CONGREGAÇÕES DE UMA TRIBO
Que se transformou em uma civilização
Neste mês de
dezembro em 2025 fui convidado para 2 encontros das turmas de pioneiros do
surf. Um deles organizado pelos irmãos fundadores da revista BRASIL SURF,
Fernando e Flávio Dias, reunindo a galera no Arpoador, no Rio de Janeiro.
CONVITE
Outro evento
que já tem alguma tradição é organizado por Valter Pieracciani. Um café da
manhã na Quinta do Marquês, uma padaria em plena Av. Faria Lima na capital
paulista, reunindo uma boa quantidade dos pioneiros do surf nas ondas de
Pitangueiras no Guarujá.
FOI CRIADO ATÉ UM LOGO PARA O EVENTO
A congregação das comunidades de surfistas, que desde muito jovens se conheceram em meio ao balanço das séries no outside, papeando na areia das praias e desfrutando das viagens em busca de ondas... Transcende aquelas amizades escolares, ou de trabalho, pois o elo que une esta turma é ligado à longevidade, temperada pelo oceano, momentos de adrenalina e êxtase vividos juntos. Roubadas e entubadas épicas lembradas com orgulho e muitas risadas.
ARQUIBANCADA NO ARPOADOR. É POSSÍVEL
RECONHECER ALGUNS LENDÁRIOS SURFISTAS CARIOCAS. EM PRIMEIRO PLANO JEFFERSON
CARDOSO, ATRÁS DELE RICO DE SOUZA, AO LADO DE FLÁVIO DIAS, COM MARACA E A FILHA
NO COLO NO MEIO DELES NA FILA DE TRÁS. MAIS ATRÁS WADY MANSUR DE PERFIL, FEDOCA,
NO ALTO SEM CAMISA LIPE DYLONG E RENAN PITANGUY, ENTRE VÁRIOS OUTROS. FOTO DO
ACERVO DE JACQUES NERY, FINAL DOS ANOS 1990
REGISTRO DO ENCONTRO PÓS POR DE SOL NO ARPOADOR NESTE FINAL DE ANO. FOTO DE EDU OLINTO ENVIADA POR FEDOCA
Já em São
Paulo, durante muitos anos, quem organizava jantares em pizzarias,
churrascarias e que tais... foi Sidney Tenucci, o Sidão da OP. Ele nos deixou
em 2015, após uma longa e árdua batalha contra o câncer.
REPRODUÇÃO DA ABERTURA DE UMA
POSTAGEM QUE FIZ EM 2016, DEIXO AQUI ABAIXO O LINK NÃO SÓ PARA ESTA POSTAGEM,
MAS TAMBÉM PARA UMA PARTE 2, LANÇADA NA MESMA ÉPOCA. DESVIEM PARA MAIS 2 LONGOS
E ELUCIDATIVOS TEXTOS, MAS VOLTEM PARA CÁ, POIS ESTA AVENTURA BLOGUEIRA QUE
FECHA 2025 ESTÁ APENAS COMEÇANDO
https://surfdragonblog.blogspot.com/2016/10/a-turma-do-guaruja-parte-1.html
https://surfdragonblog.blogspot.com/2016/10/a-turma-do-guaruja-parte-2.html
Quem assumiu a “virtude” de organizar encontros da turma de surfistas do Guarujá agora é Valtinho Pieracciani, surfista da segunda geração de paulistanos que têm apartamento no Guarujá, há mais de uma década ele reúne essa turma para um breakfast na capital paulista.
FOTOGRAFIA DE 2022. TAMBÉM É POSSÍVEL
DESTACAR ALGUNS “NOTÁVEIS” EM MEIO AOS SORRIDENTES IRMÃOS DE ALMA QUE SE
ABRAÇAM ANUALMENTE. O QUORUM DE PRESENTES OSCILA ANO A ANO
Valtinho está bem no meio na linha da frente, com as mãos no ombro dele Celso Medeiros, ou Celsinho da Wagon Surf Line (que tem um breve perfil na postagem GUARUJÁ PARTE 2 – link acima), Celso foi meu patrocinador quando aos 30 anos resolvi voltar a competir na categoria longboard. Dos dois lados dele os irmãos Chiarella, Madinho o primeiro tesoureiro da Abrasp, quando a associação foi fundada em 1987; e Thyola, um dos mais caprichosos laminadores de pranchas na história deste país, ativo aos 73 anos em 2025. No canto esquerdo da foto Carlos Sarli, o Califa, sócio de Paulo Lima na Editora Trip. Lá no fundo, de braços erguidos está Ricardo Lumbra, ao lado de seu irmão Rony, de camiseta salmão, magos de marketing com as campanhas da Hang Loose e performáticos apresentadores dos filmes de surf, com projetores de rolo e películas, que traziam para exibição nos anos 80 e 90. Eu estou lá na última linha, com a camiseta de listras ao lado de Paulo Galvão (de casaco azul), outro que se aventurou na imprensa especializada, ao lado do falecido Paulo Tendas na SURFER Brasil, editada em português por quatro anos. Poderia falar sobre cada um destes meus brothers. Mas voltemos ao Rio.
