ADAPTAÇÃO AO QUE VEM PELA FRENTE
O ano de 2024 certamente trará surpresas
Está claro
que o surf competição está passando por uma grande transição, em nível mundial
e aqui no Brasil também. Este processo já vinha ocorrendo antes da pandemia de
2020\2021 e foi agravado por ela. Mas podemos vislumbrar boas mudanças.
FASES DO CIRCUITO BRASILEIRO
ETAPA DO PRIMEIRO CIRCUITO EM 1987,
PATROCÍNIO DA SURFWEAR
MESSIAS FELIX NO SUPER SURF E A CHAVE
DE UMA CARRO NA MÃO
BRASIL SURF PRO EM BÚZIOS, DUROU DE 2010 A 2012
A Abrasp foi
a entidade responsável pela estruturação do surf profissional no Brasil,
fundada em 1987, em conjunto com a Abrasa que cuidava do surf amador. Nos anos
2000 criou-se um novo projeto com o SUPER SURF, ancorado na estrutura do Grupo
da Editora Abril, foram buscados grandes patrocinadores e num período de 10
anos diversos carros foram dados como premiação, para homens e mulheres. Em
2010 entrou em cena a empresa de eventos Brasil 1, que alterou o nome do
Circuito Abrasp para BSP – Brasil Surf Pro, a empreitada durou três anos com
patrocínio principal da Cerveja Skol e da Petrobras, trazia também a
participação da marca HD – Hawaiian Dreams.
No final dos Anos 2010 os patrocínios foram diminuindo, o foco se voltou com grande atenção para o circuito mundial, quando começaram nossas vitórias na elite com Gabriel Medina, Adriano de Souza... O circuito brasileiro não parou, mas passou por uma fase mais difícil, pouco patrocínio. Por outro lado, a Abrasa, que havia dado lugar a CBSurf (Confederação Brasileira de Surf), também começou a enfrentar alguns problemas e apenas após a pandemia ocorreu um ressurgimento em grande estilo dos circuitos nacionais.
A ÚLTIMA ETAPA DO DREAM TOUR DA CBSURF
EM 2023 CONTOU COM ONDAS DE RESPEITO NA BARRA DA TIJUCA, COMO ESSA DE MESSIAS
FÉLIX NO PENÚLTIMO DIA DO EVENTO (ABAIXO LINK PARA O INSTAGRAM DELE)
https://www.instagram.com/p/C0uKq1bg0vY/
Atualmente a
CBSurf está organizando os circuitos profissionais e amadores no Brasil. Neste
mês de dezembro, após seis etapas foram definidos os campeões profissionais da
temporada 2023: Tainá Hinckel da praia da Guarda do Embaú no feminino e o
paulista Weslley Dantas de Itamambuca no masculino.
PÓDIO NO MEIO DA BARRA APÓS A ÚLTIMA
ETAPA DE 2023
DA ESQUERDA PARA DIREITA A VICE
CAMPEÃ NA BARRA KEMILY SAMPAIO (SP), OS CAMPEÕES DA ETAPA DO RIO: LUEL FELIPE (PE)
E JULIANA DOS SANTOS (CE), COM VALES BOLSA DE ESTUDOS E AINDA LEVANDO CHEQUES
DE R$ 40.000,00 PELA VITÓRIA NA ETAPA. COM O TROFÉU DOURADO OS CAMPEÕES DA
TEMPORADA TAINÁ HINCKEL (SC) E WESLLEY DANTAS (SP), COM O TROFÉU ACIMA DA
CABEÇA WESLEY LEITE (SP), QUE FOI VICE NO RIO E OS TERCEIROS COLOCADOS RYAN
KAINALO (SP), DIANA CRISTINA (PB), NICOLE SANTOS (PE) E VITOR FERREIRA (RJ)
WESLLEY DANTAS NA BARRA, NÃO VENCEU
NENHUMA ETAPA DA TEMPORADA, MAS A CONSITÊNCIA LHE PROPORCIONOU O TÍTULO
Nas páginas
dos cinco livros da coleção “A Grande História do Surf Brasileiro”
trarei detalhes sobre todos os aspectos da evolução das eras de competição e como
o esporte surf foi se estruturando em nossas águas. Todos os campeões,
nacionais e estaduais serão elencados. No próximo episódio deste blog, o
primeiro de 2024, trarei algumas informações sobre os campeonatos júnior, mirim
e iniciantes, tão importantes na formação da base e que foram essenciais para
nossa excelência internacional nos tempos atuais. Mas agora fecho minha última
publicação no ano de 2023 com mais três dicas:
AS BAFORADAS DO DRAGÃO
UM DISCO
UM LIVRO
UM FILME
UM DISCO – MISTERY TO ME – Fleetwood Mac
O conjunto teve
sua origem na Inglaterra, como um grupo de blues raiz e se transformou num
fenômeno pop no meio dos Anos 1970 com o lançamento de seu mais famoso álbum, Rumours
em fevereiro de 1977. Uma série de grandes guitarristas passou pelo Fleetwood
Mac, mais impressionante ainda é a constelação de incríveis vocalistas que
atuaram nos lead vocals e podemos dividir a história da banda em três
diferentes fases.
