INTRODUÇÃO À
POSTAGEM DO CAPÍTULO 7
Uma primeira
observação que eu gostaria de reforçar aqui é que este será o “último” dos
capítulos apresentados neste blog de forma similar ao que sairá no livro.
O livro como
um todo terá mais de cinquenta capítulos.
A ideia foi
apresentar um esboço dos quatro tipos de capítulos.
Capítulos 1; 3; 5; 7; 9; 11... Todos os capítulos ímpares do livro serão de MEMÓRIAS do surf brasileiro. Eles tem o objetivo de contar de forma cronológica essa história. Com certeza, a partir do momento que mergulharmos nos anos 70 e depois nos tumultuados e abrangentes 80, o foco se abrirá de certa forma que a noção linear de narrativa terá de ser abandonada para o entendimento de fenômenos que transcenderam décadas. Porém, a clareza de nossa evolução permanecerá explicita.
O livro será construído de forma a permitir a leitura contínua, ou que se desfrute de cada capítulo de forma singular, alternadamente.
O Capítulo 2 – PICOS DE SURF – trouxe uma perspectiva da região costeira da cidade do Rio de Janeiro, este tipo de capítulo que ainda trará regiões como Imbituba e Garopaba, Litoral Norte de São Paulo, Saquarema e diversas regiões do Nordeste, culminando com Fernando de Noronha, é grande, ilustrado com mapa e traz depoimentos de surfistas locais.
No Capítulo 4
– ÍCONE – foi apresentado um perfil de Rico de Souza. Surfistas selecionados
terão capítulos de 8 páginas dedicados à sua trajetória, importância e legado
ao surf nacional.
Capítulo 6 –
CAMPEONATOS – (veja a postagem abaixo de novembro 2013). As competições de surf estarão
divididas em fases de amadurecimento, além de menções em todos os tipos de
capítulos, como no texto apresentado a seguir.
Antes de
entrar propriamente no texto deste sétimo capítulo, eu gostaria de deixar mais algumas observações:
- O surf no Estado de São Paulo se desenvolveu em lampejos e com artefatos diferentes;
- É como um quebra-cabeça que está sendo montado e algumas peças ainda não foram encontradas;
- As entrevistas que colhi até o momento não chegam nem a 10% do que planejei para que o conteúdo do livro atinja a qualidade almejada;
- Mesmo nos capítulos já colocados (do Rio de Janeiro), há uma infinidade de informações a serem cruzadas, enriquecidas...
Isso posto,
vamos ao texto baseado nas informações coletadas até o momento. Como poderão perceber estes textos não estão completos e não serão os definitivos, mas eu quis honrar o
prazo proposto de entrega de um capítulo por mês durante todo o segundo semestre de
2013.
Este blog não
vai parar de lançar novidades referentes ao livro, ficará até mais dinâmico,
com uma série de curiosidades na medida em que a pesquisa se aprofundar, mas
não mais em forma de CAPÍTULOS.
Para o
desfecho... Teremos de aguardar o resultado final da obra impressa!
SITE DO LIVRO: http://www.hsurfbr.com.br/
Confesso que inclusive
eu estou curioso para ver como isso vai ficar. Minha mente está aberta e a disposição é infinita para fazer o melhor trabalho.
CAPÍTULO 7
Vinheta “MEMÓRIAS”
(by Tom Veiga)
SÃO PAULO
ANOS 60
Recomeço
O Segundo
Grande Polo do Surf Nacional
Influenciados
pelas pranchas de madeirite do Rio os paulistas encontram o seu caminho.
O surf em São Paulo se desenvolveu com suas peculiaridades. De forma
diferente do Rio de Janeiro, que teve um foco central no Arpoador, na vasta
costa do Estado de São Paulo, com ondas propícias para os iniciantes, o surf se
desenvolveu em três regiões principais. Ubatuba ao norte, Guarujá (Ilha de
Santo Amaro) e o berço original: Santos e São Vicente. Como vimos no primeiro
capítulo do livro a Cidade de Santos, a maior do litoral paulista, foi o
cenário dos primeiros registros do surf em território brasileiro. Após um breve
hiato o surf se re-estabeleceria ali de forma definitiva.
Conheça os novos pioneiros paulistas.
Depois que Osmar Gonçalves foi morar no
interior, Thomas e Juá Hafers foram para os EUA, Margot Rittscher ainda
continuou deslizando sobre as ondas. No meio dos anos 40, teria a arte do surf
(de pé) sido abandonada nas praias paulistas?
Talvez haja um elo perdido nesta
história, mas até que ele seja encontrado, vamos trabalhar com o que temos de
concreto.
Conversando com o professor Francisco
Alfredo Alegre Araña (Cisco), que há duas décadas comanda a Escola Radical,
localizada no Posto 2 em Santos, shaper, atleta de chegada desde os eventos da
década de 70 e um verdadeiro mestre e estudioso do surf, ele me passou nomes de
uma série de pessoas que podem ter informações chave nesse desenvolvimento do
surf no Estado de São Paulo. Muitas ainda serão procuradas...
Cisco começou a surfar em 1968 com um
pranchão francês Barland/Rott 9’8”, que comprou da família Hirano. Ele conta: “Antes
disso cheguei a surfar com modelos de prancha caixa de fósforo e também
madeirite, antes de ganhar a minha de fibra. Ainda na década de 60 tive uma
segunda prancha de isopor, embalada com celofane.”
