O primeiro
fotógrafo surfista
Os
fotógrafos de surf são pilares fundamentais do esporte.
O
crescimento do esporte foi respaldado pelas revistas de surf e estas sempre trouxeram
como maior atrativo as imagens de ação. No Brasil temos grandes profissionais
que se dedicaram ao segmento, diversos estarão neste blog e presentes no livro,
mas se tratando de pioneirismo o carioca Fernando Mendonça Lima pode ser
considerado a pedra fundamental.
FOTÓGRAFO SURFISTA ou SURFISTA
FOTÓGRAFO?
ANTES DE PROFISSIONAL DAS FOTOS FEDOCA
FOI SURFISTA
MONTAGEM FEITA POR FRED D'OREY PARA OS ÁLBUNS DO FACEBOOK DA TOTEM
CAPA DA BRASIL SURF NÚMERO 3
ARPOADOR, 1975. FOTO: ROGÉRIO EHRLICH
FEDOCA SURFANDO NO PERU EM 2012
VOLTANDO ÀS SUAS ORÍGENS NO LONGBOARD
VENCEU O EVENTO BLACK BELTS
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
REPRODUÇÃO DO SITE WAVES
Abaixo
alguns trechos da entrevista que fiz com Fedoca em maio de 2013, conheça um
pouco de sua história, contada por ele mesmo. Com a palavra Fernando Mendonça
Lima.
FEDOCA : “Nasci
em 15 de fevereiro de 1954. Desde pequeno sempre tive contato com o mar. Eu morava
em Copacabana a um quarteirão da praia, no Posto 5, onde quebravam as melhores
ondas de Copacabana. Sendo que na época, em Copacabana, antes do aterro até
1969 \ 70, dava ondas em tudo quanto era lugar. Na praia inteira, tipo o Meio
da Barra, tinha valas aqui e ali. Mas o Posto 5 sempre foi o melhor porque era
em frente ao Baixio, a ondulação sempre quebrava melhor ali, tinha mais
tendência a ter uma vala boa.
Em 1965 comecei a pegar
ondas de planonda, tinha uma galera que pegava onda junto. Em 1964 e 65 eu nem
sabia o que era surf. Eu pegava ondas todos os dias de isopor, de jacaré, mas
não tinha visto ninguém surfando de pé. Encapávamos as planondas com panos para
não assar a barriga. Até que chegou uma hora que a gente ficava em pé nas
planondas. Tinha uns caras que já seguiam a onda no corte, de pé. Mas até aí eu
não sabia o que era surf. Alguém falou para a gente que tinha esse negócio de
surf. Eu sabia que tinha um primo meu que pegava ondas no Arpoador, ele me
falava do Bruno Hermany...
Em 65 eu fui até o
Arpoador e vi alguns caras pegando onda. Nas férias de julho de 1965 mandei
fazer uma madeirite na Serraria Arpoador, na Rua Francisco Otaviano, ao lado da
Galeria River, hoje é um prédio grande ali. Fui junto como Bento Berenguer, irmão
do Marquinhos Berenguer – dois anos mais velho que o Marcos. A minha prancha
fiz apenas com aquela verniz náutica, a do Bento saiu pintada de amarelo em
baixo, ficou muito bonita. As pranchas já tinham o bico envergado e minha
quilha era um pouco diferente, segundo eles... uma quilha de velocidade.
Eu não usava pé de
pato. Com 11 anos eu ficava de pé no banco de areia, ali no Posto 5 e quando vinha a onda eu pulava na prancha, dava um impulso e ia embora... Fazia aquele ‘surfezinho’ na beira. No
Arpoador já tinha as pessoas que pegavam as ondas maiores. O Arpoador para
madeirite é perfeito, porque tem aquela laje do jacaré ali no pontão, ela
formava meio que uma catapulta que empurrava e para os caras que ficavam ali
boiando, com pé de pato, ou sem pé de pato, isso ajudava. As pranchas só
boiavam com velocidade, paradas com o teu peso afundavam. Alguns caras usavam o
pé de pato, eles cortavam aqueles pés de pato de mergulho, que eram muito
grandes. Não usávamos as mãos para entrar nas ondas, segurávamos a prancha e
batíamos os pés com força para dar impulso. Não sabíamos o que era parafina,
pingávamos vela na prancha. Alguns usavam uma cordinha de nylon, amarrada no pé
de pato (para não perder o pé de pato), mas subiam na prancha com os pés de
pato. Eu nunca usei pé de pato. O pessoal de Copacabana não usava pé de pato. A
turma do Arpoador usava.