CONVITE QUE RECEBI PARA UMA MOÇÃO À
REVISTA BRASIL SURF QUE ACABOU NÃO SENDO REALIZADA NESTE ANO DE 2025 POR
PROBLEMAS DE AGENDA NA ALERJ
Na Assembleia
Legislativa do Rio a merecida homenagem ficou para 2026. Os irmãos Flávio e
Fernando Dias foram fundadores da BRASIL SURF ao lado de Alberto
Pecegueiro, que enveredou pelos meandros da Globosat, um dos responsáveis pela
marcante presença do surf nos canais de cabo do grupo. Tenho uma longa
entrevista com Alberto que ainda sairá publicada neste blog. Foram os irmãos
Dias que revitalizaram a imagem da revista nascida em 1975 e preparam um livro
comemorativo dos 50 anos. Mas há um pedigree embutido aqui.
ESTA FOTOGRAFIA MOSTRA O PAI DELES, JUVÊNCIO DIAS DE BIGODE, COM UM AMIGO, COM UMA PRANCHA MODELO TOM BLAKE NO RIO DE JANEIRO, BREVE TRAREI MAIS INFOS SOBRE ESTE ACHADO
Pesquisas e
garimpagens sobre os arquivos desta maravilhosa história do surf no Brasil
continuam a ser encontrados, também no Sul e no Nordeste. Ao escrever o
prefácio do primeiro volume de minha obra Alex Gutenberg fez um salto quântico
no termo tribo, que sempre gostamos de usar, para o termo civilização (mais uma
vez – a maioria das imagens que coloco aqui nesse blog tem qualidade para serem
lidas fazendo o download e ampliando). O livro de capa dura com 132 páginas também continua
disponível na web. É só pesquisar.
REPRODUÇÃO DO PREFÁCIO DE MEU LIVRO
NAS PÁGINAS 16 e 17, FOTO DE MÚCIO SCORZELLI, OUTRO DOS FOTÓGAFOS QUE AO LADO
DE FEDOCA, TITO, KLAUS E ROGÉRIO EHRLICH, TÊM ALGUNS DOS MELHORES REGISTROS DO
SURF NOS ANOS 1970
Não vou mais
nem prometer que meus próximos volumes sairão em 2026, em 27... só prometo que
continuarei trabalhando neste projeto, que além dos livros inclui este blog,
meu Facebook, Instagram e pontuais aparições em podcasts, quando tenho a
oportunidade de relatar meus estudos sobre esta história em que vivo mergulhado,
pelas últimas sete décadas desde os anos 1960, até o pescoço, com paixão,
depois de assistir ao filme Endless Summer.
E para não
perder o hábito aqui abaixo vai a décima postagem com as já tradicionais
“Baforadas do Dragão”, as dicas 1 disco – 1 livro – 1 filme, que nesta ocasião
são entrelaçadas por elos interessantes.
O disco de
Van Morrison que escolhi é uma coletânea dos primeiros anos de seu trabalho,
ele entra na história pois Rod Brooks, o diretor de prova do Quiksilver Pro em
G-Land tinha ele como cantor preferido, confessou isso para mim em 1997, entre
uma e outra bateria do campeonato que tem o vídeo destacado aqui e do qual
Flávio Padaratz foi o destaque brasileiro neste evento. Na edição anterior
deste blog trouxe luz para o filme de Fábio Gouveia. Teco Padaratz tem seu
livro neste post, ele ficou em quinto lugar no Quiksilver Pro em G-Land. Parece
incrível!!! Mas comemorávamos esse tipo de conquista nos idos de 1997. Hoje, se
não tem brasileiro na final... tem algo estranho. Mas desde o final dos anos 80
até o início dos anos 10 os surfistas brasileiros pelejavam contra tudo e
contra todos por espaço ao sol na ASP. Teco e Fabinho foram a ponta de lança de
um movimento que agora traz seus louros. Detalhes a seguir.