Cisco tem guardada em sua casa uma
prancha de madeirite original de 1964 fabricada por Geraldo Faggiano, pai do
Cocó. Suas maiores influências foram Homero Naldinho e Horácio Cocada. Mais
tarde o Flávio La Barre.
Através de indicação de Cisco cheguei a
Manoel dos Santos, que completará 75 anos em fevereiro de 2014, hoje ele dirige
duas escolas de natação e academias em São Paulo.
ENTREVISTA
MANOEL DOS SANTOS JUNIOR
(Dezembro
2013 – Morumbi São Paulo)
Nascido
em 22 de fevereiro de 1939 em Guararapes no interior de São Paulo.
Em
1957 mudou-se para Santos e treinando no Clube Internacional de Regatas com os
técnicos Adalberto Mariane e depois com o japonês Minoru Hirano, fez parte da
seleção brasileira de natação para os Jogos Olímpicos de Roma, em 1960,
conquistando a medalha de Bronze nos 100 metros – nado livre. Em 1961 bateu o
recorde mundial nesta prova, mantendo-o por três anos.
No
início dos anos 60 mudou-se para São Paulo, finalizando a sua carreira no
Esporte Clube Pinheiros.
UM DOS REPONSÁVEIS PELO RENASCIMENTO DO SURF EM SÃO PAULO
Vamos
ver o que MANOEL tem para nos contar:
“Morei
em Santos de 1957 até 1960, fui para lá para treinar. Depois do término de
minha carreira na natação, minha noiva era de Santos, eu descia todos os finais
de semana e ia surfar em Itararé (São Vicente). Eu surfava junto com Roberto
Hirano, que era o filho do meu técnico e tinha mais ou menos a mesma idade que
eu. Na época em que eu treinava natação cheguei a morar na mesma casa que ele.
Juntos
fabricamos umas pranchas de isopor, com reforço (longarina) de madeira.
Isolávamos a prancha com fitas, várias voltas, para poder aplicar a lã de vidro
com a resina. Nós fazíamos toda a forma da prancha, às vezes exagerávamos na
curva, ficavam tortas demais. As longarinas (às vezes duas separadas) que davam
a envergadura, era um serviço de marcenaria.
A
ideia veio de nossa cabeça, depois de vermos filmes de Hollywood, nos quais
apareciam surfistas. Foi no verão de 1958 para 1959 que decidimos fazer as
primeiras pranchas. Elas mediam de 2,30 a 2,40 metros. Eram iguais às que
havíamos visto nos filmes, apenas diminuímos o tamanho para aumentar a
resistência, pois quanto maiores, elas quebravam mais fácil. Essas pranchas
eram muito pesadas. Quando colocávamos muita lã de vidro e resina elas ficavam
pesadas demais, e se diminuíamos elas perdiam a consistência e se partiam. Não
havia uma espuma certa para isso, usávamos o isopor e este não tinha
resistência nenhuma. Primeiro fizemos pranchas com uma longarina, depois duas e
ficaram um pouco mais resistentes. As pranchas não duravam nem dois meses,
mesmo se surfássemos apenas nos finais de semana. Quando percebíamos que elas
iam quebrar... Já estávamos fazendo um modelo diferente, mais reforçado. O
Hiraninho deve ter feito umas 15 a 20 pranchas nesse período. Passávamos vela
para não escorregar.
Nosso
foco principal era treinar a natação, mas nos dias que apareciam ondas boas,
não era sempre, eu e o Hiraninho íamos para a praia. Não tinha mais ninguém,
éramos só nós dois, no início. Nos finais de semana chegava a amontoar gente na
beira da praia para nos ver surfar. Surfávamos mais no inverno, por ter menos
gente. Quando perdíamos a prancha era perigoso acertar alguém na beira.
Depois
eu fui para o Havaí em 1961, fui para nadar, tirei muitas fotos do pessoal
surfando em Waikiki, das pranchas e trouxe isso para usarmos de base. Em 1961
as pranchas do Havaí já eram de fibra de vidro.
Preferíamos
a praia de Itararé porque as ondas eram mais longas. O Hiraninho era menor do
que eu e com isso era mais prático, fazia mais manobras, até o spinning (giro
do corpo sobre a prancha), mas basicamente íamos nas ondas e subíamos e
descíamos um pouco na parede, não fazíamos cutbacks, íamos seguindo na onda.
A
partir de 1962 para 1963 deixei de ir para Santos e a turma de surfistas não
chegava a dez pessoas. O Hirano continuou surfando, chegou a mandar vir
pranchas do Havaí, já começaram a aparecer vários outros surfistas. Lembro que
uma vez fui para o Guarujá, em 1963 para 1964 e já tinha uns trinta surfistas,
lá na praia das Astúrias.”
Manoel informou que não tem nenhuma foto ligada ao surf em seu acervo, mas ainda carece de uma pesquisa em arquivos da Tribuna e pessoais.
A
TURMA CRESCE COM AS MADEIRITES
Hiraninho,
ou Jô Hirano, como ficou conhecido pela maioria da turma de surfistas de Santos
e São Vicente, já faleceu, mas seu nome é citado por diversos pioneiros de
Santos que surfam até hoje. Podemos colocar o ano de 1963 como instrumental
para que o surf desabrochasse com força no Estado de São Paulo. Dos primeiros
praticantes na praia de Itararé, em São Vicente, o surf foi se alastrando por
Santos, depois Guarujá, chegou a Ubatuba e foi até o litoral sul. As ondas de
São Paulo, como todos sabem, são muito diversificadas e excelentes para a
prática do surf, desde o nível para experts, como a praia da Paúba em São
Sebastião, às tranquilas ondas do Canal 3 em Santos.