Em dezembro de 1965
peguei algum dinheiro que economizei e fui junto com meu pai até o Coronel
Parreiras e mandei fazer uma prancha. Foi um pranchão de 2,80 metros (seria uma
9’4”), estilo Hobie. O número dela era 10 51. Não tinha nenhum desenho, era uma
prancha caretinha, de poliuretano e fibra de vidro. Não era a 1.051, talvez foi
a prancha 51 de uma determinada linha de produção dele. Tinha aquele símbolo
retangular da São Conrado e na longarina vinha escrito o 10 51. Eu lembro que
ele falava: dez – cinquenta e um. O 51 que era para valer mesmo. A prancha
ficou pronta na última semana das férias, de fevereiro para março de 1966.
Fiquei até março esperando.
Nesse meio tempo é que
eu comecei a frequentar mais o Arpoador, via os caras pegando ondas já com
pranchas de fibra. Cheguei a ser preso, um dia os caras pegaram a minha
prancha. Teve um campeonato em fevereiro e não podia entrar na área de
competição, mas a gente ia. Prenderam as nossas pranchas, tive que ir com meu
pai lá no batalhão da PM para liberar. Isso lá em Botafogo. Não fui só eu,
tinha vários outros amigos com pranchas apreendidas. Tinha uma meia dúzia do
nosso grupo, todos haviam invadido a área de competição. Haviam delimitado uns
200 metros desde o pontão e achamos que no finalzinho da área podia. Era a
ditadura militar, ainda branda, mas já tinha aquele negócio de um pulso mais
forte. Isso aconteceu ainda com a madeirite.
Fiquei uns três anos
com essa São Conrado. Lá por 69 vendi para o vizinho do meu prédio, depois ele
descascou ela e recortou para fazer uma menor. Minha terceira prancha já foi
uma pranchinha.”
FOTOGRAFIA
“Em 1966 fui para Ouro
Preto com meu pai. Eu já tirava foto com aquelas maquininhas, Kodak RIO 400,
antes eu tive uma Flicka também. Meu pai tinha morado durante os quatro anos da
guerra em Nova Iorque e tinha aquele programa, ‘A Voz da América’ em que eles
mandavam as notícias para o Brasil, mas o programa era gravado lá. No programa era
ele, o jornalista Rogério Marinho e um locutor famoso da época, Luís Jatobá. Quando ele morava lá
começou a tirar fotografias em Nova Iorque e ele trouxe um laboratório. Depois
que meu pai separou de minha mãe e já havia mudado de casa, lá para 68, achei
uma máquina. Ela era cheia daqueles números. Ele começou a me explicar, isso
aqui é velocidade, esse é o diafragma... Me explicou o basicão, mas nessa época
o meu pai começou a fazer fotografias de novo. Ele foi fazer um curso e depois
das aulas ele me ensinava os truques. Nisso ele já comprou um fotômetro. Eu decidi pegar
essa máquina e ir fotografar.
Logo no começo, uma das
primeiras fotos que eu tirei, tem a Rainha Elizabeth, ela em frente à casa do
Assis Chateaubriand, em um Rolls Royce aberto. Essa foto eu tenho guardada,
acho até que tenho o negativo. Tirei também uma foto do Mick Jagger mandando
tomar no cú e tirei uma foto do Rico. Cheguei no Arpoador, perto do Postinho
tinha um banquinho, parei ali, aí veio um cara de hang-five, foi a primeira foto que
tirei de surf. Ele era o Dentinho do Leblon. Essa foto eu ampliei, tirei com uma máquina normal, mas fiz o corte e uma ampliação.
Depois disso o Dentinho
virou Rico, eu virei o Fedoca. As barcas foram passando.
Isso foi em 1968.
A partir de 1969 é que
tive esta máquina Miranda. Tenho fotos de mulheres de bikini na praia de
Ipanema, que já saíram em diversos lugares. Um dia eu estava no Arpoador com
meu pai. Ele com uma máquina 6X6 e eu com uma tele 300mm. Nesse dia ele foi
junto. Eu tinha 14 para 15 anos. Também tirei algumas fotos com a 6X6,
inclusive uma que já saiu em diversos lugares.
Pode parecer que eu sou
um cara meio doidão, desorganizado... Mas dentro da minha desorganização, não
tem nenhum fotógrafo que tem as fotos dos anos 70 organizadas que nem eu.
Sempre me preocupei com esse negócio de data com as fotos em preto e branco. Eu
guardava em envelopes e colocava a data, dia 10 de fevereiro de 1969, Arpoador,
máquina Miranda. Tudo anotado nos envelopes”.
Recentemente
Fedoca fez uma matéria de oito páginas (texto e fotos dele) sobre o Píer de Ipanema para a Fluir.