PRA FECHAR ESTA INTRODUÇÃO QUE TAL ESTA FOTO DO EVENTO SURF & BEACH SHOW – LEGENDS NO MESMO ANO DE 1997, NA PRAIA DE MARESIAS, QUE CONTOU COM A PRESENÇA DO AUSTRALIANO ROD BROOKS, SEM CAMISA NO CANTO DIREITO, ABAIXO DE BETÃO E ACIMA DE FEDOCA. UMA GRANDE CONGREGAÇÃO DE PAULISTAS E CARIOCAS EM UM DOS TEMPLOS SAGRADOS DO SURF BRASILEIRO, UM QUEM É QUEM DE PESO. CAMISETAS DA BRASIL SURF ROLARAM SOLTAS
Mas vamos lá.
AS BAFORADAS DO DRAGÃO
UM DISCO
UM LIVRO
UM FILME
UM DISCO – THE PHILOSOPHER'S STONE – Van Morrison
O irlandês
Van Morrison apareceu na cena musical do Reino Unido no meio dos anos 1960, logo
na esteira dos Beatles com sua primeira banda: Them (vale a pena
pesquisar e ouvir) mas sua carreira decolou mesmo como artista solo, sempre se
rodeando de músicos de excelente gabarito. Ele mesmo um multi-instrumentista aplicado,
dominando guitarra, teclado, saxofone e harmônica (gaita), neste último um
virtuoso.
O DISCO DUPLO THE PHILOSOPHER'S STONE
VEM COM UM BOOKLET DE DIVERSAS PÁGINAS TRAZENDO A LETRA DAS 30 MÚSICAS DO ÁLBUMMais que uma
viagem auditiva por boa parte da carreira de Van, este CD de 1998 traz faixas
nunca antes apresentadas de trabalhos anteriores, dos anos 70 e 80, outras até
mais recentes.
O disco é uma
amostra cabal do talento de Van Morrison. Quando a maioria dos artistas
produziam seus álbuns naqueles tempos eram feitos diversos takes de cada faixa.
As vezes eram mixadas com o início de uma gravação e o final de outra, só para
simplificar. Mas normalmente a melhor tomada era a que ia para o disco. Porém,
todo o trabalho nos estúdios era armazenado em fitas de rolo profissionais. The
Philosopher's Stone foi compilado com o conceito de buscar versões arquivadas
de discos anteriores a 1998 e que nunca haviam saído de um arquivo “morto”.
Ao meu modo
de ver (ouvir), algumas destas faixas são muito mais bacanas que as
originalmente apresentadas. Morrison tem lançado no mínimo um disco por ano
durante todas as décadas de 60, 70, 80, 90, 2000, 10, 20... A maturidade não
brecou a exuberante criatividade deste compositor. Um adesivo colado na capa do
CD que comprei na Tower Records de Honolulu em uma das temporadas havaianas que
fui trabalhar, destacava “30 PREVIOUSLY UNRELEASE TRACKS!” 30 faixas inéditas. A
grande maioria versões de uma mesma música, mas totalmente diferentes das
lançadas nos discos anteriores.
PRINCIPALMENTE CDs E UM PAR DE FITAS
K7 QUE TENHO EM MEU ACERVO. VAN É UM DOS ARTISTAS QUE MAIS COLECIONO DISCOS
Este
lançamento de 1998 é um disco que recomendo para pessoas mais jovens que
desejam se introduzir a trabalho de Van Morrison. Parei de comprar CDs há mais
de 10 anos, mas continuo acompanhando o trabalho do cara no iTunes a cada
lançamento por vezes mais de um disco no mesmo ano. Nascido em 1945 Van
Morrison fez 80 anos e lançou mais um álbum com faixas totalmente novas no
início de 2025. O cara não faz disco ruim. Um dos pontos altos de todas as suas
obras são os arranjos das músicas, com orquestração primorosamente elaborada.