A
praia de Itararé com suas ondas que aparecem lá fora, quebram, formam e
reformam diversas vezes, propiciando longos passeios buscando paredes abertas
em seu percurso formavam o cenário perfeito para extrair o máximo daquelas
pranchas de madeirite.
A
evolução foi muito rápida, tudo acontecia em meses e as novidades surgiam
trazidas cada vez por um adepto diferente. A maioria destes primeiros surfistas
era composta pela turma dos nadadores: Jô Hirano, Di Renzo, os irmãos Paioli - José
e Francisco... Cocó – Eduardo Faggiano, e seu irmão Geraldo Faggiano Junior,
amparados pelo pai, Geraldo fabricaram pranchas primitivas, pesquisaram e
ajudaram muito na evolução do surf paulista.
Praticamente
todos estes garotos que começavam a surfar com 11, 12, 13 anos acabavam fazendo
as suas próprias pranchas. Vou me valer de alguns relatos que tenho gravados
para desenhar (esboçar) esta história.
Zé Paioli, o mais velho dos irmãos,
nascido em 1949 conta:
“Comecei
a me interessar pelo surf pois eu era nadador, foi vendo uma reportagem da
revista O Cruzeiro, com o pessoal do Rio de Janeiro, que já havia começado. Eu
ia para a praia em São Vicente, mas não havia visto ninguém surfando. Depois
disso vi dois irmãos, que eram da família Montenegro. Eles estavam com uma
prancha de madeirite, na praia de Itararé, então fui lá e perguntei como eles
haviam feito a prancha. Eles me disseram para pegar uma tábua de madeirit de
construção e levar numa marcenaria, desenhar o outline, fazer um rasgo para
colar uma quilha com o formato da de um tubarão e colar com Araldite.
Isso
foi em 1964, eu era amigo do irmão do Cocó, o Geraldo Junior, fomos à noite
numa obra que tinha na Av. Presidente Wilson (havia uma pilha de madeirites lá)
e pegamos duas tábuas. Levamos em uma marcenaria lá perto no dia seguinte e cortamos.
Nem lembro de ter reparado na prancha dos Montenegro se ela tinha envergadura,
só atentei ao detalhe da quilha. Demos uma arredondada na borda e pintei a
prancha. Naquela época o material das tábuas de madeirite era muito superior
aos de hoje, ele não desfolhava, era mais grosso. A qualidade era muito melhor.
CHICO PAIOLI EM 1967 - MATÉRIA DE CISCO ARAÑA PARA A REVISTA HARDCORE
Quando
ela ficou pronta pedi para meu pai me levar na praia, era um dia chuvoso, eu
não sabia de parafina, de vela, não sabia de nada. Eu era um bom nadador, fui
para a água e fiquei nadando com a prancha até um certo ponto. Fiquei uma a
duas horas na água e consegui ficar em pé em uma onda. Caramba! Maravilhoso. Eu
tinha 15 anos. O Chico tinha 13, ele nem surfou nesse dia. Não tinha mais
ninguém na praia. Depois de um tempo descobrimos como envergar a prancha
esquentando o madeirite. Logo em seguida o Chico começou a ir comigo. Nós
entrávamos na onda estourada e como a onda de Itararé abre uma parede mais para
o raso, começamos a cortar as ondas. Aos poucos foram aparecendo mais surfistas
e foi tudo muito rápido, depois soubemos que amigos nadadores como o Sergio
Heleno e Paulo Miorim haviam trazido as primeiras madeirites. Nós estávamos
ainda com madeirite, quando Di Renzo e outros nadadores amigos nossos
apareceram com umas prancha caixa de fósforo, que haviam feito no Estaleiro
Stepanich. Foram as primeiras pranchas ocas que vimos.”
CAIXA DE FÓSFOROS
Recentemente o shaper Eduardo Argento
(1951~2013), que infelizmente faleceu neste ano, produziu uma réplica destas
pranchas dentro do Museu Brasileiro do Surf, em Santos (atualmente em fase de
remodelação). Estive conversando com seu irmão gêmeo TWIN, Carlos Argento
Junior, nascido em 15 de março de 1951. Carlinhos também tem uma bela
experiência deste início:
“Estávamos
aqui no Itararé, onde morávamos e um dia meu irmão falou, vamos até ali perto
da Ilha Porchat ver um pessoal surfando... E eu nem sabia o que era isso. Era
uma turma pequena, os irmãos Paioli, Di Renzo, Jô Hirano – os nadadores...
Menos de dez surfistas.”
DUDU ARGENTO TRABALHOU EM UM SHAPE ROOM MONTADO EM CIMA DO QUEBRA-MAR DE SANTOS.
FOTO EXTRAÍDA DE MATÉRIA PUBLICADA NO SITE WAVES:
Os irmãos
Argento se lançaram na produção de pranchas. Primeiro de madeirite, depois as
caixas de fósforo, Carlinhos destaca que a maior vantagem delas é que boiavam.
Outra tentativa foi trabalhar com pranchas de isopor revestidas com tecido
morim. Depois começaram com as Pranchas Eduardo Argento e Carlos Argento Junior.
A nova marca foi a NÃO Surfboards, visando afastar o crescente número de pidões
que queriam emprestar suas pranchas. Culminando com as Twin, já próximo aos
anos 70.
