HINCKEL (SC) E WESLLEY DANTAS (SP), COM O TROFÉU ACIMA DA CABEÇA WESLEY LEITE (SP), QUE FOI VICE NO RIO E OS TERCEIROS COLOCADOS RYAN KAINALO (SP), DIANA CRISTINA (PB), NICOLE SANTOS (PE) E VITOR FERREIRA (RJ)

WESLLEY DANTAS NA BARRA, NÃO VENCEU NENHUMA ETAPA DA TEMPORADA, MAS A CONSITÊNCIA LHE PROPORCIONOU O TÍTULO  


Nas páginas dos cinco livros da coleção “A Grande História do Surf Brasileiro” trarei detalhes sobre todos os aspectos da evolução das eras de competição e como o esporte surf foi se estruturando em nossas águas. Todos os campeões, nacionais e estaduais serão elencados. No próximo episódio deste blog, o primeiro de 2024, trarei algumas informações sobre os campeonatos júnior, mirim e iniciantes, tão importantes na formação da base e que foram essenciais para nossa excelência internacional nos tempos atuais. Mas agora fecho minha última publicação no ano de 2023 com mais três dicas:

AS BAFORADAS DO DRAGÃO

UM DISCO


 

UM LIVRO

 

UM FILME

 

UM DISCO – MISTERY TO ME – Fleetwood Mac

O conjunto teve sua origem na Inglaterra, como um grupo de blues raiz e se transformou num fenômeno pop no meio dos Anos 1970 com o lançamento de seu mais famoso álbum, Rumours em fevereiro de 1977. Uma série de grandes guitarristas passou pelo Fleetwood Mac, mais impressionante ainda é a constelação de incríveis vocalistas que atuaram nos lead vocals e podemos dividir a história da banda em três diferentes fases.

A fase inicial do grupo, durante os anos 1960 tinha como vocalista o guitarrista Peter Green. Peter era o líder da banda, embora o nome foi tirado da “cozinha”, o baixista John McVie e Mick Fleetwood, baterista, que teve um restaurante com seu nome arrasado no incêndio de Lahaina em Maui, ambos permanecem na banda até hoje. Os três primeiros discos do Mac eram do mais puro blues, pesado e arrastado, com influência norte-americana. Peter Green é o compositor e criador da versão original de Black Magic Woman, que ficou famosa com Carlos Santana. A gênese do grupo foi em 1967 e nos primeiros discos vinha escrito na capa: PETER GREEN’S FLEETWOOD MAC.

A segunda fase do grupo, de onde sai Mystery to Me tem a guitarra jazzística de Bob Welch, também vocalista e já a participação da esposa de John, Christine McVie, de voz doce e ampla gama vocal. Neste disco o outro guitarrista é Bob Weston. Por todo o período inicial do Fleetwood Mac, os 10 primeiros anos, passaram guitarristas de primeiro calibre, ainda junto com Peter Green, Danny Kirwan e Jeremy Spencer. Todos os álbuns até 1975 são altamente recomendáveis, distintos um em relação ao próximo e valem audição completa.

CAPA INTERNA DE MYSTERY TO ME
A RAZÃO DE OS DISCOS ANTIGAMENTE SE CHAMAREM ÁLBUNS
ALÉM DE FOTOS DA BANDA SACAVAM-SE AS LETRAS DE DENTRO 

A terceira fase da banda se concretiza com a entrada dos virtuosos Lindsay Buckingham e sua esposa Stevie Nicks a partir da segunda metade dos Anos 1970. Um casal apaixonado e briguento, mas que teve na música e no equilíbrio dos McVie e de Fleetwood a base para ancorarem mais uma sequência de discos maravilhosos. Entre tantos, é possível destacar Lindsay como o mais feroz dos guitarristas do Mac. Nicks trouxe um contraponto aos vocais de Christine, a versatilidade vocal do Fleetwood Mac sempre foi um dos pontos altos da banda.

Mas vamos a história do por que da minha escolha por este álbum? Há uma pitada de surf envolvida nesta opção. 

O disco é de 1973 e no meio dos anos 1970 apareceu pelo Guarujá um surfista da Flórida, Mike Tabeling, já campeão de diversos eventos nos EUA, desde a época dos pranchões e posteriormente, como shaper também, se transformou em um dos masters com as pranchas modelo fish. Foi Mike que nos apresentou o som do Fleetwood Mac, especificamente Mystery to Me.


MIKE TABELING EM FOTO DE ANÚNCIO DA MARCA SUNDEK

Para nós do Guarujá era muito raro, motivo de curiosidade e aprendizado, quando apareciam surfistas estrangeiros surfando as nossas ondas. Tive uma ideia do talento desse cara em um dia de marolas na praia de Pitangueiras. Lembro que viemos (Mike, Égas – meu surfista preferido do Guarujá e eu) andando pela praia desde o Canal, no canto direito, em direção à Ilha que fica praticamente no meio da praia. Nenhuma vala estava muito boa, as ondas em torno de 1 pé, tipo meio metro, bem fracas. Ao passarmos pela ilha. Mike decidiu cair lá, bem em frente. Era um lugar que nunca surfávamos. As ondulações que vêm dos dois lados da Ilha Pombeva, se encontram formando micro-picos, praticamente sem paredes, mas sempre bem formados. Tabeling falou “Vamos cair aqui” e foi entrando no mar enquanto Égas e eu olhávamos meio incrédulos. Mike foi entrando, se esgueirando por piquinhos que pipocavam aqui e ali. Quando escolheu a primeira onda já deu um cutback super veloz, usou o rebote na espuminha para acelerar e saiu em zig-zag a mil por hora gerando velocidade do nada.