Em uma das
faixas do álbum de 2003 – What’s Wrong With This Picture, meio que
autobiográfica, ele resume as vertentes da música em que viajou ao longo dos
anos, trago aqui uma das estrofes: Jazz Blues & Funk \ That’s not Rock
& Roll \ Folk with a beat \ And a little bit of Soul \ Eu não tenho discos
de hits \ Eu não tenho nenhum programa na TV \ Me diga por que tenho que viver
neste aquário para peixinhos dourados? Goldfish Bowl é o nome da
música. Uma das 250 obras primas ao estilo de Van Morrison.
Outro de
seus discos, este de 2012, leva o título Born To Sing: No Plan B ele
nunca teve um plano B. A forma como brinca com a sua voz cantando de forma
visceral, berrando ao mais puro estilo rock; ou nos embala com uma suavidade
incrível em suas faixas românticas; no final dos anos 1980 e início dos 90 mergulhou
numa fase gospel, arrasou com alguns de seus mais inspirados álbuns; ou se
cerca de músicos de jazz trazendo faixas com longos solos instrumentais; recita
poemas musicados; se aventura em primorosos discos de duetos, como Too Long In
Exile, ao lado de John Lee Hooker – é magistral, sempre.
Sua faixa
mais executada com certeza é Brown Eyed Girl, que saiu no disco de 1967 Blowin’
Your Mind, ela tem uma curiosidade. Ele tinha 22 anos e se encantou por uma
garota de pele brown, fez a música. Mas face ao preconceito da época o pessoal
da gravadora sugeriu que o título da música alterasse para que a protagonista da
música tivesse olhos castanhos e não pele castanha. Absurdo nos dias de hoje,
mas uma realidade na Irlanda e naquele mundo em transformação, que enfrentaria
no ano seguinte e dali para frente, uma de suas grandes revoluções culturais.
Desafio
qualquer frequentador deste blog a pegar um disco de Van Morrison e colocar o
asterisco de que é um álbum fraco. Esse homem coloca “tudo” de si em cada
música que canta. Para fechar destaco uma performance dele no brilhante filme
de Martin Scorcese The Last Waltz, uma apresentação de despedida da
banda que surgiu no cenário como acompanhantes de Bob Dylan – The Band,
com uma diversidade magnífica de convidados, Van Morrison canta sua música Caravan,
com uma grande apoteose ao final. Não lembro agora se foi Robbie Robertson, ou
Ricky Danko da banda que no fecho de sua apresentação, quando sai agradecendo...
dispara “Van the Man”, de fato Van Morrison é “o” cara, quando se trata de
pinçar alguns dos maiores, mais longevos e inspirados cantores da história da
música contemporânea.
UM LIVRO
– BUSCANDO SEU 100% – Teco Padaratz
Flávio
“Teco” Padaratz é o irmão do meio em uma família de surfistas, nascido em 1971
na cidade de Blumenau no interior do Estado de Santa Catariana, ao mudar para
Balneário Camboriú sua vida ligada ao surf desabrochou para uma carreira cheia
de desafios e conquistas. Buscando o seu 100% é uma autobiografia – a primeira
– com certeza merece outra mais abrangente, pois o legado de Teco está em curso
de mais grandiosas realizações.
O LIVRO FOI ESCRITO EM 2019 E LANÇADO
EM 2020 PELA EDITORA GAIA, PORTANTO ANTES DE PADARATZ ASSUMIR A PRESIDÊNCIA DA
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE SURF E ANTES DA CONQUISTA OLÍMPICA DE ÍTALO FERREIRA
CONTRACAPA DO LIVRO
TECO ENCAIXADO, FUNDO
PÁGINA DUPLA DAS ILUSTRAÇÕES, AS RASGADAS DE TECO SEMPRE FORAM UM DE SEUS PONTOS MAIS FORTES NA ÁGUA
E AS BATIDAS. CAPA DA HARDCORE QUANDO VENCEU SUA PRIMEIRA ETAPA NA BARRA DA TIJUCA EM 1991. FOTO: AGOBAR JUNIOR
CAPA DA FLUIR DURANTE A TEMPORADA
1989\90
FREESURF EM LOG CABINS. FOTO: AGOBAR JUNIOR
No livro o que mais deve interessar os aficionados por surf é o relato das vitórias e de baterias em detalhes, como Teco sentiu estas disputas, lado a lado com Fabinho Gouveia, vitórias contra Kelly Slater que ao perder de Teco pela primeira vez disse que “isso não vai acontecer de novo”, mas Padaratz, mais tarde, carimbou uma das faixas de Kelly e não resistiu, cumprimentando o rival e ídolo, segurou a mão e declarou “aconteceu de novo”. Essa e muitas outras passagens são contadas de forma descontraída e ao mesmo tempo analítica, relatando os aprendizados, frustrações e glórias alcançadas. Bem ao estilo Teco.