A marca Twin
se tornou lendária e pioneira. Fizeram a primeira surf shop em Santos, depois inauguraram
o polo de Moema com uma loja na rua Imarés. Quando começaram a buscar material
para fabricação de pranchas no Rio, aproveitaram para trazer algumas camisetas
(tipo Hang Ten). Na garagem do prédio deles funcionava a fábrica de pranchas e
uma “lojinha”, mas isto será assunto para capítulos futuros.
Ao
entrevistar Carlos na TWIN, estava de passagem por lá um outro surfista dessa
geração de precursores de São Vicente:
JACKSON
CARDIM STAMATO BERGAMO nascido em 19/9/1950 tem a sua história:
“Comecei
vendo o Cocó surfar em 1963. Esse pessoal que começou a surfar com madeirites,
os nadadores Di Renzo, irmãos Paioli, Hirano, o Carioca (Nelson Feitosa - que
já faleceu)... Eles sabiam manobrar com as pranchas de madeirite.
Chegou um
ponto que até pensávamos assim: ‘Não precisamos de pranchas que flutuam, pois
conseguimos fazer tudo aqui’. Aqui em São Paulo, os que usavam pé de pato era
apenas no pé de trás, pois o da frente atrapalhava muito, não dava. Eu
particularmente nunca usei. Um olhava o que outro estava fazendo – ‘Ah que
legal você fez isso, deu certo?’
QUILHA – pedi
para um cara que tinha ferramentas, escavar com uma tupia fazendo um buraco na
prancha e encaixava aparafusando do deck para a quilha. Não tinha umas
cantoneiras que alguns tentaram usar. Uma outra curiosidade foi que já na
primeira prancha utilizei uma tocha para esquentar perto do bico e envergar. As
madeirites quebravam, cheguei a fazer longarinas de peroba para colocar em
baixo delas.”
Jackson
Bergamo se considera o primeiro skatista do Brasil, descendo sozinho as
ladeiras da capital paulista, sem ter visto ninguém antes, desmontando patins,
laminando o shape – isso em 1967, com base no que havia visto nas revistas
americanas. Jackson acrescenta que, “as REVISTAS eram a maior e única
referência, se não fosse por elas não teríamos base nenhuma.”
Jackson
também foi mencionado no capítulo seis. Foi ele que seguiu para o Rio, Guarujá
e Santos num Fusca com Paulo Issa para afixar os pôsteres do primeiro Festival
Nacional de Ubatuba em 1972.
Os
adolescentes que queriam se aventurar no surf tinham que se virar para começar
no esporte.
MAIS PIONEIROS
Outra galera
que tem se organizado para lembrar os bons tempos do surf é o Clube dos
Pioneiros de Santos, uma turma grande. Tive o prazer de encontrar com três
deles para captar histórias destes tempos, no apartamento de Walter Theodosio
Junior encontrei Sant’Anna e Edinho, aqui vai um aperitivo de seus relatos.
JOSÉ LUIZ
SANT’ANNA - 10/1/51
“Comecei a
surfar com 12 anos em 1963. A primeira vez que vi alguma referência ao surf foi
numa revista Seleções da Readers Digest, a matéria chamava: ‘Cavaleiros das
Ondas do Mar’. Pelo que pude ver nas fotos da revista as pranchas pareciam ser
de madeira. Eu fui na Serraria Brasil comprar uma placa de cedro para fazer uma
prancha maciça que flutuasse.
O segundo
passo foi uma madeirite, ao arrancar uma placa da cerca da obra do Hotel Brickman,
que estava em construção junto com meu amigo João derrubamos metade do tapume.
Saímos andando com as futuras novas pranchas quando aparece na rua uma viatura
da Polícia Marítima. Era plena era da ditadura e achamos que estaríamos
ferrados, mas os guardas passaram reto.”
Sant’Anna
lembra de ter visto Jô Hirano com uma prancha que flutuava. “Ele foi muito
importante na evolução. Até 65 usei pranchas de madeirite. Mais tarde cheguei a
fabricar pranchas de fibra durante muitos anos. Foi vendo aqueles filmes da
série Beach Party que percebi que as pranchas tinham volume. O Jô era mais
velho, professor de judô, falava muito pouco e não dava dica nenhuma para nós.
Era um cara inacessível. Entrava para surfar com um chapelão estilo mexicano. O
fato é que a prancha do Jô flutuava e as nossas madeirites afundavam. Ele
sentava lá fora e nós ficávamos mais na beira.
Foi nessa
época que encontrei uma matéria na revista Mecânica Popular, com uma série de
materiais que eu nunca havia ouvido falar. Improvisamos usando isopor, Eucatex
e minha mãe fez uma capa de lonita para isolar, arredondamos a borda só em
baixo, pois em cima era reto por causa do Eucatex. Ao invés de resina usamos
tinta a óleo e fincamos a quilha numa longarina de pinho. Aí sentamos ao lado
do Jô. Ele não acreditou. Isso foi no Canal 1.”
WALTER
THEODOSIO JUNIOR - 9/1/1953
“Morei no
interior até os treze anos. Vim morar em Santos em dezembro de 1966 e vi o
pessoal com pranchas de madeirite. A primeira prancha que fiz era reta, só
descobri que ela precisava ter uma curva depois das primeiras embicadas. A
quilha, no princípio, coloquei um reforço de madeira apenas de um lado, depois
de arrancá-la algumas vezes cheguei à conclusão que tinha que colocar dois.