REPRODUÇÃO PARCIAL DA ABERTURA
YSO AMSLER DROPANDO
(ESTA FOTO DA ABERTURA É DE GUSTAVO CARREIRA)
(ESTA FOTO DA ABERTURA É DE GUSTAVO CARREIRA)
FLUIR #326 – DEZEMBRO 2012
FEDOCA, O ÚLTIMO À DIREITA E A TURMA
DA BRASIL SURF
ZÉ BELLO, MUDINHO, FLAVIO DIAS,
HELMINHO, DANIEL FRIEDMANN E MARACA. RICO AGACHADO NO CENTRO, ANOS 90 EM
MARESIAS
DURANTE EVENTO SURF & BEACH
LEGENDS
FOTO CAPTURADA DA WEB – AUTOR DESCONHECIDO
Muitas das
fotos históricas de Fedoca foram compiladas e podem ser encontradas no Blog do
fotógrafo Bruno Alves. Veja algumas amostras aqui abaixo, com suas respectivas
legendas organizadas pela Totem, de Fred d’Orey.
CLIC no link
abaixo para ver mais imagens:
DIA GRANDE NO ARPOADOR ANOS 2000
FOTO FEDOCA – RETIRADA DO
RICOSURF.COM
Fedoca foi
também o primeiro fotógrafo a viajar para o Peru, ele conta como foi essa
jornada:
FEDOCA : “Em 1972 fomos para o Peru juntos: eu, Bocão, Betão, Rato e Careca. O Rico chegou lá
depois e o Marquinhos Berenguer. Historicamente o Irencyr Beltrão, o Barriga, foi
em 1965 com um amigo, o Linguiça. Depois foi o Penho, em 1967. Maraca 1968. O
Rico fala que foi em 69, mas acho que foi de 70 para 71 (talvez 69 \ 70). Mas a
primeira vez que foi uma galera maior foi neste verão de 71 para 72. O pessoal
de São Paulo veio depois. Eu sou o primeiro fotógrafo brasileiro a viajar (o
cara que viajou com o Irencyr era fotógrafo – mas não era fotógrafo de surf).
Em 72 nós fomos para o
campeonato mundial. Eu fotografei o campeonato peruano, mas quando estávamos
indo para o mundial, roubaram minha máquina. Aliás, roubaram a malinha com a
lente e alguns filmes que eu já havia tirado. Fiquei só com a máquina e a lente
cinquentinha. Eu fique desanimadão, saí da polícia, fui para o campeonato.
Jan\Fev 1972.
Participei como atleta
também, competidor, não existia cordinha ainda. Punta Rocas, cheguei lá fora
perdi a prancha, voltei nadando. Rico ficou em quinto, Bocão em sexto. Eu e
Betão fomos eliminados na primeira fase e o Ratão na segunda. O peruano Chino
Malpartida venceu, os quatro primeiros eram gringos, acho que o havaiano Glen
Kalaikukui ficou em terceiro, ou outros finalistas eram do Peru.”
FEDOCA SURFANDO EM PUNTA ROCAS, PERU –
2012
REPRODUÇÃO WAVES.COM - FOTO: ARQUIVO PESSOAL
Neste blog
estarei trazendo outras entrevistas com importantes fotógrafos da história do
surf brasileiro e suas aventuras registrando o surf e o seu lifestyle.
FEDOCA E DRAGÃO DURANTE O BILLABONG
RIO PRO 2013
FOTO: PRISCILA BOABEYD
FEDOCA "CHARGING" NO ARPOADOR EM 2013
A BEIRA DE COMPLETAR 60 ANOS
HOJE ELE JÁ PASSOU, CONTINUA SURFANDO E FOTOGRAFANDO COM PAIXÃO
FOTO: HELMO CARVALHO
FEDOCA "CHARGING" NO ARPOADOR EM 2013
A BEIRA DE COMPLETAR 60 ANOS
HOJE ELE JÁ PASSOU, CONTINUA SURFANDO E FOTOGRAFANDO COM PAIXÃO
FOTO: HELMO CARVALHO
Partindo de
Fedoca, passando por Klaus Mitteldorf (que surfava de kneeboard), Bruno Alves,
Alberto Sodré, Sebastian Rojas (que se mantém firme na ativa fotografando surf
até hoje), todos bons surfistas e artistas das lentes. Muitos talentos se
dedicaram à fotografia do surf até as linhagens mais atuais com corajosos, exímios,
criativos e dedicados fotógrafos como Pedro Tojal, Rafaski, Smorigo, Bruno Lemos, uma
grande lista...
Com muitos
eu tive o prazer de viajar e fazer matérias, ou reportagens.
Considero os
fotógrafos de surf como os maiores responsáveis pelos importantes registros desta
bela história do surf.
O livro A
GRANDE HISTÓRIA DO SURF BRASILEIRO, tem previsão de lançamento para breve e
trará o registro dos mais importantes fotógrafos do meio do surf, inclusive
alguns internacionais, como John Callahan, Sarge, Joli, Brian Bielmann, que também
focalizaram suas lentes nos surfistas brasileiros.
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