A fase
inicial do grupo, durante os anos 1960 tinha como vocalista o guitarrista Peter
Green. Peter era o líder da banda, embora o nome foi tirado da “cozinha”, o
baixista John McVie e Mick Fleetwood, baterista, que teve um restaurante com
seu nome arrasado no incêndio de Lahaina em Maui, ambos permanecem na banda até
hoje. Os três primeiros discos do Mac eram do mais puro blues, pesado e arrastado,
com influência norte-americana. Peter Green é o compositor e criador da versão
original de Black Magic Woman, que ficou famosa com Carlos Santana. A
gênese do grupo foi em 1967 e nos primeiros discos vinha escrito na capa: PETER
GREEN’S FLEETWOOD MAC.
A segunda
fase do grupo, de onde sai Mystery to Me tem a guitarra jazzística de
Bob Welch, também vocalista e já a participação da esposa de John, Christine
McVie, de voz doce e ampla gama vocal. Neste disco o outro guitarrista é Bob
Weston. Por todo o período inicial do Fleetwood Mac, os 10 primeiros anos,
passaram guitarristas de primeiro calibre, ainda junto com Peter Green, Danny
Kirwan e Jeremy Spencer. Todos os álbuns até 1975 são altamente recomendáveis,
distintos um em relação ao próximo e valem audição completa.
A terceira
fase da banda se concretiza com a entrada dos virtuosos Lindsay Buckingham e
sua esposa Stevie Nicks a partir da segunda metade dos Anos 1970. Um casal
apaixonado e briguento, mas que teve na música e no equilíbrio dos McVie e de
Fleetwood a base para ancorarem mais uma sequência de discos maravilhosos.
Entre tantos, é possível destacar Lindsay como o mais feroz dos guitarristas do
Mac. Nicks trouxe um contraponto aos vocais de Christine, a versatilidade vocal
do Fleetwood Mac sempre foi um dos pontos altos da banda.
Mas vamos a
história do por que da minha escolha por este álbum? Há uma pitada de surf
envolvida nesta opção.
O disco é de
1973 e no meio dos anos 1970 apareceu pelo Guarujá um surfista da Flórida, Mike
Tabeling, já campeão de diversos eventos nos EUA, desde a época dos pranchões e
posteriormente, como shaper também, se transformou em um dos masters com as
pranchas modelo fish. Foi Mike que nos apresentou o som do Fleetwood Mac,
especificamente Mystery to Me.
MIKE TABELING EM FOTO DE ANÚNCIO DA
MARCA SUNDEK
Para nós do
Guarujá era muito raro, motivo de curiosidade e aprendizado, quando apareciam
surfistas estrangeiros surfando as nossas ondas. Tive uma ideia do talento
desse cara em um dia de marolas na praia de Pitangueiras. Lembro que viemos (Mike,
Égas – meu surfista preferido do Guarujá e eu) andando pela praia desde o
Canal, no canto direito, em direção à Ilha que fica praticamente no meio da
praia. Nenhuma vala estava muito boa, as ondas em torno de 1 pé, tipo meio
metro, bem fracas. Ao passarmos pela ilha. Mike decidiu cair lá, bem em frente.
Era um lugar que nunca surfávamos. As ondulações que vêm dos dois lados da Ilha
Pombeva, se encontram formando micro-picos, praticamente sem paredes, mas
sempre bem formados. Tabeling falou “Vamos cair aqui” e foi entrando no mar
enquanto Égas e eu olhávamos meio incrédulos. Mike foi entrando, se esgueirando
por piquinhos que pipocavam aqui e ali. Quando escolheu a primeira onda já deu
um cutback super veloz, usou o rebote na espuminha para acelerar e saiu em
zig-zag a mil por hora gerando velocidade do nada.
Mike
Tabeling era um surfista excepcional, sabíamos disso, pois figurava como uma
das estrelas das revistas importadas – só o que tínhamos de referência escrita
e fotográfica. Meu amigo que hospedou ele contou que o cara acordava no meio da
madrugada, Fleetwood Mac rolando a mil no quarto de empregada, onde ele dormia,
para fumar um baseado e eram vários por dia. Fora a loucura, naqueles poucos
dias que passou por aqui fez um surf admirável e muito acima do nosso padrão. Foi até Imbituba em uma barca com a turma do Guarujá. São histórias que podemos rir ao lembrar passados 50 anos.