Também já pintei esta prancha de azul. Depois comprei por Cr$ 5,00 uma prancha
de madeirite branca, com a borda colorida que tinha o desenho da Pantera Cor de
Rosa com uma piteira. Até 1967 fiquei com pranchas de madeirite, até que no
meio do ano um colega meu da escola comentou: ‘Vamos fazer uma prancha à lá Tom
Blake?’ Era uma caixa de fósforo. Nessa época estas pranchas eram feitas em
dois lugares, ou na Carpintaria Guarany, ou com o Nelson da Morsa. Em maio de
68 fui encomendar uma prancha com o Coronel Parreiras, ela ficou pronta em
agosto, dois meses eram apenas para curar a prancha.”
Edinho –
EDSON TADEU MARQUES DE ALMEIDA - 21/9/1953
“Eu morava no
Marapé e com 11 anos de idade, em 1964 comecei a me interessar pelo movimento
das madeirites, que eram tiradas de obras. Com meu vizinho Toninho fizemos duas
pranchas, com uma única tábua de madeira. Estudei como eram envergadas. Para
envergar usava um pano velho com álcool e colocava fogo em cima da madeirite.
Isso danificava a madeira e algumas vezes quando tomávamos um tombo mais
violento quebrávamos a prancha. Estudei no mesmo colégio do Cocó, que era dois
anos mais velho. Foi com o pai dele, seu Geraldo, que aperfeiçoamos a técnica
para envergar as pranchas. No campeonato da Ilha Porchat (1968) fui o único
surfista que ainda competiu usando uma prancha do modelo caixa de fósforo.
Depois criei uma marca de pranchas: Orca, até hoje ainda brinco com ela.”
Eduardo
Faggiano, o Cocó, tem sua entrevista agendada para o início do próximo ano, ao
lado de seu irmão Geraldo Junior (2 anos mais velho) e do pai o Sr. Geraldo
Faggiano, formaram uma das mais importantes famílias pioneiras do surf paulista.
Em 1962 ele
viu o surf pela primeira vez em uma reportagem da revista O Cruzeiro. Com 12 anos, sem outras referências a família produziu
uma primeira madeirite. Cocó também cita Paulo Mansur, pai do ex-Prefeito Beto
(96 a 2004), como a pessoa que trouxe a primeira madeirite do Rio para São
Vicente. Seu Geraldo sempre incentivou e ajudou os filhos, produzindo pranchas,
organizando (ao lado do pai de Zé e Chico Paioli) o primeiro campeonato de São
Vicente em abril de 1968. Cocó foi o shaper original da Squalo ao lado de Paulo
Issa, antes disso produziu madeirites, caixas de fósforo e pranchas de fibra,
agindo por tentativa e erro – acertos. Os Faggiano introduziram inovações no
Brasil, tiravam informações de uma revista Mecânica Popular em espanhol, tem
recortes com manchetes tipo: ‘Grande roubo de tapumes na Cidade de Santos’. Hoje
está morando em Paraty no sul do Estado do Rio de Janeiro.
GUARUJÁ
Para aquela
turma de Santos a maior aventura era atravessar a balsa para uma ilha na qual
as ondas estavam sempre maiores, com praias de areias brancas e ondas mais
desafiadoras. O Guarujá, “A Pérola do Atlântico” (já derem este slogan para
Fernando de Noronha também), é um dos lugares mais consistentes de surf no Brasil.
É raro ter um dia do ano sem alguma onda surfável nas praias de Pitangueiras,
Astúrias, ou Tombo.
Foram os
surfistas da Ilha de São Vicente que colonizaram as ondas da Ilha de Santo
Amaro, desde os tempos de Osmar Gonçalves. Duas novas tribos se juntaram para
desenvolver o surf no Guarujá, os nativos da ilha e os veranistas que vinham da
capital paulista para desfrutar.
Carlos Motta,
designer que sempre morou na capital paulista, deu brilhante entrevista para a
série 70 E Tal, produzida pelo Grupo Sal, para o Canal Off, da Globosat;
comentou que antes de ter a sua prancha, em meados dos anos 60, encontrou uma
linda Hansen no Edifício Albamar – “Gaiola de Ouro”, nas Pitangueiras. Quando o
dono da prancha não estava ia na garagem, pegava a prancha para surfar e a
devolvia com todo o carinho, como se fosse sua. Carlinhos Motta foi um dos
primeiros desbravadores do litoral norte, cruzando a balsa para o norte, rumo a
Bertioga e ao paraíso “As Praias”...
Tenho trocado
e-mails com Roberto Stickel, nascido em 14 de dezembro de 1954, outro paulistano que aderiu ao surf bem jovem: “A primeira
prancha que vi na vida foi no verão de 63/64. Uma prancha de madeira tipo
caixão com a forma de um caixão de defunto achatado, sem quilha. Foi também a
prancha que eu comecei a surfar. Pedi emprestado e surfei poucas
vezes nesta prancha caseira absurdamente mal feita. O dono era um santista. Logo
em seguida apareceu a Glaspac MK I do Luís Mello do Tendas, a
primeira prancha de fibra no Guarujá e acredito ter sido também a primeira
vendida pela Glaspac. A segunda foi a minha (não tenho certeza), o protótipo e se
não me engano, foi comprada na Páscoa de 1965. Eu já estava surfando com a do
Luís porque ajudava o pai dele, Paulo, a levar a prancha de volta para o fundo,
ele era muito pequeno. Eles me emprestavam a prancha quando o Luís cansava."
