sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

MAIS UM TÍTULO MUNDIAL PARA O BRASIL

E como virou hábito aqui, dicas: 1 disco, livro, filme

Nosso herói da vez foi Ryan Kainalo, campeão mundial sub 18 da ISA, o antigo mundial amador. O pai de Ryan, Alex Miranda, além de bom surfista tornou-se um competente cineasta e será reverenciado neste blog em futuro indeterminado. As gerações de surfistas brasileiros, sempre apaixonados, continuarão a fazer a diferença.

RYAN FOI CAMPEÃO DA CATEGORIA PRINCIPAL EM 2023

O BRASIL FOI CAMPEÃO POR EQUIPES NESTE EVENTO

Não me furtarei a sempre trazer uma perspectiva histórica neste blog e falando dos mundiais da ISA (International Surfing Association), que anteriormente foi fundada como ISF e era uma federação, responsável pela realização dos primeiros mundiais de surf a partir de 1964, quando o australiano Midget Farrelly, venceu em Manly Beach, sendo considerado o primeiro campeão mundial da federação, podemos dizer... oficial da história. O surf ainda era um esporte apenas amador.

Estes campeonatos World Surfing Championships eram realizados a cada dois anos, em 1972 ocorreu um último evento amador de abrangência, com a maioria dos principais surfistas da época participando. Foi realizado em San Diego na Califórnia e vencido pelo havaiano Jimmy Blears, que mais tarde ocuparia a cadeira do principal salva-vidas escalado para a torre de Sunset Beach no Hawaii. Em 1975 começaram a pensar na criação de um circuito mundial profissional, o que se concretizou em 1976 com o australiano Peter Townend sendo sagrado o primeiro campeão profissional da nova IPS, organização Internacional do Surf Profissional.

A partir dos anos 1980 a ISA passou a estruturar campeonatos amadores cada vez mais importantes, inclusive tendo campeões como o californiano Tom Curren, que venceu em 1982 e depois seria tricampeão profissional em 1985, 86 e 1990. O Brasil passou a participar com uma tímida equipe em 1984, mandou o primeiro time organizado para a Inglaterra em 1986 e atingiu a glória e a percepção de que poderíamos chegar mais longe em 1988, no mundial de Porto Rico, ocasião em que já ficamos em terceiro lugar por equipes.

 

CESAR “FERRUGEM” BALTAZAR E PEPÊ CEZAR NA CALIFÓRINIA EM 1984. OS ATLETAS DE NOSSO TIME ERAM PEPÊ E ERALDO GUEIROS

FERRUGEM ATUOU COMO COACH DA “EQUIPE”.

FOTO: ACERVO PEPÊ CEZAR

JÁ EM 1988, NAS ÁGUAS DE PORTO RICO. FOTO: BETO ISSA

TEMOS A FOTO EMBLEMÁTICA DE TECO E FABINHO QUE TROUXE O PRIMEIRO TÍTULO MUNDIAL DE SURF PARA O BRASIL

A participação brasileira nos mundiais amadores será relatada no quarto volume da coleção de livros: “A Grande História do Surf Brasileiro”. Mas vamos agora às...

 

AS BAFORADAS DO DRAGÃO

 

UM DISCO


 

UM LIVRO

 

UM FILME


 

UM DISCO – DARK SIDE OF THE MOON – Pink Floyd

Esse é um daqueles álbuns que são uma unanimidade entre os apreciadores do rock progressivo. Lançado em 1972 é uma espécie de um divisor de águas no trabalho da banda. Não que os discos anteriores não tenham sido obras irmãs, primas, gêmeas, prenúncios do que estava acontecendo e por vir. Aqueles conjuntos ingleses que entraram no radar após a explosão dos Beatles e dos Rolling Stones, começaram a produzir peças de criatividade e novidade de tirar o fôlego. A começar por Disraeli Gears do Cream em 1967; Tommy, a primeira ópera rock com The Who em 1969; Tick as Brick do Jethro Tull; o Led Zeppelin IV; o Yes, Emerson, Lake & Palmer, os Moody Blues, os rifs do Deep Purple, as fusões de três guitarras do Wishbone Ash... Álbuns selecionados droparão aqui ao longo dos próximos meses, mas neste post falaremos do Pink Floyd.

Quero deixar claro, escolhi este LP do Floyd por uma sinergia com o filme escalado para este post com detalhes logo a seguir, mas meu disco preferido do Pink Floyd é “Wish You Were Here”, aquele com a capa branca e dois executivos se cumprimentando e em chamas. Nada escrito na capa. Mas Dark Side of The Moon acabou sendo o mais cultuado. O fato é que a montagem com a sequência das faixas de Dark Side, os aspectos criativos e inusitados que foram introduzidos neste álbum o colocam em uma classe única, um verdadeiro transporte viajante por uma era maravilhosa da música.

CAPA DO DOCUMENTÁRIO SOBRE O DISCO

A série da produtora Eagle Rock, que levou a alcunha CLASSIC ALBUMS, distribuída aqui no Brasil em DVDs com a devida tradução em legendas pela ST2 Vídeo e também esteve presente com diversas reprises no canal de TV a cabo BIS, também é uma obra prima em termos de documentários e mostra de forma magistral, com depoimentos dos quatro integrantes da banda neste LP e também do genial engenheiro de som Alan Parsons, que acabou criando um projeto com seu próprio grupo, Alan Parsons Project.

