segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

ADAPTAÇÃO AO QUE VEM PELA FRENTE

O ano de 2024 certamente trará surpresas

Está claro que o surf competição está passando por uma grande transição, em nível mundial e aqui no Brasil também. Este processo já vinha ocorrendo antes da pandemia de 2020\2021 e foi agravado por ela. Mas podemos vislumbrar boas mudanças.

FASES DO CIRCUITO BRASILEIRO

ETAPA DO PRIMEIRO CIRCUITO EM 1987, PATROCÍNIO DA SURFWEAR

MESSIAS FELIX NO SUPER SURF E A CHAVE DE UMA CARRO NA MÃO

BRASIL SURF PRO EM BÚZIOS, DUROU DE 2010 A 2012 

A Abrasp foi a entidade responsável pela estruturação do surf profissional no Brasil, fundada em 1987, em conjunto com a Abrasa que cuidava do surf amador. Nos anos 2000 criou-se um novo projeto com o SUPER SURF, ancorado na estrutura do Grupo da Editora Abril, foram buscados grandes patrocinadores e num período de 10 anos diversos carros foram dados como premiação, para homens e mulheres. Em 2010 entrou em cena a empresa de eventos Brasil 1, que alterou o nome do Circuito Abrasp para BSP – Brasil Surf Pro, a empreitada durou três anos com patrocínio principal da Cerveja Skol e da Petrobras, trazia também a participação da marca HD – Hawaiian Dreams.

No final dos Anos 2010 os patrocínios foram diminuindo, o foco se voltou com grande atenção para o circuito mundial, quando começaram nossas vitórias na elite com Gabriel Medina, Adriano de Souza... O circuito brasileiro não parou, mas passou por uma fase mais difícil, pouco patrocínio. Por outro lado, a Abrasa, que havia dado lugar a CBSurf (Confederação Brasileira de Surf), também começou a enfrentar alguns problemas e apenas após a pandemia ocorreu um ressurgimento em grande estilo dos circuitos nacionais.

A ÚLTIMA ETAPA DO DREAM TOUR DA CBSURF EM 2023 CONTOU COM ONDAS DE RESPEITO NA BARRA DA TIJUCA, COMO ESSA DE MESSIAS FÉLIX NO PENÚLTIMO DIA DO EVENTO (ABAIXO LINK PARA O INSTAGRAM DELE)

https://www.instagram.com/p/C0uKq1bg0vY/

Atualmente a CBSurf está organizando os circuitos profissionais e amadores no Brasil. Neste mês de dezembro, após seis etapas foram definidos os campeões profissionais da temporada 2023: Tainá Hinckel da praia da Guarda do Embaú no feminino e o paulista Weslley Dantas de Itamambuca no masculino.


PÓDIO NO MEIO DA BARRA APÓS A ÚLTIMA ETAPA DE 2023

DA ESQUERDA PARA DIREITA A VICE CAMPEÃ NA BARRA KEMILY SAMPAIO (SP), OS CAMPEÕES DA ETAPA DO RIO: LUEL FELIPE (PE) E JULIANA DOS SANTOS (CE), COM VALES BOLSA DE ESTUDOS E AINDA LEVANDO CHEQUES DE R$ 40.000,00 PELA VITÓRIA NA ETAPA. COM O TROFÉU DOURADO OS CAMPEÕES DA TEMPORADA TAINÁ HINCKEL (SC) E WESLLEY DANTAS (SP), COM O TROFÉU ACIMA DA CABEÇA WESLEY LEITE (SP), QUE FOI VICE NO RIO E OS TERCEIROS COLOCADOS RYAN KAINALO (SP), DIANA CRISTINA (PB), NICOLE SANTOS (PE) E VITOR FERREIRA (RJ)

WESLLEY DANTAS NA BARRA, NÃO VENCEU NENHUMA ETAPA DA TEMPORADA, MAS A CONSITÊNCIA LHE PROPORCIONOU O TÍTULO  


Nas páginas dos cinco livros da coleção “A Grande História do Surf Brasileiro” trarei detalhes sobre todos os aspectos da evolução das eras de competição e como o esporte surf foi se estruturando em nossas águas. Todos os campeões, nacionais e estaduais serão elencados. No próximo episódio deste blog, o primeiro de 2024, trarei algumas informações sobre os campeonatos júnior, mirim e iniciantes, tão importantes na formação da base e que foram essenciais para nossa excelência internacional nos tempos atuais. Mas agora fecho minha última publicação no ano de 2023 com mais três dicas:

AS BAFORADAS DO DRAGÃO

UM DISCO


 

UM LIVRO

 

UM FILME

 

UM DISCO – MISTERY TO ME – Fleetwood Mac

O conjunto teve sua origem na Inglaterra, como um grupo de blues raiz e se transformou num fenômeno pop no meio dos Anos 1970 com o lançamento de seu mais famoso álbum, Rumours em fevereiro de 1977. Uma série de grandes guitarristas passou pelo Fleetwood Mac, mais impressionante ainda é a constelação de incríveis vocalistas que atuaram nos lead vocals e podemos dividir a história da banda em três diferentes fases.