PRAIA DAS ASTÚRIAS FINAL DOS ANOS 60.
FOTO DO ACERVO DE CLAUDIO CELSO PIERONI, QUE ESTÁ DE BERMUDA QUADRICULADA.
LUÍS MELO É O SURFISTA SENTADO NA AREIA DE BERMUDA ROSA E AZUL.
PARA SABER MAIS SOBRE ESTA FOTO VEJA A SEÇÃO "DAS ANTIGAS" NO
THE SURFER'S JOURNAL BRASIL - VOL. 02.3
Stickel continua, "Minha
vida náutica começou muito cedo, pegando jacaré pendurado no pescoço do meu pai
quando ainda não sabia nadar. Eu adorava e posso dizer que sempre estive
interessado em tudo relacionado aos esportes náuticos e por isto me lembro
muito bem de tudo. Nós estávamos sempre em Santos, São Vicente, todo o Guarujá
e algumas vezes no litoral Norte e nunca vi, em nenhum lugar, outros surfistas
até o final de 64. Era tudo o que eu queria ver, procurava bastante, mas nunca
vi.
Algum
tempo depois, os irmãos Argento foram surfar nas Astúrias com uma prancha feita
por eles com uma quilha já curvada. A prancha era bem tosca, mas a quilha
curvada me deixou histérico. Eles já surfavam bem e pela primeira vez vi que o
surf era feito quando a onda ainda não tinha estourado. Fiquei besta de ver e
aí que me tornei completamente fanático. Antes de presenciar isso, só pegávamos
ondas estouradas.
A próxima
prancha de fibra foi, provavelmente, a prancha mais bonita que vi
na vida. Era uma Surfboards Hawaii do Christian "Chaine " Frutig (que
mais tarde produziria as lendárias Surf Champion), ele trouxe da Califórnia. Christian
aprendeu em Dana Point a fazer pranchas e foi contratado pela Glaspac para
assumir este departamento. Em pouco tempo as pranchas Glaspac dominaram e uma
turma de santistas começou a aparecer no Guarujá com pranchas maravilhosas
importadas: Dewey Weber, Gordon & Smith, Bing, Hobie e outras.
Minha
Glaspac quebrou e aí que descobri que era um protótipo mais leve e mais frágil.
Os pioneiros
no Guarujá? Que eu saiba, até agora, eu sou o pioneiro paulistano, surfando com
a prancha do santista. Demorou uns três meses para eu ver outro surfista no
Guarujá, foi o Luís com a Glaspac. Em pouco tempo apareceram vários
de uma vez e grande parte era do Colégio Santa Cruz. Tinha os 4 irmãos da família
Orcesi da Costa, Chaine, meu primo Marcelo Villares, Paulo Kristian Orberg,
Carlos Motta, Alfredo Pimenta, Fernando Millan, Fabio Madueño, José Maria
Whitaker, Hirota, Alfio, Breda, Gui Melo, Fernando Rêgo, Alex Du Mont, Lars e Jaiminho.
Esta era a turma básica dos paulistanos que surfavam mais em Pitangueiras
(talvez tenha esquecido alguns). Na turma das Astúrias tinha o Luís, Egas,
Teixeira, Magoo e Chicão. Na Enseada, Pernambuco e Tombo não tinha quase nada,
mas alguns tinham prancha, apesar da pouca vivência em cima delas, como Gil
Ribeiro, Roberto e Marcelo Aflalo, Lallado e Sergio Lunardelli. O Eduardo Prado
do Guaiuba, a prancha dele foi uma das primeiras Glaspac. Também tenho
que mencionar as mulheres. Surfistas mesmo foram três: Renata Polisaitis
e as minhas primas gêmeas Renata e Christine Muller. A Jéssica era a musa das
Astúrias e tinha uma prancha, mas nunca a vi surfando.
Os
santistas vinham surfar no Guarujá em turma, mas não era frequente. Minha
mãe ajudou muito nesta época, levando a turma toda de uma praia a outra com
mais de 10 pranchas dentro da nossa perua Veraneio. Parecia aquelas fotos da
Califórnia com pranchas por todo o lado e o pessoal em cima do carro.
Agora, o
destaque da turma toda era, sem dúvida nenhuma, o Silvinho Daige, filho do dono
do Cine Praiano. O cara era um acrobata. A prancha MK I dele era completamente
detonada e o que ele fazia em cima dela era mágico. Nenhum local do Guarujá
surfava bem porque ele deve ter sugado o talento dos outros. Tenho imagens na
memória inesquecíveis.
Dos
surfistas da capital Paulo Kristian era o melhor desta nossa turma que escrevi
aí em cima. Acho que esta turma durou até sair a Glaspac MK3, quando o esporte
explodiu. O Paulo Kristian foi "O" surfista. Acho que nós dois éramos
os mais fanáticos de toda a turma, mas ele estava num nível muito superior. Ele
era gênio e sua genialidade levava a um surf incrivelmente puro, sem nenhum
tipo de exibicionismo. Um tipo de personalidade que não existe no esporte e
para o resto de nós, era só admirar alguém que estava muito acima da ralé
(nós). Ele e o Silvinho, no extremo oposto, foram os verdadeiros surfistas
desta época, anos 60. De longe!" completa Roberto.