Cada uma das músicas do disco é destrinchada e o processo de construção das faixas, os novos recursos que utilizaram numa época em que tudo era mais artesanal e analógico é explicado por diversos dos envolvidos no trabalho. Ficam então aqui duas recomendações o LP e o DVD com o documentário sobre o disco. Foram músicas que entraram por nossos poros e até hoje despertam sensações especiais a cada nova audição, seja esporadicamente no rádio, em coletâneas, ouvindo o disco na íntegra ("o lado A e o lado B" como tão bem destacou meu brother e legend Tico Cavalcanti no filme 70 E TAL), seja em vinil ou através do streaming, ou nos arrepiando em trilhas sonoras como a que será sugerida a seguir.

 
UM LIVRO – DA BULL - LIFE OVER THE EDGE – Greg Noll

Uma verdadeira pena, este livro nunca ter saído traduzido em português, mas vamos lá, para quem consegue captar o entendimento em inglês as histórias de Greg Noll nesta biografia de 1989 é um relato do verdadeiro espírito do surf. Da Bull (O Touro) o apelido como ficou conhecido por seu estilo de ataque às ondas, descendo montanhas com carga total, segurando avalanches de água em suas costas em Waimea Bay. Noll é um contador de histórias fantástico e carismático (ao falar), mas para escrever buscou o auxílio da autora Andrea Gabbard, de outros livros de surf e montanhismo.

As histórias que Greg seleciona e conta, com minúcias, são fascinantes. No início do surf em sua carreira na Califórnia, Greg era um cara magro, super atlético e forte, ao viajar para o Hawaii ficou obstinado por ondas grandes. Produziu filmes de surf, atuou como dublê, fabricou famosas pranchas, um modelo especial em parceria com o amigo Miki Dora e abandonou o surf jovem, praticamente no auge, depois de surfar um mar gigante. Momentos, histórias, rituais, atos pioneiros que merecem ser conhecidos.

GREG E AMIGOS EM PÁGINA ILUSTRADA EM PRETO E BRANCO

NA ESQUERDA O ANÚNCIO DO MODELO "DA CAT" APELIDO DE DORA

GREG NOLL EM VISITA AO BRASIL RODEADO PELOS PIONEIROS DE SANTOS DURANTE O FESTIVALMA DE 2010 NO PAVILHÃO DA BIENAL EM SAMPA

Os relatos de suas principais aventuras: o primeiro dia em Waimea Bay no ano de 1957; o dia em que ele e o amigo Mike Stange entraram sozinhos para surfar Pipeline quebrando no terceiro reef (a capa de seu livro é uma foto de John Severson deste dia), em um de seus filmes há ele descendo uma onda fora de controle, com prancha inadequada para Pipeline, até um wipeout medonho; e principalmente a detalhada descrição da experiência espiritual do dia em Makaha, durante o histórico swell de 1969. Momento não registrado, porém, uma idealização é a pintura do artista Ken Auster exibida na contracapa do livro. 

CONTRACAPA DO LIVRO E A MÍTICA ONDA SURFADA EM MAKAHA

 

 

UM FILME – 70 E TAL – Rafael Mellin

Há uma “escola” – fórmula, na produção de filmes\documentários que traz a narrativa de pessoas que viveram um determinado momento histórico e as imagens disponíveis, preservadas antigas, ou reproduzidas de forma criativa tentando emular as situações. O segredo está em como isso é apresentado, na inspiração e eloquência de quem conta as histórias, e principalmente na forma como tudo é montado, a execução do roteiro. O resultado de 70 E TAL superou toda e qualquer expectativa e acabou gerando uma nova série ambientada nos Anos 80. Além do filme de uma hora, diversos episódios de meia hora, com temas específicos e subdivididos em regiões, com cenas de surf atuais utilizando réplicas de pranchas, ou modelos originais preservados, tudo regado por uma trilha sonora escolhida à dedo. Isso deu um ar especial às duas séries concebidas por Mellin, a primeira lançada em 2013. 

A série, produzida em uma parceria do Grupo Sal com o Canal OFF da Globosat, geraram um produto digno de prêmios internacionais. A direção de Rafael Mellin, suportado por uma equipe fantástica em todas as esferas da produção de cinema, contando ainda com o respaldo dos surfistas que viveram estes Anos 70. Uma trilha sonora esplendorosa, a década ajudou muito nisso... BINGO. A magia estava deflagrada. E assim foi. Acredito que poucos surfistas não assistiram, ao menos partes do filme. Mas a recomendação fica aqui para que a série completa seja assistida. Está na hora do canal OFF montar uma retrospectiva especial. Com infinitas reprises, como de hábito. As cenas de encerramento na praia da Guarda do Embaú, como a música Time do Pink Floyd dão lugar aos créditos e àquela vontade de quero mais.

Vejam teaser do filme neste link do Vimeo:

https://vimeo.com/75612710 


Nenhum comentário:

Postar um comentário