NO LIVRO DA EDITORA GAIA HÁ UM
CADERNO COLORIDO COM 16 PÁGINAS E IMAGENS DE AÇÃO, COMPETIÇÃO, FAMÍLIA...
Flávio
Padaratz, conta sua história familiar, surfando com os irmãos, seu casamento
com Gabriela, um amor de infância e suas duas filhas, seu relacionamento com o
mentor Avelino e o patrocinador Alfio. O dia a dia com Fabinho Gouveia no tour,
uma amizade selada com interesse mútuo, compreensão, carinho, rixinhas e muita
amizade. Um foi combustível para o outro galgar novos patamares. Teco foi
protagonista de uma carreira vitoriosa que o levou a dois títulos do WQS
lutando contra grandes surfistas. O livro não traz a fase atual de Teco, como
dirigente de surf, que com sua experiência ainda tem muito a produzir e
entregar para essa evolução sem fim do esporte no Brasil.
FLÁVIO PADARATZ EM SEU ESCRITÓRIO NA
SEDE DA CBSURF EM SANTA CATARINA, DESTAQUE PARA MEU LIVRO EM CIMA DE SUA MESA
FOTOGRAFIA RETIRADA DO INSTAGRAM DO
TECO
Hoje o
horizonte de Flávio “Teco” Padaratz, com 54 anos, tendo passado por toda a
trajetória de surfista amador, profissional, representante dos surfistas na
ASP, empresário sócio de Avelino, detentor da licença para o evento do Circuito
Mundial no Brasil, trabalho na televisão, músico e agora como o responsável
para balizar os novos passos de crescimento do esporte em nosso país, com toda essa
experiência de vida... É muito amplo.
Teco também
já tem um filme documentário sobre sua carreira: Cut, back, dirigido por
Alex Miranda e que poderá figurar aqui em postagem futura. Ao trazer neste blog,
nas duas mais recentes postagens, trechos das carreiras de Teco e Fabinho, que
terão capítulos de 8 páginas como ÍCONES do surf brasileiro em meus livros, é uma
espécie de aperitivo para deixar o registro da importância que ambos tiveram ao
pavimentar essa jornada, iniciada na gênese do World Tour com as vitórias de
Pepê Lopes e Daniel Friedmann na etapa brasileira da IPS, ainda nos anos 1970.
Já nos anos 1990, primeiro Fabio Gouveia, ao lado de Flávio Padaratz, logo
reforçados por Peterson Rosa, em seguida Victor Ribas, começaram a preocupar os
gringos saxônicos. Nem nos sonhos mais selvagens de um editor de revistas de
surf, eu poderia imaginar que nestes Anos 20 estaríamos deitando e rolando em
cima de australianos, havaianos e americanos. Me belisquem!!! Ou assistam a
dica de vídeo a seguir. Outro sonho. Aqui neste blog não virá dica fraca de
entretenimento.
UM FILME
– QUIKSILVER PRO 1997 – Pavillion Produções
Um trabalho
que de certa forma estive envolvido como agente duplo. Neste ano de 1997 eu
ainda trabalhava como diretor de redação da revista Hardcore e desde o
final de 1996 fui convidado para tocar (sozinho) o departamento de marketing da
Quiksilver Brasil que havia sido trocada de licenciado, para a Ravage
Confecções, que não era do métier. O vídeo VHS foi lançado no Brasil com
legendas em português, que traduzi pessoalmente, voltando a fita – quantas vezes
precisasse – até ter claro o que foi dito.
CAPA ABERTA DO VÍDEO LANÇADO NO
BRASIL
Fui enviado
para a Indonésia com tudo pago pela Quiksilver e ainda tive o prazer de
escrever a cobertura para revista Hardcore em parceria com o fotógrafo
James Thisted. Tinha plena consciência que estava em uma missão especial como
homem de marketing, como jornalista especializado, como surfista. Só não
imaginava que estaria prestes a viver alguns dos momentos mais alucinantes de
minha carreira trabalhando e vivendo este esporte.