FOTO
TIRADA DE UM FILME SUPER 8 FEITO PELA MÃE DE ROBERTO STICKEL.
SILVINHO DAIGE
COM A SHORTBOARD AMARELA.
FOI EM UM DOS CAMPEONATOS EM FRENTE AO CLUBE DA ORLA
FRANCISCO
JOSÉ CHIARELLA mais conhecido como THYOLA
Nascido em 21
de junho de 1952 é um dos mais célebres moradores surfistas do Guarujá. Nasceu
em São Paulo, estudou nos colégios Pio XII e São Luiz, começou a fabricar
pranchas em 1969 (aos 17 anos) e foi dos primeiros paulistanos (moradores da
capital) que se atiraram para ganhar a vida perto das ondas. Saiu dos apês de
frente para o mar no Edifício Marulho e depois no Bonanza, para a rua de trás.
Trocou a fábrica encravada no morro dos fundos das Pitangueiras por um terreno
espaçoso na Rua do Sol e ouso afirmar que da fábrica de pranchas Lightning Bolt
do Brasil saíram algumas das pranchas mais caprichadas e bem acabadas feitas em
território nacional.
Ele conta: “Meu
primeiro contato com o surf foi no verão de 1965 para 1966.
Vi dois
franceses aqui no Guarujá e não falei com eles, depois sumiram, já tinham
pranchas de fibra. Eu pegava onda deitado com planonda. Em seguida lembro de um
carioca, Aru, que ficou hospedado no Marulho e tinha uma prancha vermelha em
baixo e azul em cima, era uma madeirite e ele chegou a me emprestar esta
prancha. Eu ficava dentro d’água, ao lado da prancha esperando a onda. Sem pé
de pato. Na planonda eu já ficava de joelho, com esta consegui ficar de pé e
cortar a onda.
A gente vivia
na água. Nessa temporada do verão de 1966 não lembro de ter visto nenhuma outra
prancha daquele lado de Pitangueiras entre a Ilha e o Canto do Maluf. Depois
que o Aru foi embora, junto com meus irmãos pegamos uma placa de compensado,
pegamos da praia, em frente ao Clube da Orla, que estava em obras. Não sabíamos
nada, tentamos envergar. Foi só uma tentativa, esta prancha não durou muito.
Podemos dizer
que o mais antigo surfista do Guarujá foi o Guaracy, o avô dele era o zelador
do meu prédio, o Marulho. Ele gostava de cair quando o mar estava grande. Um
pouco depois apareceram outros dois surfistas o Vigo e o Alan, que já tinham
prancha São Conrado. O Fernando Rego tinha uma prancha Cyro. Depois eu e meus
dois irmãos, Daco e Madinho Chiarella, ganhamos uma Glaspac. No primeiro verão
tínhamos uma, depois no ano seguinte eram duas Glaspac para dividir entre os
três.
Nessa época,
para quem queria comprar uma prancha nova, tínhamos basicamente três opções: Procópio
(madeirites), as Glaspac e Induma, que eram brancas e feitas em série, pré-moldadas.
Na segunda
metade dos anos 60 a turma que começou a surfar no Guarujá foi o Roberto
Teixeira, Lucha Figliolia, Luís Melo, Carlos Motta, Alfredo Pimenta, Serginho
Lunardelli, Sidão Tenucci, Fernando Rego, Paulo Kristian... Não vou lembrar de
todos, fomos nos conhecendo ali na praia.
Em 1969 meu
pai conseguiu um amigo de Nova Iorque que trouxe três pranchas Hobie. Elas
vieram de navio. Com o shaper Antonio Brito, antes de chegar a minha Hobie,
chegamos a produzir as primeiras pranchas Moby. Já começamos com pranchinhas,
tenho a foto da primeira Moby (mas preciso encontrar)... As primeiras pranchas
foram quatro: a minha, do Britão, Marché (Marcelo Vilardi) e um colega do
Colégio São Luiz, que depois parou de surfar. Os blocos nós mesmos expandíamos
e depois passamos esta produção para o Paulo Issa. Ele fez uma forma de
concreto, algo diferenciado, porque nós expandíamos dentro de uma caixa de
madeira."
Essa história de blocos, pranchas mini models, roupas e acessórios...
Essa história de blocos, pranchas mini models, roupas e acessórios...
Será contada
nos capítulos adiante.
UBATUBA
Paulo Jolly Issa, nascido em 14 de agosto de 1949, é um dos mais velhos surfistas desta turma de desbravadores do surf, também começou a surfar em São Vicente, mas se tornaria um personagem lendário em Ubatuba.
Como ele foi
parar lá?
“Meu pai
praticava pesca submarina em 1964 e o batismo foi na Ilha Anchieta. Ele se
encantou tanto pela região que comprou um terreno e fez uma casa na praia da
Enseada, ficamos com esta casa até 1976.
PRAIA GRANDE,
UBATUBA – 1967. FOTO DE PAULO ISSA
COM SEU IRMÃO RICARDO ISSA E NELSINHO
ALMEIDA.
“No começo
éramos só nos três. Não víamos ninguém surfando. Depois apareceram o Renato e o
Eduardo Ozores, depois o Rheiny, Livinho, Fabinho, Olavinho, João Bianchi o
dono do Perequim.
Antes da
praia Grande começamos a surfar na Enseada, ondas pequenas. A praia Grande foi
a evolução. Ali tinha um jundu alto e o mar bravio. Ninguém ia para lá. Outra
coisa curiosa que o nome praia Grande não é pela extensão e sim pela faixa de
areia, que era enorme. Do jundu até a beira do mar era longe.”