Mike Tabeling era um surfista excepcional, sabíamos disso, pois figurava como uma das estrelas das revistas importadas – só o que tínhamos de referência escrita e fotográfica. Meu amigo que hospedou ele contou que o cara acordava no meio da madrugada, Fleetwood Mac rolando a mil no quarto de empregada, onde ele dormia, para fumar um baseado e eram vários por dia. Fora a loucura, naqueles poucos dias que passou por aqui fez um surf admirável e muito acima do nosso padrão. Foi até Imbituba em uma barca com a turma do Guarujá. São histórias que podemos rir ao lembrar passados 50 anos.

UM LIVRO – THE ENCYCLOPEDIA OF SURFING – Matt Warshaw

Matt Warshaw é um de meus escritores favoritos ao falar sobre surf, autor de diversos livros e principalmente esta empreitada de folego A ENCICLOPÉDIA que além da versão escrita, com a capa apresentada acima, tem a versão da internet com um custo mensal barato para acessar uma infinidade de informações ilustradas. Antes de se dedicar aos livros foi editor da revista Surfer e lembro de parar em meio a textos, tipo coberturas da temporada havaiana, em que eu não havia ido ao Hawaii e pensar: “Cacilda! Como esse cara escreve bem e sabe contar uma história”, tinha aquela capacidade de nos transportar ao North Shore, relatando toda pressão, ação, emoção... Uma verdadeira escola de cobertura jornalística de surf.

Warshaw é alguns poucos anos mais novo do que eu, mas começou a trabalhar na imprensa do surf antes, eu comecei apenas com 30 anos, em 1986. Como pretendo manter estas dicas DISCO\LIVRO\FILME por um bom tempo em minhas postagens futuras, é inevitável que outras obras de Matt Warshaw sejam citadas aqui. Recentemente ele pegou toda obra original deste livro, que já estava disponível na web de forma ampliada e revisou de cabo a rabo. Inclusive se preocupou em incluir diversos novos verbetes com surfistas brasileiros ausentes no livro. No ano de 2023 ele mergulhou na empreitada de revisar tudo, editar, corrigir, aumentar. Tudo, letra por letra. Um trabalho hercúleo.

Abaixo o link para acessar seu site, recomendo para quem gosta de ler em inglês a um custo mensal de cinco dólares. Um trabalho que vale a pena ser prestigiado. Tudo e mais um pouco sobre surf está ali.

https://www.eos.surf/


UM FILME – FIVE SUMMER STORIES – MacGillivray & Freeman

Há uma (talvez duas mãos cheias), pequena quantidade de filmes de surf que merecem entrar para a categoria dos clássicos. Five Summer Stories é um desses. Os norte-americanos Greg MacGillivray e Jim Freeman já vinham produzindo filmes de qualidade desde o tempo dos pranchões, ainda nos Anos 1960. Não foram pioneiros nestas produções como John Severson, Bud Browne, Greg Noll, Bruce Brown, Dale Davis... mas entraram em cena com um padrão de qualidade elevada. Em uma época em que as produções de filmes de surf funcionavam da seguinte forma: os cineastas em 16, ou 35mm pegavam suas pesadas câmeras, rolos e rolos de filmes e começavam a filmar em suas praias locais, sempre no Hawaii e algumas viagens. Com o material de um ano, por vezes um ano e meio, ou dois, três, quando achavam que tinham material suficiente, montavam e lançavam o filme.

Five Summer Stories teve sua primeira versão no ano de 1972, são cinco segmentos e o primeiro deles tem o foco para Pipeline. Em 1972 as pranchas ainda estavam sendo aperfeiçoadas para as ondas de Pipeline. A dupla MacGillivray e Freeman registrou toda revolução que foi alterando as pranchas dos longboards originais para as pranchinhas. O que foi chamado “Shortboard Revolution” é registrado em Waves of Change de 1969. Eles filmaram surf desde 1963, passaram pelo Brasil em 1965 com o campeão americano Mark Martinson e o amigo Dale Struble, filmaram no Rio.

Five Summer Stories foi uma despedida do surf, pois partiram para voos mais altos e abrangentes utilizando IMAX, uma tecnologia disruptiva nos Anos 70 e criando peças de publicidade aclamadas. Na verdade, nunca abandonaram as cinco estórias do verão, fizeram versões atualizadas 5 PLUS 4. Venderam material para diversos outros cineastas, ao longo dos anos. No filme original além da sessão inicial em Pipe com destaque para Gerry Lopez, são traçados perfis de astros da época como Jeff Hakman, Barry Kanaiaupuni, o australiano Terry Fitzgerald e o sul africano Shaun Tomson. O contraste de estilos, com assinaturas singulares, gestos sobre a prancha é patente e admirável até hoje, com monoquilhas embrionárias, pranchas difíceis de surfar, porém manejadas com arte. O filme tem um fluidez musical e de imagens que é cativante.

Abaixo um trailer de uma reedição mais atual da obra prima:

Este blog fica por aqui em 2023.

Mais HISTÓRIAS DO SURF em 2024...

E prometo ser incansável na empreitada de lançar os próximos 4 VOLUMES (livros) de minha obra.

WWW.HSURFBR.COM.BR