ABERTURA DA MATÉRIA QUE ESCREVI PARA A HARDCORE A FOTO DOS TOP 44 PERFILADOS NA AREIA DE GRAJAGAN É DE MINHA AUTORIA
Na véspera
do evento uma logística “pro” foi organizada com diversos micro-ônibus (bemos) saindo
dos hotéis em Bali, viajando de noite para pegar um ferry-boat para Java e
amanhecer no vilarejo de Grajagan, do outro lado da baía logo ao amanhecer. Pulamos
(surfistas, imprensa, staff do campeonato) para um comboio de embarcações
típicas da indonésia e atravessamos, rumo aos surf camps. Chegamos no final da
manhã e após instalados soubemos da notícia, vimos isso dos barcos chegando, o
mar estava se alinhando para um final de tarde clássico.
A sessão de
surf que vou descrever aqui é a abertura do vídeo Quiksilver Pro 1997 –
G-Land Jawa. Todos os Top 44 foram para dentro da água, mais os juízes,
pessoal da imprensa, convidados da Quiksilver como Rusty Keaulana, que caiu de
longboard. As condições estavam perfeitas para o Speed Reef, a última, maior e
mais desafiadora seção da onda que precisa de condições especiais para
funcionar bem.
Eu me
posicionei mais para o rabo das ondas, pegando algumas que sobravam quando
alguém caia e fiquei assistindo ao espetáculo. QUE!!! Espetáculo. Creio que, em
intensidade, foi a melhor sessão de surf que tive a oportunidade de presenciar,
participar em quase 60 anos de prática. Os melhores surfistas do mundo se
atiravam em picos de 3 a 4 metros que marchavam perfeitos para o Speed Bowl.
Tubos bizarros, ondas incrivelmente perfeitas, outras jogavam placas que
engoliam os mais hábeis “boardriders”. Derek Ho se machucou feio e não
participou do campeonato. No filme essa sessão inicial é sonorizada por Break
& Enter da banda The Prodigy, um som pesado entremeado pelo barulho de
copos e pratos sendo quebrados. Os surfistas ali presentes quebraram tudo.
Slater, Shane Dorian, Occy, Tom Carroll, Poto, Cory Lopez, Luke Egan que acabou
vencendo a competição. Todos dando o máximo de si, oito brasileiros
participaram desta etapa Peterson Rosa foi o destaque atirando-se estilo “The
Animal” nesta session pré-campeonato.
Eu estava
ali boquiaberto, peguei algumas intermediárias, mas o que valia era ver aquele
show de perto, sentindo a energia. Comecei a bater papo com um cara que estava
ali, com logo da Quiksilver em sua prancha, na mesma zona que eu e também
pegava umas boas sobras. Perguntei seu nome – Robert – e na medida que fomos
conversando caiu a ficha, era Robby Naish, excepcional windsurfer, convidado
para a festa. Nos anos 1990 o investimento que as marcas top faziam era brutal,
patrocinando duas e até três etapas ada ASP em uma mesma temporada. O lucro
estava nas alturas, o feeling de quem dirigia as marcas, surfistas de coração,
predominava.
FOTO: TONY FLEURY
FOTO: JAMES THISTED
Reli ambas as matérias nas revistas de quase 30 anos, para escrever este texto, foi um campeonato alucinante. O melhor, disparado, em termos de ondas dos quatro eventos que a marca realizou lá em Grajagan, o mais recente deles já na época da WSL, uma espécie de fiasco em termos de ondas. Kelly Slater e Shane Beschen venceram os eventos em Java em 1995 e 1996. Mas este campeonato de 97 bombou muito, dias incríveis de ondas em Money Trees e Speed Reef, as duas principais seções da onda. Com toda cambada acampada no meio da selva, era só aguardar os melhores horários e colocar as baterias na água.
QUE TAL COMPETIR EM ONDAS ASSIM?
CHRIS GALLAGHER, QUE FICOU EM SEGUNDO LUGAR. FRAME DO FILME QUE DEI PAUSA NA
INTERNET
O filme está disponível no Youtube no momento em que escrevo esta postagem do blog “Histórias do Surf”. Peguem o link ao final do texto, assistam que vale a pena. Contará muito bem a história tendo os irmãos Carroll, Nick e Tom, como apresentadores. Fica um desagravo para o resultado da edição final que praticamente ignora a participação dos brasileiros. Teco foi quinto, Neco, Jojó e Guilherme Herdy ficaram em nono. Tanto eu pela Hardcore, como Adrian Kojin, que estava lá pela Fluir, destacamos a performance de cada um dos brasileiros.