Lyfe – Luiz Felipe
Azevedo, criador do Ubatuba Surf Cam também deixou um relato histórico do surf
em Ubatuba no site UBAWEB:
Cliquem para
ler...
Paulo Issa
comenta sobre o seu início no surf: “Em 1966 meu padrasto comprou uma revenda
Volkswagen em Santos e fomos morar em São Vicente. Tive o primeiro contato com
o surf ali na praia, fiquei conhecendo o pessoal todo lá. Minha primeira
prancha foi de madeirite, os cabeças da turma eram o Cocó, Nelsinho Almeida,
Fernando Mittelman – o Fernandão que acabou vencendo o campeonato do Guarujá em
1967, na categoria Junior. Meu irmão Ricardo Issa, três anos mais novo do que
eu, começou nessa época também.
No tempo das
madeirites éramos todos molecada e à noite saímos buscando as tábuas nos
prédios. As formas das lajes eram de madeirite. Os caras se dependuravam para
arrancar. Mais curioso era no momento de envergar as pranchas. Colocávamos uma
pedra embaixo do bico, outra em cima e tacávamos fogo, em menos de um minuto já
começava a envergar e quando chegava no ponto que queríamos... Jogávamos um
balde d’água. As bolinas (aquelas grandes), tipo uma barbatana de tubarão
fixávamos com mãos francesas. Ainda colocávamos um ripa em baixo como
longarina. Pingávamos velas e a bermuda era uma calça jeans cortada.
Em 1966 era
assim.”
Paulo Issa
fez suas primeiras pranchas de fibra com Cocó. Na foto acima está uma delas. A
outra é um modelo Glaspac.
GLASPAC
Nascimento da
Glaspac, por Carlos Argento: “Di Renzo trouxe uma prancha fabricada nos EUA, do
Rio de Janeiro, depois de uma competição de natação. Um belo dia ele e o amigo Miorim
roubaram a DKW Vemaguet do pai e foram até a fábrica de buggy Glaspac, em Santo
Amaro, na capital, para que o pessoal pudesse tirar o molde da prancha. Foi
assim que nasceu a prancha MK I e o pior é que o Miorim ainda bateu o carro do
pai”, contou Carlinhos.
O AUTOR COM UM MODELO DE PRANCHA GLASPAC MK3
ESTA PRANCHA ESTÁ NO MUSEU DO ALCINO PIRATA EM PITANGUEIRAS
A MINHA ERA AMARELA E VERMELHA
FOTO: SILVIA WINIK
As pranchas Glaspac eram as mais
encontradas nas praias paulistas a partir da segunda metade dos anos 60. Os
modelos foram evoluindo MK I, 2, 3... A mudança mais significativa era na
quilha, o volume também foi diminuindo. Eu comecei a surfar com uma MK3 na
Páscoa de 1969. Fiquei louco da vida quando voltei para a loja da Fiberglass
Center, na Avenida Santo Amaro, especificamente para comprar exemplares da
revista Surfer e me deparei em julho
do mesmo ano, com o novo lançamento, uma mini model!?! Fiquei um ano e meio só
com este pranchão Glaspac até outubro de 1970. Um pouco desta história está na
postagem de 25 de abril de 2013 neste blog.
Um colega meu do Colégio Santo Américo
comentou que deve me passar o contato do fundador da Glaspac – Surfboards Santo
Amaro, lojas Fiberglass Center, que hoje reside na Europa.
Faz parte deste projeto ir encontrando
as peças deste grande quebra-cabeça.
A história da evolução das pranchas,
projetos criativos e revolucionários como os de Homero Naldinho, que precisa
ser encontrado em “algum lugar de Bertioga” e outros desdobramentos serão
desenvolvidos durante todo o ano de 2014...
CAMPEONATOS
Quatro campeonatos de surf formaram o
alicerce do mundo competitivo do esporte no Estado de São Paulo ainda nos anos
60.
Foram três campeonatos patrocinados
pelo Clube da Orla (hoje Shopping La Plage) em 67 \ 68 \ 69. Para dar lastro a
estes eventos foram convidados surfistas do Rio de Janeiro, com nível muito
superior, para estabelecer os critérios de julgamento e fazer exibições.
Em 1968 os pais dos Faggiano e dos
Paioli organizaram um evento aberto para os surfistas do Rio de Janeiro ao lado
da Ilha Porchat, em São Vicente.
Carlos
Argento que chegou a vencer eventos na categoria Junior dos campeonatos do
Guarujá tendo ao seu lado na final seu irmão Dudu, Cocó e Ney Sobral, comentou
que neste evento da praia do Itararé Mudinho era o mais completo, arrasando
todos os adversários da categoria principal. Rico era o mais jovem (mirim) e
também já mostrou toda a sua competitividade no evento da Ilha Porchat.
Os resultados
destes campeonatos serão compilados e apresentados em uma postagem especial
futura e no livro.
Para maiores
informações deixo um link para apreciarem uma matéria publicada na revista TRIP
de número 157 no ano de 2007:
ILUSTRAÇÕES DESTES EVENTOS
EDUARDO NOGUEIRA, O PIOLHO FOI O
PRIMEIRO CAMPEÃO EM SÃO PAULO
C
Tenho em bom estado o poster do 6 campeonato , pre;o a combinar tratar com Pessanha , zap 21 969178212
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