UM LIVRO – THE ENCYCLOPEDIA OF SURFING – Matt Warshaw
Matt Warshaw
é um de meus escritores favoritos ao falar sobre surf, autor de diversos livros
e principalmente esta empreitada de folego A ENCICLOPÉDIA que além da versão
escrita, com a capa apresentada acima, tem a versão da internet com um custo
mensal barato para acessar uma infinidade de informações ilustradas. Antes de
se dedicar aos livros foi editor da revista Surfer e lembro de parar em
meio a textos, tipo coberturas da temporada havaiana, em que eu não havia ido
ao Hawaii e pensar: “Cacilda! Como esse cara escreve bem e sabe contar uma história”,
tinha aquela capacidade de nos transportar ao North Shore, relatando toda
pressão, ação, emoção... Uma verdadeira escola de cobertura jornalística de
surf.
Warshaw é
alguns poucos anos mais novo do que eu, mas começou a trabalhar na imprensa do
surf antes, eu comecei apenas com 30 anos, em 1986. Como pretendo manter estas
dicas DISCO\LIVRO\FILME por um bom tempo em minhas postagens futuras, é
inevitável que outras obras de Matt Warshaw sejam citadas aqui. Recentemente
ele pegou toda obra original deste livro, que já estava disponível na web de
forma ampliada e revisou de cabo a rabo. Inclusive se preocupou em incluir
diversos novos verbetes com surfistas brasileiros ausentes no livro. No ano de
2023 ele mergulhou na empreitada de revisar tudo, editar, corrigir, aumentar.
Tudo, letra por letra. Um trabalho hercúleo.
UM FILME – FIVE SUMMER STORIES – MacGillivray & Freeman
Há uma (talvez
duas mãos cheias), pequena quantidade de filmes de surf que merecem entrar para
a categoria dos clássicos. Five Summer Stories é um desses. Os norte-americanos
Greg MacGillivray e Jim Freeman já vinham produzindo filmes de qualidade desde
o tempo dos pranchões, ainda nos Anos 1960. Não foram pioneiros nestas
produções como John Severson, Bud Browne, Greg Noll, Bruce Brown, Dale Davis...
mas entraram em cena com um padrão de qualidade elevada. Em uma época em que as
produções de filmes de surf funcionavam da seguinte forma: os cineastas em 16,
ou 35mm pegavam suas pesadas câmeras, rolos e rolos de filmes e começavam a
filmar em suas praias locais, sempre no Hawaii e algumas viagens. Com o
material de um ano, por vezes um ano e meio, ou dois, três, quando achavam que
tinham material suficiente, montavam e lançavam o filme.
Five
Summer Stories teve
sua primeira versão no ano de 1972, são cinco segmentos e o primeiro deles tem
o foco para Pipeline. Em 1972 as pranchas ainda estavam sendo aperfeiçoadas
para as ondas de Pipeline. A dupla MacGillivray e Freeman registrou toda
revolução que foi alterando as pranchas dos longboards originais para as
pranchinhas. O que foi chamado “Shortboard Revolution” é registrado em Waves
of Change de 1969. Eles filmaram surf desde 1963, passaram pelo Brasil em
1965 com o campeão americano Mark Martinson e o amigo Dale Struble, filmaram no
Rio.
Five
Summer Stories foi
uma despedida do surf, pois partiram para voos mais altos e abrangentes
utilizando IMAX, uma tecnologia disruptiva nos Anos 70 e criando peças de
publicidade aclamadas. Na verdade, nunca abandonaram as cinco estórias do verão,
fizeram versões atualizadas 5 PLUS 4. Venderam material para diversos outros
cineastas, ao longo dos anos. No filme original além da sessão inicial em Pipe
com destaque para Gerry Lopez, são traçados perfis de astros da época como Jeff
Hakman, Barry Kanaiaupuni, o australiano Terry Fitzgerald e o sul africano Shaun Tomson. O contraste de
estilos, com assinaturas singulares, gestos sobre a prancha é patente e
admirável até hoje, com monoquilhas embrionárias, pranchas difíceis de surfar,
porém manejadas com arte. O filme tem um fluidez musical e de imagens que é
cativante.
Abaixo um
trailer de uma reedição mais atual da obra prima:
Este blog fica por aqui em 2023.
Mais HISTÓRIAS DO SURF em 2024...
E prometo ser incansável na empreitada de lançar os próximos
4 VOLUMES (livros) de minha obra.