EDITORIAL DE 1997 NA FLUIR ESCRITO POR ADRIAN
KOJIN. NA SEQUÊNCIA TECO PADARATZ EM FOTOS DE TONY FLEURY
Tenho que
finalizar esta postagem com um testemunho pessoal. Os surfistas profissionais,
a maioria deles iam perdendo suas baterias e picavam a mula de G-Land. Para o
último dia ficaram apenas duas baterias, uma das semifinais e a final entre
Luke Egan e Chris Gallagher. Eu iria embora apenas no dia seguinte, não resisti
e tive de dar mais uma queda. Maré subindo, swell consistente e o Speed Reef
estava operando com ondas de 2,5 a 3 metros. Perfeito liso, leve terral. Lembro
que na água estavam uns quatro a cinco surfistas, um dos juízes, Rob Machado
era o único pro e com a vastidão da bancada e quantidade de ondas disponíveis,
raramente sentávamos juntos. Nos cruzávamos, indo surfando, voltando remando.
Nessas
condições peguei uma das mais memoráveis ondas da minha vida, estava com o
pranchão 9’2”, shape de Neco Carbone (é a prancha com logo da Quiksilver que
está na foto acima da turma em Maresias). O campeonato em Java ocorreu nos
últimos dias de maio de 97, início de junho. O evento de confraternização da
Feira de Surf na primeira semana de julho. Não entubei naquela onda, mas vim
fazendo a linha dela e manobrando na parede, no pocket, o melhor que consegui.
A onda do Speed Reef é um trem, que vai acelerando e lançando bowls sobre a
bancada. Lembro de ir manobrando em alta velocidade e vi Rob Machado passando,
remando, sorrindo, voltando de uma onda maravilhosa que havia dropada instantes
antes, peguei a de trás.
Uns dois
anos depois, o campeonato em G-Land já nem existia mais, e Machado veio visitar
a sede da Hardcore em Sampa. Conversando com ele, lembrei daquele dia e ele
lembrava de minha onda. Mais memorável ainda. E não foi só isso. Meu amigo de
profissão, Adrian Kojin, estava no alto da torre dos juízes, que estava vazia,
observando o mar. Depois veio comentar comigo que viu aquela minha onda. Esses
relatos ajudam a preservar na memória estes momentos marcantes de surf que
vivemos.
ABERTURA DA MATÉRIA ESCRITA POR
ADRIAN
Grajagan –
G-Land, é um lugar muito especial no planeta surf. Uma esquina de ilha com uma
bancada gigante. A onda vem lá fora em Kong’s, uma onda excelente, caso não
houvesse Money Trees e Speedies ladeira abaixo. Há lendas de dias que dá para
ir emendando nas bancadas, a mesma bancada gigante. Em um dos dias que o
campeonato estava “off” (rolou muito swell nestes 10 dias), as ondas ficaram
livres para imprensa, juízes, funcionários da Quiksilver e os próprios atletas
se divertirem. Em uma sessão com ondas de 2 metros em Money Trees eu estava
remando de volta quando meu amigo Adrian dropa uma das boas. O cara surfa de
front ali, eu encaro G-Land de backside. Kojin veio ajeitando a linha logo após
o drop e a onda não pedia nenhuma outra coisa, tinha de ser por dentro. Ele
encaixa num primeiro tubo, a onda dá uma aliviada e exige mais, é colocar pra
dentro de novo e acertar a velocidade, ler a parede. Sei que quando Adrian
Kojin saiu da onda, adrenalizado, lembro que a única coisa que me veio na
cabeça falar para ele foi: “Essa deve ter sido a melhor onda da sua vida?”
SPECIAL THANKS
LÁ ESTÁ MEU NOME, EM MEIO A TANTOS
OUTROS, NOS CRÉDITOS FINAIS DO VÍDEO
Bom, agora
resta para quem tiver tempo, paciência, curiosidade... Assistir, ler o livro do
Teco, ouvir Van Morrison.
Dos preciosos cofres da WSL, antiga
ASP, segue o link:
https://www.youtube.com/watch?v=Mx1KnLAUaV4
EPIC G-LAND 1997 ASSISTA AO FILME


