A fase inicial do grupo, durante os anos 1960 tinha como vocalista o guitarrista Peter Green. Peter era o líder da banda, embora o nome foi tirado da “cozinha”, o baixista John McVie e Mick Fleetwood, baterista, que teve um restaurante com seu nome arrasado no incêndio de Lahaina em Maui, ambos permanecem na banda até hoje. Os três primeiros discos do Mac eram do mais puro blues, pesado e arrastado, com influência norte-americana. Peter Green é o compositor e criador da versão original de Black Magic Woman, que ficou famosa com Carlos Santana. A gênese do grupo foi em 1967 e nos primeiros discos vinha escrito na capa: PETER GREEN’S FLEETWOOD MAC.

A segunda fase do grupo, de onde sai Mystery to Me tem a guitarra jazzística de Bob Welch, também vocalista e já a participação da esposa de John, Christine McVie, de voz doce e ampla gama vocal. Neste disco o outro guitarrista é Bob Weston. Por todo o período inicial do Fleetwood Mac, os 10 primeiros anos, passaram guitarristas de primeiro calibre, ainda junto com Peter Green, Danny Kirwan e Jeremy Spencer. Todos os álbuns até 1975 são altamente recomendáveis, distintos um em relação ao próximo e valem audição completa.

CAPA INTERNA DE MYSTERY TO ME
A RAZÃO DE OS DISCOS ANTIGAMENTE SE CHAMAREM ÁLBUNS
ALÉM DE FOTOS DA BANDA SACAVAM-SE AS LETRAS DE DENTRO 

A terceira fase da banda se concretiza com a entrada dos virtuosos Lindsay Buckingham e sua esposa Stevie Nicks a partir da segunda metade dos Anos 1970. Um casal apaixonado e briguento, mas que teve na música e no equilíbrio dos McVie e de Fleetwood a base para ancorarem mais uma sequência de discos maravilhosos. Entre tantos, é possível destacar Lindsay como o mais feroz dos guitarristas do Mac. Nicks trouxe um contraponto aos vocais de Christine, a versatilidade vocal do Fleetwood Mac sempre foi um dos pontos altos da banda.

Mas vamos a história do por que da minha escolha por este álbum? Há uma pitada de surf envolvida nesta opção. 

O disco é de 1973 e no meio dos anos 1970 apareceu pelo Guarujá um surfista da Flórida, Mike Tabeling, já campeão de diversos eventos nos EUA, desde a época dos pranchões e posteriormente, como shaper também, se transformou em um dos masters com as pranchas modelo fish. Foi Mike que nos apresentou o som do Fleetwood Mac, especificamente Mystery to Me.


MIKE TABELING EM FOTO DE ANÚNCIO DA MARCA SUNDEK

Para nós do Guarujá era muito raro, motivo de curiosidade e aprendizado, quando apareciam surfistas estrangeiros surfando as nossas ondas. Tive uma ideia do talento desse cara em um dia de marolas na praia de Pitangueiras. Lembro que viemos (Mike, Égas – meu surfista preferido do Guarujá e eu) andando pela praia desde o Canal, no canto direito, em direção à Ilha que fica praticamente no meio da praia. Nenhuma vala estava muito boa, as ondas em torno de 1 pé, tipo meio metro, bem fracas. Ao passarmos pela ilha. Mike decidiu cair lá, bem em frente. Era um lugar que nunca surfávamos. As ondulações que vêm dos dois lados da Ilha Pombeva, se encontram formando micro-picos, praticamente sem paredes, mas sempre bem formados. Tabeling falou “Vamos cair aqui” e foi entrando no mar enquanto Égas e eu olhávamos meio incrédulos. Mike foi entrando, se esgueirando por piquinhos que pipocavam aqui e ali. Quando escolheu a primeira onda já deu um cutback super veloz, usou o rebote na espuminha para acelerar e saiu em zig-zag a mil por hora gerando velocidade do nada.

Mike Tabeling era um surfista excepcional, sabíamos disso, pois figurava como uma das estrelas das revistas importadas – só o que tínhamos de referência escrita e fotográfica. Meu amigo que hospedou ele contou que o cara acordava no meio da madrugada, Fleetwood Mac rolando a mil no quarto de empregada, onde ele dormia, para fumar um baseado e eram vários por dia. Fora a loucura, naqueles poucos dias que passou por aqui fez um surf admirável e muito acima do nosso padrão. Foi até Imbituba em uma barca com a turma do Guarujá. São histórias que podemos rir ao lembrar passados 50 anos.

UM LIVRO – THE ENCYCLOPEDIA OF SURFING – Matt Warshaw

Matt Warshaw é um de meus escritores favoritos ao falar sobre surf, autor de diversos livros e principalmente esta empreitada de folego A ENCICLOPÉDIA que além da versão escrita, com a capa apresentada acima, tem a versão da internet com um custo mensal barato para acessar uma infinidade de informações ilustradas. Antes de se dedicar aos livros foi editor da revista Surfer e lembro de parar em meio a textos, tipo coberturas da temporada havaiana, em que eu não havia ido ao Hawaii e pensar: “Cacilda! Como esse cara escreve bem e sabe contar uma história”, tinha aquela capacidade de nos transportar ao North Shore, relatando toda pressão, ação, emoção... Uma verdadeira escola de cobertura jornalística de surf.

Warshaw é alguns poucos anos mais novo do que eu, mas começou a trabalhar na imprensa do surf antes, eu comecei apenas com 30 anos, em 1986. Como pretendo manter estas dicas DISCO\LIVRO\FILME por um bom tempo em minhas postagens futuras, é inevitável que outras obras de Matt Warshaw sejam citadas aqui. Recentemente ele pegou toda obra original deste livro, que já estava disponível na web de forma ampliada e revisou de cabo a rabo. Inclusive se preocupou em incluir diversos novos verbetes com surfistas brasileiros ausentes no livro. No ano de 2023 ele mergulhou na empreitada de revisar tudo, editar, corrigir, aumentar. Tudo, letra por letra. Um trabalho hercúleo.

Abaixo o link para acessar seu site, recomendo para quem gosta de ler em inglês a um custo mensal de cinco dólares. Um trabalho que vale a pena ser prestigiado. Tudo e mais um pouco sobre surf está ali.

https://www.eos.surf/


UM FILME – FIVE SUMMER STORIES – MacGillivray & Freeman

Há uma (talvez duas mãos cheias), pequena quantidade de filmes de surf que merecem entrar para a categoria dos clássicos. Five Summer Stories é um desses. Os norte-americanos Greg MacGillivray e Jim Freeman já vinham produzindo filmes de qualidade desde o tempo dos pranchões, ainda nos Anos 1960. Não foram pioneiros nestas produções como John Severson, Bud Browne, Greg Noll, Bruce Brown, Dale Davis... mas entraram em cena com um padrão de qualidade elevada. Em uma época em que as produções de filmes de surf funcionavam da seguinte forma: os cineastas em 16, ou 35mm pegavam suas pesadas câmeras, rolos e rolos de filmes e começavam a filmar em suas praias locais, sempre no Hawaii e algumas viagens. Com o material de um ano, por vezes um ano e meio, ou dois, três, quando achavam que tinham material suficiente, montavam e lançavam o filme.

Five Summer Stories teve sua primeira versão no ano de 1972, são cinco segmentos e o primeiro deles tem o foco para Pipeline. Em 1972 as pranchas ainda estavam sendo aperfeiçoadas para as ondas de Pipeline. A dupla MacGillivray e Freeman registrou toda revolução que foi alterando as pranchas dos longboards originais para as pranchinhas. O que foi chamado “Shortboard Revolution” é registrado em Waves of Change de 1969. Eles filmaram surf desde 1963, passaram pelo Brasil em 1965 com o campeão americano Mark Martinson e o amigo Dale Struble, filmaram no Rio.

Five Summer Stories foi uma despedida do surf, pois partiram para voos mais altos e abrangentes utilizando IMAX, uma tecnologia disruptiva nos Anos 70 e criando peças de publicidade aclamadas. Na verdade, nunca abandonaram as cinco estórias do verão, fizeram versões atualizadas 5 PLUS 4. Venderam material para diversos outros cineastas, ao longo dos anos. No filme original além da sessão inicial em Pipe com destaque para Gerry Lopez, são traçados perfis de astros da época como Jeff Hakman, Barry Kanaiaupuni, o australiano Terry Fitzgerald e o sul africano Shaun Tomson. O contraste de estilos, com assinaturas singulares, gestos sobre a prancha é patente e admirável até hoje, com monoquilhas embrionárias, pranchas difíceis de surfar, porém manejadas com arte. O filme tem um fluidez musical e de imagens que é cativante.

Abaixo um trailer de uma reedição mais atual da obra prima:

Este blog fica por aqui em 2023.

Mais HISTÓRIAS DO SURF em 2024...

E prometo ser incansável na empreitada de lançar os próximos 4 VOLUMES (livros) de minha obra.

WWW.HSURFBR.COM.BR

 

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